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A família no fogo cruzado da educação contemporânea


Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente as suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê o exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que o seu filho não o escuta, ele olha-o.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensine-o a viver sem portas.

Eugênia Puebla, Mensagem à família

(Eugênia Puebla é uma professora argentina, especialista em educação em valores humanos.)

 

A relação entre pais e filhos parece ter sofrido mudanças radicais nos últimos trinta anos. E para onde é que essas mudanças apontam?

As novas formas de organização familiar nos estratos urbanos médios (agora múltiplas, heterogéneas e voláteis) parecem não ter encontrado uma contrapartida factível no que se refere aos modos de se relacionar com os mais novos.

Assediada por um sem-número de palavras de ordem extravagantes, a família contemporânea encontrará, não raras vezes, uma espécie de colapso ético materializado, por um lado, num acúmulo de intenções impraticáveis e, por outro, na abdicação paulatina do gesto educativo cotidiano.

São essas as questões levantadas pelo polémico psicólogo Julio Groppa Aquino, que questiona a maneira como pais estão a lidar com os seus filhos. Este é um questionamento que produz tantas faíscas, quantas aquelas do fogo cruzado da educação.

Julio Groppa Aquino é docente livre da Faculdade de Educação da USP. Formado em psicologia, com mestrado e doutorado em psicologia escolar pela USP, é autor e colaborador de várias obras sobre algumas tensões que atravessam a educação contemporânea, entre elas o cotidiano escolar, as inflexões disciplinares, a relação família-escola etc. Foi também colunista das revistas "Nova Escola" e "Educação".
 

Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/2010/04/23/a-familia-no-fogo-cruzado-da-educacao-contemporanea/ ; http://clinicataniahouck.com.br/blog/?p=8 ; http://vimeo.com/28023318

Aqui deixo também uma belíssima entrevista realizada à atriz Sofia Sá da Bandeira que espelha o pensar de uma mulher dos nossos tempos, mas que também mostra o testemunho de uma vida de notável sensibilidade e bom senso, que transmite uma educação que teve por parte da sua família, mas que também espelha os problemas da nossa sociedade atual, em tudo o que ela tem de positivo e negativo.

Ver e ouvir mais em:
  http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/videos/2013/06/24/sofia-sa-da-bandeira-em-alta-definicao

Adolescer em tempo de crise


 
Descrevemos como susto a idade adulta não dando, aos adolescentes e aos adultos em geral, a ideia de que é ao ser adulto que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente mais senhor do próprio destino e do seu percurso de vida.

A lavagem do carro

Imaginem que levam o vosso carro à máquina de lavagem automática. Dirigem-se a uma gasolineira, conduzindo-o, e seguem as instruções da pessoa que lá está. Ele vai dizendo: "mais à direita, mais à esquerda, assim… pode parar!". A partir daí, a máquina pegará no automóvel e, por mais que o leitor faça, não conseguirá mudar o rumo das coisas, designadamente do seu automóvel. O que for, será.

A grelha da máquina «agarrará» nas rodas do carro e levá-lo-á por aí, em direção a umas ameaçadoras escovas e a jactos de água, que despejarão detergente e espuma (o leitor deixará de ver o que se passa), depois mais água e, finalmente, uma outra máquina ameaçadora, que vem em direção ao seu vidro e – confesse, leitor! – pensará sempre que aquela barra que despeja jactos de ar quente não perceberá que tem um vidro, um carro e o leitor à frente e fará uma razia em linha recta, decapitando-o.

No final deste filme, o leitor ficará satisfeito com o trabalho, o seu carro está limpo e brilha, sobretudo se tiver pedido o programa mais caro mas mais completo, e segue então viagem, novamente com poder sobre o volante e sobre o rumo do seu destino.

A adolescência é assim. Tão fácil? Ou tão difícil?

O que é um adulto?

Ou, melhor, escrevendo o que dizemos nós adultos, aos adolescentes sobre o que é ser adulto. Pegue-se num telejornal, num jornal ou numa revista: tirando algumas excepções (bastantes, mas não as suficientes), os adultos são descritos como assassinos, pedófilos, corruptos, mentirosos, gente de objectivos rasteiros, gente que aparece porque está "in" e está "in" porque aparece o inefável jet set, grandes traficantes, maus políticos, exploradores e outros que tais. Ou, então, as vítimas desses mesmos adultos. Nós próprios ao falarmos de nós queixamo-nos permanentemente do trabalho, do cansaço, do IRS, do fisco, do Governo, da malandragem, da troika e dos ladrões e… de tudo. Ser adulto é, pois, uma questão simples. Ser adulto equivale, assim, a uma de duas coisas: ser malandro ou ser vítima de malandro.

O discurso sobre a adultícia ainda é pior, quando acrescentamos a Rádio Nostalgia: a criança que há em nós, a liberdade da infância, os bons velhos tempos em que éramos jovens e não tínhamos responsabilidades.

No entanto, a cereja no topo do bolo é quando dizemos – talvez com razão, mas com alguns efeitos secundários indesejáveis – que os erros do passado e detectados no presente vão ser pagos (e de que maneira!) pelas gerações seguintes. Não discuto se é verdade ou mentira que cada português, ao nascer, já está a dever balúrdios a toda a gente, seja aos mercados, seja à senhora Merkel. Que sei eu! Mas para quem está na adolescência, a ver-se, qual automóvel em máquina automática de lavar, engatilhado nas roldanas sem poder acelerar, travar, virar à esquerda ou à direita e quando lhe dizem que as escovas que vêm aí são terríveis, a dúvida é o que vai sair do outro lado. Um carro limpo e brilhante, ou uma amálgama de ferros torcidos e a pintura riscada de modo indelével?

Teremos, assim, de mudar o discurso sobre a adultícia, mais do que repetir os chavões do costume sobre a adolescência – período descrito por muitos pais como "terrível", cheio de problemas e um susto. O que descrevemos, sem dar por isso, talvez, como susto é a idade adulta, não dando aos adolescentes e aos adultos em geral a ideia de que é, ao ser adulto, que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente senhor do próprio destino e do  percurso de vida.

Ser adolescente em tempo de crise

O nosso país está em crise, o mundo está em crise. Que grande novidade… Não sabemos o que o futuro nos reserva, os tempos estão e serão difíceis. Que grande novidade… Os jovens nem sabem o que os espera! (e alguém sabe?).

Curiosamente, o facto de as sociedades terem vivido períodos enormes de crise, da palavra crise significar "crescimento e oportunidade", de esta crise se dar (no nosso país) em níveis de desenvolvimento nunca antes atingidos e de as gerações anteriores terem, elas mesmas, passado sempre "as passas do Algarve", parece ser obliterado, branqueado, esquecido. É como se o mundo, antes de nós, fosse uma maravilha e o futuro um buraco negro para onde, sem hipóteses de fuga, avançamos.

Quem viu o filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris, recordar-se-á da vontade de muitas das personagens em regressar à geração anterior, com a ilusão de que o mundo era muito melhor do que é no tempo em que vivem. O próprio realizador comentou, numa entrevista, com o sarcasmo que lhe é conhecido: "prefiro viver num mundo cheio de problemas mas com antibióticos!". A ideia de que "antes é que era bom" é errada. "Antes" poderia ser bom para alguns, mas era muito mau para a larga maioria. O presente – então em Portugal, isto assume proporções quase gigantescas – é muito melhor do que o passado, pelo que é previsível (é certo!) que o futuro será melhor do que o presente. Só que, em termos históricos, o futuro não se escreve num dia ou num ano, e também não apenas numa dimensão económica, mas sim em décadas e em diversas perspectivas: a económica e financeira, com certeza, mas a social, ética, cultural, etc. As gerações dos nossos pais e avós passaram tempos terríveis: II Grande Guerra, Guerra Colonial, ditadura fascista… tanta coisa de que, felizmente por um lado, infelizmente pelo outro, os adolescentes não conhecem e os adultos já esqueceram. Quem tinha 18 anos no 25 de Abril terá agora 55…

Que solução?

É bom que o nosso discurso mude, deixando vitimizações de lado e a conversa fiada da infelicidade, da perseguição pelos outros e pelo Estado, e do quão coitadinhos somos. É importante, na minha opinião, que os nossos filhos saibam várias coisas e que isso seja acentuado:

1. Que ser adulto é ter uma fase da vida de enorme liberdade, e que essa liberdade será tanto maior quanto a pessoa decidir, desde cedo, ser senhor do seu percurso de vida e entender os graus de liberdade que tem relativamente a ele, através das escolhas correctas e da reflexão e ponderação sobre essas escolhas – quem pensar que está tudo predestinado ou que o que decidir hoje não tem impacte no amanhã estará, sim, a cavar um futuro perigoso. As teorias do carpe diem, ou do "viver cada dia como se fosse o último", por muito gentis e engraçadas que sejam, esquecem-se de um pequeno pormenor: é que tudo seria correcto se morrêssemos amanhã mas se não morrermos – o que será certamente o caso – o nosso futuro será mais difícil e pior se hoje não pusermos as pedras adequadas na calçada do nosso percurso de vida.

Ter a cabeça nas nuvens mas os pés bem assentes na terra parece-me uma solução engenhosa, criativa e eficaz…

2. Que as crianças e adolescentes têm uma vida como nunca tiveram em bens, liberdade, educação, opções de produtos e bens, conhecimento científico, acesso à informação e ao conhecimento, equipamentos, sociedade legislada e organizada, enfim, uma vida que as gerações anteriores ambicionariam ter e que construíram – não foi apenas a crise que lhes legaram, mas sobretudo uma sociedade de tolerância, democracia e liberdade.

Nunca, como hoje, se viveram tempos de tanto respeito pelos direitos humanos, de abundância e tanta qualidade de vida. Esta afirmação é fundamentada em factos, não é apenas opinativa.

3. Que o "quero tudo, já!" que reflecte o regresso à fase da omnipotência narcísica dos 15-18 meses de idade, e que muitas das crianças e adolescentes veem consagrado no seu dia-a-dia com pais que lhes dão tudo sem esforço e sem conquista, que consagram os seus desejos ao mínimo "piu", não esclarecendo que as expectativas não podem ser iguais à realidade e que é através do trabalho, da sabedoria, e da vida, no seu percurso, que se irão obter mais e mais coisas, tem de acabar porque não é exequível nem justo. O "quero tudo, já!" que se viu concretizado nos cartõezinhos mágicos que bancos e lojas davam às pessoas (como se fosse possível ter crédito ilimitado sem que alguém viesse depois pedir contas e juros, ou até mesmo como se fosse lógico, ético e moral contrair dívidas para gozo efémero e imediato sem que, no futuro, isso viesse a cair sobre quem as contraiu), tem de acabar com o "não!" que dizemos aos nossos filhos de ano e meio ou dois anos, quando nos pedem mundos e fundos.

O "não" é estruturante, desde que dito com afecto e firmeza, coerência e consistência. Seria aliciante não haver código da estrada, mas o caos no trânsito que se seguiria seria um preço demasiado caro a pagar, para lá da ineficácia e de não chegarmos a lado nenhum por termos tudo entupido à nossa frente. Com o percurso de vida é igual, embora as margens do rio não devam ser nem tão estreitas que o rio entra em torrente, nem tão largas que o rio alaga tudo e não progride.

4. Que a vida é difícil, em alguns períodos mais, noutros menos, que há épocas de vacas gordas e outras de vacas magras, mas que a sábia gestão de bens, expectativas, desejos e trabalho, numa óptica estratégica e táctica, pode conseguir airbags que evitam males maiores e permitem uma boa navegação ao longo da vida.

Sem estar com um discurso do "Ó tempo volta para trás", é bom relembrar a história dos pais, da família, da comunidade, do país… porque a memória é curta, e muito mais quando houve uma revolução paradigmática em termos de informação e comunicação.

5. Que ser adolescente em tempos de crise é normal, porque a crise é inerente a todas as fases da vida, incluindo a adolescência e talvez até mais pela velocidade de crescimento, desenvolvimento, autonomia, identidade, projectos, afectos e outras coisas que tal e que cada um poderá dar a volta à crise se mantiver a lucidez, tentar a excelência de si próprio, esforçar-se por conseguir ultrapassar-se e assumir o aperfeiçoamento como objectivo de vida.

Os filhos não são nem podem ser a segunda edição do nosso livro, mesmo que com algumas correcções e emendas, e uma nova capa. Os filhos são o livro deles, com algumas dicas da nossa parte mas escrito por eles. Adolescer em tempos de crise é quase um pleonasmo. Mas, em todas as fases da vida, vivemos em crise, entrecortada por períodos de acalmia, de reflexão e também de fruição do que se foi estruturando e organizando, mas se a seguir à tempestade vem a bonança, como diria La Palice, a seguir à bonança virá necessariamente uma tempestade.

Continuemos a apoiar os nossos filhos, no seu processo de crescimento, segundo os princípios e valores que são os nossos, mas com uma grande capacidade de ouvir, escutar, dialogar, negociar e respeitar. Reciprocamente.

E mostremos – para nosso bem, igualmente –, que ser adulto é bom. Que o carro que vai sair do outro lado da máquina de lavar, depois da ameaça daquelas enormes escovas azuis que avançam à velocidade quase da luz, com barulhos e tremores, depois da nuvem branca de espuma que não nos deixa ver nada e da outra grande máquina de ar quente que avança em direcção a nós, o carro sairá do outro lado limpo e brilhante a cheirar bem e com aspecto novo, mesmo que subsistam alguns riscos e "cicatrizes" de factos passados. Mas, claro, como em tudo na vida, este sucesso dependerá da qualidade e afinação da máquina, da competência do operador e da vontade e força de vontade do próprio.

Há escolhas, dificuldades, obstáculos e crises. Mas há nós próprios, e é isso que temos de dizer aos adolescentes, caso contrário afirmar-nos-emos enquanto adultos como fracassados e falhados, o que, convenhamos, não será bom, nem para a nossa imagem, nem para o modelo que devemos ser (e que somos) para eles.

 

Mário Cordeiro, in Jornal o Público de 20/06/2013

O autor é médico e professor de Pediatria.

Novas subjetivações e o mal-estar na contemporaneidade


Com a globalização, vivemos com a sensação que perdemos o domínio de nós mesmos, vivemos numa sociedade de risco.

O propósito desta conferência é crcunscrever as novas formas de subjetivação na atualidade, indicando os impasses do discurso psicanalítico de se confrontar com um Mundo no qual o Estado perdeu o seu lugar de referência axial no espaço social, tendo como contrapartida a disseminação da economia neoliberal.

A questão da autoridade paterna foi também colocada na berlinda, de forma que o imaginário da barbárie se atualizou no espaço social. É nessa perspectiva que o Édipo como referencia ética foi colocada em questão.

Nela o psicanalista Joel Birman chama a atenção para três categorias fragilizadas:

1.    Corpo - estamos sempre aquém do que queremos. Há um cuidado corporal acentuado; a saúde ao contrário da alma transformou-se no nosso bem supremo e o Stress tornou-se uma palavra-chave nos dias de hoje.

2.    Ação - há um excesso de sexualidade, de violência e criminalidade. Como consequência surgem ações fracassadas - as compulsões às drogas, à comida, ao consumo.

3.    Sentimentos - referem-se a variações de humor, depressões e enfermidades como a síndrome do pânico.

Há ainda um empobrecimento no campo do pensamento e no campo da linguagem; surge a linguagem-ação. Como consequência dessa fragilização o sujeito prefere explodir pela ação - passagem ao ato - que o Psicanalista Dr. Jorge Forbes chama de sintomas da globalização, como os crimes inusitados.

Esta é uma excelente palestra do psicanalista Joel Birman no programa Invenção do Contemporâneo, promovida pela CPFL Cultura, sob a curadoria do psicanalista Jorge Forbes, e transmitido pela TV Cultura.

Joel Birman é Psicanalista, membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos e do Espace Analytique, Professor Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor Adjunto do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).


A não perder!...



Fontes: https://www.youtube.com/watch?v=Qeb0Fs_N9eQ; http://www.cpflcultura.com.br/2009/12/01/integra-novas-subjetivacoes-e-o-mal-estar-na-contemporaneidade-joel-birman/

Greve aos Exames



A escola pública de qualidade é mais importante que a data de um exame

Quando alguém diz “Eu sou a favor das greves…” segue-se, em geral, uma adversativa que precede a explicação por que, desta vez, nesta data, neste sector e nestas circunstâncias, a greve é socialmente injusta, moralmente ilegítima, tacticamente errada ou políticamente contraproducente. As razões por que não se deve fazer greve desta vez variam em género, em grau e em combinatória, mas o resultado é sempre o mesmo: a greve é um direito inalienável dos trabalhadores consagrado na Constituição da República Portuguesa, mas, na opinião das pessoas que assim falam, deve ser usada apenas quando não possui absolutamente inconveniente nenhum para ninguém.

Ora a greve não pretende ser uma arma inócua. A greve é uma arma de último recurso, que se usa quando os trabalhadores consideram que está em causa a defesa de direitos importantes – seus ou da sociedade em geral – e quando já falharam as negociações. Se as negociações são o momento da racionalidade e da discussão, de pesar ganhos e perdas, de avaliar vantagens e inconvenientes de um lado e de outro, a greve é o momento da força. A greve não é um recurso retórico. A greve é uma arma que se usa numa situação de conflito e visa prejudicar o adversário, enfraquecer a sua posição e, acima de tudo, mostrar a força que o lado em greve possui, para regressar de novo à mesa das negociações e para conseguir chegar a um acordo que satisfaça as partes. A greve pretende sempre ser uma chamada à realidade do outro lado – que, frequentemente, pensa que pode dispensar os trabalhadores e impor unilateralmente as condições que lhe convêm. Há uma razão prática que limita o recurso à greve e que a torna, de facto, uma arma de uso excepcional: os trabalhadores que fazem greve perdem o salário correspondente, o que, principalmente em época de crise, não é algo que se aceite levianamente.

O argumento de que a greve dos professores vai prejudicar os alunos e, por isso, não deve ser feita, é tão pueril como dizer que as greves de transportes não devem ser feitas porque prejudicam os passageiros e as greves de recolha do lixo não devem ser feitas porque prejudicam os moradores. As greves prejudicam sempre alguém. É evidente que os grevistas têm de pesar os prejuízos que causam em relação às causas que defendem e aos benefícios que esperam. Não é aceitável que uma greve de trabalhadores da saúde se salde por uma única morte que seja. Mas considera-se que um certo grau de desconforto momentâneo da população é um preço aceitável a pagar pelo direito a defender os nossos direitos. E são “os nossos direitos” porque a greve não é algo que apenas os outros façam. A greve é uma ferramenta que todos temos na mão.

É evidente que podemos ter opiniões diferentes sobre a justeza de uma dada greve, mas são raros os que acham que os professores não têm, no caso vertente, razão suficiente de protesto, perante a tentativa de industrializar uma escola pública de baixo nível para os pobres e proletarizar os professores. O prejuízo dos alunos? Essa é a arma da greve. Nenhum professor deseja ou aceita que um aluno seja seriamente prejudicado pela greve – além do incómodo decorrente de, eventualmente, repetir o exame – mas essa é uma preocupação que, agora, o Governo deve assumir. Havendo greve, tem de ser dada possibilidade aos alunos de realizar exames noutras ocasiões, de forma a não os prejudicar. Vai ser uma grande confusão? Provavelmente. Mas essa é, mais uma vez, a arma da greve. Essa é a pressão da greve e, se não aceitarmos que uma greve possa dar origem a estas formas de pressão, isso significa que não aceitamos o direito à greve. Nem o dos outros, nem o nosso. Significa que, sejam quais forem as condições que nos imponham no nosso trabalho, achamos que não devemos ter o direito de parar de trabalhar.

É evidente que existem nas greves em geral, e também nesta, coisas irritantes. Além de alguma imaginação nos protestos, teria gostado de ver no centro das intervenções dos professores a defesa da escola pública, a defesa da qualidade do ensino e a defesa dos direitos dos jovens (incluindo daqueles que deviam ser alunos e não o são) em vez de quase exclusivamente os direitos dos professores – por muito que estes sejam de prezar. Não é apenas um erro retórico: é um erro político de consequências sérias. Seria importante aproveitar este momento para explicar de que forma todas as medidas deste Governo põem em causa a escola pública inclusiva e de qualidade que tem sido construída nas últimas décadas. Mas os sindicatos dos professores estão demasiado centrados numa defesa estreita dos direitos dos seus associados. É um erro político porque facilita à direita o uso da retórica dos “privilégios” e da “resistência à mudança”. É um erro político quando a greve e o “prejuízo dos alunos” tornam fácil a acusação de “egoísmo” àqueles que são o principal esteio da escola pública e os principais autores dos seus êxitos – que existem e seria bom lembrar nestes dias de greve.

José Vítor Malheiros, in Jornal o PÚBLICO de 11 de junho de 2013



Fonte: http://www.leituras.eu/?p=6537&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+As-Minhas-Leituras+(As+Minhas+Leituras)

Ver também: Eixo do Mal » Eixo do Mal SIC Noticias Programa do Dia 15-06-2013 (http://www.videosbacanas.com/eixo-do-mal-sic-noticias-programa-do-dia-15-06-2013/)

A Razão, o Passado, o Presente e o Futuro


Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Antero de Quental, Hino à Razão, in "Sonetos”

A ideia da série "Conversas Vadias" era confrontar o Professor Agostinho da Silva com perguntas das mais variadas personalidades da vida nacional. O jornalista e escritor português Manuel António Pina, falecido no ano passado e premiado em 2011 com o Prémio Camões, foi o interlocutor deste programa.

Começando por definir a sua ideia de poeta, "aquele que cria", Agostinho da Silva continua por aí fora, a explanar o seu pensamento.

A ideia de que todos nós devíamos morrer sem matar a criança que existe dentro de nós é outra teoria de Agostinho da Silva. Chega mesmo a fazer um trocadilho de palavras, considerando que ser adulto é ser adulterado.

Fala depois de novo dos homens do século XIII que foram, segundo o Professor, os arautos do futuro.

Com realização de António Marques Pinto, esta entrevista é mais uma interessante lição do Professor Agostinho da Silva.


Fontes: http://www.citador.pt/  
http://www.rtp.pt/programa/tv/p17695/e6;http://www.youtube.com/watch?v=ScQGh-RpD4M&list=PLB1cvCMdrns5lS7HC2nbJRWNNo1EVpKPP

Em Louvor das Crianças

O que se fizer com as crianças hoje, elas farão com a sociedade amanhã.
 
Karl Menninger
 

Brinca enquanto souberes!
Tudo o que é bom e belo
Se desaprende...
A vida compra e vende
A perdição,
Alheado e feliz,
Brinca no mundo da imaginação,
Que nenhum outro mundo contradiz!
Brinca instintivamente
Como um bicho!
Fura os olhos do tempo,
E à volta do seu pasmo alvar
De cabra-cega tonta,
A saltar e a correr,
Desafronta
O adulto que hás-de ser!

Miguel Torga, Brincar 
 
Hoje é Dia Mundial da Criança. É um dos dias mais especiais do ano, inteiramente dedicado aos seres de palmo e meio de todo o mundo.

Relembra a proclamação, pela ONU, da Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Mas este dia deve ser sobretudo, para que nós adultos paremos para pensar sobre o presente e o futuro das nossas crianças.

É precisamente por isso que aqui deixo este vídeo, para nos ajudar a refletir sobre a importância de cuidar bem das nossas crianças, que representam o futuro.

De acordo com o educador Mário Sérgio Cortella, nós estamos a gastar o futuro por antecipação. Isto significa que nós estamos a gastar os meios que permitiriam a existência de próximas gerações.

Boa visualização e audição…



Fonte: http://lazer.publico.pt/noticias/320554_dia-mundial-da-crianca https://www.youtube.com/watch?v=t3C-N2gdlxI&list=PL99F0CF7C79524111 http://www.citador.pt/      


Deus, o Universo e Tudo o Resto


“Deus, o Universo e Tudo o Resto” é um colóquio de ensino, na tentativa de descobrir uma grande teoria unificada das leis que governam o Universo.

Este programa esclarecedor aprofunda-se em temas como: a Teoria Unificadora, a Teoria do Big Bang, a Expansão do Universo, o Tempo Imaginário, os Buracos Negros, a Inteligência Extraterrestre, o Conjunto de Mandelbro, as Origens da Criatividade e ainda Marte e Deus.

O documentário, produzido em 1988, revela ainda as esperanças em torno da exploração do espaço, as expectativas quanto ao lançamento do telescópio Hubble e a preocupação com as armas atómicas.

Mas também aqui encontramos três das maiores mentes científicas do planeta - Stephen Hawking, Carl Sagan e Arthur C. Clarke.

Stephen Hawking é um físico teórico britânico, que dedicou grande parte de sua vida a investigar as leis do tempo e do espaço, descrito pela Teoria da Relatividade de Einstein. Stephen Hawking, o genial físico de Cambridge, é considerado o sucessor de Galileu, Newton e Einstein.

Carl Sagan já falecido em 1996, foi como se sabe, um astrónomo norte-americano que desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento do programa espacial americano, bem como suas contribuições à ciência planetária. Aqui revemos Carl Sagan no auge de sua saúde e da sua perspicácia intelectual.

Arthur C. Clarke também já falecido em 2008, foi um autor britânico de obras de divulgação científica, como por exemplo, “2001: Uma Odisseia no Espaço” e o premiado Encontro com Rama”, bem como pela sua visão otimista, relativa à possibilidade de exploração da nossa Galáxia.


Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=kebRmXSi_UU; http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_C._Clarke

O medo e suas relações com a violência e a sociedade


Guernica de Pablo Picasso

Não temos, nos nossos registros sociais, atualmente, meios de dissipar e lidar adequadamente com os nossos medos. Quais medos? Todos e quaisquer que se apresentem ao nosso inconsciente ou ao nosso consciente.

No passado, a cultura encarregava-se de nos dar meios suficientes de suportar os medos de todo tipo. Hoje, os nossos medos não têm mais suporte, são medos impossíveis de correção, como o medo do corpo deformado - feio, gordo, magro, impossível de ser aceite - como o medo do futuro, que nos faz querer morrer no presente, como o medo do insucesso, etc.

O medo irremediável gera a impotência que nos oferece dois caminhos: a depressão ou a violência - auto ou heterodirigida. Somente um cuidador afetivo e presente pode dar conta disso.

Ivan Capelatto é psicoterapeuta, psicólogo clínico e professor do curso de pós-graduação em pediatria da Faculdade de Medicina da PUC - Paraná. Autor da obra Diálogos sobre Afetividade - o nosso lugar de Cuidar (2001).



Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=myqFpFetUH4

A democracia, a crítica e o sofá de Freud


“Os que invalidam a razão devem pensar seriamente se estão a argumentar contra a razão com razão ou sem ela; se for com razão, estabelecem o princípio de que estão a trabalhar para a destronar; mas se argumentam sem razão (que, para serem coerentes consigo próprios, é o que devem fazer), estão fora do alcance da condenação racional e também não merecem um argumento racional.”

Ethan Allen*, in O Mundo Assombrado Pelos Demônios – A Ciência Vista Como uma Vela no Escuro de Carl Sagan (pág. 327)
 
Polemizar é debater ideias. Do debate brota a síntese, o caminho a seguir, embora haja quem marque passo.

Quem polemiza, justa ou injustamente, fica com travo amargo.

Quem escreve ou fala publicamente não escreve só por escrever, nem fala só por falar. Por diletantismo! Quer transmitir mensagens e ideias. De contrário, escreveria um diário íntimo ou usava um gravador para se ler ou se ouvir, ou mastigava silêncio que é ainda melhor.

Se a escrita ou a fala se dirigem à crítica social ou política vão gerar o tal travo amargo no criticado ou atingido, semeiam odiozinhos, coisas mesquinhas, muito pequeninas! Dissimulados de variadas formas.

Num espaço democrático, a participação cívica e política envolve, quase sempre, uma posição crítica, de discordância, onde se ponderam os dois pratos da balança: o opinador, os destinatários desta, os defensores e os adversários de um e outro.

É a participação cívica e política dos cidadãos na vida e enriquecimento democráticos.

É o “a, b, c” da dialéctica de um mundo democrático que, por isso mesmo, cada vez mais se sente em evolução e participativo.

A crítica pode operar-se com veemência, contundente, mordaz, mas deve ser lida como tal, crítica, modo diferente de ver e encarar as coisas, os problemas, os desafios que se colocam à República, à comunidade e ao indivíduo.

Bate o ponto aqui.

Uma palavra a mais, um dito a menos e infeliz, uma referência mais picante, odiozinhos antigos e dissimulados são erigidos a ofensas gravíssimas à honra e à dignidade.

Se o escriba avança a opinar discordantemente por aí fora, toda a honra fica abalada de dor, sofrimento e sangue.

A ofensa sobe quanto mais certeira foi a imputação!

Falam aí a ausência de poder de encaixe, a incapacidade de aceitação da crítica, a fragilidade das convicções, ao cabo e resto, défice de formação democrática.

O juiz penal é chamado para sarar a honra ofendida!

Se Eça de Queiroz cá voltasse (que jeito nos dava!), não haveria espaço em qualquer majestoso tribunal para arquivar os processos com que teria de alombar, cárcere onde o metessem, conta bancária que suportasse as indemnizações a pagar. Tal era contundente a sua crítica, corrosiva e certeira a ironia.

Mediocridades e pequenez! Convocar o juiz penal porque fulano ou sicrano no comentário ou opinião críticos não foi de destreza literária, causam grande fastio.

Há sábios de barriga a abarrotar de “ciência anónima, com vaga noção de tudo e conhecimento de nada”. Por aí pululam. Os “ressequidos”, Eça dizia. Não beberam uma gota “daquele leite de humana bondade..." de que falava o adorável Charles Dickens.

Atiram a pedra, ocultam a manápula!

Tomem o sofá de Freud!

 
Alberto Pinto Nogueira, Procurador-geral adjunto

in JORNAL O PÚBLICO (20/05/2013)

*Ethan Allen foi o chefe dos Green Mountain Boys, na tomada do Fort Ticonderoga.

Vida, Cultura e Trabalho




A Vida é cultura.
O homem é
Cultura das culturas,
é a cultura existencial.
As culturas são definidas como:
Hábitos,
Costumes,
Estilos de vida,
Arte,
Canção,
Poesia.

As culturas são diversas,
diversos são os povos,
e os povos têm
suas origens culturais.
Cultura exige cuidar,
e no cuidar da vida
ampliaremos o conceito
de cultura.

Se somos frutos de uma cultura,
Pensemos a originalidade que somos.
Se tudo o que fazemos demonstra cuidado,
Olhemos os desastres no universo.


 


Pensar é arte,
e arte é cultura.
A cultura do pensar
transforma o homem e
sua relação com o outro,
resultando em profunda
harmonia.


José Damião Limeira*



Este é mais um dos programas históricos que foram emitidos pela RTP em 1990, que foram gravados quatro anos antes da morte de Agostinho da Silva.

Por vezes críticas, por vezes divertidas, mas sem dúvida sempre abertas, francas e extremamente informativas, as Conversas Vadias mostram-se em muitas ocasiões admiravelmente atuais.
 
Neste episódio, Agostinho da Silva deixa claro que considera que a Educação de hoje está inteiramente comprometida. Sempre assertivo, explica que o problema não é dos alunos, mas sim das imposições de uma sociedade competitiva, que nos leva a considerar o trabalho como uma obrigação e não como uma ocupação de nosso gosto.


*José Damião Limeira, é um Filósofo, Poeta e Escritor brasileiro
Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=g7JmgJ6wQKk http://www.pucrs.br/mj/poema-diversos-826.php

Quem pode salvar a Terra?



No passado dia 21 de maio, comemorou-se o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento.

A data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2001, mesmo ano em que foi feita a Declaração Universal da Unesco sobre a Diversidade Cultural.

Em 2005, a Assembleia Geral da Organização adotou a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. A convenção foi promulgada no Brasil em 2007 e, até agora, 109 países já ratificaram o documento.

É um dia que serve a causa nobre da aceitação e respeito pela diversidade cultural de cada um de nós, não estabelecendo diferenças entre “povos indígenas”, ou povos ditos “culturalmente evoluídos”.

Este dia deve ser encarado também por todos, como uma chamada de atenção para a forma como nos relacionamos no dia-a-dia, a fim de darmos uma oportunidade para aprofundarmos a compreensão sobre os valores da Diversidade Cultural e para se aprender melhor sobre como “viver juntos” e em harmonia.

Fontes: http://www.cultura.gov.br/¸ http://www.acidi.gov.pt/  

Neste último episódio da série Cosmos, Carl Sagan fala-nos precisamente sobre a necessidade de nos entendermos pacificamente, numa troca de culturas e experiências de vida, como cimento para o bem comum, dizendo-nos que no passado, guerreamo-nos uns aos outros, e raramente apreciámos as semelhanças de todas as culturas e povos da Terra. Mas agora o Mundo encontra-se no meio de uma devastadora revolução de nível mundial, conforme se vai encaminhando para uma única comunidade global, e será necessário um esforço de respeito válido para nos encontrarmos.



“Eu conclamo céu e terra hoje, para testemunharem contra ti, eu coloquei vida e morte perante ti, bênção e maldição, e escolherás vida para que vivas tu e teus descendentes.”

Há mais de 200 anos no Golfo do Alasca, num lugar chamado Baía de Lituya, duas culturas que não se conheciam tiveram um primeiro encontro.

O povo Tlingit vivia mais ou menos como seus ancestrais há milhares de anos, eles eram nómadas viajando sempre de canoa entre inúmeros locais de acampamento, onde pescavam muitos peixes e ostras, trocando-os com as tribos vizinhas.

O criador a que veneravam era o “deus Corvo”, a quem eles representavam como uma enorme ave preta de asas brancas e, num dia de julho de 1786 o deus Corvo apareceu. Os Tlingit ficaram apavorados, eles sabiam que quem olhasse diretamente para o deus, transformar-se-ia em pedra.

Do outro lado do planeta decorria uma expedição liderada pelo explorador francês Jean-François de La Pérouse. Esta foi na verdade a viagem cientifica mais elaboradamente planejada do século XVIII, que foi enviada para circundar o mundo, reunindo conhecimento sobre Geografia, História Natural e povos de terras distantes.

Mas para os Tlingits, cujo mundo estava confinado às ilhas e enseadas do sul do Alasca, esse grande navio só podia ter vindo dos deuses. Entre eles, houve um homem que ousou olhar mais profundamente e de perto a aparição. Era um velho guerreiro que estava quase cego, dizendo que sua vida estava quase no fim, e para o bem comum, ele se aproximaria do corvo para saber se o deus iria realmente transformar seu povo em pedra. Então partiu para sua própria pequena viagem de descoberta, para poder confrontar o fim do mundo. O velho olhou fixamente para o corvo e viu que ele não era um grande pássaro do céu, mas o trabalho de homens como ele mesmo.

Este primeiro encontro revelou-se pacífico, pois os homens da expedição de La Pérouse tinham ordens estritas para tratar com respeito qualquer povo que pudessem descobrir, numa política excecional para sua época e, depois dela, La Pérouse e os Tlingits trocaram bens, e logo após, o estranho navio zarpou para jamais voltar.

Nem todos os encontros entre nações foram tão pacíficos. Antes de 1519, os Astecas do México jamais tinham visto uma arma, e também acreditavam a princípio que seus visitantes tinham vindo do céu. Os espanhóis comandados por Cortez não estavam limitados por nenhuma ordem formal contra a violência, e as suas verdadeiras naturezas e intenções logo ficaram claras.

Ao contrário da expedição de La Pérouse, os conquistadores não buscavam conhecimento, mas ouro. Eles usaram suas armas superiores para pilhar, e matar, e na sua loucura eles destruíram uma civilização. Em nome da devoção, zombando da religião dos conquistados, os espanhóis destruíram totalmente uma sociedade, que tal como nós, tinha obtido o conhecimento artístico, astronómico… e que fazia arquitetura tal como na Europa.

Nós hoje, desprezamos os conquistadores espanhóis por sua crueldade e miopia, por terem preferido escolher a morte, e admiramos La Pérouse e os Tlingit, por sua coragem e sabedoria, por escolherem a vida.

A escolha ainda é nossa, mas a civilização agora em risco, é a humanidade toda. Como os antigos criadores de mitos sabiam, nós somos filhos igualmente da Terra e do céu, e na nossa ocupação deste planeta, nós acumulamos uma bagagem evolutiva perigosa, com grande propensão para agressão como ritual, submissão aos líderes, hostilidades com forasteiros e pessoas diferentes, e tudo isso põe a nossa sobrevivência em dúvida.

Mas nós também adquirimos compaixão pelos outros, amor por nossos filhos, desejo de aprender com a história e com a experiência, e uma grande, elevada e apaixonada inteligência, que são as ferramentas claras para nossa contínua sobrevivência e prosperidade.

Qual o aspeto da nossa natureza que vai prevalecer é incerto, particularmente quando as nossas visões e perspetivas estão presas a uma pequena parte do pequenino planeta Terra. Mas lá em cima no Cosmos, uma perspetiva inevitável aguarda.

As nossas fronteiras nacionais não são evidentes quando observamos a Terra do espaço. As identificações fanáticas, étnicas, religiosas ou nacionais, são um tanto difíceis de apoiar quando vemos o nosso planeta como um frágil crescente azul, encolhendo para se transformar num insignificante ponto de luz contra o bastião e a cidadela das estrelas.

Carl Sagan leva-nos depois a bordo da sua nave interestelar e diz-nos que ainda não há sinais óbvios de inteligência extra terrestre e, isto faz-nos imaginar se civilizações como a nossa correm inevitável e precipitadamente para a destruição, dizendo-nos que sonha com isso… e que às vezes estes são pesadelos…

Diz-nos que todas as pessoas que pensam temem uma guerra nuclear, e que todas as nações tecnológicas a planejam. Todos sabemos que ela é uma loucura, mas todos os países têm uma desculpa.

Sagan conta-nos um dos seus sonhos, e faz em seguida uma série de reflexões acerca da utilização militar da energia atómica, para referir que as máquinas de destruição se tornaram capazes de arrasar a nossa civilização, e talvez, até mesmo a nossa espécie.

No final diz-nos que a promessa de uma grande civilização científica já foi uma vez destruída pela ignorância e pelo medo, quando no séc. V uma multidão de fanáticos destruiu por completo a grande Biblioteca de Alexandria.

Leva-nos de novo à Biblioteca de Alexandria, para nos dizer como o poder centralizado da Igreja teve um papel decisivo na destruição do acervo desta biblioteca, apresentando-nos também e mais uma vez, a vida de uma das últimas grandes filósofas conhecidas da Antiguidade: Hipácia de Alexandria.

Leva-nos a fazer uma viagem pela história da vida no nosso planeta, para nos dizer que como há 400 anos ainda não fazemos ideia do nosso lugar no Universo, e que a longa jornada para esse entendimento só é possível quando houver um respeito absoluto pelos factos e o encanto pelo mundo natural.

Diz-nos ainda todos nós somos descendentes de astrónomos e que o direito hereditário de cada criança, encontrar o Cosmo renovado em cada cultura e cada Idade. Quando isto acontece connosco experimentamos um profundo senso de admiração, e os mais afortunados entre nós, são guiados por professores que através do seu encorajamento e seu exemplo canalizam esta alegria.

Nós nascemos para nos deliciarmos no mundo, e somos ensinados a distinguir os nossos preconceitos da verdade. Então novos mundos são descobertos enquanto estudamos o cosmo.

Mas a nossa sobrevivência não se deve apenas a nós próprios, aos nossos antepassados, ou aos nossos descendentes, mas também a esse Cosmos, antigo e enorme, do qual despontamos.

Termina a série com um vibrante apelo à Paz, em nome da nossa dignidade humana e do respeito ao Universo do qual fazemos parte. 

A não perder!...

Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=xh0RHQzjZKU http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_epis%C3%B3dios_de_Cosmos; http://www.opapagaioabusado.com.br/?p=540
Mais informações em:
http://www.carlsagan.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cosmos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Sagan
http://www.documentarios.org/serie/de...
http://www.aeroespacial.org.br/educac...