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Em Portugal... Cá se fazem, cá se pagam?...


As buscas à residência e escritório de Medina Carreira, por o seu nome ter sido usado por suspeitos para ocultar a verdadeira identidade de outros envolvidos no branqueamento de capitais e fuga aos impostos, no caso Monte Branco, pode ter resultado de um engano. Um engano grave pelo qual os investigadores devem responder. Mas a capa do "Sol" não foi engano nenhum. A rapidez com que qualquer busca ou escuta que envolva figuras públicas acaba nos jornais já não é defeito da Polícia Judiciária e do Ministério Público. É feitio.
Depois do caso de Medina Carreira, foi o de Teixeira dos Santos, Almerindo Marques e o ex-secretário de Estado Costa Pina. As buscas às suas residências e escritórios também acabaram, ao fim de poucas horas, nos jornais e televisões. Em causa está uma investigação às Parecerias Público-Privado. E se no caso de Medina Carreira foi fácil provar imediatamente a sua inocência, o mesmo não acontece com estes três. A divulgação destas buscas transformou-os, aos olhos da opinião pública, em condenados políticos sem direito a defesa.
Nunca escondi as minhas profundas discordâncias com Medina Carreira, que considero ter sido, como comentador, um dos principais advogados de defesa da austeridade, antes dela chegar - parece que entretanto mudou de opinião - e um populista de todos os costados. E considero que Teixeira dos Santos foi, dentro do governo anterior, o principal defensor de uma intervenção externa e o seu maior facilitador. Mas as minhas discordâncias com os dois anteriores ministros das finanças são políticas. E é no campo da política, e não em julgamentos mediáticos, que o confronto com os dois se deve fazer.
O que a justiça portuguesa fez a estas duas pessoas, que não tenho qualquer razão para suspeitar de falta de honestidade, é uma nojeira. Não são os primeiros. Não serão os últimos. De Sócrates a Passos Coelho, o poder político vive sob ameaça do Ministério Público e da PJ. Vivem eles e vivemos todos nós. Todos podemos ver a nossa vida devassada, as nossas conversas telefónicas publicadas em jornais, sem que sejamos culpados de coisa alguma.
Toda a gente que seja suspeita de ter cometido um crime deve ser investigada. Dentro da lei e com todas as garantias. Seja um cidadão comum, seja um detentor de um cargo público, seja um comentador. Mas também todos temos direito o ver o nosso nome protegido da calúnia.
O problema é sabermos que, como sempre, estas investigações não darão em nada. E não darão em nada porque não são para dar. Se fossem, não víamos escarrapachada nos jornais cada diligência judicial, cada escuta, cada busca. Se fossem, teríamos menos suspeitos e mais condenados. Se fossem, não ficávamos com a estranha sensação de que as buscas são feitas para serem noticiadas, que as escutas são efetuadas para serem publicadas. E que, por de trás de cada fuga de informação, estão sinistros jogos de poder em que as corporações da justiça se envolvem.
A cada episódio destes - e já foram tantos - cresce o temor de que a justiça, em vez de nos proteger, nos põe em perigo. Em vez de investigar a corrupção e os crimes de colarinho branco, atira lama sobre as pessoas sem nunca chegar a qualquer conclusão. Em vez de usar o seu poder para fazer justiça o usa para ajustes de contas. E uma justiça assim assusta. Não assusta os criminosos. Assusta, acima de tudo, os inocentes que tenham o azar de se cruzar no seu caminho.
Esta justiça, tão expedita na forma de investigar e sempre tão parca nos resultados finais, não serve ninguém. Só acaba por servir, na forma como descredibiliza, os que, com tanto ruído, se vão safando de pagarem pelos seus crimes.
 
 
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

Sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


Ler, ver e ouvir mais em: http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/ppp-inquerito-buraco-no-asfalto-teixeira-dos-santos-buscas-pj/1401346-1730.html#





 
"Se quereis prever o futuro, estudai o passado. Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha."
 
Confúcio

O Tarzan só existe no cinema, não na vida real!?...

"É preciso ler histórias de crimes e descrições de situações anárquicas para saber do que o homem é realmente capaz no que diz respeito à moral. Esses milhares de indivíduos que, diante dos nossos olhos, se empurram desordenadamente uns aos outros no trânsito pacifico, devem ser vistos como tigres e lobos, cujos dentes são protegidos por fortes focinheiras."
 
Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Insultar".

«Aprender uns valores morais? Para quê? Não quero que me imponham o que acham que está bem ou mal. Não desejo ser dominado nem manipulado por ninguém. Na minha opinião, cada um de nós deve escolher livremente os seus próprios valores. Não aceito as pessoas que se armam em sabichões e que tentam impor aos outros o seu modo de ver a vida. Prezo muito a minha independência para me deixar influenciar por quem quer que seja».

São palavras de um jovem dos nossos dias. Manifestam uma mentalidade muito difundida na cultura atual: pensar que qualquer influência dos outros no nosso modo de pensar debilita a nossa personalidade. Por isso, entre outros motivos, a formação moral é vista com receio. Parece um modo de nos roubarem a liberdade e a independência. Ora, esta mentalidade é profundamente simplista e superficial ? e é muito pouco séria.

Toda a nossa existência está influenciada diretamente por aqueles com quem convivemos. Basta considerar o nosso crescimento desde que nascemos. Viemos ao mundo como o mais dependente dos seres vivos. Éramos incapazes de quase tudo durante vários anos ? e não sabíamos nada. Tivemos que aprender todas as coisas, começando pelas mais simples. Fomos influenciados diretamente por aqueles que estavam ao nosso lado.

O nosso desenvolvimento corporal não se teria efetuado sem a alimentação que outros nos proporcionaram. Algo similar aconteceu com a nossa inteligência. Não teríamos conseguido progredir na vida intelectual e moral se não tivéssemos sido ajudados pelos nossos pais, professores e amigos. Muita da experiência acumulada pelas gerações passadas foi-nos transmitida com toda a naturalidade. E nessa altura, nem nos dávamos conta de como toda essa “informação” influenciaria o nosso modo de pensar e, consequentemente, de viver.

Infelizmente, existem alguns exemplos na História da Humanidade de crianças “educadas” diretamente pelos animais. Penso que nenhum de nós inveja tal “educação” por estar isenta de influências e de imposições de “valores acumulados”. O mito do bom selvagem é isso mesmo: um mito. O Tarzan só existe no cinema ? não na vida real.

A pretensão de pensarmos de um modo totalmente independente procede do esquecimento ingénuo das nossas limitações como seres humanos. E convém recordar que não é por esquecermos as nossas limitações que elas desaparecem. É um triste erro considerar que o modo como pensamos deve ser alheio a toda a influência ou colaboração dos outros. É verdade que podem existir influências negativas. Mas é um reducionismo pensar que todas as influências o são. E é, muitas vezes, uma injustiça atribuí-las às pessoas em quem dizemos confiar.

Resumindo: receber dos outros ? pessoas que merecem a nossa confiança ? uma boa formação não pode ser identificado de modo algum com ser dominado ou manipulado por eles. Muito pelo contrário. A verdadeira formação, na qual se incluem os valores morais, torna-nos mais livres e menos manipuláveis. Aprendemos, com a ajuda de outros, a pensar com a nossa própria cabeça, e não a partir de “slogans” superficiais que estão muito difundidos.


Pe. Rodrigo Lynce de Faria, in A Aldeia (http://educacao.aaldeia.net/)


Nota do autor deste blogue: A televisão por exemplo inicia o público infantil na socialização e nela se faz a apresentação da criança ao mundo do consumo e vice-versa. Quando completa seis/sete anos e entra pela primeira vez numa sala de aula, a criança já chega mais ou menos socializada (pela cultura do consumo), mais ou menos educada (pelo consumo) e, pior, mais ou menos vacinada contra a educação que procura cultivar os valores éticos próprios de um projeto de democracia e de cidadania.
 
É pouco, muito pouco, o que o professor ainda pode fazer!…

No entanto, mesmo com muito pouco, tenho testemunhado uma educação para a perversidade, cada vez mais comum. É um tipo de deseducação que na prática se traduz pelo estímulo à fraqueza de caráter. E como aquilo que deseduca, também educa, teremos por certo daqui a alguns anos muitíssimos adultos naturalmente perversos. E tal como os primeiros hominídeos, passavam as formas de trabalhar os materiais de geração em geração, teremos nas próximas gerações, sem dúvida nenhuma, uma sociedade de valores cruéis ou mesmo sem nenhuns valores.

Será que já não é assim???...

A Inveja

 
"1. «A inveja é um mecanismo de defesa que pomos em atuação quando nos sentimos diminuídos no confronto com alguém, com aquilo que tem, com o que conseguiu fazer. É uma tentativa desajeitada de recuperar a confiança, a estima de nós próprios, minimizando o outro, escreveu FRANCESCO ALBERONI, no seu “Os Invejosos”.

2. Na inveja há um confronto, subsequente a uma necessidade interior de defesa e resposta, com deformação ética. Um confronto interior com terrível dispêndio de energias. É que, afinal, o terreno onde germina a inveja parece ser o mesmo onde germina a competitividade; mas, depois, tudo se tolda: o invejoso perde-se e perde dentro da sujidade da inveja, desviando a energia positiva da competição para o pântano confuso e trapalhão da cólera, do ódio, da tristeza ou da renúncia interiores, iluminado pela frustração e pela mesquinhez disfarçada de distância. No entanto, esta artificial distância do invejoso em relação ao invejado enfrenta uma contradição insanável: a necessidade de julgar o outro. É que quando o invejoso julga, ele está a evitar a auto-humilhação da inveja, pois nesse momento ela é um recuo estratégico para fugir à evidência que o corrói; e o invejado é, à vista do invejoso, melhor do que ele. Mas, uma vez mais, o invejoso falha: o seu próprio veneno, com que agride, sufoca e intoxica o outro (o invejado, o ambiente), esse veneno também o miserabilisa mais cedo ou mais tarde, porque o invejoso também vai respirar o ódio ou a troça com que agride os outro. É que, mais cedo ou mais tarde, a condenação social descobre o invejoso (aquele que involuntariamente se sente menos) e, por isso, se vicia num ódio intermitente, num zombar ou numa distância artificiais em relação às vítimas da sua inveja, com a consciência do mal que quer fazer ao outro quando a “paixão” da inveja o atinge; é isto o que, afinal, define o invejoso. A inveja é, assim, um mal que o invejoso sente que recebeu, mas que ninguém lhe fez, em que a experiência interna do invejoso não se coordena bem com o juízo moral da sociedade sobre as virtualidades das comparações, donde brota a inveja competitiva, ou depressiva, ou obsessiva, ou maldosa, ou avarenta ou iniciadora.



3. Na inveja, o invejoso revela a sua covardia interior. Ele foge às regras sociais da sã competição. Não quer “jogar” social e lealmente. Como se sente diminuído, convence-se de que naquela arena irá sofrer; então, cria uma arena artificial, a sua, para onde procura transportar outros, de forma a se sentir “social” e moralmente “normal”: aí odeia, zomba, “despreza”, finge que não vê ou que não ouve, tenta fugir ao invejado, àquele que ele pensa ser a causa da sua diminuição, que, afinal, é autoinfligida por uma mente primitiva.


4. Mas, a inveja também é parente da admiração pelo invejado? É na medida em que o invejoso luta contra a vitalidade, a força do invejado. Este, de que o invejoso não faz parte, representa um eu separado, distante, intangível para o invejoso. Este descobriu que também ele tem de conquistar; e é neste momento que algo no invejoso o impele à energia descendente da inveja e não à força ascendente do respeito ou da admiração pelos outros. E isto é assim por quê? Porque o invejoso não quer ser como o invejado. Ele quer os resultados e o poder deste, seja a realização pessoal ou profissional, a autossatisfação, a força ascendente, próxima da noção de energia vital de que tantos filósofos do século XIX e XX falaram. Nada mais! Na inveja existe uma desarmonia entre a vida e a vontade nobre de poder. O invejoso não quer ser como o invejado, ele quer antes acabar com o seu sofrimento interior de diferença em relação ao outro que ele vê como diferente e bem-sucedido; o outro, que o invejoso, no fundo, sabe que vale mais; mas que não pode compreender, porque não o vê bem, já que a cegueira do invejoso só lhe dá luz sobre si mesmo e não sobre a humanidade do objeto da sua inveja. O invejoso desconhece o ser do invejado. E é por isso que não suporta ouvir falar ou ver o ser invejado. Daí que: «A inveja não procura, afirma. Não escuta, murmura. Não vai para o objeto, diferencia-se dele, atira-o para longe como que ofuscada pelo esplendor que entreviu e pelo qual foi perturbada. É esta a transfiguração invejosa». A negação das coisas e dos atos do invejado pelo invejoso existe, como tal, quando não há ameaça à fé, mas sim ao valor pessoal que o invejoso dá a si próprio, de molde a que nada possa ou consiga aprender com o invejado. E este pobre quadro floresce se a sociedade não estiver bem organizada coletivamente, assente em valores ascendentes e fortes, porque nesse tipo de sociedade os seus valores são frágeis, discutíveis, podendo todo e qualquer ser humano querer ter o mesmo valor social do outro, abrindo assim caminho à triste paixão da inveja. Esta é, assim, tanto mais forte quanto mais fracas forem a sociedade e as raízes pessoais e intelectuais de cada um.


5. Um dos maiores segredos da vida é saber como reduzir a força da inveja. Tal redução passa sempre pela distância e pela força vital do movimento progressista do invejado. Este deve ter sempre presente a possibilidade de “viajar com saúde vital” ao longo da vida.”


Francesco Alberoni, in Os Invejosos

 
Publicado por António Aly Silva, em http://ditaduradoconsenso.blogspot.pt/

A nova lógica “PRECrisiana”…


“Os ricos que paguem a crise!!!”
Devido à recente crise, este antigo slogan parece estar outra vez na moda!... Esta é talvez a frase mais demagógica e invejosa que pode ser proferida nos dias que vivemos. Por isso quando a ouço de alguém, o carimbo é de invejoso. Ainda mais quando sabemos que vivíamos e ainda vivemos, querendo ser proprietários de alguma coisa. Não foi por isso que as famílias portuguesas se endividaram até à ponta dos cabelos, querendo ter o que não podiam?
Se a memória não me falha, este slogan foi popularizado nos anos 70 pelo então deputado da UDP, o já falecido Acácio Barreiros, na época do PREC, o processo revolucionário então em curso.  
Segundo nos diz o Presidente da APEMIP e julgo que muitos concordam, Num país onde se construiu mais nos últimos 30 anos do que durante os mais de oito séculos da nossa nacionalidade, a propriedade imobiliária deixou de ser um sinal exterior de riqueza”. Mas no entender também de muitos outros, isso só é assim para os devedores desses imóveis.
Para aqueles que realmente os possuem (isto é, que já não os devem), esses são “ricos” e como na época do PREC, os seus bens de preferência deveriam ser “nacionalizados”, devendo os impostos também de preferência só recair sobre esses, porque os outros coitadinhos só podem ir pagando aquilo que devem.
Os outros, os reais proprietários, são para a sociedade em CRISE, “aqueles que devem pagar a crise”. Até porque são uns desalmados, por não partilharem as suas propriedades com os mais pobres, não dando um quartinho ou um anexo de suas casas às famílias que coitadas, por algum motivo perderam as suas casas ou sofreram "desapropriações", por falta de pagamento das prestações do crédito imobiliário. Estes na “nova” lógica “PRECrisiana” são uns verdadeiros malandros, porque guardam aquilo que é seu somente para si.
É nesta lógica que os políticos nunca são punidos por usarem os dinheiros públicos a seu belo prazer, gastando com mordomias o dinheiro dos nossos impostos, não se preocupando em criar riqueza para o seu País. Porque afinal são “os ricos”, que sempre pagaram os seus impostos, que “devem pagar a crise!”

O Machismo Português visto pelo lado de dentro...


O Machismo Português e as Traições Amorosas

Na gíria portuguesa, os palitos são a versão económica, e mais moderna, dos cornos. Os cornos, à semelhança do que aconteceu com os automóveis e os computadores, tornaram-se demasiado volumosos e pesados para as exigências do homem de hoje. Daí a crescente popularidade dos mais portáteis e menos onerosos palitos. Contudo, visto que se vive presentemente um período de transição, em que os novos palitos ainda se veem lado a lado com os tradicionais cornos, continuam a existir algumas sobreposições. Uma delas, herdada do antigamente, deve-se ao facto dos palitos não se saldarem numa diminuição proporcional de sofrimento. Ou seja, não dão uma mera dor de palito — dão à mesma, incontrovertivelmente, dor de corno. Não é mais carinhoso, por isso, pôr os «palitos» a alguém — continua a ser exatamente o mesmo que pôr os outros.

Tudo isto vem a propósito da forma atípica, entre os povos latinos, que assume o machismo português. Não se trata do machismo triunfalmente dominador, género «Aqui quem manda sou eu!», do brutamontes que não dá satisfações à mulher. Não — o machismo português, imortalizado pelo fado «Não venhas tarde», é um machismo apologético, todo «desculpa lá ó Mafalda», que alcança os seus objetivos de uma maneira mais eficaz. É, de facto, o machismo que, não só dá satisfações, como vive delas.

O machismo português é o machismo, não da força masculina, mas da fraqueza. Não consiste no homem armar-se em agressor, mas em vítima. O logro é este: o homem apresenta-se sempre à mulher como vítima da natureza «de homem», dele. Ser homem, para o machista português, é ser essencialmente fraco. É um não-ser-capaz de resistir às tentações; um envergonhado «já sabes como é, filha» que serve para legitimar todos os privilégios de que goza (aos quais chama «deslizes»). À mulher não se admitem estes abusos — os copos, as entradas às tantas da manhã, os romances — porque o homem português considera a mulher um ser superior. Como é superior — mais forte, mais séria, mais responsável, mais ajuizada — não tem, muito simplesmente, direito a nada.

O homem trata-a como se trata um deus. Julga que ela sabe tudo e, mesmo quando ele lhe mente, sabe que ela não se convence. Pensa também que ele pode tudo e é daqui que vem o medo enorme que lhe tem. E, tal como se faz com um deus, ele peca e pede perdão, mas sem perdoar em troca — porque um deus, por definição, não pode pecar. Se acaso uma mulher não corresponde a este comportamento divino, é logo considerada uma desgraçada, uma meretriz, uma sem-vergonha. Em suma: no fundo, uma criatura tão baixa e desprezível como um homem.

Logo, é a inferioridade do homem — infinitamente confessada, declarada e propagandeada — que lhe impõe o direito de pecar e ser perdoado, e a superioridade da mulher que lhe confere a obrigação de perdoar. O homem, no machismo português, é pouco mais que uma pilha imponente e irresistível de vulnerabilidades. As outras mulheres atraem-no sempre contra vontade, e ele, coitado, não se consegue defender e vai-se instantaneamente abaixo. Como cantava o Carlos Ramos «Tu sabes bem que eu vou para outra mulher, que eu só faço o que ela quer...». A mulher, cheia de uma compreensão indistinguível da santidade, vê-o da janela, coração a sofrer de amor e de piedade, e apenas lhe pede («com carinho») que não venha tarde, «sabendo que ele vem sempre mais tarde». É este o machismo estritamente português, a meio-caminho entre o «Desculpem qualquer coisinha» e o «Era uma vez um rapaz». Nunca diz, à castelhana, «Quero e posso!»; nem disfarça, à italiana, dizendo «Posso mas não quero». Não. Diz, muito à portuguesa «Não quero, mas o que é que tu queres?, é o que posso...». O homem português nunca tem culpa. Arrepende-se sempre, mas não tem culpa porque não consegue deixar de fazer (por muito que não tente) as coisas que lhe apetece imenso fazer. A mulher, em contrapartida, tem quase sempre culpa. Tem, por exemplo, a culpa de atrair o homem, não porque o queira atrair (o querer ou não é irrelevante), mas, simplesmente, porque é mulher, e ele é homem, e não há absolutamente nada a fazer…

O machismo português não é afirmativo e orgulhoso frente à mulher. É um machismo conjuntivo — «Eu bem gostaria de ser fiel, mas...», ou «Eu bem gostaria de passar mais tempo em casa, mas...», ou ainda «Eu bem gostaria de não ser como sou, mas...». É esse «mas» que torna o machismo português diferente — não é tanto de macho como de «mas», não é tanto um autêntico machismo como um masismo. Ele não é senhor do seu destino, como ela é do dela (e do dele). As coisas acontecem-lhe, ele bem tentou; foi uma coisa que lhe deu, ele nem sequer deu por ela, e, pronto, «o que é que tu queres, filha?», aconteceu...

A relação entre o homem português e a mulher é vista (pelo homem), como a relação que tem cada um com a sua consciência. E, ao passo que cada um pode andar na boa-vai-ela (e depois penitenciar-se), o mesmo não se imagina (nem consente!) à consciência. E, o mais engraçado de tudo, é que a mulher que «sabe tudo», até isto sabe. Ou seja: sabe perfeitamente que esta do «Tu sabes bem...» é pouco mais que uma excelente treta que os homens propagam para poderem pensar que se divertem mais do que as mulheres. O que torna a mulher portuguesa ainda mais superior. Claro.

Tudo isto para regressar, sem dor, à questão dos palitos. A tese central, criação única do machismo português, é esta: É muito fácil pôr os palitos a um homem (basta a mulher olhar para outro), mas é quase impossível pôr os palitos a uma mulher (porque nunca se consegue enganar a consciência). Um homem pode ser, por dá-cá-aquela-palha, um «corno manso», o que é muito pior que ser um corno selvagem ou só semicivilizado. Mas não existe, na língua, correspondência para o sexo feminino. Os palitos são uma coisa terrível que as mulheres podem pôr aos homens mesmo sem chegar a pô-los; mas que os homens nunca podem pôr às mulheres, por muito que lhos ponham. Nesta vantajosa lógica, bastante mais complexa e respeitosa do que aquela que anima outros machismos menos atlânticos, se encontra a alegria e a tristeza do autêntico macho português — aquele que vem sempre mais tarde, mas cada vez mais cabisbaixo.

Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'

 

Dá-me música para ver se eu gosto!...


"Critica o tolo, e ele te odiará, critica o sábio, e ele te amará."
 
Bíblia Sagrada

A Amizade e o Amor Segundo uma Lógica de Bazar

Desconfia-se do que é dado e pesa-se o que se recebe. A amizade e o amor parecem gerir-se, por vezes, segundo uma lógica de bazar. Já nem é considerado má-educação perguntar quanto é que uma prenda custou. Se esse preço é excessivo chega-se a dizer que não se pode aceitar. Recusar uma dádiva é como chamar interesseiro ao dador. É desconfiar que existe uma segunda intenção. De qualquer forma, só quem tem medo (ou corre o risco) de se vender pode pensar que alguém está a tentar comprá-lo. Quem dá de bom coração merece ser aceite de bom coração. A essência sentimental da dádiva é ultrajada pela frieza da avaliação.

A mania da equitatividade contamina os espíritos justos. É o caso das pessoas que, não desconfiando de uma dádiva, recusam-se a aceitar uma prenda que, pelo seu valor, não sejam capazes de retribuir. Esta atitude, apesar de ser nobre, acaba por ser igualmente destrutiva, pois supõe que existe, ou poderá vir a existir, uma expectativa de retribuição da parte de quem dá. Mas quem dá não dá para ser pago. Dá para ser recebido. Não dá como quem faz um depósito ou investimento. O valor de uma prenda não está na prenda - está na maneira como é prendada.
Hoje em dia, com a filosofia energumenóide e pseudojusta que impera, condensada no ditado ‹‹There is no such thing as a free lunch» é praticamente impossível oferecer um almoço a alguém. Todos os gestos de amor e de amizade são reduzidos ao valor de troca, a uma mera transação em que é tudo avaliado, registado, saldado, pago a meias e de um modo geral discutido e destruído até estar esvaziado de significado.

 Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

O Egoísmo Levado às Últimas Consequências

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Rui Barbosa


O consumismo, o individualismo e a busca desenfreada por lucros, tomaram conta de uma grande parcela da sociedade atual. O homem de hoje levou o seu egoísmo até as últimas consequências, ou seja, ama-se somente a si mesmo!
A sua opção de vida é centrada no egocentrismo, na “liberdade absoluta”, não tendo em conta a liberdade alheia, sendo capaz com facilidade, de recusar e destruir a relação com Deus, com os outros e com o mundo.
Do interior do homem, brota o egoísmo extremado, que passa para os seus pensamentos e ações; para as suas atividades, instituições, estruturas, gerando situações de desrespeito pelos outros, tensões, divisões ou mesmo violência.
Com tudo isso rompeu a filiação divina, a fraternidade com os outros e o domínio sobre as coisas, dando origem a uma inversão radical, numa verdadeira ascensão do relativismo moral.

O homem, com sua soberba, sente-se um pequeno deus, usando e abusando do “viva como achar melhor”. Com uma conceção de vida centrada em si mesmo e em seus interesses, as coisas, o poder, o status..., ocupam o primeiro lugar: vivendo para o ter e o prazer, a sua conduta harmoniza-se no mal; busca-se o ter mais, nem que para isso se tenha de destruir o seu semelhante; a verdade, a honra, a justiça, o trabalho, o compromisso..., deixam de ser valores a respeitar; há sobretudo uma inversão radical nas relações entre pessoas: o outro pode ser a seu entender “coisificado”, instrumentalizado, manipulado; os direitos dos outros são desprezados; o engano, a violência física ou psicológica e a injustiça..., reinam por toda parte.

Numa sociedade que acolhe de bom agrado este homem, a simples gentileza ou simpatia passa a ser olhada com desconfiança, havendo até quem as confunda com atrevimento; a pessoa dócil e humana é taxada de tola ou merecedora de descrédito; o mau comportamento em vez de receber reprovação recebe admiração, sendo incentivado e imitado; o cônjuge infiel é valorizado e aplaudido e o fiel é incompreendido e subestimado (e o adulterado é considerado o perdedor e posto de parte); o bom funcionário é perseguido e o negligente é exemplar; o certo e o errado, a mentira e a verdade, bailam despudoradamente ao som da música das conveniências e os cantores versáteis dessa música, conseguem compor e cantar o errado e a mentira, como o certo e verdadeiro, arrancando com isto muitos aplausos de numerosa plateia...

Fonte: http://www.artigonal.com/ http://pt.scribd.com/
 

A maior flor do mundo

Na contra capa do livro José Saramago escreve::..“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”A maior flor do mundo
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Outra adaptação da história:
A Maior Flor do Mundo from Fundação Jose Saramago on Vimeo.

A Inutilidade de Guerras e Revoluções

As guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil.

Todos os ideais e todas as ambições são um desvairo de comadres homens. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança. Não há ideal que mereça o sacrifício de um comboio de lata. Que império é útil ou que ideal profícuo?
Tudo é humanidade, e a humanidade é sempre a mesma - variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva. Perante o curso inimplorável das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo de mil xadrezes que é a vida em comum e luta, o tédio de contemplar sem utilidade o que se não realiza nunca - que pode fazer o sábio senão pedir o repouso, o não ter que pensar em viver, pois basta ter que viver, um pouco de lugar ao sol e ao ar e ao menos o sonho de que há paz do lado de lá dos montes.

Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego"
Para aquele que aos olhos dos outros já tem muito, não será pedir de mais?

Entender, mais pelo Sentir que pela Razão

Uma verdade só o é quando sentida - não quando apenas entendida. Ficamos gratos a quem no-la demonstra para nos justificarmos como humanos perante os outros homens e entre eles nós mesmos. Mas a força dessa verdade está na força irrecusável com que nos afirmamos quem somos antes de sabermos porquê.

Assim nos é necessário estabelecer a diferença entre o que em nós é centrífugo e o que apenas é centrípeto. Nós somos centrifugamente pela irrupção inexorável de nós com tudo o que reconhecido ou não - e de que serve reconhecê-lo ou não? - como centripetamente provindo de fora, se nos recriou dentro no modo absoluto e original de se ser.

Só assim entenderemos que da «discussão» quase nunca nasça a «luz», porque a luz que nascer é normalmente a de duas pedras que se chocam. Da discussão não nasce a luz, porque a luz a nascer seria a que iluminasse a obscuridade de nós, a profundeza das nossas sombras profundas.


Decerto uma ideia que nos semeiem pode germinar e por isso as ideias é necessário que no-las semeiem. Mas a sua fertilidade não está na nossa mão ou na estrita qualidade da ideia semeada, porque o que somos profundamente só se altera quando isso que somos o quer - e não quando nós o deliberamos. Assim nasce um desencontro quantas vezes entre a mecânica dos nossos raciocínios e a verdade que em nós já é morta. No hábito dos gestos, as mãos tecem ainda na exterioridade de nós a plausibilidade do que em nós já não é plausível. Então nos é necessário substituirmos toda a aparelhagem de que nos serviríamos e já não serve. Surpresos olhamos quem fomos porque já nos não reconhecemos.

Atónitos perguntamos como foi possível?, quando, onde, porquê?, ao espanto da nossa transfiguração, ao incrível da cilada que nós próprios nos armámos, mesmo quando foi a vida que a armou; porque tudo quanto é da vida, e dos outros, e dos mil acontecimentos que quisermos, só existe eficaz e real quando abre em evidência na profundidade de nós. Como aceitar assim a força da razão, se a força dela está onde ela não está?



Vergílio Ferreira, in 'Invocação ao Meu Corpo'

Os Mesmos Erros



Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes. Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós. Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam. Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas. Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos. Dêem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer - mesmo coisas que sabemos serem erradas.

Carl Sagan, in "O Mundo Infestado de Demónios"

A Maldade como Poderoso Elemento do Progresso Humano

Os sentimentos fixos e de forma constante qualificados de paixões constituem, também, possantes fatores de opiniões, de crenças e, por conseguinte, de conduta. Certas paixões contagiosas tornam-se, por esse motivo, facilmente coletivas. A sua ação é, então, irresistível. Elas precipitaram muitos povos uns contra os outros nas diversas fases da história. As paixões podem excitar a nossa atividade, porém, alteram, as mais das vezes, a justeza das opiniões, impedindo de ver as coisas como realmente são e de compreender a sua génese. Se nos livros de história são abundantes os erros, é porque, na maior parte dos casos, as paixões ditam a sua narrativa. Não se citaria, penso eu, um historiador que haja relatado imparcialmente a Revolução.

O papel das paixões é, como vemos, muito considerável nas nossas opiniões e, por conseguinte, na génese dos acontecimentos. Não são, infelizmente, as mais recomendáveis que têm exercido maior ação. Kant reconheceu a grande força social das piores paixões. A maldade é, no seu juízo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho “Amai-vos uns aos outros”, ao invés de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruírem mutuamente, a humanidade vegetaria ainda no fundo das primitivas cavernas.

Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'

A Geração de Abril

Um dia isto tinha que acontecer, por Mia Couto

Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (atualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquer coisa phones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que coleciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as que foi ditando à escola, alarvamente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato coletivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.