De La Rochelle a Puy de Fou - 9º Dia - Parte II




Depois de visitarmos de bicicleta La Rochelle e já ao entardecer voltámos à autocaravana, pois era hora de partir. Embora perdidos de amores por La Rochelle, era preciso cumprir o destino e continuar viagem.

O rumo desta feita era o Puy de Fou onde queríamos ir pernoitar, e que nos foi muito recomendado por pessoas conhecidas que já anteriormente tinham vagueado por aquelas paragens.

No caminho até Puy de Fou, ainda queríamos visitar Parthenay, uma bela vila medieval, que faz parte das villages históricas francesas mais recomendadas nos roteiros turísticos e passar pela vila Donjon de Niort, para vermos o seu famoso Château.

Parthenay é uma pequena cidadezinha francesa fortificada, situada no departamento de Deux-Sèvres, na área de Poitou-Charentes e situada no meio da designada Gâtine. Está situada sobre um promontório rochoso e cercada por dois lados pelo rio Thouet.

Parthenay aparece já referida em documentos a partir de 1012. No início do séc. XIII, Parthenay ocupa um lugar estratégico na luta que opõe os reis de França e da Inglaterra, pela posse da região de Poitou. A cidade é cercada por três linhas concêntricos de fortificações, o castelo, a cidadela e a cidade medieval, cercada até à Porta de Saint-Jacques.

 
No séc. XV, Parthenay tinha a sua atividade económica concentrada ao longo da rua "la Vau Saint-Jacques", situada na parte baixa da cidade. Esta é a rua mais visitada da cidade por preservar o maior número de edificações de origem medieval, sendo por isso mesmo o local mais emblemático. As suas casas ainda hoje reúnem os principais vestígios medievais, os ”Tisserands” que podem ser observados nas fachadas das casas, onde se veem essas traves de madeira que lhes servem de sustentação, com um dos lados da madeira esculpido. Esta rua desce em direção ao Portão Saint-Jacques do século XIII, assim chamado pelos peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, que por ali pernoitavam.

 
A partir do final do séc. XI, desenvolveu-se nas margens do rio Thouet, no bairro de Saint-Jacques, um famoso artesanato têxtil realizado pelas mulheres da cidade.

 
Após termos percorrido cerca de 40 Km parámos em Niort, junto do seu histórico castelo. O Château de Niort é um castelo medieval, composto por duas torres quadradas, ligadas por um edifício do séc. XV que e domina o Vale de Sèvre Niortaise. Os dois torreões são a única parte remanescente do castelo, que foi iniciado por Henrique II de Plantagenet e completado por Ricardo Coração de Leão.

 
A origem do castelo e da cidade tem muito interesse histórico. Após o casamento de Henrique II com Eleanor de Aquitânia, o rei inglês recebeu como dote os domínios de sua esposa, ficando a coroa inglesa a controlar a maior parte do oeste de França. Precisando de uma base segura para manter os laços com a Inglaterra, Niort foi estrategicamente fundada como local onde Henrique II poderia manter uma guarnição e suprimentos de pessoal e armas.

 
Hoje o castelo abriga um museu que exibe principalmente móveis da época medieval e uma extraordinária variedade de trajes que foram usados ​​nas aldeias da região até ao início do séc. XX.

 
A partir de Niort, seguimos viagem para ser realizada a última etapa até a Puy de Fou. Como sempre fomos os últimos a chegar à área de parqueamento de Puy de Fou, passava já da meia-noite. Mais de vinte filas de autocaravanas, cada uma com mais de vinte e cinco autocaravanas, confirmaram a importância e o interesse turístico do local.
Fonte: http://www.trekearth.com/  http://en.wikipedia.org/ http://www.espacoerrante.blogspot.pt/

La Rochelle - 9º Dia - Parte I



No dia seguinte porque tínhamos alguns arranjos para fazer na autocaravana, fomos logo de manhã procurar uma oficina de autocaravanas, que nos resolvesse os problemas. Começámos então o dia de regresso a Rochefort, na mira de um representante da Burstner, que não só foi difícil de ser encontrado, como difícil foi a aceitação da pretendida assistência em época alta, sendo necessário o pedido do livro de reclamações para que resolvessem ceder ao arranjo dos equipamentos.

Voltámos então a La Rochelle, para que fosse iniciada a visita à cidade. Com a caravana novamente estacionada na AS, fomos de bicicleta até à cidade velha. A tarde de sol e uma boa pista para ciclistas ao longo da costa foi deleite na arte de pedalar entre jardins verdejantes, mar azul e muitos yates.
 
A «bela e rebelde» La Rochelle, é uma antiga capital huguenote, que foi marcando a diferença ao longo da história. De uma vila de pescadores, tornou-se num importante porto desde o séc. XII baseando o seu poder no comércio do sal e do vinho, mais tarde citada como protestante.

La Rochelle tem um célebre porto de pesca que é também um porto de recreio internacional, com 3500 pontos de ancoragem, sendo o porto com o maior número de yates do norte da Europa.

Mas La Rochelle possui ainda um porto de águas profundas comercial, chamado La Pallice. É lá onde estão atracados os grandes submarinos franceses construídos durante a Segunda Guerra, embora não estão já em uso podem ser observados de perto. O Porto de La Pallice está equipado com equipamentos para descarga de petróleo, sendo o porto francês que está destinado para o descarregamento de madeiras tropicais. É também o local destinado à frota de pesca, que foi transferido do "Vieux Port", no centro da cidade durante a década de 1980.

Por La Rochelle manteve ao longo da sua historia fortes ligações com o mar e nela foi construída a maior marina para barcos de recreio na Europa, a Les Minimes, além de preservar até aos dias de hoje uma rica indústria de construção de barcos.
 
Da sua história, a cidade guarda uma herança de prestígio.  La Rochelle foi fundada no séc. X e tornou-se um importante porto já no séc. XII. O estabelecimento de La Rochelle como porto foi uma consequência da vitória de Guillaume X, Duque da Aquitânia sobre Isambert de Châtelaillon em 1130 e a posterior destruição do porto de Châtelaillon. Em 1137, Guillaume X, o Santo, fez do porto de La Rochelle um porto livre e deu-lhe o direito de estabelecer-se como uma comunidade. 

Cinquenta anos mais tarde, a filha mais velha de Guillaume X, Eleonor de Aquitânia, mulher muito culta para a sua época (rainha consorte da Inglaterra e França), confirmou a carta comunal promulgada por seu pai, e pela primeira vez na França foi nomeado um “governante” para La Rochelle, que foi assistido nas suas responsabilidades por 24 magistrados municipais, e 75 notáveis ​​que tinham jurisdição sobre os habitantes. Segundo a Carta Comunal, a cidade obteve muitos privilégios, como o direito cunhar as suas próprias moedas, e livrando algumas empresas de impostos reais, fatores que favoreceram o desenvolvimento da burguesia na cidade.

Além das suas belas marinas tem também as suas célebres torres à entrada do Porto Velho, que podem ser visitadas e que nos propiciam belas vistas sobre as embarcações do porto e sobre a cidade antiga.

Destacam-se na cidade antiga as ruas com arcadas e casas medievais com tabiques de madeira e ardósia, e as belas habitações dos séculos XVII e XVIII, bem como o seu “Hotel de Ville” (Câmara Municipal) renascentista...
 
Extremamente próxima, ligada ao continente por uma ponte, a Ilha de Ré pode ser visitada principalmente de carro ou de bicicleta. São de referir na Ilha de Ré as suas casas brancas com postigos coloridos que decoram os seus povoados, sendo algumas consideradas como das mais belas de França.

Fonte: www.larochelle-tourisme.com ; www.iledere.com  ; http://pt.franceguide.com/

Rochefort e Chegada a La Rochelle - 8º Dia - Parte III


Após a visita a Brouage seguimos viagem para Rochefort-sur-Mer. Rochefort é uma antiga praça da armada francesa e ainda hoje possui um grande quartel com oficinas de construção e manutenção de embarcações. No antigo quartel está instalado um museu vivo de arte marinheira, possuindo nos estaleiros uma escola de artes de construção marítima, onde se fazem réplicas de antigos navios, além de uma escola de marinheiros.

Em Rochefort optámos pela visita ao Museu da Marinha e da Construção Marítima, onde podemos observar de perto as técnicas de construção de antigos navios, onde jovens e menos jovens trabalhavam lado a lado, na construção de uma réplica de uma antiga e enorme caravela, l'Hermione.
 
L'Hermione, é uma réplica do famoso navio que levou o Marquês de La Fayette para a América em 1780, para lutar na Guerra da Independência contra os ingleses, que estava aos poucos a ser construído, principalmente por voluntários.

A chegada a La Rochele ao final da tarde, levou-nos de imediato para a AS, situada para lá da ponte, num bom parque misto, com ligações à luz elétrica, zonas relvadas junto ao parque de autocaravanas e com paragem de autocarros, que nos permitia com facilidade e de hora a hora, apanhar transporte para a cidade até à meia-noite.


Chegámos a La Rochelle já caía a noite e fomos de imediato procurar a AS, situada na cidade nova, aconchegada junto ao rio e após passarmos a ponte. A belíssima AS, muito sossegada e confinar com o rio, possibilitava a pesca e o relax.

Como a viagem até La Rochelle tinha sido calma e de poucos quilómetros, fechámos a autocaravana e fomos naquela noite até à cidade velha. A viagem curta de navette conduziu-nos à descoberta da cidade velha numa noite alegre e muito animada. Era sábado, verão, e talvez por esses dois motivos a animação da zona velha da cidade estava ao rubro.

Logo à saída paramos, no átrio junto da catedral para ali assistir a um magnífico concerto ao ar livre de cerca de uma hora. Um numeroso grupo musical de jovens dos 18 aos 30 anos animava a noite, mostrando-se todos muito versáteis e exímios instrumentistas. O grupo musical, numa miscelânea musical entre o rock e o jazz, encantou os passantes com reportório musical de muito bom gosto.

Acabada a função, caminhámos até ao porto velho que surpreende logo à chegada, com a sua marinha repleta de embarcações, protegida por altas muralhas e três torres de vigia.

O Vieux Port é o principal ponto turístico da cidade, que fica situado bem no coração da cidade. É uma zona pitoresca e repleta de restaurantes, onde são confecionados os mais variados e frescos frutos do mar. 

É um porto protegido por velhas muralhas, que protegem a cidade desde a época dos corsários e é um prazer passear à noite pelos seus velhos caís, onde muitos artistas de rua animam as noites e onde se podem encontrar inúmeras bancas com artesanato, produtos gastronómicos da região e roulottes de comes e bebes.

Nas ruas da cidade velha que partem todas do Vieux Port, estão repletas de belos edifícios do Renascimento onde sobressaem as arcadas. À volta do porto observam-se belas casas medievais com tabiques de madeira e ardósia, e belas habitações dos séculos XVII e XVIII.

A cidade velha está muito bem preservada. Durante o dia no porto, podem apanhar-se barcos para se fazerem viagens para a Île d'Aix e para o Fort Boyard (o lugar onde se realizava um famoso programa de TV internacionalmente conhecido e designado também com o nome "Fort Boyard", transmitido também em Portugal na década de 90, criado por Jacques Antoine e filmado nessa verdadeira fortaleza, situada ao largo da Costa Oeste de França).


A noite estava tão animada que nos reteve até cerca das 03h00 da manhã, o que nos dificultou o regresso à AS. Por sorte passou por nós um simpático taxista que já estava fora de serviço, mas que parou para saber para onde íamos, a fim de chamar um seu colega que fizesse o serviço. Como ia para o mesmo lado do que nós, acabou por nos levar. O interessante foi quando descobriu que eramos portugueses revelando muita satisfação por encontrar patriotas inesperados. Embora nascido em França mas de raízes familiares em Pombal, mostrou-se muito satisfeito por poder desenferrujar a sua língua portuguesa.


Fonte: http://dicasdefrances.blogspot.pt/ http://pt.franceguide.com/ www.espacoerrante.blogspot.com/ http://theceliachusband.blogspot.pt/

Cultura da Vaidade e Consumo


Vivemos uma sociedade chamada de, entre outros nomes, de “sociedade de consumo”. A “bulimia” atual atinge todas as pessoas (e deixa frustradas aquelas que, por falta de recursos, não podem adquirir os bens cobiçados). Depois ainda é vinte e quatro horas por dia, incentivada por anúncios mil, que inundam as ruas, os jornais, as revistas, a televisão...
Cabe-nos perguntar porque é que tanta gente se entrega a tal “bulimia”. Variadas são as explicações possíveis. Nesta palestra, Yves de La Taille defende a ideia de que vivemos numa “cultura da vaidade”, na qual as marcas de distinção, que se associam ao status de “vencedor”, tornam-se quase que necessárias para gozar de alguma visibilidade social.
Ora, na maioria das vezes, o primeiro motivo do consumo é a aquisição de marcas. Como o fenómeno não poupa as crianças e adolescentes (clientes, aliás, muito cobiçados), e também como ele é intimamente relacionado à construção da identidade, as medidas para protegê-los devem necessariamente passar, para além da dimensão legal, pela dimensão ética, mas essa ética será entendida aqui como busca de uma “vida boa”, para si e para os seus semelhates.
O Professor Yves de La Taille, é professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Autor do livro "Moral e Ética - dimensões educacionais e afetivas" (Prémio Jabuti 2007). Atualmente ministra aulas de Psicologia do Desenvolvimento e desenvolve pesquisa na área de Psicologia Moral. Esta palestra foi realizada no âmbito do Fórum Internacional Criança e Consumo.



Liberdade, onde estás? Quem te demora?




“Não é bom viver no Portugal onde reina o engano e a mentira institucionalizada.”

«Este artigo é um panfleto. Não acrescenta nada de novo àquilo que digo há mais de dois anos, pelo que não tem interesse mediático. Não é distanciado, nem racional, nem equilibrado, nem paciente, nem tem um átomo da imensa gravitas de Estado que enche a nossa vida pública no PS e no PSD, cheia daquilo a que já chamei redondismo e pensamento balofo. Como vêem já disse isto tudo e estou-me a repetir. Não é sequer um artigo feliz, que se faça com gosto e prazer. Prescindia bem de o fazer para falar de outras coisas, refrigérios da alma, como se dizia no passado, seja livros, seja o Inverno, seja algum momento especial, uma descoberta de amador curioso, uma coisa que se aprendeu, uma calmaria hegeliana do espírito, ou uma negatividade divertida e sagaz.

Bem pelo contrário. Não ilumina, não é feito pela curiosidade, é feito em nome da voz que não tem voz e por isso tem muitos adjectivos e podia ser todo escrito em calão, aqueles plebeísmos, grosserias e obscenidades que tem nos dias de hoje a enorme vantagem de não conter hipocrisia, porque são palavras inventadas contra a hipocrisia. Ao menos, vamos hoje usar o esplendor das belas palavras do português contra o abastardamento da língua como maneira de falarmos uns com os outros, de nos entendermos na simplicidade do povo comum, ou na riqueza criativa de uma velha fala, capaz de tudo se a deixarmos à solta, mas magoada e ferida pelo seu uso para esconder vilezas e malfeitorias, e acima de tudo para esconder arrogâncias ignorantes, que é a moeda falsa que para aí circula.

Pode ser porque eu dou valor às palavras — uma sinistra manifestação da condição suspeita de intelectual — que me repugna, enoja, irrita, indigna, encanita, faz-me passar do sério, a sua sistemática violação pelo governo. Violação, exactamente como as outras violações. Devia haver uma lei não escrita para punir a violência feita com as palavras e pelas palavras, como há com a violência doméstica, a violência contra os mais fracos, o abuso do poder. Devia haver uma lei não escrita para punir o envenenamento das palavras pela desfaçatez lampeira, a esperteza saloia.

De novo, pela pecha de ser intelectual, — um estado miserável nos dias de hoje, “treinador de bancada”, “comentador”, “opinador”, “achista”, “inútil”, “velho do restelo”, “negativista”, ou qualquer outra variante das palavras com que hoje o poder e os seus serviçais entendem diabolizar o debate público que não lhes convém — é que me repugna, enoja, irrita, indigna, encanita, faz-me passar do sério, a sistemática tentativa de nos enganar, de nos tomar por parvos, de nos despachar com um qualquer truque verbal destinado a dizer que uma coisa é diferente do que o que é, porque convém que não se perceba o que é.

Os exemplos abundam. Por exemplo, chamar aos cortes “poupanças”, como se não fosse insultuoso para quem quer que seja ver a sua vida ficar miserável por uma ”poupança” virtuosa, cuja natural bondade não pode ser atacada. Quem ousa ser contra poupanças? Pode-se ser contra os despedimentos, contra a redução das despesas sociais, contra os cortes, mas não se pode ser contra as “poupanças”. Mesmo quando elas mais não sejam do que cortes, despedimentos, reduções de prestações, reformas miseráveis ainda mais miseráveis, ou, como diz Bagão Félix, “diminuição do rendimento das famílias”. Os espertos assessores de comunicação, que se esforçam todos os dias para dar ao Governo a “política” que o professor Marcelo diz que ele não tem e evitar assim “erros de comunicação”, são os aprendizes de feiticeiros deste quotidiano embuste em que vivemos. Mas estão todos bem uns para os outros.

Chamar a um novo plano de austeridade, o enésimo de há dois anos para cá, sempre precedido da mentira de que “não vai ser necessária mais austeridade”, mais uma vez sobre os funcionários públicos, os pensionistas e os que precisam de serviços públicos de saúde, educação, e outros, essa coisa obscura e neutra de “medidas contingentes”, não é também um insulto à nossa inteligência e, pior que tudo, uma ofensa aos que vão ser vítimas daquilo que o Governo chama “desvios na execução orçamental”, ou seja erros? A verdade, nua, bruta, cruel, dura, pétrea, é que cada vez que o Governo erra, há um novo plano de austeridade destinado a garantir que a mesma receita que falhou seja tentada de novo, com mais uns milhares de milhões retirados às pessoas, às famílias, à economia, para pagar uma obstinação, um beco sem saída ideológico, uma tese sem prova, uma abstracção intelectual, no fundo uma enorme vaidade sem perdão. Sócrates deitou fora milhões e milhões mal gastos e perdulários, Passos Coelho deita fora milhões e milhões para um vazio de arrogância, ignorância e vaidade, sem melhorar o défice, aumentando a dívida, sem se ver qualquer utilidade. Mas o dinheiro, antes como agora, foi para algum sítio.

E como aceitar o supremo insulto fruto de uma displicência que acaba por ser maldosa e arrogante, de se dizer que a recessão para este ano “aumenta de um ponto percentual”, como se passasse de 35,4 para 36,4, quando passa de 35,4 para 70,8, usando estes números imaginários para se perceber a enormidade do “ponto percentual” que significa errar por 100%, duplicar por dois uma desgraça, que passa a ser o dobro do que era, ou seja uma pequena coisa, “um pequeno ponto percentual”, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Os erros agora também se chamam “ajustamentos” e podem ser tidos apenas como a natural consequência da “dificuldade das previsões macroeconómicas”, que se tem que ir “ajustando” mês a mês. Mas os erros antes de serem “ajustados” acaso não foram instrumentos de combate político, fonte de afirmação de legitimidade, atirados contra todos os que suspeitavam da sua verdade e exequibilidade? Não tem importância, encontra-se uma estatística qualquer que mostra que estamos no “caminho certo”, mesmo que tudo esteja errado, e há sempre quem coma esta palha.

É tudo “ajustamento” porque os manipuladores das palavras entendem que, lá fora da sua janela do poder, tudo é plástico que se pode moldar, é tudo paisagem em que se pode plantar uma sebe alta para não ver o mais de um milhão de desempregados “em linha com o que estava previsto”, e colocar os portugueses numa jaula de ratinhos a correr para fazer experiências. E que tal cortar metade da comida a ver se eles se “ajustam” à “poupança” de só comer metade? Trinta morrem, quarenta ficam doentes, vinte ainda têm gordura para aguentar. Aguentam, aguentam, diz o tratador. Excelente, ficam dez por cento, a “selecção natural” funcionou e deixou-nos com os mais fortes, os que se “ajustam”, os “empreendedores”. Morreram alguns comidos pelos outros? Não há problema, sempre há ratinhos “empreendedores” e que não são “piegas”, e que mostram as virtudes do modelo.

No dia em que este Governo for corrido, pelo mesmo tipo de onda de rejeição que varreu o seu antecessor, só que agora do tamanho das ondas do Canhão da Nazaré, vai sair com a atitude daquele que diz: o último a sair que feche a luz e a porta, porque já não é connosco, “queríamos mudar Portugal e não nos deixaram”. E irão para os seus lugares de acolhimento confortável, já pensados e preparados, sem temor e sem tremor.

No entretanto, estragaram Portugal com a mesma sanha do filósofo de Paris, numa situação que vai demorar décadas para ser consertada, se é que tem remédio. Descaracterizaram o PSD como Sócrates fez ao PS, tornaram pestíferos os políticos em democracia e as instituições da democracia, destruíram a geração actual, a que tratam sobranceiramente como a dos “instalados” e querem desempregar para “ajustar” o preço da mão-de-obra, e hipotecaram a geração seguinte com a mesma antiga maldição da baixa qualificação, do provincianismo, do quotidiano de subsistência onde não há recursos para os bens materiais quanto mais para os “imateriais”.

Vão deixar-nos na periferia da periferia, como um país eternamente assistido por uma Europa para quem pagar ao seu bom aluno são trocos desde que ele se porte bem. Irá a ficará o BCE, a Comissão Europeia e o Pacto orçamental. Ficará um país medíocre e remediado, uma praia razoável para o Verão. Deles vamos herdar uma enorme colecção de invejas e ressentimentos sociais, que dividirão os portugueses entre si, aumentando ao mesmo tempo a apatia e a violência social.»

José Pacheco Pereira, in Jornal Público de ontem, dia 23 – 02 – 2013
(Foi mantida a ortografia original)

Publicado por: http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2013/02/liberdade-onde-estas-quem-te-demora.html

 
Eis um drink que merece ser sorvido até à alma!




Brouage - 8º Dia - Parte II



 
A chegada à cidadela de Brouage pelas 4h00 da tarde encontrou a vila com bastantes turistas.

Situada no coração dos pântanos da região alagada de Marais-Poitevin e perto da costa oeste francesa, Brouage é uma vila medieval amuralhada fundada em 1555 por Jacques de Pons, num local que outrora era situado junto ao mar, no Golfo da Biscaia e de frente para o Oceano Atlântico.

Historicamente um importante centro regional, a sua economia era baseada na produção de sal e na pesca devido à sua situação privilegiada de fácil acesso ao mar, Brouage foi a primeira cidade importante de negociação do sal na França, e também o principal porto de comércio e expedição de sal, que empregava milhares de pessoas.  

A povoação foi mandada fortificar em meados do séc. XVII, entre 1630 e 1640, pelo Cardeal Richelieu como um bastião católico, para resistir à cidade protestante vizinha de La Rochelle.

Durante as guerras de religião a sua porta de mar ficou bloqueada por navios afundados intencionalmente pelos protestantes, para evitar que o comércio de católicos.

A cidade começou então a perder comércio para a vizinha cidade de Rochefort, e  por volta do séc. XVII, a sua sorte declinou quando o porto se tornou menos acessível aos navios, devido a descida das águas.

Aos poucos e devido aos estuários que existiam ali perto, o porto foi assoreando e na última metade do séc. XVII, a cidade e as suas terras foram ficando cada vez mais longe do mar.

Um longo período de declínio marcou a cidade, devido ao abandono sucessivo de uma cidade que vivia predominantemente do mar, a cidade foi ficando em ruínas, mas hoje é um povoado medieval bem reconstruido, que respira história por todos os poros, muito movimentado devido ao grande número de turistas que a todo o momento chegam à vila.

As muralhas e edifícios associados foram renovados e são estes que agora atraem mais visitantes a Brouage, para verem as fortificações da cidadela e as belas paisagens onde abundam pastagens, os sapais e um pequeno resto das antigas salinas ancestrais que a circundam, ricas em aves que por ali nidificam. É possível caminhar ao longo do topo das muralhas, numa caminhada de aproximadamente 2 km.  
 
Os sapais à volta da cidadela são uma reserva natural que atrai muitos milhares de aves, incluindo cegonhas, que nidificam nos locais mais altos da cidade e que são vistas a voar pela vila ou empoleiradas nas fortificações.
 
Junto da escadaria que nos leva ao cimo da muralha, existe um amplo e comprido edifício, a Halle aux Vivres um antigo edifício que outrora servia de quartel ao exército e era também um armazém que guardava mantimentos como carne salgada e vinho, para manter a cidadela em tempos de guerra. Agora é usada como centro de exposições, com muitos artigos interessantes relacionados com a história  militar da Europa.

Vários outros edifícios militares que também datam do séc. XVII, podem ser visitados, como lojas, forjas e edifícios de armazenamento de pólvora.

Na cidadela pode ainda ser visitada uma rústica e típica casa de gelo que foi reconstruida dentro das fortificações da cidade - as muralhas espessas permitia que o gelo se mantivesse congelado por um período muito longo, por isso poderia estar disponível para o hospital.
 
Deixando de edifícios militares para trás, e caminhamos em direção à Igreja de Saint-Pierre, também do séc. XVII. Foi construída em 1608 e a entrada parece ser em estilo diferente do que o restante da igreja, pois a entrada original foi substituída no séc. XVIII após ter sofrido alguns danos, sendo reconstruida numa época em que o "estilo clássico" mais ornamentado estava na moda.

A Igreja de Brouage, dedicada a São Pedro e São Paulo é um lugar muito visitado e desde 1982 possui vários vitrais que ali foram instalados por descendentes de antigos marinheiros de Brouage, habitantes no Quebec e Nova Brunswick, para que se recordassem as figuras históricas da vila na Nova França, incluindo Samuel de Champlain, o fundador do Quebec e um antigo navegador que ali nasceu e viveu enquanto jovem. Junto à porta de saída, pode ver-se do lado esquerdo, um antigo relógio medieval de corda.

Também dignos de observação detalhada, são as suas ruas calcetadas com calhaus rolados, ladeadas de casas muito antigas de 2 pisos, que albergam no rés-do-chão restaurantes e cafés.

Antigos armazéns estão hoje abertos ao público e ocupados por muitas lojas cheias de turistas, que oferecem artigos de artesanato e iguarias da região, A Porta, designada por Royale Porte, dava outrora acesso ao cais. A outra entrada original já não existe.

Fonte: http://www.francethisway.com/ http://sobrefrancia.com/ http://en.wikipedia.org


Buracos Cósmicos


O nosso universo "infinito" está repleto de fenómenos estranhos e violentos que podem transportar a vida. Imagine portais cósmicos onde objetos podem desaparecer ou ser lançados para outro lugar no espaço ou no tempo.

Descolemos para lugares longínquos no Universo onde cientistas procuram por buracos negros, buracos brancos e buracos de minhoca. Eles são meras fantasias ou fatos científicos?

O nome buraco de minhoca surgiu como uma analogia a uma larva que tenta atravessar uma maçã, onde ela não se move através da superfície, mas vai abrindo caminho através do miolo.
Se conseguíssemos encontrar um buraco de minhoca, estabilizá-lo, e posicionar uma das suas aberturas próxima da Terra e outra no centro da galáxia, o tempo passaria com velocidades diferentes entre uma extremidade e outra, enquanto dentro do túnel o tempo passaria com a mesma velocidade. Essa diferença entre as velocidades relativas das extremidades e no interior do buraco de minhoca, é que poderia fazê-lo como viajando numa máquina do tempo.
Imagine que na extremidade A, o tempo passa mais rápido que na extremidade B, então se se entrasse em A, às 12:00h, poderia sair-se em B centenas de anos antes de se ter entrado em A, ou poderia entrar-se na boca em que o tempo passa mais lentamente e sair-se do outro lado num futuro muito distante, pois do lado em que se sai, o tempo passa mais rápido.
Se houvesse um buraco de minhoca com as duas extremidades ligadas, poderíamos entrar por uma extremidade e sair no outro lado no exato instante em que entramos. E ao contrário dos buracos negros, onde tudo que entra no túnel jamais poderá sair, as viagens através de buracos de minhoca não seriam só de ida, onde poderia retornar à extremidade por onde se entrou.
Será então possível viajar no tempo por um destes buracos, quer para o futuro, quer para o passado?
Os cientistas não sabem ao certo se esses buracos de minhoca acontecem ao acaso no espaço e se por ventura possam ser criados em laboratório. Há os que dizem que a viagem no tempo através de um buraco de minhoca é com certeza muito improvável, pois a viagem no tempo traria paradoxos realmente difíceis. Um desses paradoxos ligados a essa questão é o do avô. Imagine-se que se tinha uma máquina no tempo, e que viajando ao passado eu matava o meu avô. Sendo assim, o meu avô não seria pai do meu pai, que consequentemente não me teria como filha, e eu não teria nascido para poder um dia viajar no tempo e matar o meu avô. Será que poderíamos através de uma máquina do tempo mudar a história?
É importante esclarecer que a ideia da existência de buracos de minhoca são apenas especulações. Enfim, há cientistas que afirmam a impossibilidade de viajar no tempo através de um buraco de minhoca, pois ele destruiria qualquer tentativa.
Porém, existem físicos que consideram isso possível, que alguma geração daqui a milhões de anos possa ter o domínio dos conhecimentos necessários que nós ainda não temos e que se um dia alguém aparecer à sua procura dizendo ser seu tetraneto é melhor não duvidar…
Em 1916, o astrónomo Karl Schwarzschild encontrou uma solução para a teoria da relatividade de Einstein. O trabalho de Schwarzschild revelou uma consequência impressionante da relatividade geral. Ele mostrou que, se a massa de uma estrela estiver concentrada numa região suficientemente pequena, o campo gravitacional na superfície da estrela torna-se tão forte que nem a luz consegue escapar.
Imagine-se que para lançarmos um foguete ao espaço, precisamos que este foguete tenha uma certa velocidade para que ele vença a força da gravidade da terra e chegue ao espaço. Esta velocidade, chamada velocidade de escape, é cerca de 11 quilómetros por segundo (11Km/s). Agora imagine-se a força gravitacional que se deve ter, para que mesmo a luz, que tem velocidade de 300 mil quilómetros por segundo (300.000Km/s), não consiga "viajar". Deve ser mesmo uma força incrível! Mais tarde, descobrimos que isso é o que hoje chamamos de Buraco Negro. Durante muito tempo, muitos físicos, inclusive Einstein, não acreditaram que algo tão extremo pudesse realmente ocorrer no Universo.
Mas o que são os buracos negros? Os Buracos Negros Estelares são originados a partir da evolução de estrelas massivas e portanto com massa da ordem das massas estelares. Neste caso, são os buracos negros formados pelo colapso de estrelas de neutrões.
Mas também existem os Buracos Negros Supermassivos que são encontrados nos centros das galáxias, com massas de milhões a um bilhão de vezes a massa solar, provavelmente formados quando o Universo era bem mais jovem, a partir do colapso de gigantescas nuvens de gás ou de aglomerados com milhões de estrelas.
O jato cósmico ou buraco branco porém encontra-se no início e no fim da nossa compreensão da existência e seria o outro lado de um buraco negro.
Na verdade, o Universo pode estar explodindo e implodindo, simultaneamente, num estado oscilante.
Hoje em dia podemos falar somente sobre nosso próprio Universo e do seu surgimento como um buraco branco cosmicamente jorrante, expandindo e espiralando.
Mas os astrónomos modernos, cuja descrição da física inclui gigantes vermelhas, anãs brancas, horizontes de eventos, desvios para o vermelho, quarks, neutrões, taquiões, quasars e buracos negros, estão atualmente a reconstruir uma nova e completa Cosmologia além da nossa imaginação.

Fonte: http://www.ced.ufsc.br/ http://www.youtube.com/ http://www.imagick.org.br/