Serpa em festa

Depois de dificilmente deixarmos o grande lago, decidimos ir jantar a Serpa e só depois seguirmos viagem rumo a Sevilha. O caminho até Serpa, no Baixo Alentejo, fez-se ao cair da noite e a chegada à cidade pelas 22h00, fez-nos acelerar o passo até à zona velha onde depois de se passar pela Porta de Moura à entrada da muralha, nos dirigimos ao largo da cidade onde está situado o Restaurante Alentejano.
O Castelo de Serpa, de origem mourisca, foi reconstruído no século XIII e ainda domina as ruas e praças de casario branco. Das cinco portas das antigas muralhas, já só restam a Porta de Beja e a monumental Porta de Moura. Ali perto, ainda se pode observar uma velha nora mourisca.
Nesta localidade respira-se a genuína alma alentejana. Debruçada sobre a vasta planície, a vila parece planar, perdida no tempo, enclausurada nas muralhas do castelo que a rodeiam na quase totalidade.
O Restaurante Alentejano fica situado no centro da cidade, no largo junto do edifício da Câmara Municipal e serve cozinha tipicamente alentejana e um serviço de qualidade. Decorria a semana do borrego e por isso decidimos pedir um prato de ensopado de borrego à moda antiga, que tinha o sabor dos cozinhados da minha avó.

O largo da Praça da República, onde se situa o Restaurante, estava à chegada todo iluminado devido às festas na cidade, e decidi só o fotografar à saída do restaurante, depois de jantar. No entanto à saída, a iluminação da praça estava desligada, e eu preparava a câmara para as fotos possiveis, quando alguns jogadores presentes numa peladinha que ali decorria, deram sem que eu percebe-se, pela minha velada intenção de fotografar a praça.
Então, ouviu-se de repente uma voz dizendo: "Acende ai a iluminação, oh Victor, para a senhora fazer as fotos à praça." A praça ficou de repente toda iluminada, e eu agradeci em voz alta, como é obvio e fiz as fotos... Estes momentos que nunca mais se esquecem, de simpatia e autêntico acolhimento gratuito, fazem com que estas experiências vividas durante as nossas viagens, façam com que nos apeteça cada vez mais viajar!...

Em Serpa decorriam as festas da vila, mais precisamente as Festas do Concelho em honra de Nossa Senhora de Guadalupe. A sorte mais uma vez esteve connosco, uma vez que foi o acaso que nos levou a Serpa, que se encontrava toda engalanada para receber os muitos forasteiros que a procuram nesta época. A festa realiza-se na Páscoa, tem início na Sexta-feira da Paixão e termina na terça-feira seguinte, que é o feriado municipal.
A festa do concelho de Serpa, na chegada da Primavera é celebrada, de forma especial, com a festa em honra de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira oficial do concelho a partir de meados do século XX, que nos dá sem dúvida, a certeza de um passado em comum com a Extremadura espanhola.
O culto a Nossa Senhora de Guadalupe nestas paragens, deverá remontar ao século XIV. A ermida no Alto de S. Gens, que lhe é dedicada, fica situada no ponto mais alto da povoação, a cerca de um quilómetro para sul da cidade e data do início da século D.
Segundo nos disseram as festas noutros tempos, em honra de Nossa Senhora de Guadalupe realizavam-se na ermida e compreendiam duas festas: a "dos homens", por ocasião da Páscoa, e a "das mulheres", pela época das vindimas. Isso porque, segundo se pensa, só indivíduos do mesmo sexo podiam agrupar-se em confraria. Provavelmente em 1870, as duas irmandades fundiram-se e, desde então, celebra-se uma só festividade em cada ano, a da Páscoa.

Site: Câmara Municipal de Serpa

A Marina da Amieira

Depois da visita a Arraiolos, partimos a caminho do grande lago da barragem do Alqueva. Passámos por Évora de raspão, não só por ser uma cidade bem conhecida por nós, mas também porque queríamos chegar sedo à Marina da Amieira.

O que parecia impossível há apenas alguns anos atrás, é hoje uma realidade, uma Marina em pleno Alentejo profundo!... A Marina da Amieira bem no coração da Barragem de Alqueva, é um lugar muito belo, onde o silêncio das peneplanicies alentejanas, não se faz rogado, e onde a experiência de uma paz repousante é a uma realidade.

A Marina da Amieira faz parte da valorização turística das "Terras do Grande Lago" e foi uma aposta estratégica da Região de Turismo de Évora e do Governo português. As características da albufeira do Alqueva, que abrange os vales dos rios Guadiana e Degebe e das ribeiras de Alcarrache, Zebro e Lucefecit, oferecem potenciais efectivos de desenvolvimento turístico, designadamente pela proximidade de aldeias e vilas alentejanas que poderão articular a sua base económica às actividades de turismo, lazer e recreio que aproveitam o amplo espelho de água bem como as suas margens.

A Marina da Amieira é o primeiro projecto náutico ao nível do plano de água do Grande Lago e que integra todos os serviços náuticos desde aluguer, manutenção e parqueamento de embarcações, serviços de restauração, bar esplanada, restaurante panorâmico e lojas de artigos náutico-desportivos.

Para além dos barcos de cruzeiro que saem duas vezes por dia e os barcos-casa, que qualquer família pode alugar e usar para fazer um cruzeiro particular, a empresa responsável pela marina, dispõe ainda de canoas e kayaks de aluguer, barcos à vela e jangadas, de modo a responder às opções dos utentes que anseiam por passear nas águas límpidas do Alqueva.

O desenvolvimento do turismo designado por alternativo é hoje uma realidade com grande alcance na inovação da actividade turística e do lazer no mundo inteiro, manifestando a afirmação de produtos, espaços, equipamentos e serviços, mecanismos de comercialização e modelos de promoção turística, que possuem características que negam a tendência global da massificação e que se suportam na descoberta de novas ambiências e de estruturas com bom acolhimento mas com originalidade, envolvendo um contacto personalizado com as gentes locais e os seus valores e patrimónios culturais.

O entardecer e o pôr-do-sol, antes da chegada da noite, o coaxar das rãs e o espírito do vento que suavemente nos acolhe, faz com que o tempo passado junto ao grande lago, seja realmente um tempo de prazer...

Sites: amieiramarina.com / portugal-rural.com

Arraiolos, a vila branca

Depois de sairmos de Avis, rumámos para Sul, pois pretendíamos visitar a Marina da Amieira, infra-estrutura recente e que ainda não conhecíamos, que aproveita o belo espelho de água do grande lago artificial da barragem do Alqueva. Queríamos ainda visitar Arraiolos e depois desta visita, a passagem por Évora fez-se rapidamente para chegarmos à Amieira ainda cedo.
A nossa ideia no essencial é percorrer sempre que possivel o Alentejo, quase que sem destino, explorando o delicioso interior português, suas paisagens de campos amarelados, seus azeites e cozinha riquíssima e as paisagens recortadas por morros e castelos medievais.

A vila de Arraiolos espreguiça-se num dos mais altos montes da região de Évora, situada no interior sul do país, na vasta região alentejana, é hoje um concelho rural caracterizado por estar dominado por uma muralha de forma elíptica.

Segundo Cunha Rivara*, historiador Arraiolense, na sua obra "Memórias da Vila de Arraiolos", refere que "a abundância de vestígios relacionados com o final do Neolítico ou mesmo com o calcolitico são um sinal de uma significativa ocupação humana a partir do IV Milénio a.C. e, provavelmente, na proto-História, o grande local de habitat corresponderia já à actual elevação onde se localiza o Castelo de Arraiolos".

A fundação desta vila é atribuída, por uns, aos galo-celtas, no século IV a. C., sob o nome de Calantia, e, por outros, como Cunha Rivara* "aos sabinos, tusculanos e albanos, que viveram nesta área, antes de Sertório, no ano 200 a. C.".

Pensa-se que esta vila já existia a partir da ocupação grega, no século II a. C., de modo que o seu topónimo terá derivado do nome de um possivel governador ou um capitão grego de nome Rayeo ou Rayo, que nestas terras foi senhor, "Terras de Rayo", e que, posteriormente, por sucessivas transformações viria a dar Rayolos e, depois, Arrayolos.

Com a chegada dos povos nórdicos, esta vila foi destruída e despovoada. Em 1217, D. Afonso II doou a vila de Arraiolos ao bispo de Évora, concedendo-lhe licença para aí construir um castelo, que não chegou a ser edificado. D. Afonso III recuperou a vila para a coroa e D. Dinis reconstruiu-a, e deu-lhe o primeiro Foral em 1290, mandando edificar o seu Castelo em 1305, e dentro dele mandou também construir um paço.

D. Fernando I doou a vila de Arraiolos a D. Álvaro Pires de Castro, irmão de D. Inês de Castro, e mais tarde a vila foi doada por D. João I a D. Nuno Álvares Pereira, em 1387, que também recebeu o título de Conde de Arraiolos.

Foi condado de D. Nuno Álvares Pereira, 2º conde de Arraiolos, a partir do ano de 1387, onde antes de recolher ao Convento do Carmo em Lisboa, o "Condestável do Reino", permaneceu longos períodos da sua vida.

Em 1511 recebeu novo foral de D. Manuel I. Durante as Guerras de Independência, os espanhóis tomaram esta vila e incendiaram o castelo. Já no reinado de D. João IV, em plena época da "Restauração da Independência", o castelo foi remodelado, mas algumas décadas depois estava ao abandono e o terramoto de 1755, completou a ruína que já apresentava. Mais tarde, em 1910, foi classificado como Monumento Nacional, e ali foram executadas obras de recuperação, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

No que se refere ao seu património histórico e monumental, vila é coroada pelo castelo, do século XIV. O Castelo de Arraiolos, destaca-se num monte cónico que lhe serve de pedestal. É um recinto rectangular, com torres nos ângulos e com uma torre de menagem. Aqui também se pode visitar a enorme Igreja do Salvador, construída no século XVI, rodeados de grandes muralhas.

Vale ainda a pena admirar o pelourinho de mármore de Estremoz, a Igreja da Misericórdia, com os seus azulejos do século XVIII, ou ainda o característico Chafariz dos Almocreves, uma fonte rural que dava água à população e servia de bebedouro para animais e de lavadouro público na parte de trás.

A Torre do Relógio é manuelina e no centro do recinto amuralhado possui uma antiga igreja paroquial, que é um edifício quinhentista que se encontra contudo bastante danificado. São ainda de destacar a Igreja da Misericórdia, datada do século XVI, e o Solar da Sempre-Noiva, do século XVII, que constitui uma peça importante da arquitectura civil da época, apresentando janelas de estilo manuelino com influências mouriscas.

É obrigatório um passeio a pé pelas suas ruas limpas, sinuosas e estreitas, com casas imaculadamente brancas, de fachada impecável que vão alternando entre molduras amarelas e azuis e largos que convidam à preguiça.

No artesanato registam-se: a arte pastoril, a cestaria e os tapetes de Arraiolos, cuja arte remonta, no mínimo, ao século XVII e que ainda mantêm o seu aspecto tradicional, sendo bordados com fios coloridos de lã sobre tela de linho ou estopa com um ponto designado de arraiolos ou grego ou, como também é conhecido, ponto entrançado eslavo.

Bordados ao longo de séculos, os Tapetes de Arraiolos são uma das afirmações mais vincadas do génio do nosso povo. Chegaram até nós graças às mãos laboriosas de gerações de bordadeiras que lhes imprimiram o melhor do seu gosto, da sua arte, com traços da vida da grande planície alentejana.

Nos finais do séc. XV, por mandato de D. Manuel I, foram expulsas da Mouraria (Lisboa) várias famílias mouriscas que a caminho do Norte de África e do sul de Espanha, acabaram por fixar-se nestas terras. Com a particularidade de serem exímios artesãos e face ao bom acolhimento da população local, estas famílias dedicaram-se à manufactura de tapeçarias, e disfarçados de cristãos novos, deram-lhe o nome de "Tapetes de Arraiolos".

Os documentos mais antigos que se referem ao fabrico destes tapetes na vila de Arraiolos datam de finais do séc. XVI, supondo-se no entanto que a sua implantação date de épocas mais recuadas no tempo...

Sites: Memória Portuguesa / viajar.clix
* in Corographia Portugueza (tomo I e II)

D. João de Portugal, Mestre de Avis

Em fins do século XIV, uma transformação muito importante aconteceu em Portugal. A morte do rei D. Fernando em 1383, deu origem a uma crise política que, envolvendo vários grupos sociais, veio instituir no poder uma nova família real e iniciar uma nova orientação na vida dos portugueses.

D. Fernando tinha uma única filha, D. Beatriz, que, com apenas doze anos de idade, casara com o rei de Castela, pondo-se assim termo a uma série de guerras em que D. Fernando se envolvera com aquele reino, que haviam enfraquecido a economia do país.

D. Fernando morreu alguns meses depois deste casamento e como D. Beatriz não tinha filhos nem irmãos, não havia sucessores legítimos do rei. Esta situação de impasse desencadeou várias revoltas populares. As populações recusavam-se a aceitar a aclamação de uma rainha que era mulher de um rei estrangeiro (rei de Castela), o que poderia dar origem à união dos dois países, e que teria por consequência a perda da independência de Portugal.

Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, D. João, Mestre de Avis, irmão bastardo de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado foi a "Crise de 1383-1385", um período de interregno, onde o caos político e social dominou.

D. João, Mestre de Avis foi aos seis anos (1364), nomeado Mestre da Ordem de Avis, por benesse paterna. Era filho ilegítimo do rei Pedro I de Portugal (famoso pelos seus amores e em especial pelo seu amor vivido com Inês de Castro), e de uma dama chamada D. Teresa Lourenço.

Em Coimbra realizam-se as Cortes. Houve grande divergência de opiniões e vários pretendentes ao trono: D. Beatriz, filha legitima de D. Fernando, e herdeira directa, D. João e D. Dinis, filhos de D. Pedro e de D. Inês de Castro, e os inevitáveis D. João de Castela (marido de D. Beatriz) e o D. João, Mestre de Avis.

João das Regras, jurisconsulto, rebate uma por uma as pretensões dos outros candidatos ao trono e declara o trono vago. Faz o elogio do Mestre de Avis, dizendo: "merece esta honra e o estado de Rei". E como tal é aclamado a 6 de Abril de 1385, dando início à segunda dinastia, dita "Dinastia de Avis".

O Rei de Castela (D. João de Castela) retirou a regência de D. Leonor Teles (viúva de D. Fernando e mãe de D. Beatriz) e, intitulando-se de "Rei Portugal", dirigiu-se para Lisboa, cercando a cidade. Isso fez com que muitos burgueses finalmente aderissem á causa do Mestre de Avis, mas a maior parte do clero e da nobreza apoiavam D. Beatriz.

Pouco depois, João I de Castela invade Portugal com o objectivo de tomar Lisboa e remover D. João I de Portugal do trono. Com o rei de Castela, seguia um contingente de cavalaria francesa, aliada de Castela para se opor aos ingleses, que tomaram o partido de D. João I na Guerra dos Cem Anos. Como resposta, D. João I nomeia D. Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal e Protector do Reino.

Os castelhanos reagiram a esta decisão, como era de se esperar, invadindo novamente Portugal. Mas os portugueses saíram ao seu encontro e travou-se uma batalha decisiva em Aljubarrota, em Agosto de 1385, que foi uma batalha decisiva. Usando a táctica do quadrado e aproveitando as vantagens da colocação no terreno, pois os inimigos estavam de frente para o sol, as tropas portuguesas, chefiadas pelo próprio rei D. João I e por D. Nuno Álvares Pereira, conseguiram a vitória, pondo o exército inimigo em fuga, quase totalmente aniquilado.

A paz definitiva com Castela só veio a ser assinada alguns anos depois, em 1411. Para assinalar o acontecimento, D. João I mandou iniciar, perto do local da batalha, a construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, conhecido por Mosteiro da Batalha.

O Mosteiro da Batalha, é o maior símbolo da "Dinastia de Avis", erigido na sequência de um voto à Virgem, caso vencesse a Batalha de Aljubarrota. O arranque das obras deu-se em 1388 e foram conduzidas por Afonso Domingues, a quem se deve o plano geral da construção e o grande avanço dos trabalhos na igreja e no claustro. A igreja tem três naves e transepto e é panteão do rei D. João I, D. Filipa de Lencastre e seus filhos, além de outros reis e infantes portugueses.

Depois da retirada de Castela, a estabilidade da coroa de D. João I fica permanentemente assegurada. Em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, Duque de Lencastre, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje. Depois da morte de D. João de Castela, em 1390, sem herdeiros de D. Beatriz, a ameaça castelhana ao trono de Portugal estava definitivamente posta de parte.

A partir de então, D. João I dedicou-se ao desenvolvimento económico e social do país, sem se envolver em mais disputas com a vizinha Castela ou a nível internacional. A excepção no seu reinado foi a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, uma praça de importância estratégica no controle da navegação na costa de África que é conseguida a 21 de Agosto.

Após a conquista de Ceuta são armados cavaleiros, na mesquita daquela cidade, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D.Filipa de Lencastre.

D. João I continua a obra iniciada por D. Dinis de tornar cada vez mais poderosa a marinha e a armada portuguesas. Feita a paz com Castela, prepara a expansão territorial do país, que em seu entender só poderia fazer-se para Oeste, para o lado do Mar. Em 1415, encabeça a tomada de Ceuta, iniciando assim a expansão ultramarina portuguesa. Seguir-se-ão os "Descobrimentos", que o seu filho, o Infante D. Henrique toma a peito.

D. João I vive mais dezoito anos, tentando sempre manter unidas as gentes portuguesas, por isso percorre o país de lés a lés, tentando sempre equilibrar as Finanças da Coroa e os interesses da nova aristocracia com os da burguesia comercial.

Começa a partilhar o governo da Nação com o seu filho D. Duarte. Tem assim tempo disponível para recordar ainda os feitos da sua juventude e escreve "O Livro da Montaria". Nele descreve as múltiplas técnicas de montaria, pois a caça foi sempre a sua grande paixão. Evoca o prazer das lutas corpo a corpo, do jogo da pela e da dança, da música e do xadrez. Chega mesmo a comparar à beata contemplação de Deus, à alegria de ver um urso cair na armadilha.

O seu grande amor ao conhecimento passou também para os filhos, designados pelo grande poeta português Luís Vaz de Camões, na sua epopeia épica, os "Lusíadas", por "Ínclita Geração".

O rei D. Duarte de Portugal, seu primogénito, foi poeta e escritor, D. Pedro, Duque de Coimbra o "Príncipe das Sete Partidas", foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo e muito viajado, e D. Henrique, Duque de Viseu, "O Navegador", investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com a navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos "Descobrimentos". E sua única filha, D. Isabel de Portugal, casou com o Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nos domínios de seu marido.

No reinado de D. João I são descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Tem início, igualmente, a colonização dos Açores e da Madeira.

D. João morreu a 14 de Agosto de 1433. Jaz na Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Foi cognominado o "Rei de Boa Memória", pela lembrança positiva do seu reinado na memória dos portugueses, e alternativamente, é também chamado de o Bom ou o Grande.

Sites: Wikipédia / vidaslusofonas.pt

Avis, uma vila medieval


Um dia de sol acordou-nos e depois do almoço, lá fomos nós para Avis, visitar a vila, que ficava a uns escassos quilómetros da zona de lazer, onde deixámos a autocaravana. O percurso foi feito de mota, o que deu muito jeito, pois a vila ficava lá no alto.

Quem chega a Avis é surpreendido pela imponência de uma vila cuja brancura se destaca altiva, do verde da paisagem envolvente e que tem um brilho especial conferido pelas águas da albufeira e das ribeiras que se estendem a seus pés.

Erigida sobre um morro de granito que atinge os 201 metros de altitude, Avis oferece aos visitantes paisagens deslumbrantes e inesquecíveis. Do cimo dos seus miradouros, o vento traz-nos sussurros da sua história e das torres do Castelo que ainda existem ou da varanda do Jardim do Mestre é possível perder o olhar nos vastos campos que rodeiam Avis, até ao longínquo horizonte.

Com o seu gracioso traçado medieval, de ruas estreitas e tortuosas e pequenas casas que exibem a típica chaminé dianteira, Avis ainda preserva alguns dos seus traços originais, mas o inevitável desenvolvimento trouxe novos bairros bem menos característicos.

O centro histórico, de traçado medieval, constituído por um bonito casario branco, com faixas coloridas de amarelo ou azul, respira história e tem muito para mostrar. Destacam-se nele as ruínas do Convento de S. Bento de Avis, cuja origem remonta a 1211. Parte do edifício é hoje ocupado pelos Paços do Concelho, que fez outrora parte da residência dos Mestres da Ordem de Avis.

A sua Igreja Matriz e o seu bonito Pelourinho, mostram orgulhosos o encanto próprio da arquitectura do Alto Alentejo. Do Castelo de Avis subsistem ainda três das suas seis torres. A Torre da Rainha ou do Convento (junto às portas do Anjo e do Arco), Torre de Santo António (a ocidente) e a Torre de S. Roque (a nordeste).

O castelo encontra-se agora em ruínas, mas o enorme convento igualmente fundado pela Ordem de Avis, embora parte dele abandonado e com grandes estragos, é ainda o monumento mais imponente da vila. Do castelo ainda restam alguns pedaços de muralha, aproveitados como paredes de fundo para algumas construções mais recentes.

O povoamento primitivo do território que corresponde ao actual concelho de Avis é bastante remoto, tendo sido encontrados vários vestígios arqueológicos que comprovam a sua ancestralidade por todo o concelho, com vários monumentos megalíticos e vestígios de populações bem antigas.

A vila de Avis desempenhou um papel de destaque na história do nosso País, por ter sido a sede de uma das mais importantes Ordens Militares e ter dado nome à mais emblemática dinastia portuguesa, iniciada por D. João, Mestre de Avis, (filho bastado de D. Pedro). O que resta do seu Castelo conta-nos hoje em dia a história destes outros tempos, em que as ordens militares povoavam, defendiam e construíam cidades.

A primeira referência ao lugar de Avis em documentação medieval portuguesa data do século XIII, quando, no âmbito da Reconquista, ali foi sedeada uma importante Ordem Militar que adoptou o mesmo nome, a Ordem Militar de Avis.
O origem do nome da Ordem de Avis bem como do seu castelo, estão ligados a uma lenda, que conta que alguns frades andavam a procurar o local ideal para a construção de uma fortaleza, e num monte, frente ao território ainda sob domínio muçulmano, viram duas águias pousadas num sobreiro. Esta observação das águias foi considerada como um sinal favorável e decidiram a construção do castelo naquele local, a que chamaram Avis, uma vez que em latim significa ave. As águias tornaram-se assim parte integrante do símbolo da Ordem.
A vila foi fundada em 1214 pelo mestre da Ordem Militar de Avis, e segundo reza a lenda, o seu castelo foi construído em segredo durante a noite, para que os mouros na vizinhança não fossem alertados, e em cada manhã as muralhas meio construídas eram tapadas com ramos.
Esta ordem usufruía, de um forte poder secular e religioso na vila, não tendo sido permitida a instalação de qualquer outra entidade religiosa, de forma a evitar a existência de mais um concorrente na posse de bens e direitos.

A definição da origem de Avis não é, no entanto, consensual, uma vez que alguns documentos apontam para a preexistência desta localidade em relação à Ordem Militar que ali se instalou, fazendo referência à doação destas terras por Afonso II aos frades de Évora, em 1211, para que aí construíssem uma fortaleza e formassem uma povoação.

Na vila de Avis, o passado, o presente e futuro abraçam-se num jogo constante em que não se confrontam mas se unem para proporcionar uma riqueza única. O passado deixou as suas marcas nos monumentos, nas histórias e nas tradições que se mantêm ainda vivas, pela sabedoria popular e pela memória das gentes que, com a sua arte e engenho, as transpõem para o artesanato, que nasce da sua dedicação, e para a gastronomia, que reflecte as riquezas e os hábitos locais...
Após a visita à vila de Avis que nos deixou encantados, fomos para o parque de campismo já ao final da tarde. O jantar ao pôr-do-sol e a quietude do lugar, fez deste momento um dos muitos episódios de viagem, que se tornam para sempre inolvidáveis.

Sites: Viajar.clix / Câmara Municipal de Avis

Complexo do Clube Náutico de Avis

Esta foi a viagem de inauguração da nossa autocaravana pelo elemento mais novo da família, que até esta ocasião não tinha querido acompanhar-nos. Depois de sairmos de casa, tomámos o rumo da vila de Avis, no Alto Alentejo, onde pretendíamos ficar duas noites.

A chegada à vila de Avis foi pelas 22h00. A noite devia ser passada dentro do Parque de Campismo da Barragem do Maranhão, no entanto por termos chegado depois da hora de encerramento das suas portas, resolvemos pernoitar junto à praia fluvial do Complexo do Clube Náutico de Avis, situada mesmo à frente do Parque de Campismo e do qual este também faz parte.

O lugar é óptimo para pernoita, muito bonito e tranquilo, aparecendo por vezes alguns mirones, mas sem qualquer perigo. E devo acrescentar que gostei muito mais de dormir no exterior, do que no interior do Parque de Campismo. Depois do jantar fomos passear nos jardins da praia fluvial e no cais. Uma delícia...

Bem próximo, localiza-se a bonita Barragem do Maranhão, com paisagens únicas e condições de excelência para as mais diversas actividades desportivas e de lazer, com um Clube náutico, com infra-estruturas diversas, dispondo de um miradouro no parque de campismo, com uma magnífica vista sobre as águas deste lago artificial e sobre as pastagens e searas envolventes.

O Complexo do Clube Náutico de Avis, fica situado na margem do magnífico espelho de água, que é constituído pela praia fluvial. Fazem também parte deste complexo. as piscinas municipais, o solário, um parque infantil, um hangar, parque de merendas e restaurante.

Este é um local ideal para quem procura uns dias de repouso, em contacto com a natureza para retemperar as energias. A proximidade da Albufeira do Maranhão, faz deste lugar e do seu Parque de Campismo um espaço de eleição também para quem procura umas férias activas, pois aqui podem praticar-se um conjunto de actividades náuticas que vão desde a pesca ao windsurf, da canoagem ao remo, bem como outras actividades ao ar livre, como caminhadas, percursos de BTT, moto 4, ou até mesmo piqueniques...

É um lugar de encantos! Lugar onde a máquina fotográfica é fundamental, para se usufruir dele e nunca mais o esquecer...

Site: Câmara Municipal de Avis

Páscoa em Sevilha

Não há lugar mais indicado para visitar na época da Páscoa do que a bela cidade de Sevilha... Sevilha é sem dúvida uma das mais belas cidades espanholas e é a que melhor conserva o espírito das suas tradições, com uma explosão de cores e contrastes e uma óptima harmonia entre modernidade e tradição.

A Semana Santa de Sevilha tem uma inacreditável importância na cidade. Devido a isso, tem renome internacional, sendo um dos eventos que, por ano, atrai até Sevilha o maior número de visitantes. Desde o Domingo de Ramos até ao Domingo de Páscoa, a cidade vive imersa numa tradição cultural e religiosa, que não é ultrapassada por nenhuma outra cidade espanhola.

Para estimular qualquer turista a visitar Sevilha na época da Páscoa, não há como ler a breve mas magnífica síntese feita por JMS, in Rotas & Destinos, em Abril de 1996, sobre o que ali acontece nesta semana.

"A imagem de uma Virgem que chora. Uma janela que se abre para deixar alguém cantar. Um nazareno exausto que molha os lábios no sangue de Cristo. Uma voz rouca que lança um piropo à Triana. Retábulos vivos de Sevilha, a barroca, na semana em que, por amor a Jesus, mergulha numa imensa orgia litúrgica de sangue, suor e lágrimas".

O percurso escolhido para ir e voltar, foi o seguinte:

1º e 2º Dia - Avis ;

3º Dia - Arraiolos / Amieira / Serpa /Aracena;

4º Dia - Aracena;

5º Dia - Aracena / Sevilha;

6º, 7º e 8º Dias - Sevilha;

9º Dia - Sevilha / Casa.

A caminho de Portugal



Nessa mesma noite resolvemos fazer o caminho de volta a Portugal. Depois de uma breve conversa decidimos ir pernoitar à Covilhã, para na quarta-feira gorda passarmos o dia com o elemento mais novo da família, que lá estuda.

O percurso embora longo, fez-se rapidamente e pernoitámos na área de serviço da Covilhã. A noite passou tranquila, mas por volta das 5h30 da madrugada, eis que um puto supostamente folião, julgando estar em plena noite de Carnaval, por certo bem bebido, e também por certo oriundo de uma terra onde o Carnaval não tem fim, nos acorda com o buzinar incessante do seu carro, que só foi útil para o camionista que a poucos metros de nós dormia, e que desperto, se pôs a caminho do seu destino.

Esta é a nova mentalidade da fuga, do esvaziamento da mente, tão popular entre os jovens de hoje, adquirida não se sabe bem onde, e de certeza não proveniente das religiões e filosofias orientais, tão ambicionada por alguns jovens nos tempos da minha juventude, e que não é nem resposta nem terapêutica para ninguém...

O Carnaval de Cáceres

O Carnaval de Cáceres foi o resultado de uma recriação histórica medieval, na Praça de Santa Maria, em pleno coração da cidade monumental, como uma actividade já há algum tempo vivida em algumas cidades quer portuguesas, quer espanholas de passado medieval.

Estas recreações desenvolvidas na Península Ibérica, por vezes com o intercâmbio de experiências entre organizações portuguesas e espanholas, têm o intuito de uma cooperação conjunta para o desenvolvimento turístico e cultural das regiões, bem como a valorização do seu património histórico.

Sem dúvida que estas recreações, do ponto de vista turístico, têm o maior interesse e importância, uma vez que contribuem para o desenvolvimento das cidades e para a divulgação cultural do seu real património histórico e popular.
Assim, as festividades decorreram na Praça de Santa Maria, centrando-se em temas medievais, sendo as actividades praticamente restritas à cidade monumental, e o recinto acolheu eventos medievais e não só. Ali decorreu uma feira medieval, onde se venderam produtos da região extremenha, como doces, mel, queijos, licores, bolos, pão e onde ao principio da noite, foi servida aos visitantes uma gratuita e simbólica refeição medieval.
Nesta praça e após esta pequena refeição, decorreu uma reposição histórica de um confronto medieval, entre guerreiros, resultando no final numa comédia medieval. Num palco na mesma praça, vários grupos cantaram e dançaram, entre os quais um grupo de estudantes da Tuna Académica do Porto.

No intervalo das várias actuações podia ouvir-se, entoando por toda a cidade monumental, e ultrapassando as muralhas da zona velha de Cáceres, excelente música medieval... Sem dúvida uma interessante recreação vivida em ambiente animado e civilizado.

Antes de acabar a festa, resolvemos ir jantar numa esplanada da Praça Maior que ficava ali perto, e no fim deste, voltámos à Praça de Santa Maria. No final das festividades, foi acesa uma grande fogueira, no centro da praça, que veio mesmo a tempo de aquecer os visitantes, pois a noite despertou fria, como é habitual naquela época do ano...