Anfiteatro e ruínas das habitações circundantes


No mesmo recinto e a poucos metros de distância, encontramos o Anfiteatro, comparado em grandiosidade com o Teatro, que foi outrora um local dedicado ao entretenimento, com lutas entre gladiadores ou gladiadores e animais selvagens.
Este Anfiteatro teve a sua construção e abertura ao público, alguns anos mais tarde. A sua inauguração, segundo reza a história, foi no ano 8 a.C. e a sua capacidade era de cerca de 15.000 espectadores.

De planta elíptica, destaca-se em primeiro lugar a arena, área central de areia, onde se desenvolvia o espectáculo. Nas arquibancadas, em torno da arena, onde tinham assento os espectadores, estavam divididas em três zonas, tal como noutros edifícios da época, segundo a sua classe social.
Os três portões monumentais eram a Norte, Sul e Leste, e faziam a comunicação do exterior do anfiteatro com a arena. No extremo Norte e Sul, havia vários compartimentos térreos destinados aos gladiadores e aos animais selvagens.

O recinto tem caves subterrâneas, com duas galerias. Fora do teatro e do anfiteatro, a poucos metros destes dois edifícios, encontram-se os restos de duas possíveis vilas romanas, a Casa do Anfiteatro e Casa da Torre de Água, que remontam aos séculos III e IV, respectivamente.

Podemos observar as várias divisões destas mansões com alguns pavimentos muito bem conservados, com mosaicos de alta qualidade entre os quais podemos observar uma excelente representação da deusa Vénus com Eros e uma cena relacionada com a vindima e a fabricação artesanal do vinho.

A importância deste sítio arqueológico, é enorme, uma vez que aqui se podem observar, como se fazia a distribuição da água nas habitações. Podem ver-se poços, fornos, fogões, canalizações da água, modo de aquecimento das águas para os banhos, zonas ajardinadas, pátios interiores, restos do muro de vedação das casas, e uma secção de aqueduto para o abastecimento de água às habitações. Posteriormente, esta área foi utilizada como necrópole (cemitério), desde o século V.

Teatro Romano de Mérida



No início da tarde, fomos de bicicleta visitar não só a cidade como as suas famosas ruínas romanas. Chegados à área do Teatro Romano, que é uma área relativamente pequena, onde se podem contemplar os majestosos edifícios antigos de Emérita Augusta, dedicados ao lazer e entretenimento dos cidadãos.

Depois da compra dos ingressos de visita, que ficam mais em conta quando comprados em conjunto, resolvemos em primeiro lugar visitar o Teatro Romano, que tem do seu lado esquerdo a ancestral companhia do Anfiteatro Romano.

O Teatro Romano, um dos mais espectaculares e melhor preservados da península, é um edifício que foi mandado construir pelo cônsul Marco Vipsânio Agripa e inaugurado, possivelmente, entre os anos 16 a 15 a.C. e teve uma capacidade para acomodar 6.000 espectadores sentados. *

O teatro sofreu várias remodelações, ao longo da época de ocupação romana, sendo a mais importante realizada em finais do século I, possivelmente na época do imperador Trajano, quando se levantou a actual frente do palco, e outra entre os anos 330 e 340 d.C..*

Visitar o Teatro Romano de Mérida é uma experiência por si só inolvidável. Só o simples facto de podermos estar neste espaço singular, sentarmo-nos na sua arquibancada e desfrutar da frente do palco... Dá-nos uma sensação de intemporalidade! Em suma, esquecer por um momento o tempo real e avançar com a imaginação ao tempo dos romanos, é uma viagem no tempo possível a todos que o visitam...

O Teatro Romano possui à frente os corpos de duas colunas coríntias com bases e cornijas de mármore, adornadas com esculturas nos espaços entre as colunas que se abrem por três portas, para um amplo palco. As bancadas de forma semicircular estão divididas em 3 sectores: Ima Cavea, Media Cavea e Summa Cavea, onde se distribuíam as distintas classes sociais da época. Diante da Ima Cavea estava a “Orquestra” semicircular destinada aos coros.
O palco com 60 metros de comprimento e 7 metros de profundidade estava coberto originalmente de madeira. A parte de trás do palco compõe-se de um conjunto de entradas e filas de colunas que chegam aos 18 m de altura, e entre elas estavam esculturas como elemento decorativo. Esteve enterrado até 1910, ano do início das escavações.
Depois de passarmos as belas colunas de mármore da fachada principal do teatro e caminhando para diante, podemos encontrar, quase por magia, um jardim com uma área com o que resta de pérgulas para plantas trepadeiras tendo no centro, um poço central para rega.
Este lugar mágico, é um dos mais relevantes monumentos da cidade e desde 1933, alberga o Festival de Teatro Clássico com o qual recuperou a sua função original. Este Festival decorre todos os anos no Verão, sendo o maior da Península Ibérica.
Sites usados: Wikipédia / Hoy.es

Mérida, uma cidade intemporal

Aada cheg a Mérida fez-se já tarde e a procura de lugar de pernoita não foi fácil. Embora houvesse muitos lugares para pernoitar, tivemos receio de que alguns não fossem seguros. Assim acabámos por escolher um lugar de estacionamento junto a outras duas autocaravanas, ao longo da estrada nacional que liga a Badajoz e frente ao parque da cidade junto ao rio Guadiana. Ao amanhecer o lugar revelou-se barulhento, pela passagem dos carros que nesta via circulavam.

No entanto, na manhã seguinte fomos até à Ponte Romana, por ser este o melhor local para o acesso fácil ao "assalto" da cidade, Alcazaba (mesmo à saída da ponte) e Ruínas Romanas. Ali junto ao início da ponte, no bairro à direita, podemos observar um óptimo lugar sossegado e seguro, onde foi deixada a autocaravana e onde mais tarde jantámos, frente a um parque de merendas, na margem do Guadiana, ideal para pernoita.

Mérida é uma bela cidade pertencente à província de Badajoz e capital da Extremadura, situada nas margens do rio Guadiana. Foi fundada pelos romanos, e o seu principal atractivo é ser uma das cidades ibéricas com maior número de ruínas romanas e melhor preservadas, sendo considerada Património da Humanidade pela UNESCO.

Fundada no ano 25 a.C. com o nome de Emerita Augusta, foi durante a ocupação romana uma das mais importantes cidades da Península Ibérica e capital cultural e económica da província mais ocidental de Roma, a Lusitânia. Possui vários testemunhos desse seu glorioso passado, tais como o belo Teatro, o Anfiteatro e o Circo Romanos, entre outros.
A sua história é muito interessante. Há muito, muito tempo, Publio Casirio, por ordem do Imperador Octávio Augusto, decidiu assentar soldados veteranos de duas legiões, no centro da região da Lusitânia, junto ao rio Guadiana, como prémio por terem lutado contra os cantábricos e os asturianos. Deste assentamento nasceu a cidade capital da Lusitânia, Emérita Augusta, que se converteu de imediato, num dos principais centros urbanos da Hispânia Românica.

Foi uma cidade romana até a chegada dos Suevos, no século V, que ali instalaram a capital do seu reino. Mais tarde os Visigodos, converteram a cidade num núcleo jurídico, económico, militar e cultural importantíssimo e um dos mais relevantes do ocidente peninsular.

Os árabes chegaram a Emerita Augusta (Mérida) em principios do séc. VIII, e com eles a cidade perde a sua condição de capital, que até então tinha conseguido manter. O carácter rebelde de seus habitantes e a não aceitação do Islão, deram origem a contínuas rebeliões contra o domínio do califado, o que levou Abderramán II a ordenar, no ano 842, como castigo, a destruição parcial da cidade. Destes, entre outros restos históricos, temos o Alcazaba, uma fortaleza construída pelos soldados de Abderramán II.
Com a libertacão da cidade por parte das tropas cristãs, levada a cabo por Afonso IX e em pouco tempo a cidade iníciou o seu desenvolvimento, passando a ser perterida em beneficio de Santiago de Compostela, entrando numa etapa de anonimato, de onde só despertará apenas com o ruído das batalhas que ocorreram no seu interior ou em torno dela...
No século VI, com o Bispo Mausona de Mérida, a cidade tornou-se definitivamente cristã, tendo uma devoção especial a Santa Eulália, patrona da cidade.

Mérida orgulha-se de possuir mais ruínas romanas do que em qualquer outra parte de Espanha e o visitante pode admirar, entre muitos outros, o seu magnífico Teatro Romano (ainda utilizado, durante o Verão, para festivais dramáticos), o Anfiteatro adjacente e a Casa do Anfiteatro (século III, com belos mosaicos e galerias subterrâneas), ou o seu soberbo Museu Nacional de Arte Romana, com colecções de estátuas, mosaicos, frescos, moedas e outros artefactos.

Sites: Wikipédia / Hoy.es

A Extremadura Espanhola

A Extremadura é uma das comunidades autónomas da Espanha, cuja capital é Mérida. Está dividida em duas províncias, Cáceres a Norte e Badajoz a Sul, ambas com fronteira com Portugal a oeste.

Os extremenhos têm muito respeito e carinho por Portugal. É uma região espanhola onde há um maior número de estudantes que falam a língua portuguesa (cerca de 70% de todos os estudantes de português da Espanha). Além disso têm uma boa amizade e cooperação com Portugal e a vizinha região do Alentejo.

Uma curiosidade actual é o "Lusitanismo", (doutrina nacionalista extremenha, que defende uma união política com Portugal, para criar uma Federação Lusitana, cuja bandeira seria verde, branca e vermelha). A Estremadura tem um passado histórico partilhado com Portugal, que vai desde a antiga Lusitânia (romana) até ao Reino de Badajoz (árabe).
A Lusitânia, era uma antiga província romana que incluía uma grande parte do que é hoje Portugal (excepto a zona norte), e uma grande porção do que é hoje a Extremadura espanhola. Já tinha como capital Mérida, isto é, "Emerita Augusta", uma das mais importantes cidades daquela época.

Grande parte do vasto território é formado por planícies, mas há também serras densamente arborizadas a erguer-se sobre vales verdejantes, salpicados de velhas aldeias, assim como o magnífico Parque Natural de Monfragüe, que abriga um notável conjunto de aves de rapina, o lince ibérico e veados. A azinheira é a arvore típica da Extremadura e encontra-se no centro do escudo extremenho.
A Extremadura oferece a possibilidade de explorar uma parte genuína de Espanha que ainda preserva muitas das suas características originais e uma certa atmosfera intemporal. Cidades históricas como Cáceres, Trujillo e Guadalupe exibem centros medievais perfeitamente conservados, e Mérida orgulha-se de apresentar a melhor colecção de ruínas romanas do país.

Esta região foi também o local de nascimento de muitos conquistadores do Novo Mundo, seguidos por um fluxo constante de emigrantes em direcção às Américas. Recordações dos seus feitos são visíveis em locais como Cáceres ou Trujillo e as riquezas que acumularam foram utilizadas para construir belas residências, palácios e monumentos como o belíssimo Mosteiro de Guadalupe, do século XIV.

A gastronomia da Extremadura também se caracteriza por um curioso contraste, que vai dos sabores rurais de especialidades típicas como a “caldereta” (borrego ou cabrito na caçarola) ou as populares “ancas de Rana” (pernas de rã), a sofisticados pratos de perdiz, faisão e javali.
Sites usados: Biztravels.net / Wikipédia

Carnaval na Extremadura Espanhola

"O ano só começa depois do Carnaval". Esta é uma frase que muitos gostam de proferir. Justamente no Carnaval é comum as pessoas permitirem-se a fazer coisas que “não fariam” normalmente.

Vestem as fantasias que desejam e que na realidade gostariam de usar no seu dia a dia, falam o que desejam, bebem o quanto desejam, ou seja, rendem-se aos excessos, sem o mínimo de atenção às regras sociais. Afinal, não é possível expressar tão livremente os seus verdadeiros instintos como nesta época.

Carnaval é assim o tempo de excessos. Álcool, falta de sono, má alimentação e excessiva actividade física por parte de quem gosta de gozar esta festa.

Nunca gostei da euforia excessiva do Carnaval e do Carnaval vivido na terra onde resido, muito menos. Tenho até a sensação que nesta terra se vive o Carnaval o ano inteiro... A chungaria, o barulho infernal da música de péssima qualidade que o vento nos trás, os exageros e a falta de salvaguarda dos valores essenciais que chegam a roçar a pura anarquia, levam-me a não gostar desta festa.
Por isso sempre que podemos viajamos nesta época. Este ano resolvemos passar a semana de Carnaval na bela Extremadura espanhola e fazer o mais famoso triângulo da região. Assim sendo, o percurso para ir e voltar, foi decidido:

1º Dia - Partida de casa /Mérida;

2º Dia - Mérida / Guadalupe;

3º Dia - Guadalupe / Trujilho / Cáceres;

4º e 5º Dia - Cáceres;

6º Dia - Cáceres / Covilhã;

7º Dia - Covilhã / Casa.

A caminho do fim da viagem


A partida de Trujillo ao final da tarde e sob um céu fabulosamente colorido ao pôr-do-sol, fez com que a última etapa desta viagem a caminho de Cáceres e finalmente de volta a casa, fosse para nós inesquecível.
Em Cáceres fez-se uma paragem para se lavar a autocaravana num posto de lavagem automóvel à entrada da cidade e junto ao seminário. De cara e corpo lavados, partimos para entrar-mos em seguida em Portugal rumo a casa...
Viajar é na realidade um prazer... Gostamos de viajar e, sempre que possível, temos viajado. Entendemos uma viagem como um investimento pessoal valioso, que permite obter grandes e surpreendentes rendimentos, ajudando a construir uma poupança de ideias, de emoções, de valores e, principalmente, de recordações. Viajar é carregar a memória de lembranças e permitir que, no futuro, o passado faça reviver o sabor de bons e lindos momentos...

Trujillo, uma cidade mágica


Quando chegámos a Trujillo já era bastante tarde, mas ainda tentámos ir espreitar a sua Praça Maior, que o Guia da American Express recomendava ver de noite, por ser uma das mais belas de Espanha. No entanto as estradas para a praça estavam fechadas ao trânsito, pelo que resolvemos só visita-la no dia seguinte.

A impressão que o viajante tem quando avista Trujillo ao longe, é a de uma cidade orgulhosa e vigilante que se destaca na planície como que encalhada num belo e surpreendente afloramento rochoso, apresentando uma massa de torres e ameias iluminadas que se destacam no horizonte contra o céu.

No fundo clarividente, entre as luzes, o avistar do altivo perfil da vila medieval, faz com que o viajante quase acredite que o tempo parou e entre no maravilhoso mundo dos sonhos, como que transportado pela arte de algum mágico, à memória medieva que emana das suas ameias, palácios, igrejas e casas ancestrais.

A pernoita foi feita num parque da zona nova de Trujillo paralelo à estrada para Cáceres, em lugar sossegado e junto a uma torre de comunicações, cheia de antenas e ninhos de cegonhas. A noite passou calma e a sensação de segurança garantida por uma brigada de polícia que por ali passava de vez em quando.

Assente sobre uma colina granítica, a cidade de Trujillo conserva restos pré-históricos e pré-romanos, sabendo-se da existência de uma antiga fortaleza, já em tempos muito remotos. Posteriormente foi povoada por romanos, suevos, visigodos e muçulmanos.

A parte mais alta da povoação, a cidade velha entre muralhas, era conhecida como "Turgalium", séculos antes do núcleo posterior do "Castro judeu" ter constituído um município que fazia parte da província da “Lusitânia”(uma antiga província romana que incluía uma parte do que é hoje Portugal, excepto a zona norte, e uma grande porção do que é hoje a Estremadura espanhola), pertencente à vizinha colónia de "Norba Caesarina", hoje Cáceres.*

O domínio visigótico deixou referências à povoação e a chegada dos árabes, séculos mais tarde, fez com que a cidade se desenvolvesse e amplia-se a sua estrutura urbana e a sua relevância militar e comercial.

A "Torgiela" árabe, como era conhecida a Trujillo dessa época, desenvolveu-se à volta do Castelo, edificado no ponto mais alto da cidade e, nos seus arredores, cresceu a vila, à qual não faltaram importantes edifícios militares, religiosos e civis.

Depois de cinco séculos de ocupação destes últimos, foi conquistada em primeiro lugar por Alfonso VIII em 1186. Anos depois voltou a ser de dominação árabe (Almohade), para ser definitivamente conquistada pelos cristãos em Janeiro de 1232, como diz a lenda, com a ajuda da Virgem da Vitória, Padroeira de Trujillo. A praça passou definitivamente para o poder cristão e mais tarde o rei Juan II de Castilla concedeu-lhe o título de cidade em 1430.

Famosa pelos seus monumentos, é um importante centro turístico da Estremadura espanhola, com uma valiosa e sugestiva riqueza monumental. Vibram nela e nas suas antigas vielas, as vozes eloquentes de uma casta senhorial, aventureira, lutadora e mística.

Trujillo foi a terra natal de muitos conquistadores espanhóis, como por exemplo Francisco Pizarro, conquistador do Perú, cuja casa senhorial e a sua estátua equestre se erguem na Praça Maior, e também de Francisco de Orellana, que foi um aventureiro e explorador espanhol, que também participou na conquista do Perú.

Estes conquistadores deixaram à cidade um importante conjunto de edifícios de enorme valor histórico e artístico, que converteram a cidade numa das mais belas e mais visitadas da Estremadura espanhola.

A zona primitiva da Vila ampliou-se até à “Plaza Mayor”, que passou a ser o principal centro da povoação, a partir do século XVI. A Praça Maior é linda e nela além de restaurantes e lojas de produtos artesanais da Estremadura, possui muitas casas senhoriais, como por exemplo, o Palácio del Marquês de la Conquista, mandado edificar pelo irmão de Francisco Pizarro, Hermano Pizarro, construído com as riquezas trazidas do Novo Mundo.

Este palácio destaca-se na Praça Maior, por ter complicadas janelas de esquina, uma obra de engenharia complicada para a época, com as cabeças esculpidas em pedra, dos irmãos Pizarro e das suas mulheres incas. Ainda nesta praça podemos observar o belo Palácio de Pizarro - Orellana, do séc. XVI, que foi construído por descendentes de Francisco Orellana, o explorador do Equador e do rio Amazonas.

Para visitar Trujillo é necessário faze-lo a pé, passo a passo, com calma, não é uma cidade para turistas de câmara e janela de automóvel, mas sim de sapatos confortáveis, chapéu e pau de caminheiro.

Trujillo tem o seu próprio tempo, porque, uma vez ali, a passagem do tempo perde importância. A partir da Praça Maior devemos caminhar para a Cidadela árabe, através da íngreme e serpenteante viela ou rua dos Arqueiros, para depois se fazer a ronda das ameias.

A subida faz-se a um passo forçado até ao acesso à cidadela pela porta de Santiago ou a de San Andrés, qualquer caminho é bom, todos eles levam a mergulhar no passado e a apreciar os vários registos relativos à sua história e arte.

A partir de uma parcial "captura" ao castelo de onde é possível ver toda a cidade e registar a beleza da paisagem nas nossas câmaras mágicas. Aqui perto encontrámos primeiro a torre da igreja de Santa Maria a Maior, que é a chamada de Torre Nova erigida posteriormente no século XVI.

Assim, além dos já referidos, entre os principais monumentos encontram-se: O Castelo, antigo alcazar árabe, que defendeu a cidade contra o avanço dos cristãos durante a reconquista, sendo mais tarde tomado por D. Fernando III de Espanha. A igreja de Santa Maria a Maior, do séc. XIII, a igreja de São Francisco e a igreja de São Martinho, que podem ser visitadas a partir das 16h30.

No final da visita, custou abandonar a cidade, que lá ficou esplendorosa, coroando o alto da colina e dominando as planícies estremenhas com a silhueta do seu recinto medieval amuralhado...

* in Wikipédia

O silêncio de Calatayud


Após o almoço, que foi degustado numa estação de serviço mesmo à saída de Zaragoça, posemo-nos a caminho de Madrid, com o intuito de fazermos o maior número de quilómetros possíveis. No entanto quando passámos por Calatayud não resistimos ao chamamento das suas duas belas torres mudéjares e fomos visitar a cidade.

Calatayud é uma cidade fundada muito cedo pelos muçulmanos, certamente no século V ou VI, criada com o objectivo de controlar o cruzamento dos vales dos rios Jalon e Jiloca e, ao mesmo tempo, de explorar a sua planície irrigada e fértil.

Os romanos iniciaram o povoamento da região, fundando a cidade de Augusta Bilbilis, que se encontra a aproximadamente quatro quilómetros ao norte da actual Calatayud. A cidade moderna foi fundada pelos mouros em torno do castelo de onde provém o seu nome árabe Qal'at 'Ayyūb, "forte de Ayyub".

Alargada no século IX e XI, já totalizava dentro das suas vastas muralhas uma população de cerca de 5000 habitantes, sendo a capital de um Distrito do Reino Árabe de Saragoça. A cidade foi conquistada por Afonso I de Aragão em 1120 e foi a capital de sua própria província durante três anos, no século XIX.

Uma parte da população muçulmana continuou a dedicar-se às actividades agrícolas e à construção, o que iria favorecer o desenvolvimento de Calatayud, na sua região com a "arte mudéjar", sobretudo no século XIV e XV.

O conjunto constituído pelas suas muralhas islâmicas julga-se ter sido construído, em grande parte, de 862 a 863, sendo o mais antigo do seu género, conservado em Espanha. É parcialmente cavado na rocha de gipso, (rocha sedimentar formada de sulfato hidratado de cálcio cristalizado, também chamada gesso de Paris), e a sua construção tem uma base de alvenaria de pedras de gipso e de taipa. Na sua parte Sul desapareceu, mas o que se conserva até hoje, mostra que se trata de um dos mais complexos conjuntos de muralhas medievais.

A nossa visita à cidade começou com um reconhecimento pela parte velha da cidade, que se encontra um pouco degradada e abandonada, notando-se no contraforte sedimentar sobranceiro à cidade a presença de algumas casas trogloditas.

Estas casas são construídas dentro de pequenos montes sedimentares e em muitas delas só se vê as portas e algumas janelas. Logo abaixo encontrámos o presépio da cidade em tamanho real, que me fez lembrar os belos presépios vivos que no Lobito, a terra da minha infância, se faziam e de que eu tanto gostava.

A igreja de San Juan el Real, encontrava-se fachada para pena nossa, pelo que não podemos observar as telas com pinturas de Francisco de Goya do início da sua carreira. Era sábado à tarde e a cidade estava calma e silenciosa...

O silêncio só era quebrado pelo espírito do vento ou pelo ruído do motor de algum carro que pelas suas ruelas se lembrava de passar. A visita pelas ruelas da cidade adormecida à hora da "siesta", resultou na verificação que a cidade estava vazia de gentes, mas não das coisas da alma, uma vez que em muitas das janelas e varandas das casas, observava-se a imagem impressa em tecido vermelho do Menino Jesus!...

*Mais sobre Calatayud em: Calatayud - Verão 2003 - Espanha

Zaragoza, a "sempre heróica e imortal"

Partimos de Figueres já depois do jantar a caminho de Barcelona. Quando chegámos a Barcelona resolvemos não parar para visitar a cidade e assim depois de atestarmos a autocaravana de combústivel, seguimos para Zaragoza, onde resolvemos pernoitar. O caminho fez-se bem até metade do percurso, mas a outra metade foi feita sob nevoeiro serrado, o que tornou esta última etápa penosa não só por já ser bastante tarde mas também por se ter de fazer o resto do precurso muito devagar.

Zaragoza ou Saragoça, cidade já por várias vezes visitada por nós, está localizada no nordeste da Espanha, devendo à sua posição, parte do que fez esta cidade tão famosa e tão cobiçada por muitos conquistadores. Zaragoza fica situada no vale do rio Ebro que torna a área extremamente fértil e perfeita para a agricultura.

Numa importante encruzilhada entre os Pirenéus e o reino de Castela, casa de muitos reis e rainhas de Espanha e num ponto-chave da entrada no reino, Saluba, como era conhecida no momento em que foi tomada pelos romanos, que a nomearam Colonia Caesaraugusta. Após os romanos chegaram os suevos, os visigodos e os mouros.

Em 1118, Alfonso I de Aragão ocupou a cidade, e durante séculos foi a residência dos reis de Aragão. A cidade mais tarde foi atacada pelos franceses no início dos anos 1800 e pelos Carlistas (partidários de D.Carlos, na Guerra da Sucessão Espanhola, que lutavam para evitar uma união das coroas francesa e espanhola), 30 anos mais tarde, e em ambas as vezes Zaragoza sobreviveu, dizendo-se que Saragoça é uma cidade "Sempre heróica e imortal".

Saragoza é uma cidade verdadeiramente notável. Com uma história longa e sangrenta, mas recheada com episódeos de heroísmo e histórias de encantar. A cidade que descansa agora pacificamente no vale do Ebro, com uma paisagem exuberante e bela, tal como o Monumento que é a cidade propriamente dita...
*Mais sobre Zaragoza em : Zaragoza -

Tributo a Salvador Dalí





Salvador Dalí, o génio surrealista

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol nasceu às 8h45 da manhã de 11 de Maio de 1904, no número 20 da rua Monturiolin da vila de Figueres.

Seu irmão mais velho, também chamado Salvador (nascido em 12 de Outubro de 1901), havia morrido de gastroenterite, nove meses antes, em 1 de Agosto de 1903. Seu pai, Salvador Dalí i Cusí, era um advogado de classe média, figura popular da cidade e senhor de um carácter irascível e dominador e sua mãe, Felipa Domenech Ferrés, que sempre incentivou os esforços artísticos do filho. Dalí também teve uma irmã, Ana Maria, que era três anos mais nova. Em 1949, ela publicou um livro sobre seu irmão, "Dalí visto por sua irmã".

Salvador Dalí foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista, chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e o seu trabalho mais conhecido, "A Persistência da Memória", foi concluído em 1931.

Salvador Dalí teve também trabalhos artísticos no cinema, escultura, e fotografia. Ele colaborou com a Walt Disney na curta metragem de animação "Destino", que foi lançado postumamente em 2003, e ao lado de Alfred Hitchcock, realizou o filme "Spellbound".

Dalí insistiu muito na sua "linhagem árabe", alegando que os seus antepassados eram descendentes de mouros que ocuparam o sul da Espanha por quase 800 anos (711 a 1492), e atribui a isso, o seu amor de tudo o que é excessivo e dourado, a sua paixão pelo luxo e seu amor oriental por roupas.

Tinha uma reconhecida tendência para atitudes e realizações extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que por vezes aborrecia aqueles que apreciavam a sua arte, ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, já que sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho artístico.
Dalí frequentou a Escola de Desenho Municipal, onde iniciou a sua educação artística formal. Em 1916, durante umas férias de Verão em Cadaquès, passadas com a família de Ramon Pichot, descobriu a pintura impressionista. Pichot era um artista local que fazia viagens frequentes a Paris. No ano seguinte, o pai de Dalí organizou uma exposição dos desenhos a carvão do filho na sua casa de família. Sua primeira exposição pública ocorreu no Teatro Municipal em Figueres em 1919.

Em Fevereiro de 1921 sua mãe morreu de câncer da mama. Dalí, então com dezasseis anos de idade, disse depois da morte de sua mãe: "Foi o maior golpe que eu havia experimentado em toda a minha vida. Eu adorava-a… eu não podia resignar-me à perda de um ser com quem eu sempre contei para tornar invisíveis as inevitáveis manchas de minha alma".

Após a morte de Felipa Domenech Ferrés, o pai de Dalí casou-se com a irmã de falecida esposa. Dalí não ressentiu este casamento, como alguns pensam, pois ele tinha um grande amor e respeito pela tia.
Em Outubro de 1921, Dalí foi viver em Madrid, onde estudou na Academia de Artes de San Fernando. Já então Dalí chamava a atenção nas ruas como um excêntrico cabelo comprido, um grande laço ao pescoço, calças até ao joelho, meias altas e casacos compridos.
O que lhe granjeou maior atenção por parte dos colegas foram os quadros onde fez experiências com o Cubismo, embora na época destes primeiros trabalhos cubistas ele provavelmente não compreendesse por completo este movimento, dado que tudo o que sabia de arte cubista provinha de alguns artigos de revistas e de um catálogo que Ramon Pichot lhe oferecera, visto não haver artistas cubistas, neste tempo, em Madrid.

Fez também experiências com o Dadaísmo, que provavelmente influenciou todo o seu trabalho. Nesta altura, tornou-se amigo íntimo do poeta Federico García Lorca e de Luis Buñuel, cineasta espanhol. Dalí foi expulso da Academia em 1926, pouco tempo depois dos exames finais, quando declarou que "ninguém na Academia era suficientemente competente para o avaliar". Seu domínio de competências na pintura está bem documentado, nesse tempo, em sua impecável e realista pintura "Cesto de Pão", de 1926.

Em 1924 o ainda desconhecido Salvador Dalí ilustrava pela primeira vez um livro, o poema catalão "Les bruixes de Llers" ("As bruxas de Llers") de seu amigo, o poeta Carles Fages de Climent. Foi nesse mesmo ano que fez a sua primeira viagem a Paris, onde se encontrou com Pablo Picasso, que era reverenciado pelo jovem Dalí.

"Vim vê-lo antes de ir ao Louvre", disse-lhe Dalí. "Fez você muito bem", respondeu-lhe Picasso. O artista mais velho já tinha ouvido falar bem de Dalí através de Juan Miró. Nos anos seguintes, realizou uma série de trabalhos fortemente influenciados por Picasso e Miró, enquanto ia desenvolvendo o seu próprio estilo.

Algumas tendências no trabalho de Dalí que iriam permanecer ao longo de toda a sua carreira, já eram evidentes na década de 20, sendo inspirado principalmente pelo trabalho de grandes pintores como Raphael, Bronzino, Francisco de Zurbarán, Vermeer, e Velázquez. As exposições de seus trabalhos em Barcelona despertaram grande atenção e uma mistura de elogios e debates por parte dos críticos.

Nesta época, Dalí deixou crescer o bigode, que se tornou emblemático, com o estilo baseado no pintor espanhol do século XVII, Diego Velázquez. Em 1929, colaborou com o cineasta espanhol Luis Buñuel na curta-metragem "Un Chien Andalou", e conheceu, em Agosto, a sua musa e futura mulher, Gala Éluard, cujo nome verdadeiro é Elena Ivanovna Diakonova, nascida em 7 de Setembro de 1894, em Kazan, Tartária, Rússia.
Gala Éluard era uma imigrante russa dez anos mais velha que Dalí, casada na época com o poeta surrealista Paul Éluard, amigo da Dalí. Juntou-se oficialmente ao grupo surrealista no bairro parisiense de Montparnasse, embora o seu trabalho já estivesse há dois anos sendo influenciado pelo surrealismo. Em 1934 Dalí e Gala, que já viviam juntos deste 1929, casaram-se numa cerimónia civil e voltam a Espanha.

Com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Dalí fugiu e recusou-se a alinhar com qualquer grupo politico. Em 1940, no início da II Guerra Mundial, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos da América, onde viveram durante oito anos. Em 1942, ele publicou a sua autobiografia, "A Vida Secreta de Salvador Dalí". Após o seu regresso à Catalunha e após a Segunda Guerra Mundial, Dalí tornou-se mais próximo do regime de Franco.

Foi na sua amada Catalunha que Dalí viveu o resto da vida. O facto de ter escolhido viver em Espanha enquanto o país era governado pelo ditador fascista Francisco Franco trouxe-lhe críticas dos progressistas e de muitos outros artistas da época.

Em 1960, Dalí começou a trabalhar no Teatro Museu Dala Salvador Dalí, na sua terra natal em Figueres. Foi o projecto de maior vulto de toda a sua carreira e o principal foco de suas energias até 1974, ano da sua inauguração, embora continuasse a fazer acrescentos até meados dos de 1980.

Gala morreu em Port Lligat na madrugada de 10 de Junho de 1982. Desde então, Dalí ficou profundamente deprimido e desorientado, perdendo toda a vontade de viver. Recusava-se a comer, tendo ficando desidratado, teve de ser alimentado por uma sonda nasal.

Em 1980, um cocktail de medicamentos não prescritos, danificou o seu sistema nervoso, provocando assim um inoportuno fim a sua capacidade artística. Aos 76 anos, Dalí sofre tremores terríveis do seu lado direito, causado pela doença de Parkinson. Mudou-se de Figueres para o castelo em Pubol, que comprara para Gala.

Em 1984, deflagrou um incêndio no seu quarto em circunstâncias pouco claras, talvez tenha sido uma tentativa de suicídio de Dalí, talvez tenha sido uma tentativa de homicídio de um empregado, ou talvez simples negligência pelo seu pessoal, não se sabendo ao certo o que realmente aconteceu. Mas Dalí foi salvo e levado para Figueres, onde um grupo de amigos, patronos e artistas se assegurou de que o pintor vivesse confortavelmente os seus últimos anos no Teatro Museu.

Em Novembro de 1988, Dalí foi levado ao hospital com insuficiência cardíaca e em 5 de Dezembro de 1988 foi visitado pelo rei Juan Carlos da Espanha, que confessou ter sido sempre um grande admirador de Dalí.

Em 23 de Janeiro de 1989, morreu de insuficiência cardíaca em Figueres, com a idade de 84 anos, e está sepultado na cripta do seu Teatro Museu Dalí, em Figueres. Do outro lado da rua, fica a igreja de Sant Pierre, onde ocorreu o seu funeral, a sua primeira comunhão e o seu baptismo, a poucos metros da casa onde nasceu.

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