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Água é Vida


A Unesco estabeleceu o presente ano de 2013, como o Ano Internacional de Cooperação pela Água. Alterações atmosféricas como tempestades, períodos de seca, chuva e frio afetam a quantidade de água disponível e afetam os ecossistemas que asseguram a qualidade da água.
 
Sem a água não haveria vida na Terra!
 
Pensando e refletindo a partir desta simples frase, já comemoramos bem o Dia Mundial da Água. No entanto se ela não chegar poderemos lembrar-nos da importância da água doce para os seres humanos:
- Funcionamento e manutenção do corpo humano.

- Irrigação na agricultura (produção de alimentos para os seres humanos) e seu uso também na pecuária.

- Funcionamento dos ecossistemas (fauna e flora), tanto aquáticos quanto terrestres.

- Uso da água na produção industrial (bens materiais, medicamentos, alimentos industrializados, etc.).

- Geração de energia nas centrais hidrelétricas.

- A evaporação da água doce nas principais fontes hídricas (rios, lagos, açudes e represas) é importante na formação de chuvas e na humidade do ar, bem como na preservação contínua do ciclo da água.
 
Fonte: http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/dia_mundial_da_agua.htm

Dia Mundial da Árvore



O Dia Mundial da Árvore tem como principal objetivo sensibilizar-nos a todos para a importância da preservação das árvores, quer em termos ambientais, quer da nossa própria qualidade de vida.

Neste dia decorrem várias ações de arborização, em diversos locais do mundo, junte-se a elas, plante uma árvore.

Mas no dia 21 de março também se comemora o Dia Mundial da Poesia e por isso aqui deixo este belo poema, para ser lido e sublimado.

 

Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac, in "Poesias"

Início da Primavera / Dia da Agricultura


Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.

Bem-aventurados os que as sustentam em paz,
Que por Ti, Altíssimo, serão coroados.

S. Francisco de Assis


A 20 de março comemora-se o Dia da Agricultura. A maioria das pessoas desconhece tal facto, mas no dia dedicado à exploração da terra celebra-se também o início da Primavera.
A agricultura é uma atividade com mais de 10 mil anos e quase todos os povos da antiguidade tinham uma divindade que lhe era associada. O deus celta da agricultura chamava-se Sucellus. Já para os gregos a agricultura estava ligada à deusa Deméter, enquanto para os romanos era Ceres, a deusa da fertilidade da terra, que estava associada à agricultura.
De facto, a agricultura foi, em especial no nosso país e durante muitos anos, um setor esquecido e menosprezado, embora a sua importância na economia seja incontestável.
Como a agricultura no nosso país vai de mal a pior, aqui deixo uma agricultura que no mesmo, parece que “vai de vento em poupa”!...

Fonte/Ler mais em: http://eco-gest.blogspot.pt/2012/03/dia-da-agricultura.html http://biblosredondo.blogspot.pt/

A Aposta de Ser Homem

Há no nosso linguajar diário coisas realmente curiosas. E uma delas é essa expressão tão comum com que comentamos qualquer falha de alguém: “Isso é muito humano”.


Há trapaças num exame ou num concurso e dizemos: “É muito humano”. Alguém defrauda o fisco e rematamos: “É humano”. Um homem ciumento faz a vida impossível à sua mulher e sussurramos: “É muito humano”. Após um fracasso, vem o desânimo e a amargura e justificamos tal atitude com um “é humano”.

Curiosamente, chamamos humanos apenas aos nossos vícios e defeitos. Inclusive, esse “humano” converte-se, às vezes, em sinónimo de “animal”. Dá impressão de que o rasteiro, o caduco, o que nos afasta das alturas é que é próprio do homem. Mas … justamente é o humano que nos diferencia do animal! Sim, humana é a nossa razão, a vontade, a consciência, o esforço, a santidade. Isso é que é verdadeiramente humano.
  • Humana é a inteligência, que faz do homem um permanente investigador da verdade, um ser ansioso de clareza, uma alma faminta de profundidade.
  • Humana é a vontade, a coragem, o afã de lutar, o saber enfrentar o infortúnio, a capacidade de esperar contra toda a esperança.
  • Humana é a consciência, que nos impede de enganar-nos a nós mesmos, a voz interior que nos desperta para continuar escalando, a exigência que não nos deixa adormecer.
  • Humana é a preocupação de sermos melhores, saber que ainda estamos a meio caminho, propormo-nos como meta a perfeição, embora saibamos que nunca chegaremos à meta total.
     
Tudo isso é humano. E dificilmente chegaremos a ser verdadeiros homens se começamos a autodesculpar os nossos erros sob o pretexto de que “são humanos”.
Ser homem é, por certo, uma aventura muito ambivalente.

Pascal definia o homem como: “Juiz de todas as coisas; estúpida minhoca da terra; depositário da verdade; montão de dúvidas; glória e desperdício do universo”. Sim é tudo isso e muito mais. E por isso a verdadeira aventura e glória dos homens é, precisamente, escolher entre essas coisas, sabendo que podemos ficar-nos naquilo que Baroja dizia do homem – “um ser um milímetro acima do macaco, quando não um centímetro abaixo do porco” – ou ser precisamente essa “glória do universo”.
E quais são as chaves da aposta? Literalmente: apostar naquilo que o homem tem de animal ou naquilo que ele tem de racional. Apostar no egoísmo ou na generosidade. Optar por uma vida vivida ou por uma vida arrastada. Escolher entre um viver vigilante ou simplesmente vegetativo. Empenhar-se em viver os nossos melhores sonhos ou ruminar os nossos piores desejos. Passar os anos envelhecendo sem amadurecer, ou esforçarmo-nos por amadurecer sem envelhecer. Saber que – como dizia A. Dumas – “o homem nasce sem dentes, sem cabelo e sem sonhos, e a maioria morre sem dentes, sem cabelo e sem sonhos”, ou levantar galhardamente a bandeira das ilusões e saber que podemos perder tudo menos o entusiasmo.

O grave é que todos têm de fazer estas opções, e cada um tem de fazer a sua, sem buscar as desculpas de que o mundo ou as circunstâncias não o permitiram.
Viver é, efetivamente, apostar e manter a aposta. Não apostar ou deixar a aposta na primeira esquina da rua é, simplesmente, morrer antes do tempo.
S. Agostinho, para dar aos homens o melhor elogio dizia que o homem é “capax Dei”, – capaz de Deus. Na verdade, o que define a grandeza da alma é ser “capaz de … ” Capaz nada menos que de Deus, mas também capaz de um vazio que, precisamente por causa dessa grandeza, seria quase infinito. Haverá no universo tragédia maior que a duma alma que morra sem chegar a existir? Que gemidos não dará a natureza sempre que é obrigada a prostituir-se na estupidez e no vazio?! É tanto o que podemos alcançar! É tanto o que podemos perder! Assusta-me ser homem. Entusiasma-me e assusta-me. Mas não estou disposto a enganar-me, a pensar que isto é uma brincadeira sem importância, que os anos são umas fichas de cartolina que nos deram para nos irmos entretendo enquanto a noite não vem!

José Luis Martin Descalzo (1930-1991, jornalista, sacerdote e escritor espanhol)

Não Bate a Bota com a Perdigota…


Como se sabe o sistema educativo é, entre outras coisas, um processo de distribuir os jovens por vários tipos diferentes de ocupação.

Mas em que idade se faz o despertar de uma vocação ocupacional?
Uma vez, um professor meu de filosofia disse-me que o despertar vocacional se fazia a partir dos 15 anos. Se assim é, não sei ao certo…
Embora haja alguns casos cuja vocação despertou a partir do final da infância, na realidade esta é na generalidade feita, e isso todos sabemos, entre a adolescência e a fase adulta. Por isso é um processo que a nível de escolaridade é realizado entre o 3º Ciclo e o início da Universidade ou até após esta, para aqueles que não a completam ou que se desiludem com o curso que tiraram.
Ora na passada semana o nosso Ministro da Educação, Nuno Crato, ao visitar uma escola do 2º Ciclo, dizia que por se adivinhar que no futuro os engenheiros no nosso país seriam escassos, era necessário manter EVT, como disciplina fundamental no despertar de vocações técnicas.
Quanto à importância da disciplina de Educação Tecnológica para a formação de base técnica, penso que não haverá qualquer dúvida, até por uma razão histórica, pois esta sempre existiu, embora com outro nome (Área Vocacional/Trabalhos Oficinais), e como disciplina obrigatória, no nosso sistema de ensino.
Se assim é, porque é que no início deste ano letivo este governo retirou do sistema educativo a mesma disciplina no 9º ano (onde se começam a consolidar vocações), colocando-a, quer no 7º ano, quer no 8º, como oferta de escola opcional para o 3º Ciclo, dando a oportunidade a certas escolas com alguma autonomia pedagógica, de varrer simplesmente a disciplina dos currículos destes anos?

Serão as criancinhas de 10 e 11 anos, capazes de ter uma memória de elefante, sobre o pouco “cheirinho” tecnológico que se consegue ministrar no 2º Ciclo?
Realmente não bate a bota com a perdigota!...

A Falta de Cultura Ética da Nossa Civilização

 

Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores éticos. Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe diretamente aos homens, mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações humanas.

O aperfeiçoamento moral e estético é um objetivo a que a arte, mais do que a ciência, deve dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de ação é o que compete à religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração.


O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa civilização. Sem «cultura ética», não há salvação para os homens.
 
Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'

O Estado da Nação


Numa altura em que o país se prepara para o regresso ao quotidiano, vale a pena auscultar o pulsar da Nação. As espectativas, os comportamentos e os medos dos portugueses.
 
Com o Orçamento de 2013 à porta e a perspetiva de mais austeridade, será que há um rumo estratégico para o país? O serviço pú...blico de televisão, RTP 1, entrevistou José Gil.
José Gil é um filósofo, ensaísta, investigador e professor universitário que foi galardoado com o Prémio Vergílio Ferreira 2012 instituído pela Universidade de Évora, devido à relevância do seu pensamento, e ao seu "contributo singular para uma reflexão profunda sobre a identidade do Portugal contemporâneo".
Proponho então que se visualizem duas entrevistas. A primeira foi realizada pela jornalista Fátima Campos Ferreira, na Edição Especial de 04 Set 2012 - RTP Play - RTP (http://www.rtp.pt/play/p760/e91756/edicao-especial).

1ª Entrevista (Clique p.f. em cima do seguinte link):


(Ainda poderá além desta, visualizar mais duas entrevistas a duas personalidades de referência da vida pública nacional, aos professores António Sampaio da Nóvoa e Diogo Freitas do Amaral. Conceitos e opiniões diferentes que podem contribuir para uma melhor compreensão do que está a acontecer a Portugal, à Europa e ao Mundo, e que poderão ser visualizados em: Edição Especial de 03 Set 2012 - RTP Play - RTP ; Edição Especial de 05 Set 2012 - RTP Play - RTP)
A 2ª Entrevista foi a última entrevista dada por José Gil, à RTP – Antena 1 realizada ontem (2013-01-05 13:00:00) e conduzida pela jornalista Rosário Lira. Nela é feita uma análise sobre O país em 2013. O futuro, o empobrecimento, a política de austeridade. Os portugueses e a crise que vai aumentar e desmascarar toda uma sociedade. Reflexões de um dos maiores pensadores portugueses de sempre.

2ª Entrevista (Clique p.f. em cima do link seguinte):



Romantismo do Desespero



Como legado de meu pai, herdei uma coleção de velhas revistas “BROTÉRIA”, de edições dos anos 50, que venho lendo aos poucos ao deitar. Um dos últimos artigos lidos foi um estudo/reflexão da sociedade daquela época, cujo tema é "Romantismo do desespero", (BROTÉRIA - REVISTA CONTEMPORÂNEA DE CULTURA, Vol. LXV, número 4, Outubro de 1957, pp. 291-308), do Pe. Agostinho Veloso e que para mim não é mais do que um texto profético que agora se confirma.
Procurei o texto na internet, mas não o encontrei, só aparecendo um registo da sua existência na página web da revista BROTÉRIA, que ainda hoje se edita, mas agora com a designação, BROTÉRIA – CRISTIANISMO E CULTURA.
Por ser o seu conteúdo de enorme atualidade, copiei a primeira parte. É uma excelente reflexão para oferecer, em tempos que a confirmam e que sempre se repetem, e ainda recordar a escrita e o pensar do Pe. Agostinho Veloso, um «Jornalista de garra e verbo camiliano»*.
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Romantismo do Desespero

“Mais ce n’est pas justement à un surcroît de rêve, entretenu par de célèbres esthètes de fausses prophéties, que l’on doit ce romantisme du désespoir?”

                                                                       Jean-Marie Creuzeau (1)

Na vida, como na sua expressão literária e artística, o mundo dá-nos a impressão de ter perdido a alma. Mas, porque a alma está lá, o mundo dá-nos também a impressão de se contorcer em vascas de desespero. E, como o desespero é mau conselheiro, não admira que o mundo se esteja a transformar também ou numa leoneira de ferras, ou numa estância de loucos.

A paixão lúdica, tão característica do nosso tempo, vem daí. Nasce deste terrível estado de espírito, a que chegou o homem sem Deus, e se pode comparar à inquietação da agulha magnética, depois de ter perdido o norte. A agulha nem sente nem pensa. Se sentisse e pensasse, para ela, o facto de ter perdido o norte, seria, ao mesmo tempo, o desespero e a loucura. Ora, o homem moderno vai perdendo o sentido do sobrenatural. E é também nessa medida que ele se vai precipitando no desespero e na loucura. Desespero, até ao suicídio; loucura até ao absurdo, tanto no pensar, como no viver.

Estou a escrever isto, e a pensar em Lucrécio, cujo ateísmo o lançou, precisamente, no suicídio e na loucura. E penso, também em Pascal, debruçado sobre o paradoxo humano, paradoxo feito de grandeza e de miséria – uma grandeza que fala de Deus, que para Si nos criou; e uma contradição só em Cristo e por Cristo se poderia resolver.

Como diz Pascal, “La connaissance de Dieu sans celle de sa misére fait-l’orgueil. La connaissance de sa misére sans celle de Dieu fait de dásespoir. La connaissance de Jésus-Crist falt le milieu, parce que nous y trouvons et Dieu et notre misére” (2). Mas quem é Jesus Cristo, para essas pobres vítimas do romantismo do desespero, tão frequentes no nosso tempo?

Conduziu-me a estas reflexões uma breve meditação sobre dois desastres recentes: o que matou James Dean e o que ia matando Françoise Sagan. Ambos eles exemplificam o romantismo do desespero, em que o nosso mundo se está a precipitar, e em escala cada vez mais alarmante. “Dentro do carro, - dizia Dean – sinto que sou uma estrela”. Era a loucura romântica a roçar pelas raias da megalomania. E o resultado foi esfacelar-se, ainda rapaz, com o carro que conduzia à velocidade de 150 quilómetros por hora! “Adoro conduzir com os pés nus”, - dizia Sagan, num acesso ultra-romântico de exibicionismo patológico. E foi assim que ela, quando conduzia à mesma velocidade do comparsa americano, por pouco não ia tendo a mesma sorte…

Sente-se, no mundo contemporâneo, uma fadiga geral, que vai do delírio da acção, até ao “dolce far niente”, como lei suprema da vida. O meio termo, que é o centro do equilíbrio criador, tornou-se cada vez mais difícil. A reflexão repousada e atenta supõe um ideal supremo da vida, um ideal a que todos os outros se devem subordinar. Ora esse ideal supremo é inconcebível, se o homem não passa de um epifenómeno da matéria, e se todas as suas acções se confinam, no tempo e no espaço, aos estremos limites da sua passagem pelo mundo.

Mas o espirito está lá, e, com ele, estão aspirações incoercíveis de infinito, que o homem pode iludir, mas não pode experimentar. Daí, antinomias insuperáveis, que solicitam o homem para fora das linhas clássicas da existência, e o projectam num mundo de sonho, em que se refunde, afinal, o romantismo do desespero, para onde os estetas de falsas profecias nos estão a conduzir.

Para o romantismo do desespero, nem contam as leis eternas de Deus, nem valem as leis de emergência dos homens. Daí, a rebelião e o azedume, numa atitude constante de desconfiança e de autodefesa, tão facilmente encontradiça, por exemplo, em todos os filmes, em que James Dean é protagonista. Estou a pensar em “Fúria de Viver”, “A leste do Paraíso” e “O Gigante”. São filmes sombrios, feitos à imagem semelhança do actor, que nem sequer precisou de representar, para aparecer em cena. Bastou-lhe ser ele, tal e qual o romantismo do desespero o fez.

Em “Fúria de Viver”, James Dean é um inadaptado incorrigível, na escola e em tudo, e, por isso, um falhado e um indesejável social. Em “A leste do Paraíso”, a inadaptação e o cinismo atingem o desespero dentro do próprio lar paterno. E em “O Gigante”, vemo-lo encarnar o egoísmo cínico do arrivista falhado, no que há de mais profundamente humano no coração do homem. Creio serem estes os únicos filmes em que James Dean colaborou, e em todos eles o protagonista se desentranha em gestos absurdos, ferozmente egoístas, e com total desprezo pela comunidade. O reflexo da auto-defesa, que corresponde a este criminoso desprezo para com a comunidade, conduz, pelo seu próprio peso, à constituição de pequenos estados no estado, ou sejam as sociedades artificiais, que têm o seu paradigma na mania clubista, quase sempre organizada à imagem e semelhança das lojas maçónicas e das células comunistas. Havia uma célula natural, que era o lar, prolongado na amizade de vizinhança e na afinidade das famílias do mesmo sangue. Mas tudo isto se perdeu, quando se perdeu, o sentido superior da vida. Na sua vez, surgem as comunidades artificiais, que são os clubes, organizados em seitas de todas obediências, menos a legítima e nobilitante obediência à autoridade constituída.

Foi assim que os estetas de falsas profecias levaram todos os descontentes a trocar a milícia pelo ergástulo, e a substituir a ordem clássica da paz, que é a tranquilidade na ordem, pelo romantismo do desespero, que é a desordem definitivamente instalada na vida de cada um.

Para justificar todo este artificialismo, que os três filmes de Dean traduziram e talvez pretendessem legitimar, há quem diga que a coisa se explica pelo desencanto da juventude, em face da actual sociedade burguesa. Dizem que a juventude tem necessidade de sonho e que precisa de encontrar, numa sociedade autêntica, o lugar que lhe pertence. É verdade. Em todo o caso, parece-me que não é este o caminho do triunfo. Se não me engano, onde os estetas de falsas profecias querem conduzir a juventude é a um mundo ainda mais aburguesado do que aquele de que se queixam, visto ser um mundo infra-humano e de irresponsabilidade total. Pelo menos, é esse o sentido bem marcado nos três filmes de James Dean. E é também esse o sentido transparente nos dois livros, até hoje dados à estampa, por Françoise Sagan…

Ora, o futuro de cada um e o lugar que a cada deve pertencer na vida, não são coisas que venham burguesmente já feitas pelos outros, sejam os pais ou o Estado. Seria essa a pior forma de parasitismo burguês. O futuro, deve cada um conquistá-lo, à sua custa, no esforço constante de cada dia, a caminho de melhor e mais perfeita autorrealização. Só então, depois da auto-valorizarão, é que o homem se pode considerar com direitos, que o dever cumprido lhe conquistou. Tudo isto, que é elementar em ética social, está, porém, de todo em todo ausente, nos filmes de James Dean e nos livros de Sagan, que, por isso, alinham ao lado do pior e do mais parasitário burguesismo. Creio que tudo isto é claro como a luz do meio dia, para quem, em vez da palha das palavras, prefira, como eu, descer até ao conteúdo das ideias.

Sonho? Sim. É bom sonhar. Mas é preciso que o sonho se complete com o lastro da realidade. É preciso que o sonho não seja como moinho sem grão, ou como acção sem finalidade superior. É preciso que o acréscimo do sonho, alimentado por estetas de falsas profecias, não dispare no romantismo do desespero, preguiçoso ou anárquico, em que a juventude se está a precipitar. (3)

O sonho tem o seu lugar. Mas não basta. Requer-se, também, a tomada de consciência do real, e a certeza de que a realidade se não limita ao delírio da velocidade, nem no tempo, nem no espaço. (…) E desta prespectiva, em vez da evasão, no sonho, ou na embriaguez, que tanto pode ser de whisky, como de exibicionismo, abrem-se outros caminhos, em que ao homem se oferecem todos os recursos e todas as dimensões de que precisa, para se poder realizar. Claro está que estou a referir-me aos recursos da graça, e às dimensões sobrenaturais, que só Cristo nos pode dar. (…)

Pe. Agostinho Veloso, in BROTÉRIA - REVISTA CONTEMPORÂNEA DE CULTURA, Vol. LXV, número 4, Outubro de 1957, pp. 291 a 295

(1)  Jean- Creuzeau Marie, James et Françoise, in “ Le Monde Nouveau”, Paris, 12-V-57, pág. 10.

(2)  Pascal, Les Pensées, n. 527.

(3)  Jean-Marie Creuzeau, James et Françoise, em “Le Monde Nouveau”, Paris, 12-V-57, pág. 10.


Em Portugal... Cá se fazem, cá se pagam?...


As buscas à residência e escritório de Medina Carreira, por o seu nome ter sido usado por suspeitos para ocultar a verdadeira identidade de outros envolvidos no branqueamento de capitais e fuga aos impostos, no caso Monte Branco, pode ter resultado de um engano. Um engano grave pelo qual os investigadores devem responder. Mas a capa do "Sol" não foi engano nenhum. A rapidez com que qualquer busca ou escuta que envolva figuras públicas acaba nos jornais já não é defeito da Polícia Judiciária e do Ministério Público. É feitio.
Depois do caso de Medina Carreira, foi o de Teixeira dos Santos, Almerindo Marques e o ex-secretário de Estado Costa Pina. As buscas às suas residências e escritórios também acabaram, ao fim de poucas horas, nos jornais e televisões. Em causa está uma investigação às Parecerias Público-Privado. E se no caso de Medina Carreira foi fácil provar imediatamente a sua inocência, o mesmo não acontece com estes três. A divulgação destas buscas transformou-os, aos olhos da opinião pública, em condenados políticos sem direito a defesa.
Nunca escondi as minhas profundas discordâncias com Medina Carreira, que considero ter sido, como comentador, um dos principais advogados de defesa da austeridade, antes dela chegar - parece que entretanto mudou de opinião - e um populista de todos os costados. E considero que Teixeira dos Santos foi, dentro do governo anterior, o principal defensor de uma intervenção externa e o seu maior facilitador. Mas as minhas discordâncias com os dois anteriores ministros das finanças são políticas. E é no campo da política, e não em julgamentos mediáticos, que o confronto com os dois se deve fazer.
O que a justiça portuguesa fez a estas duas pessoas, que não tenho qualquer razão para suspeitar de falta de honestidade, é uma nojeira. Não são os primeiros. Não serão os últimos. De Sócrates a Passos Coelho, o poder político vive sob ameaça do Ministério Público e da PJ. Vivem eles e vivemos todos nós. Todos podemos ver a nossa vida devassada, as nossas conversas telefónicas publicadas em jornais, sem que sejamos culpados de coisa alguma.
Toda a gente que seja suspeita de ter cometido um crime deve ser investigada. Dentro da lei e com todas as garantias. Seja um cidadão comum, seja um detentor de um cargo público, seja um comentador. Mas também todos temos direito o ver o nosso nome protegido da calúnia.
O problema é sabermos que, como sempre, estas investigações não darão em nada. E não darão em nada porque não são para dar. Se fossem, não víamos escarrapachada nos jornais cada diligência judicial, cada escuta, cada busca. Se fossem, teríamos menos suspeitos e mais condenados. Se fossem, não ficávamos com a estranha sensação de que as buscas são feitas para serem noticiadas, que as escutas são efetuadas para serem publicadas. E que, por de trás de cada fuga de informação, estão sinistros jogos de poder em que as corporações da justiça se envolvem.
A cada episódio destes - e já foram tantos - cresce o temor de que a justiça, em vez de nos proteger, nos põe em perigo. Em vez de investigar a corrupção e os crimes de colarinho branco, atira lama sobre as pessoas sem nunca chegar a qualquer conclusão. Em vez de usar o seu poder para fazer justiça o usa para ajustes de contas. E uma justiça assim assusta. Não assusta os criminosos. Assusta, acima de tudo, os inocentes que tenham o azar de se cruzar no seu caminho.
Esta justiça, tão expedita na forma de investigar e sempre tão parca nos resultados finais, não serve ninguém. Só acaba por servir, na forma como descredibiliza, os que, com tanto ruído, se vão safando de pagarem pelos seus crimes.
 
 
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

Sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


Ler, ver e ouvir mais em: http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/ppp-inquerito-buraco-no-asfalto-teixeira-dos-santos-buscas-pj/1401346-1730.html#





 
"Se quereis prever o futuro, estudai o passado. Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha."
 
Confúcio

Há uma estrela que se apagou!…


Frei Fernando Ventura é um frade franciscano capuchinho, que nasceu em 1959. É um teólogo e biblista e foi professor de Ciências Religiosas no ISCRA em Aveiro. É intérprete na Comissão Teológica Internacional da Santa Sé. Colabora, como tradutor, com diversos organismos internacionais, como a Ordem dos Capuchinhos, a OFS e a Federação Bíblica Mundial. Pertence ao quadro de redatores da revista Bíblica, onde assina artigos de aprofundamento teológico.

Autor do primeiro estudo sobre Maria no Islamismo, lançou o livro “Roteiro de Leitura da Bíblia” (Editorial Presença). Ministra cursos e retiros, percorrendo o mundo de convite em convite ou de conferência em conferência, como tradutor. É assíduo comentador na atualidade social e religiosa na SIC Notícias. A TSF escolheu-o como "Figura do Ano" em 2010.
Aqui Frei Fernando Ventura é entrevistado pela jornalista Ana Lourenço, comentando a atualidade social do País, no jornal da SIC, Edição da Noite do passado dia 23.12.2012 (23:47). Vamos ouvi-los…

"Esperando um Mundo marcado pela espiritualidade…" (clique em cima do link pf): http://sicnoticias.sapo.pt/programas/edicaodanoite/2012/12/23/frei-fernando-ventura-comenta-a-actualidade-social-do-pais
 

Num Mundo mais justo…


"A Natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a sua imagem.”

Blaise Pascal
 
[…] Eram seis horas da manhã. Chovia suavemente. Eram as primeiras chuvas de Setembro. As suas gotas finíssimas eram ainda tímidas, mas cristalinas, o que me encantava. Assemelhavam-se a pequenos cristais de diamantes, o que criou à minha volta uma atmosfera de melancolia que me convidou à reflexão sobre o que observava. Com efeito, estávamos no início de mais uma estação das chuvas. A transição que se operava de uma estação à outra fazia-se sem sobressaltos. Tranquilamente e com doçura. A terra molhada libertava um imenso perfume que purificava a minha alma, levando-me a um certo recolhimento. Era agradável a sensação de paz que me transmitia o quadro que tinha à minha volta. Uma profunda sensação de rejuvenescimento espiritual invadiu a minha alma.

À medida que os minutos passavam, procurei observar com mais atenção as plantas e as flores perfumadas que rejuvenesciam ao redor da minha casa de capim. Eram lindas as cores vivas das pétalas das flores que espalhavam o seu perfume pela floresta adentro, enquanto à minha volta ouvia o zumbir incansável de milhares de abelhas, que libavam atarefadas o suco das flores numa relação eterna de amor profundo. Na realidade, estas abelhas viviam seguramente num mundo mais justo, dentro do seu ecossistema. As relações de interdependência, que estabeleciam entre si, eram de facto construtivas e equilibradas concorrendo para a consolidação dos laços de cooperação que estabeleciam no seu seio durante este processo de produção das suas necessidades básicas.

Pensei profundamente no que observava e fiquei impressionado com o tipo de relações simples que as abelhas mantinham entre si, num quadro de estruturas complexas, decorrentes da sua divisão de trabalho. Era de facto uma lição que eu aprendia com os fenómenos simples da natureza. Talvez os homens pudessem aprender alguma coisa com o quadro que tinha diante de mim. Teríamos certamente relações humanas mais equilibradas. Este quadro proporcionou-me uma nova visão de vida, uma base de reflexão sobre o direito à vida e o valor dos equilíbrios sociais que devem reger as sociedades como substrato de fundamentação das relações humanas num mundo cheio de contradições, às vezes antagónicas, e em mutação permanente. O que observava era o ideal, mas utópico, dada a própria natureza humana […].
 
Alcides Sakala

Alcides Sakala é um político e diplomata angolano, que atualmente é deputado à Assembleia Nacional de Angola e presidente do Grupo Parlamentar da UNITA. Este é um excerto do seu livro “Memórias de Um Guerrilheiro”, páginas 121 e 122, ed. Publicações D. Quixote, 2006.

“Subir a pulso na vida”


 “Subir a pulso na vida” era uma expressão laudatória que se ouvia, aqui há uns anos atrás, a propósito de alguém que, de origem humilde, partindo do nada ou de quase nada conseguia, por mérito próprio ir subindo na vida, degrau a degrau, penosamente, mas corajosamente, até ao fim de alguns, bastantes anos, atingir uma posição de destaque na sociedade: fosse na ciência, fosse na arte, fosse nos negócios, fosse na política.
Essas pessoas eram raras (o exercício não era fácil) e, por isso, também eram conhecidas e célebres.
Só que a expressão caiu em desuso porque de repente, muitas pessoas começaram a subir rápida e facilmente na vida. Ontem funcionários de balcão de qualquer banco de província, técnicos de câmara remota, maus estudantes envolvidos em juventudes partidárias, hoje são administradores de grandes empresas estatais, ministros, deputados.
Começa-se no ensino secundário em qualquer juventude partidária e, na maior parte dos casos, aí se fica. Transita-se para a Universidade e se for em agitação e propaganda (o curso pouco importa) pode chegar-se a deputado e daí a ministro. Dos bancos da escola para o governo sem passar por um daqueles empregos onde se tem que ganhar a vida e a aprender o que ela é.
Em cinco ou seis anos passaram, por prestidigitação política, do zero ao topo de escala. Sem esforço nem mérito visível.
Sem truques políticos, mas por um processo artificioso, hoje chega-se a juiz aos 24 e 25 anos, sem experiência de vida nem amadurecimento de carácter. Não são maus os jovens juízes: são só inexperientes e, principalmente, imaturos. O mesmo se diga da carreira docente.
Resumindo: hoje poucos são os que têm o mérito de ter subido a “pulso” na vida. Mas muitos têm o demérito de terem subindo, muito é certo, mas sem pulso. Não na vida, mas na carreira.
Os primeiros – raros – lá andam a labutar em atividades diversas, todas privadas. Os segundos andam a (des) governar-nos, a julgar-nos, a maçar-nos e a sugar-nos.
Precisamos, urgentemente, de voltar a ser dirigidos, em todos os escalões da vida pública por quem nela tenha subido "a pulso" isto é, por mérito, com esforço e competência. E com todo o trabalho honesto que isso implica.


Por M. Moura-Pacheco, Professor Universitário aposentado, Diretor do Jornal “A Ordem”, do Porto.

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Nota final: Quando se chega a uma certa idade, o mínimo que nos é devido, é o respeito. Mas infelizmente nestes tempos que vivemos, nem mesmo a isso temos direito!...