Ensinar passos a quem vai correr diferente de nós


 
 
Quando eu fui professor do ensino básico costumava propor aos meus alunos um jogo que intitulei “Não é normal”. A ideia era simples: sentávamo-nos num círculo no chão e todos repetiam “Não é normal…” e, de seguida, cada um, à vez, completava a frase dizendo o que, na sua opinião, não era normal.

O interessante do jogo – além do seu carater divertido – era a oportunidade de discutir o que é a “normalidade”. Por exemplo alguém dizia: (Não é normal) “um homem usar vestido”. E daí – depois de se identificarem culturas em que os homens vestem algo semelhante a um vestido – discutíamos a diversidade biológica e cultural da humanidade e muitos outros assuntos que lhe estavam associados.

Jogar o “Não é normal” é um desafio interessante para repensar – voltar a pensar – o papel da escola na nossa sociedade. Talvez exista um grande descompasso entre as competências que os jovens devem ter adquirido à saída da escola e aquilo que se pensa que a escola deve fazer para lhes permitir adquirir estas competências. Por exemplo: dizemos que os jovens devem ser empreendedores, dinâmicos, criativos, autónomos, com capacidade para resolver problemas... Mas, de forma contraditória, defende-se que, para que o jovem adquira estas competências, deve frequentar uma escola que seja transmissiva, diretiva, estrita e uniformizadora… É aqui que o jogo “Não é normal” nos pode ajudar a perceber que certas estratégias, objetivos e funcionamento da escola não são adequados para que os jovens sejam formados para aquilo que a sociedade tanto preza e valoriza. E vamos dar quatro exemplos:

1. A escola deve preocupar-se com o desenvolvimento integral da criança. Na verdade, se não for a escola a assegurar este desenvolvimento, quem o fará? Sabemos que as famílias não se encontram disponíveis nem capacitadas para desempenhar todo este papel. Muito do desenvolvimento global da criança se passa sob a responsabilidade da escola. As famílias confiam nas escolas para que elas desempenhem e bem esta função que está longe de ser exclusivamente académica. Hoje a escola é um ambiente de desenvolvimento de numerosas capacidades, atitudes e conhecimentos que são essenciais para a vida adulta. Se assim é, “Não é normal” que a escola afunile as competências para a Língua Materna e para a Matemática. Precisamos sim de um currículo que cubra as áreas do desenvolvimento integral do aluno: o estudo e a intervenção no meio, a música, as artes, a motricidade, a socialização, a solidariedade, a análise crítica, a cidadania, a ecologia, etc.


2. A criatividade é um pilar do desenvolvimento e – cada vez mais – do sucesso da pessoa. Sabemos hoje que a criatividade pode ser mais ou menos exuberante em cada ser humano mas sabemos igualmente, que se podem criar ambientes que incentivam, acarinham e apoiam a criatividade e permitem às pessoas a ir mais além nesta sua capacidade. Precisamos por isso de criar nas escolas ambientes que acolham e ajudem a florescer a criatividade. Se assim é, “Não é normal” que entupamos a vida escolar das crianças com aulas, mais aulas e mais aulas, na esperança insensata que a criatividade se desenvolva tal como uma erva teimosa que desabrocha na frincha de dois monólitos de granito.

3. Sabemos que o sucesso na escola é preditivo do sucesso na vida. Disse “preditivo” e não determinante. A escola deve ter um papel decisivo na organização da vida prática e dos valores dos alunos. O insucesso na escola é também o insucesso na organização da vida e uma formação de valores reativa face à escola e ao conhecimento. Por isso é fundamental que a escola cuide do sucesso de todos os alunos (não é gralha, é mesmo “todos”). Sucessos diferentes, sem dúvida, porque as escolas não podem colocar entre as suas opções educativas a possibilidade de insucesso. Se assim é, “Não é normal” que as escolas não tratem cuidadosamente do apoio aos seus alunos que evidenciam dificuldades: o apoio aos professores que os ensinam, o apoio às famílias que por vezes não entendem o que se passa, o apoio aos alunos que não vêm saída para ultrapassar o seu afastamento da escola, enfim o apoio à turma para trabalhar em entreajuda.

4. Os desafios para educar uma criança no século XXI são muito diferentes do que seriam há 20 ou 30 anos. Sabemos que a escola tem de procurar novas formas de ensinar, tem de procurar novos significados para a sua missão, diferentes estratégias, mesmo diferentes conteúdos. A escola não é uma instituição intemporal e necessita de se modificar tal como a sociedade e os alunos que lhe chegam se modificam. Se assim é, “Não é normal” que se defenda a que a escola deve regressar aos modelos transmissivos, à organização estrita e rígida do passado. As soluções do passado nem resolveram os problemas do passado, nem – muito menos – resolvem os problemas do presente.

Não é fácil encontrar uma solução para o sucesso da Educação. Diria mesmo que é impossível encontrar “uma” solução. Existem muitas possibilidades, todas no caminho mais ou menos longo do sucesso. Precisamos de desenvolver nas pessoas e nas instituições uma atitude de “heurística”, de caminho, de procura permanente das soluções possíveis, mais justas e mais adequadas.

Precisamos, pois, de apoiar as escolas e os professores para se adaptarem a uma tarefa de uma grande complexidade e incerteza: a de ensinar os primeiros passos a pessoas que – de certeza – irão correr de forma diferente da deles. Muitos professores sabem fazer isto e muitos outros estão disponíveis e ativos para aprender como se dinamizam processos de aprendizagem cuja finalidade é holística, criativa, apoiada e diversa. E isso é que “normal”(?).

David Rodrigues, in Jornal público de 26/06/2013

 

David Rodrigues é professor universitário e presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial.

História de um Homem com Pensamento Vivo


«Agostinho da Silva - Um pensamento Vivo» foi filmado entre fevereiro de 2001 e setembro de 2003, em Portugal e no Brasil.
 
Marcado pelo gosto do paradoxo, pela independência e inconformismo das ideias e por invulgares dons de comunicação oral e escrita, a figura ímpar de Agostinho da Silva desenha-se num singular misto de sábio, visionário e homem comum, no qual o pensamento e a vida se confundem.
 
Este filme percorre o trajeto biográfico, a vida e a obra deste grande pensador e humanista luso-brasileiro. A narrativa - adaptada de textos autobiográficos - inicia–se em Portugal, desde a sua infância e formação intelectual até as suas primeiras obras escritas, passando pelo seu autoexílio brasileiro de 25 anos, a partir de onde desenvolveu projetos completamente únicos e inovadores em diversos continentes, vindo a culminar no seu regresso a Portugal, pouco antes do 25 de Abril, onde viveu o resto da sua vida, vindo a conhecer em inícios dos anos 90 uma popularidade e admiração invulgares.




http://cinema.sapo.pt/filme/agostinho-da-silva-um-pensamento-vivo/detalhes#sinopse ; https://www.youtube.com/watch?v=tTqM3eNFCbY&list=PL9D330881CF2ABA1E

O Antigo Egipto


A escolha de uma série documental para apresentar aqui às sextas-feiras recaiu desta feita sobre a já consagrada “Construindo um Império” do The History Channel, que nos fala sobre as várias civilizações antigas, mais fascinantes e enigmáticas.

As duas primeiras realizações desta série foram “Os Egípcios” e “Roma”, ambas indicadas para os prémios Emmy de 2007, sendo a segunda uma das galardoadas.

A grandeza arquitetónica dos Impérios de várias civilizações passadas, tem deslumbrado e cativado o mundo inteiro desde sempre.

Ainda que estas edificações tenham sido erguidas sem a ajuda de computadores ou as ferramentas que hoje nos oferece a tecnologia, ainda se mantêm resplandecentes pela sua grandiosidade, tamanho e singular beleza.

Há 5000 anos, quando a Grécia e Roma não passavam de sonhos distantes, uma civilização concebeu o impossível e construiu o inimaginável.

"Os egípcios trabalharam em escala mais monumental que qualquer outro povo em milénios".

Enriquecidos pelas suas conquistas e fortalecidos por seus deuses, os faraós ergueram o primeiro monólito de pedra do mundo antigo, o edifício mais alto, a mais antiga barragem, a fortaleza mais inexpugnável, a maior cidade e o monumento supremo ao ego de um governante.

"A mensagem era clara: Não se metam com o Egipto".

Os engenheiros egípcios redefiniram os limites da possibilidade arquitetónica, mas o seu caminho rumo à glória eterna foi permeado de sangue, traição e catástrofe.



Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DC2f-kXHaYw; http://www.documentarios.org/video/detalhar/1152/egito_construindo_um_imperio___parte_01_e_02/

Pulo do Lobo - 3º Dia - Parte II




Foi por volta das 18h00 que iniciámos o caminho de volta a casa, com partida das Minas de São Domingos.

No caminho para lá da vila de Mértola, procurou-se o cruzamento de estradas com a indicação do Pulo do Lobo, que nos levaria até a terras do Parque Natural do Vale do Guadiana.

Este Parque Natural tem muito para oferecer. Entre a variada fauna e a diversificada flora, é um lugar com vistas fantásticas, que se enquadram num cenário de sonho, onde a natureza inspira qualquer viandante.

Nas zonas declivosas da serra, onde a mão humana pouco se faz sentir, o parque está coberto com um matagal mediterrâneo, que mais se aproxima da vegetação original da região.

Procurávamos nós naquele dia, num vale em U de origem glaciar, em cujas formas geológicas bem talhadas das margens do rio Guadiana (a margem direita de Portugal e a esquerda de Espanha), conduzem as águas num longo e estreito desfiladeiro rochoso, percorrido pela forte corrente do rio, antecipado pelo ribombar de uma belíssima queda de água do lugar do Pulo do Lobo.

A chegada ao lugar de acesso ao Pulo do Lobo, fica situado na serra em lugar alto, que nos faz deixar a autocaravana e seguir a pé descendo uma um caminho em terra batida.

Percorrer estas veredas é ter acesso a paisagens únicas de verde, com as pedregosas margens a servir de trilho, é sentir a força viva das penedias, é viver um sem fim de emoções que nos levam a querer ir mais longe.

Aos poucos, vamos avançando ficando mais próximos da margem direita do rio, onde o barulho da água a embater contra a rocha aumenta consideravelmente.

Lá em baixo, as águas que caem bruta e ferozmente somem-se por uma garganta rochosa, que “nasce” num espaço largo do rio, que, por contraste, parece adormecido entre as suas margens altas e pedregosas.

O rio Guadiana que chega a medir 150 metros de largura e que percorreu até este local 710 quilómetros desde a sua nascente em Espanha, vê-se ali estrangulado e obrigado a passar por uma passagem estreita com pouco mais de 2 metros, ganhando as águas velocidade e uma força brutal, onde no meio vai resistindo uma dura rocha que nem o tempo gastou.

O Pulo do Lobo fica situado a cerca de oitenta quilómetros para norte a partir da foz do rio Guadiana e é perturbado por uma espetacular queda de água, com 13 a 14 metros de desnível, onde a água, feita espuma, corre veloz em plena força e energia. Água mole em pedra dura... as águas do rio Guadiana, devido à força da corrente, foram escavando ao longo do tempo um fundo desfiladeiro, num solo metamórfico duro.  

Este é o estado atual de uma vaga de erosão desencadeada no último período glaciário, há uns vinte mil anos, durante o qual o nível geral do mar baixou mais de cem metros, o que aumentou a energia dos rios, obrigando-os a escavarem os respetivos leitos. Assim o Guadiana sofreu este efeito, tendo vindo a fazer recuar tal desnível, numa luta que só terá fim nas suas cabeceiras, daqui a muitos, muitos anos.

Conta-se que este é um local de mistérios, no qual os lobos saltavam entre margens de tão apertadas que ficam em plena época de estio. O Rio Guadiana marca o percurso como o grande rio do sul, onde, ao longo de milénios, várias civilizações passaram e deixaram as suas histórias. Tudo isto ao alcance de um pulo. De um pulo de lobo.

O Pulo do Lobo deve o seu nome a uma antiga lenda, que conta a história de um lobo que ao ser perseguido por caçadores, deu um grande pulo sobre o rio, tendo chegado à outra margem, são e salvo.

O lugar do Pulo do Lobo é um poema, um monumento construído através dos tempos pela mãe Natureza. As quedas de água podem ser observadas de ambas as margens do rio; mas a paisagem mais bonita é quando lá se chega partindo da estrada que liga Mértola a Beja.

No final da visita a esta maravilha da natureza, seguiu-se a viagem a caminho de casa. Pelo caminho só uma paragem, no Canal Caveira, para um jantar de Cozido à Portuguesa.
 


 Fontes: http://www.aaaio.pt/public/ioand259.htm  ;http://www.luardameianoite.pt/serpa/serpa14.html; http://www.sal.pt/m1_agenda_passeios/pp_pulo_do_lobo.shtml; http://www.terraspulodolobo.com/

Minas de São Domingos - 3º Dia - Parte I



A chegada à povoação da Mina de São Domingos já bem tarde, por volta da meia-noite, levou-nos de imediato até ao parque de autocaravanas que se encontra na praia fluvial, a mais importante das redondezas.

A praia fluvial da Mina de São Domingos fica situada na maior de duas albufeiras de água doce criadas pela empresa Mason & Barry durante o século XIX, para fornecer água para o processamento de minerais de baixo teor por via húmida.

Hoje parte desta albufeira foi transformada numa praia, com estacionamento e parque de autocaravanas, bar/restaurante, instalações sanitárias e vigilância durante a época balnear. É um local de eleição para fugir às elevadas temperaturas da região, em especial durante a época de verão.

No dia seguinte acordámos tarde e fomos almoçar ao bar/restaurante. Surpreendida fiquei com o grande número de famílias portuguesas, que almoçavam animadamente ocupando algumas mesas do parque de merendas e que há pouco tempo atrás era raro ver-se. Sinais positivos da crise?  

Ao início da tarde uma caminhada levou-nos à antiga Mina de São Domingos, à qual se seguiu outra em redor da albufeira, para fruir do pleno contacto com a natureza, aproveitando para observar as espécies botânicas do lugar. 

A Mina de São Domingos é um local singular. Outrora uma importante exploração de cobre, que até há bem poucos anos foi o maior peso económico daquela região, hoje encontra-se abandonada.  Os carris da velha linha que permitia transportar o minério até ao Pomarão, foram arrancados e o que resta são fragmentos de edifícios e alguns lagos de água contaminada.  

A envolvente paisagem rochosa, desprovida de vegetação, faz lembrar um ambiente lunar. As zonas circundantes encontram-se cobertas por eucaliptais, pouco ricos em aves mas onde não é raro ouvir cantar algumas delas. 

Em redor das ruinas encontramos as lagoas ácidas que foram criadas há décadas atrás para fazer decantação, ou seja, para fazer a separação de misturas heterogéneas, das escorrências da antiga mina.  

A aldeia das Minas de São Domingos foi construída para os trabalhadores e suas famílias e ainda hoje são povoadas pelos moradores, hoje seus proprietários, tendo as pequeninas casas em banda caídas de branco, sofrido algumas alterações na sua arquitetura interior. 

Na aldeia propriamente dita podem ver-se muitas andorinhas-dos-beirais e logo a sul da mesma, na direção da mina, alguns ninhos de cegonha-branca. 

Da aldeia à praia fluvial da Tapada Grande é um saltinho. Depois caminha-se seguindo pela margem da albufeira, para saborear as vistas e sons da natureza envolvente. 

Adivinham-se na região terrenos pobres do ponto de vista agrícola, uma vez que no caminho sobressai a todo o momento o xisto multicolorido, com predominância do xisto azul. A rocha partida devido aos mecanismos da erosão divide-se em múltiplos pedacinhos coloridos e esfolheados que brilham ao sol e a sua beleza obriga a algumas colheitas para a coleção.  

As plantas silvestres conseguem no entanto resistir à pobreza do xisto e embora não sendo abundantes podem ser encontradas para além das espécies arbóreas e arbustivas, muitas plantas rasteiras. Além de eucaliptos e pinheiros (Pinus pinaster e Pinus pinea), que fazem o enquadramento paisagístico dominante, ali também encontramos junto à lagoa muitos Juncus effusus, que crescem de raízes mergulhadas na água e no caminho alguns tufos isolados de Juncus trifidus. Mas ali crescendo sobre o xisto e areia, também se podem ver várias plantas espontâneas, como a erva viperina (Echium vulgare), viborera, erva-vaqueira, alguns bonitos cardos (Carduus tenuiflorus), cenoura-brava (Daucus carota), margaça e outros malmequeres bravios, flores de rosmaninho, roselha (Cistus crispus), alguns tufos de bicos-de-cegonha… 

Na zona a jusante da barragem, a um nível mais baixo, encontra-se outra lagoa, que se formou a partir das águas de infiltração da albufeira e das chuvas.  

Cá em cima acompanha-se novamente a margem da lagoa da albufeira, agora de regresso à autocaravana. No caminho em comunhão com a natureza, encontram-se solitários pescadores e eis que súbito se avista um cavaleiro andante, em busca do palácio encantado da aventura… 

Junto da praia fluvial sobe-se uma pequena encosta que separa a lagoa da área de serviço, contorna-se a densa sebe de madressilva e chega-se junto da autocaravana.  

É hora de partir a caminho de casa. No caminho, logo a seguir a Mértola, procura-se o cruzamento que indica o Pulo do Lobo, o último lugar a visitar naquele fim de semana.

Fonte: http://prezi.com/p2h9iafmqyx_/sao-domingos-a-heranca-da-mina/ ; http://fugas.publico.pt/Noticias/309307_esta-praia-fluvial-alentejana-e-uma-mina; Mayer, Joachim e Kulmann, Folko, Plantas vivazes.

Mértola - Visita à Vila - 2º Dia - Parte V


 
A Mértola ancestral apresentava um sistema defensivo desde, pelo menos, a ocupação romana da região, com descrições datadas de 440 a.C..
A partir do séc. VIII, os árabes iniciaram o domínio da região, com o consequente fortalecimento do povoado. Este domínio duraria até a conquista portuguesa em 1238. Depois da restauração muitos trabalhos de renovação ocorreram, como a construção da Torre de Menagem por iniciativa do Mestre da Ordem de Santiago a quem o castelo foi entregue.
Uma vez no Castelo de Mértola, caminha-se em direção à sua Torre de Menagem, ainda imponente no seu formidável volume, que assinala a época em que Mértola foi durante um século, a sede nacional da Ordem de Santiago.
No recinto do castelo, cujas muralhas foram recentemente consolidadas, o acesso está atualmente condicionado por obras de reabilitação.
A antiga alcáçova, assim como troços importantes da muralha que envolvia a população, ainda se mantêm conservados. Trabalhos arqueológicos realizados na alcáçova do castelo puseram a descoberto um bairro mouro dos séculos XII/XIII, e várias estruturas romanas do séc. IV. As peças cerâmicas árabes encontradas nas escavações, estão expostas no núcleo do museu de Mértola.
A Torre de Menagem situa-se sobre a encosta mais alcantilada. Na sala de armas coberta por uma abóbada de cruzaria de ogivas, estão reunidos alguns elementos arquitetónicos recolhidos na vila e nos arredores e atribuíveis a um período de transição entre os séculos VI e IX, uma época dominada pelas formas decorativas ao gosto visigótico. Esta mostra, além de um catálogo temático, possui um painel didático referindo a implantação topográfica dos objetos expostos. Numa sala superior, recentemente recuperada, está prevista a montagem de um outro programa expositivo dedicado à história da própria fortaleza.
Do topo da fortaleza avista-se uma paisagem já mais algarvia do que alentejana. As planícies dão lugar a um relevo acidentado, onde se destacam as serras de Alcaria, de S. Barão e S. Brissos. Estas duas últimas tomaram o nome de dois santos nascidos em Myrtilis Iulia.
Segundo reza a história dizia-se que S. Brissos, o primeiro mertolense notável de que há registo, seria irmão de S. Barão, sendo os dois naturais da Mértola romana, e que S. Brissos teria recebido o notável título de Bispo da Diocese de Évora. São Brissos hoje considerado um santo português semi-lendário, e que terá sido o segundo bispo de bispo de Évora, foi martirizado pelos romanos por volta do ano 312 e o seu culto está bem atestado na região do Alentejo, sendo orago em várias das suas povoações.
De cima da Torre de Menagem, o olhar desce até ao rio, acompanhando os telhados das casas com os seus pátios interiores recheados de limoeiros e canteiros de flores. Um milhafre pairava no ar, rondando por vezes a Torre de Menagem, que alberga um conjunto de fragmentos arquitetónicos da época pré-islâmica, recolhidos na região.
No final da tarde, quando a noite já se avizinhava, desceu-se o morro e nos bombeiros dá-se de novo a reunião de família, anteriormente combinada, para se jantar um bom caldo verde e um prego no pão. No final do jantar, resolvemos partir a caminho da povoação de Mina de S. Domingos onde fomos pernoitar naquele dia.
 
Fontes: http://pt.wikipedia.org/; http://cathedral.lnec.pt/portugues/mertola.html ; http://www.flickr.com/ ;  http://museus.cm-mertola.pt/nucleos/castelo.html ; http://www.aaaio.pt/public/ioand259.htm; http://www.rotas.xl.pt/1204/500.shtml; http://www.geocaching.com/; http://www.portugalromano.com/2011/09/myrtilis-iulia-mertola/; http://www.igogo.pt/castelo-de-mertola/

A família no fogo cruzado da educação contemporânea


Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente as suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê o exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que o seu filho não o escuta, ele olha-o.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensine-o a viver sem portas.

Eugênia Puebla, Mensagem à família

(Eugênia Puebla é uma professora argentina, especialista em educação em valores humanos.)

 

A relação entre pais e filhos parece ter sofrido mudanças radicais nos últimos trinta anos. E para onde é que essas mudanças apontam?

As novas formas de organização familiar nos estratos urbanos médios (agora múltiplas, heterogéneas e voláteis) parecem não ter encontrado uma contrapartida factível no que se refere aos modos de se relacionar com os mais novos.

Assediada por um sem-número de palavras de ordem extravagantes, a família contemporânea encontrará, não raras vezes, uma espécie de colapso ético materializado, por um lado, num acúmulo de intenções impraticáveis e, por outro, na abdicação paulatina do gesto educativo cotidiano.

São essas as questões levantadas pelo polémico psicólogo Julio Groppa Aquino, que questiona a maneira como pais estão a lidar com os seus filhos. Este é um questionamento que produz tantas faíscas, quantas aquelas do fogo cruzado da educação.

Julio Groppa Aquino é docente livre da Faculdade de Educação da USP. Formado em psicologia, com mestrado e doutorado em psicologia escolar pela USP, é autor e colaborador de várias obras sobre algumas tensões que atravessam a educação contemporânea, entre elas o cotidiano escolar, as inflexões disciplinares, a relação família-escola etc. Foi também colunista das revistas "Nova Escola" e "Educação".
 

Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/2010/04/23/a-familia-no-fogo-cruzado-da-educacao-contemporanea/ ; http://clinicataniahouck.com.br/blog/?p=8 ; http://vimeo.com/28023318

Aqui deixo também uma belíssima entrevista realizada à atriz Sofia Sá da Bandeira que espelha o pensar de uma mulher dos nossos tempos, mas que também mostra o testemunho de uma vida de notável sensibilidade e bom senso, que transmite uma educação que teve por parte da sua família, mas que também espelha os problemas da nossa sociedade atual, em tudo o que ela tem de positivo e negativo.

Ver e ouvir mais em:
  http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/videos/2013/06/24/sofia-sa-da-bandeira-em-alta-definicao

Adolescer em tempo de crise


 
Descrevemos como susto a idade adulta não dando, aos adolescentes e aos adultos em geral, a ideia de que é ao ser adulto que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente mais senhor do próprio destino e do seu percurso de vida.

A lavagem do carro

Imaginem que levam o vosso carro à máquina de lavagem automática. Dirigem-se a uma gasolineira, conduzindo-o, e seguem as instruções da pessoa que lá está. Ele vai dizendo: "mais à direita, mais à esquerda, assim… pode parar!". A partir daí, a máquina pegará no automóvel e, por mais que o leitor faça, não conseguirá mudar o rumo das coisas, designadamente do seu automóvel. O que for, será.

A grelha da máquina «agarrará» nas rodas do carro e levá-lo-á por aí, em direção a umas ameaçadoras escovas e a jactos de água, que despejarão detergente e espuma (o leitor deixará de ver o que se passa), depois mais água e, finalmente, uma outra máquina ameaçadora, que vem em direção ao seu vidro e – confesse, leitor! – pensará sempre que aquela barra que despeja jactos de ar quente não perceberá que tem um vidro, um carro e o leitor à frente e fará uma razia em linha recta, decapitando-o.

No final deste filme, o leitor ficará satisfeito com o trabalho, o seu carro está limpo e brilha, sobretudo se tiver pedido o programa mais caro mas mais completo, e segue então viagem, novamente com poder sobre o volante e sobre o rumo do seu destino.

A adolescência é assim. Tão fácil? Ou tão difícil?

O que é um adulto?

Ou, melhor, escrevendo o que dizemos nós adultos, aos adolescentes sobre o que é ser adulto. Pegue-se num telejornal, num jornal ou numa revista: tirando algumas excepções (bastantes, mas não as suficientes), os adultos são descritos como assassinos, pedófilos, corruptos, mentirosos, gente de objectivos rasteiros, gente que aparece porque está "in" e está "in" porque aparece o inefável jet set, grandes traficantes, maus políticos, exploradores e outros que tais. Ou, então, as vítimas desses mesmos adultos. Nós próprios ao falarmos de nós queixamo-nos permanentemente do trabalho, do cansaço, do IRS, do fisco, do Governo, da malandragem, da troika e dos ladrões e… de tudo. Ser adulto é, pois, uma questão simples. Ser adulto equivale, assim, a uma de duas coisas: ser malandro ou ser vítima de malandro.

O discurso sobre a adultícia ainda é pior, quando acrescentamos a Rádio Nostalgia: a criança que há em nós, a liberdade da infância, os bons velhos tempos em que éramos jovens e não tínhamos responsabilidades.

No entanto, a cereja no topo do bolo é quando dizemos – talvez com razão, mas com alguns efeitos secundários indesejáveis – que os erros do passado e detectados no presente vão ser pagos (e de que maneira!) pelas gerações seguintes. Não discuto se é verdade ou mentira que cada português, ao nascer, já está a dever balúrdios a toda a gente, seja aos mercados, seja à senhora Merkel. Que sei eu! Mas para quem está na adolescência, a ver-se, qual automóvel em máquina automática de lavar, engatilhado nas roldanas sem poder acelerar, travar, virar à esquerda ou à direita e quando lhe dizem que as escovas que vêm aí são terríveis, a dúvida é o que vai sair do outro lado. Um carro limpo e brilhante, ou uma amálgama de ferros torcidos e a pintura riscada de modo indelével?

Teremos, assim, de mudar o discurso sobre a adultícia, mais do que repetir os chavões do costume sobre a adolescência – período descrito por muitos pais como "terrível", cheio de problemas e um susto. O que descrevemos, sem dar por isso, talvez, como susto é a idade adulta, não dando aos adolescentes e aos adultos em geral a ideia de que é, ao ser adulto, que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente senhor do próprio destino e do  percurso de vida.

Ser adolescente em tempo de crise

O nosso país está em crise, o mundo está em crise. Que grande novidade… Não sabemos o que o futuro nos reserva, os tempos estão e serão difíceis. Que grande novidade… Os jovens nem sabem o que os espera! (e alguém sabe?).

Curiosamente, o facto de as sociedades terem vivido períodos enormes de crise, da palavra crise significar "crescimento e oportunidade", de esta crise se dar (no nosso país) em níveis de desenvolvimento nunca antes atingidos e de as gerações anteriores terem, elas mesmas, passado sempre "as passas do Algarve", parece ser obliterado, branqueado, esquecido. É como se o mundo, antes de nós, fosse uma maravilha e o futuro um buraco negro para onde, sem hipóteses de fuga, avançamos.

Quem viu o filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris, recordar-se-á da vontade de muitas das personagens em regressar à geração anterior, com a ilusão de que o mundo era muito melhor do que é no tempo em que vivem. O próprio realizador comentou, numa entrevista, com o sarcasmo que lhe é conhecido: "prefiro viver num mundo cheio de problemas mas com antibióticos!". A ideia de que "antes é que era bom" é errada. "Antes" poderia ser bom para alguns, mas era muito mau para a larga maioria. O presente – então em Portugal, isto assume proporções quase gigantescas – é muito melhor do que o passado, pelo que é previsível (é certo!) que o futuro será melhor do que o presente. Só que, em termos históricos, o futuro não se escreve num dia ou num ano, e também não apenas numa dimensão económica, mas sim em décadas e em diversas perspectivas: a económica e financeira, com certeza, mas a social, ética, cultural, etc. As gerações dos nossos pais e avós passaram tempos terríveis: II Grande Guerra, Guerra Colonial, ditadura fascista… tanta coisa de que, felizmente por um lado, infelizmente pelo outro, os adolescentes não conhecem e os adultos já esqueceram. Quem tinha 18 anos no 25 de Abril terá agora 55…

Que solução?

É bom que o nosso discurso mude, deixando vitimizações de lado e a conversa fiada da infelicidade, da perseguição pelos outros e pelo Estado, e do quão coitadinhos somos. É importante, na minha opinião, que os nossos filhos saibam várias coisas e que isso seja acentuado:

1. Que ser adulto é ter uma fase da vida de enorme liberdade, e que essa liberdade será tanto maior quanto a pessoa decidir, desde cedo, ser senhor do seu percurso de vida e entender os graus de liberdade que tem relativamente a ele, através das escolhas correctas e da reflexão e ponderação sobre essas escolhas – quem pensar que está tudo predestinado ou que o que decidir hoje não tem impacte no amanhã estará, sim, a cavar um futuro perigoso. As teorias do carpe diem, ou do "viver cada dia como se fosse o último", por muito gentis e engraçadas que sejam, esquecem-se de um pequeno pormenor: é que tudo seria correcto se morrêssemos amanhã mas se não morrermos – o que será certamente o caso – o nosso futuro será mais difícil e pior se hoje não pusermos as pedras adequadas na calçada do nosso percurso de vida.

Ter a cabeça nas nuvens mas os pés bem assentes na terra parece-me uma solução engenhosa, criativa e eficaz…

2. Que as crianças e adolescentes têm uma vida como nunca tiveram em bens, liberdade, educação, opções de produtos e bens, conhecimento científico, acesso à informação e ao conhecimento, equipamentos, sociedade legislada e organizada, enfim, uma vida que as gerações anteriores ambicionariam ter e que construíram – não foi apenas a crise que lhes legaram, mas sobretudo uma sociedade de tolerância, democracia e liberdade.

Nunca, como hoje, se viveram tempos de tanto respeito pelos direitos humanos, de abundância e tanta qualidade de vida. Esta afirmação é fundamentada em factos, não é apenas opinativa.

3. Que o "quero tudo, já!" que reflecte o regresso à fase da omnipotência narcísica dos 15-18 meses de idade, e que muitas das crianças e adolescentes veem consagrado no seu dia-a-dia com pais que lhes dão tudo sem esforço e sem conquista, que consagram os seus desejos ao mínimo "piu", não esclarecendo que as expectativas não podem ser iguais à realidade e que é através do trabalho, da sabedoria, e da vida, no seu percurso, que se irão obter mais e mais coisas, tem de acabar porque não é exequível nem justo. O "quero tudo, já!" que se viu concretizado nos cartõezinhos mágicos que bancos e lojas davam às pessoas (como se fosse possível ter crédito ilimitado sem que alguém viesse depois pedir contas e juros, ou até mesmo como se fosse lógico, ético e moral contrair dívidas para gozo efémero e imediato sem que, no futuro, isso viesse a cair sobre quem as contraiu), tem de acabar com o "não!" que dizemos aos nossos filhos de ano e meio ou dois anos, quando nos pedem mundos e fundos.

O "não" é estruturante, desde que dito com afecto e firmeza, coerência e consistência. Seria aliciante não haver código da estrada, mas o caos no trânsito que se seguiria seria um preço demasiado caro a pagar, para lá da ineficácia e de não chegarmos a lado nenhum por termos tudo entupido à nossa frente. Com o percurso de vida é igual, embora as margens do rio não devam ser nem tão estreitas que o rio entra em torrente, nem tão largas que o rio alaga tudo e não progride.

4. Que a vida é difícil, em alguns períodos mais, noutros menos, que há épocas de vacas gordas e outras de vacas magras, mas que a sábia gestão de bens, expectativas, desejos e trabalho, numa óptica estratégica e táctica, pode conseguir airbags que evitam males maiores e permitem uma boa navegação ao longo da vida.

Sem estar com um discurso do "Ó tempo volta para trás", é bom relembrar a história dos pais, da família, da comunidade, do país… porque a memória é curta, e muito mais quando houve uma revolução paradigmática em termos de informação e comunicação.

5. Que ser adolescente em tempos de crise é normal, porque a crise é inerente a todas as fases da vida, incluindo a adolescência e talvez até mais pela velocidade de crescimento, desenvolvimento, autonomia, identidade, projectos, afectos e outras coisas que tal e que cada um poderá dar a volta à crise se mantiver a lucidez, tentar a excelência de si próprio, esforçar-se por conseguir ultrapassar-se e assumir o aperfeiçoamento como objectivo de vida.

Os filhos não são nem podem ser a segunda edição do nosso livro, mesmo que com algumas correcções e emendas, e uma nova capa. Os filhos são o livro deles, com algumas dicas da nossa parte mas escrito por eles. Adolescer em tempos de crise é quase um pleonasmo. Mas, em todas as fases da vida, vivemos em crise, entrecortada por períodos de acalmia, de reflexão e também de fruição do que se foi estruturando e organizando, mas se a seguir à tempestade vem a bonança, como diria La Palice, a seguir à bonança virá necessariamente uma tempestade.

Continuemos a apoiar os nossos filhos, no seu processo de crescimento, segundo os princípios e valores que são os nossos, mas com uma grande capacidade de ouvir, escutar, dialogar, negociar e respeitar. Reciprocamente.

E mostremos – para nosso bem, igualmente –, que ser adulto é bom. Que o carro que vai sair do outro lado da máquina de lavar, depois da ameaça daquelas enormes escovas azuis que avançam à velocidade quase da luz, com barulhos e tremores, depois da nuvem branca de espuma que não nos deixa ver nada e da outra grande máquina de ar quente que avança em direcção a nós, o carro sairá do outro lado limpo e brilhante a cheirar bem e com aspecto novo, mesmo que subsistam alguns riscos e "cicatrizes" de factos passados. Mas, claro, como em tudo na vida, este sucesso dependerá da qualidade e afinação da máquina, da competência do operador e da vontade e força de vontade do próprio.

Há escolhas, dificuldades, obstáculos e crises. Mas há nós próprios, e é isso que temos de dizer aos adolescentes, caso contrário afirmar-nos-emos enquanto adultos como fracassados e falhados, o que, convenhamos, não será bom, nem para a nossa imagem, nem para o modelo que devemos ser (e que somos) para eles.

 

Mário Cordeiro, in Jornal o Público de 20/06/2013

O autor é médico e professor de Pediatria.

A Primeira Republica, a Ditadura, o Capitalismo e a CEE


“Mudar o mundo e a vida só se consegue se o homem se for mudando a si próprio. E para se mudar a si próprio tem sobretudo que escutar a vida. Pacientemente e humildemente, ver o que a vida lhe está a querer-lhe dizer e a que ponto o está empurrando.”

Agostinho da Silva


Sempre atuais estas Conversas Vadias com o Professor Agostinho da Silva, podem ser aplicadas tal como ontem, aos momentos que vivemos hoje.
Eis algumas frases de Agostinho da Silva, nesta entrevista:
 
 
"O importante era fazer as coisas, ligar e estar a declamar sobre elas"

"Naquele fim de Primeira República, com toda aquela gente extraordinariamente inteligente (...) não conseguia chegar a nenhuma espécie de organização de Portugal"

"Era Portugal ter tido dois regimes de portugueses, um era o do Rei governando os municípios republicanos e deu a volta ao Cabo da Boa Esperança e o outro foi de aguentar o desastre de Oriente e que depois teve de construir o Brasil, que não é coisa fácil para uma nação tão pequena, com tão reduzido número de pessoas e teve outro regime que foi o de se ouvir pouco as Cortes Gerais deixá-las bem espaçadas e deixando o Rei governando.
"Quando Dom João embarcou para o Brasil, esse segundo regime português foi embora e Portugal durante duzentos anos não teve nenhum regime português"


"A Primeira República não era um regime português era uma coisa qualquer importada de Inglaterra ou de França. A primeira Ditadura era uma coisa inspirada de algo que vinha de fora, que agora vejo que útil ao país foi, no sentido de que Portugal realmente estava sendo criticado em toda a parte, estava a "portugalizer", como se dizia naquela altura, quando nosso amigo veio lá de Coimbra, professor de Finanças, que percebia daquilo, pôr as Finanças em ordem, ele conseguiu manter aquela ordem financeira, que de resto o Afonso Costa já tinha tentado"


"E como havia gente que protestava e sentia que não era um regime adequado a Portugal, o nosso amigo teve que montar todo aquele aparelho policial, cadeias e pides e toda essa tralha".

BB: "De que o Sr. Professor foi vítima!"

"Eu fui vítima e fui favorecido. sabe? Porque se não fosse a Ditadura tinha ficado com o Doutoramento, com uma vida bem sossegada em Portugal e depois aborrecido da vida, porque não tinha visto o mundo ao passo que aqueles acontecimentos me obrigaram a ir embora e foram uma abertura para a Vida"
 
"Temos que dar qualquer jeito para que Portugal deixe de coxear e realmente se reinstale. Eu acho que o problema que está hoje diante de Portugal é de se reinstalar, de se restaurar (...) de voltar aquilo que os portugueses acharam que era o seu próprio Portugal"

"No final de contas não tenho feito mais do que apresentar e repetir o que foi a obra e o pensamento de muitos portugueses do séc. XIII, de Camões, do Padre António Vieira, de Fernando Pessoa. Não sou nenhuma espécie de génio ou de visionário."

"Ideias que não podiam ser aplicadas no tempo em que eles viveram, mas podem ser agora. Não só para que Portugal se reinstale, para que volte a si próprio, depois de ter sofrido a tal invasão europeia. Mas até para ajudar a Europa quando se fala de adesão de Portugal à CEE eu vejo aquilo como um desembarque na costa da Europa, para a ajudar, para ver se tem algum jeito depois de toda a confusão em que anda."

"Para que a Europa conseguisse tanta da sua tecnologia teve que sacrificar muito da sua Humanidade."

"A Economia Capitalista é a única que pode inaugurar a paz que é a de não haver carência para o Mundo. É a única que pode desenvolver o mundo até às condições - pelo que sabemos da Arqueologia - em que não faltava nada aos Homens, em que estes percorriam o Mundo à vontade e tinham sempre que comer."




Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=BE6oHRtcxN0; http://www.youtube.com/watch?v=YMSnaP7oudw