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Ponte de Lima - Ribeira Lima - 2º Dia - Parte V



Depois da visita à Igreja Matriz, seguimos um pouco ao acaso pelas ruas de Ponte de Lima, até que chegámos ao Largo Camões, a sala de visitas da vila, onde parámos para descansar numa das suas muitas esplanadas.

No Largo Camões, destaca-se o seu bonito e nobre Chafariz, que foi concluído em 1603, com as armas de Ponte de Lima. Este largo fica hoje situado onde outrora existiu parte da cerca muralhada da vila, que separava o extenso areal ribeirinho de um interior onde coabitavam espaços verdes, casas e quintais, que estavam a norte balizadas pela rua da Ponte na qual entroncava a rua do Rosário e a sul pela rua da Ribeira, hoje chamada do Postigo, que desembocava no Passeio 25 de abril, bem ao lado da Torre de S. Paulo.

Na segunda metade do séc. XIX, com a demolição da muralha e da Torre dos Grilos que se encontrava à boca da ponte, o espaço do futuro Largo de Camões ganhou uma outra dimensão. Os quintais que tinham como baliza a parede da muralha passaram a ficar devassados e as casas que nela entestavam, foram obrigadas a encontrar um novo apoio ou a reorganizar as suas estruturas e fachadas.

Naquela tarde de sábado, a música ecoava alta no Largo Camões, pelo que preferimos ir até à ponte, para dali olharmos mais uma vez o rio.

Caminha-se depois pelo Passeio 25 de abril, a caminho da autocaravana, a fim de continuarmos a viagem até Ponte da Barca, onde iríamos ficar, para descobrir mais belezas das margens do Lima, a montante desta bela vila.

No caminho e mais uma vez se vê à esquerda a Torre de S. Paulo, do séc. XIV, e a Torre da Cadeia Velha, que serviu de cadeia até aos anos sessenta do séc. XX.

Do lado direito, no Passeio 25 de abril encontramos também o imponente Pelourinho de Ponte de Lima, que tem sofrido ao longo do tempo várias remodelações desde 1755, que lhe acrescentaram altura além das armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve.

O Pelourinho encontra-se em frente do edifício dos Passos do Concelho, assente numa plataforma de três degraus circulares. Tem base cilíndrica e lisa e o fuste é liso de secção circular que vai estreitando até ao topo. Dali pode olhar-se bem o rio Lima.

Antes de deixar para trás Ponte de Lima, convém aqui referir que ali, as águas mansas do rio Lima e as suas largas margens de areal, guardam além da Lenda do Lethes, uma outra a quem as gentes limianas deram o nome de Lenda do Galgo Preto.

A Lenda do Galgo Preto é uma história que tem por certo um fundo verdadeiro, pois é bastante usual por terras de Portugal, os mancebos marialvas, deixarem as suas “amadas” sós e abandonadas, depois de as saberem enamoradas.

Conta esta lenda, que El-Rei D. Manuel I tinha por grande companheiro um fidalgo, D. Ruy de Mendonça. Quando este soberano decidiu ir de peregrinação a Santiago de Compostela levou esse seu amigo fidalgo com ele, passando por Ponte de Lima, onde ficaram para repousar. Foi então que nesses dias nesta vila, que D. Ruy conheceu D. Beatriz de Lima, de descendência fidalga por parte do pai e moirama por parte da mãe, por quem se apaixonou. 

No momento de retomar a viagem a Santiago de Compostela, os jovens enamorados despediram-se junto do rio Lima jurando amor eterno. Não contente com isso, a jovem voltou a pedir a D. Ruy que jurasse mais uma vez, mas agora pelas águas correntes do Lima. O jovem jurou, dizendo-lhe que iria amá-la até que as águas se esgotassem para sempre.

Passados alguns meses, soube-se pelo reino que D. Ruy iria casar com uma dama da Corte. No dia da boda, D. Ruy, ao entrar para a carruagem que o levaria ao altar, caiu morto! Seguidamente a esta morte, começou a aparecer nas areias que contornavam o rio Lima, um enorme galgo preto.

A vila ficou atónita e havia muitos que acreditavam ser este galgo a a alma de D. Ruy, que ali iria ficar, deambulando pelo areal, espiando a vingança de D. Beatriz, que lhe ditara passar duro castigo, até que as águas do Lima acabem o seu percurso líquido e brando, isto é, para todo o sempre!

Se alguma vez passarem ao anoitecer na ponte que dá o nome a esta encantadora vila do Lima e olharem para o areal das margens do rio, talvez vejam uma sombra negra, dando reviravoltas no areal, aproximando-se do rio, parecendo beber com sofreguidão, quedar-se a olhar atonita para a corrente das águas, e depois caminhar vagarosa e cabisbaixa para os lados de Viana do Castelo, até desaparecer de todo.

Fontes: http://ruarte-martes.pontedelima.com/lendas-de-ponte-de-lima/;http://www.verportugal.net/Viana-Do-Castelo/Ponte-De-Lima/Ponte-De-Lima/Patrimonio/Pelourinho-de-Ponte-de-Lima=001064;http://solagasta.com/passeio-pedestre-centro-historico-de-ponte-de-lima-ponte-de-lima/; http://www.cm-pontedelima.pt/ponto_interesse.php?id=1: http://www.folclore-online.com/lendas/minho/galgo_preto.html#.UecD7aVda00; http://vem-conhecer.blogspot.pt/2009/04/lenda-do-galgo-preto.html

 

Ponte de Lima - Igreja Matriz - 2º Dia - Parte IV



A parada romana segue pela estrada, a caminho da antiga ponte e nós enveredamos pelo caminho até ao centro histórico.

O centro histórico de Ponte de Lima é um lugar impar. Em cada rua, em cada canto, ao virar de cada esquina, existe uma história para contar. Basta ter disponibilidade para a ouvir, para saborear as lendas e as vidas das gentes, honrosamente eternizadas naquele lugar, para onde quer que o olhar fuja.

Nele encontramos igrejas, capelas, estátuas, bustos, poemas, monumentos contemporâneos, outros góticos e manuelinos, enfim… É um lugar de surpresas onde não conseguimos parar de olhar tudo, pois tudo nos conta histórias, e nós para as “ouvirmos”, temos que absorver também tudo o que conseguirmos.

Caminha-se então em direção à Torre de S. Paulo. Na forte parede granítica da Torre de S. Paulo, encontramos um painel de azulejos da autoria de Jorge Colaço alusivo à Reconquista, com as datas de 1140 - 1940 e com uma inscrição "Cabras São Senhor", que alude à Lenda da Cabração.*

Junto da Torre, entramos pelo Arco da Porta Nova, que dá acesso à velha rua da Judiaria. É ali que se encontra na Torre da Cadeia Velha, o posto de turismo, onde aproveitamos para pedir toda a informação necessária para as visitas ainda a realizar naquele fim de semana.

Pela rua da Judiaria segue-se a caminho da Igreja Matriz. No Largo da Igreja Matriz encontramos novamente o monumento alusivo à Vaca das Cordas. A Vaca das Cordas é uma tradição que data de 1646 e que tem lugar na véspera da festa do Corpo de Deus.

Esta tradição tem origem numa lenda local, que refere que a Igreja Matriz da primitiva vila era um templo pagão, onde se venerava uma deusa sob a forma de uma vaca (num texto do historiador grego Diodoro Sículo (IV, 1 8, 3), afirma que na Ibéria, as vacas eram animais sagrados). Quando o templo pagão foi transformado em igreja pelos cristãos, a imagem bovina da deusa foi retirada do nicho onde era venerada e, presa por cordas, foi arrastada pelas ruas da vila até serem completadas três voltas ao templo, sendo depois levada pelas ruas da povoação com "aprazimento" de todos os habitantes. Atualmente é um touro que em jeito de garraiada, percorre as ruas da vila preso por cordas.

Ali bem perto encontramos felizmente aberta a porta da Igreja Matriz de Ponte de Lima. Na fachada principal apresenta-se dividida em dois corpos por cornija ressaltada. O piso térreo é marcado por um pórtico composto de quatro arquivoltas, algumas contornadas com frisos perlados, assentes em colunelos em capitel, No corpo superior rasga-se uma elegante rosácea, com molduras circulares concêntricas e ressaltadas, algumas igualmente ornadas por um bonito friso.

À direita do alçado principal, rematado por uma empena triangular coroada por uma cruz, está a Torre Sineira. Tal como a restante construção da igreja, em pedra aparelhada, a torre abre-se em quatro ventanas de arco pleno, encimadas por relógios e rematadas por ameias.

Na face da torre voltada ao Largo da Igreja Matriz, encontramos um painel de azulejos também da autoria de Jorge Colaço (1868-1942), alusivo à Aclamação de D. João IV em Ponte de Lima, e nele está também inscrita a frase de aclamação proferida pelo povo: “Real, Real, Real, por D. João o IV Nosso Senhor e Rei de Portugal”.

Aos acrescentos da torre feita no século XVI, segue-se a introdução de um arco abatido que sustenta o coro, rasgando-se na esquerda da entrada da igreja, a Capela de Nossa Senhora da Conceição (Padroeira de Portugal), com um bonito vitral e uma cobertura, com uma magnífica abóbada circular. Nela encontram-se as escadas que levam ao cimo da Torre Sineira.

A Igreja no seu interior é composta de três naves. A nave principal, mais larga, é acompanhada pelas duas naves laterais até ao altar. Nas naves laterais encontramos várias capelas que foram encomendadas por particulares.

Na capela-mor, o altar é recoberto na face principal, por uma talha policromada alusiva à Última Ceia. O altar-mor reveste-se de um grande número de relíquias de santos portugueses e estrangeiros.

Podemos observar junto do altar-mor, retábulos de setecentos em esplendorosa talha dourada de 1729, como o da Capela de Nossa Senhora das Dores.



Fontes: http://solagasta.com/passeio-pedestre-centro-historico-de-ponte-de-lima-ponte-de-lima/; http://www.infopedia.pt/$igreja-matriz-de-ponte-de-lima; http://bloguedominho.blogs.sapo.pt/106991.html;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vaca_das_Cordas

Ponte de Lima - Bairro de Além da Ponte - 2º Dia - Parte III



Finda a dramatização sobre a Lenda das Unhas do Diabo, caminhámos novamente para a zona ribeirinha, onde os vários estabelecimentos comerciais ainda oferecem à moda antiga, os produtos em bancas à entrada.

Ali parámos para almoçar numa esplanada de um dos cafés do Passeio 25 de abril e dali seguimos até à paragem do comboio turístico, com o fim de fazermos uma visita guiada ao Bairro de Além da Ponte, que mais parece um conto de histórias antigas, com muitos solares e casas apalaçadas, cheias de brasões, onde se podem ver ainda, as hortas e a veigas de vinho verde e de onde os habitantes de Ponte de Lima tiravam muito do seu provento.

De comboio, passamos a Ponte Romana que deu o nome à vila e lhe traçou o destino, e por onde também passaram outrora os centuriões de Roma que mantinham a paz de Augusto. Por ela passava a vila militar que ia de Braga a Tui. Mas foi também por causa desta ponte, que nas lutas pela independência do Condado Portucalense, D. Teresa, fez povoar a margem esquerda do rio Lima, num lugar que tomou o nome de Lugar da Ponte, e assim nasceu Ponte de Lima.

Depressa se chega à bonita Igreja de Santo António da Torre Velha (designação que é devida a uma antiga torre do reduto medieval, que coexistiu com a igreja até meados do séc. XIX), da qual se destaca a alta torre, com gárgulas em cada um dos seus cantos.  

Ao fundo, no parque ajardinado por trás da Igreja, observa-se a Capela do Anjo da Guarda, também chamada Capela de São Miguel do Abrigo, na margem oeste. É uma pequena construção de raízes românicas e góticas, que chama a nossa atenção pela forma singela com que se insere na paisagem.

Logo à frente se chega à porta do Museu do Brinquedo de Ponte de Lima. No pátio exterior, depois de passado o portão em ferro forjado, espera o visitante uma pequena feira de trocas de usados brinquedos antigos. No interior, espera-nos uma exposição repleta de magia que nos transporta ao mundo dos brinquedos antigos, com jogos, bonecas, soldadinhos de chumbo, que fazem referência à história de várias épocas, cidades em miniatura, que mostram a arquitetura tradicional portuguesa, mostrando-nos também a ligação do brinquedo às suas múltiplas facetas sociológicas: de que foram feitos e como foram utilizados para divulgar cultura e moda, e como as meninas foram educadas a partir da mais antiga figuração humana.

Novamente no comboio que agora se encaminha para o lado esquerdo, tomamos contacto com a pacata vida feita por algumas famílias brasonadas de Ponte de Lima, feita nas casas rurais e senhorias que construíram na margem direita do Lima.

É também ali que mais à frente encontramos o Museu Rural, onde está registada a importância da agricultura para aquela região.

Bem próximo deste, encontra-se a área designada por Jardins Temáticos do Arnado, destinada à realização do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, que ocorre de maio a outubro, e que já vai na 9ª edição. No próximo ano irá ser realizada a 10ª edição do Festival, sob a temática "Jardins em Festa".

Segundo a guia da visita, na área dos Jardins Temáticos do Arnado, foram reutilizadas as estruturas pré-existentes de uma antiga exploração agrícola, para serem criados jardins característicos de diversas épocas, bem como plantações com sentido pedagógico, sendo constituído um verdadeiro horto botânico, que inclui uma grande estufa, uma vinha, um espigueiro e claro espaços destinados à realização dos Jardins Temáticos do festival.

Passa-se novamente a ponte e aproveitamos para olhar a beleza do rio Lima e das suas margens. Na margem esquerda de volta ao centro histórico de vila e depois de sairmos do comboio, junto do Mercado Municipal, caminhamos pelo Passeio 25 de abril de volta ao centro histórico.

No caminho encontramos mais uma encenação, desta feita é uma reposição histórica, relativa à Lenda do Lethes, que nos faz recuar à época da expansão e conquista romana.

Esta reposição histórica tenta explicar-nos como as legiões de Roma chegam à península, ambiciosas das riquezas que por cá abundavam.

Durante esses anos de lutas ferozes contra o invasor, as várias tribos que habitavam a Península uniram esforços e antigos e tenazes inimigos, lutaram em conjunto com o mesmo objetivo: Derrotar as legiões de Roma comandadas por Décius Junus Brutus.

Depois de fazerem a travessia do vale, os soldados romanos chegaram à margem esquerda do rio Limaia, a quem chamaram de flumen oblivionem.

Diante da beleza deste lugar, os soldados, convencidos de que estavam diante do mítico rio Lethes, que limpava todas as lembranças de quem se atrevesse a cruzá-lo, e com receio que a loucura se apodera-se deles e não pudessem jamais recordar-se da família, dos amigos ou da pátria, recusaram-se a atravessar o rio, até que Décius Junus Brutus pôs termo à situação, fazendo cair o mito.

Fontes:http://wikitravel.org/pt/Ponte_de_Lima http://estrelaseouricos.crescer.sapo.pt/programas/um-dia/um-mundo-de-brincar-em-ponte-d-6923-0.html ; http://ruarte-martes.pontedelima.com/lendas-de-ponte-de-lima/ ; http://www.casas-de-ferias.com.pt/propriedades/pdfs/pontedelima51648445011.pdf ; http://www.cm-pontedelima.pt/noticia.php?id=1539 ;

Ponte de Lima - Na margem do Lima - 2º Dia - Parte II



Da margem esquerda do rio Lima caminha-se através do Campo da Feira para o Passeio 25 de abril, até junto da velha muralha, onde um comprido banco de madeira pintado de vermelho chama a nossa atenção. Encostado ao velho pano de muralha, o comprido banco, está situado numa espécie de varanda de granito virada ao rio, que convida ao descanso e à contemplação das margens do Lima ou à observação do passar das gentes pelo largo e bonito Passeio 25 de abril.

Mas na varanda junto do comprido banco, ainda encontramos um canteiro com amores-perfeitos e um simples e singelo monumento em forma de medalhão, com um busto do poeta Teófilo Carneiro, um ilustre filho da terra, acompanhado de uma lápide, com uma bonita e tocante quadra dedicada à beleza do rio Lima, de sua autoria.

Pintores de Portugal. Ajoelhai!

Isto é um milagre, não é cor nem tinta!

Mas não pinteis, pintores! Orai, rezai!

Uma beleza destas não se pinta!

Naquela tarde queríamos assistir às dramatizações, que iriam ocorrer em várias horas do dia e um pouco por todo o centro histórico, com encenações relativas às lendas e mitos de Ponte de Lima.

É uma destas dramatizações que de mediato começa ali perto, no Largo da Igreja Matriz para onde acorremos. A dramatização em causa era relativa à Lenda das Unhas do Diabo realizada pelo grupo Gorilas.

A Lenda das "UNHAS DO DIABO” é uma antiga lenda, que conta a história de um escrivão desonesto, usurário, falsificador de documentos, que durante a sua vida arruinou clientes, seduziu inocências e difamou quem vivia livre de qualquer suspeita, e que ao ver a morte chegar arrepende-se chamando um sacerdote.

No dia do enterro, durante a noite, depois do sino tocar as doze badaladas da meia-noite, chega uma figura sinistra ao convento onde fora sepultado… Afirmando ser um parente afastado do escrivão solícita que o levem até à campa para lhe prestar uma última prece. Perante a incredulidade dos monges, arranca com uma força sobrenatural a pedra que ocultava o caixão. Com um murro violento nas costas do defunto, obriga-o a vomitar, sobre um cálice, saindo intacta a hóstia consagrada que o hipócrita havia engolido antes de falecer. Depois, arrebatou o corpo inerte do escrivão e acompanhado por muitas outras almas demónicas, fugiu por uma das janelas da igreja, sumindo-se na noite e deixando gravado na pedra as unhas do Diabo.

Fontes: http://ruarte-martes.pontedelima.com/lendas-de-ponte-de-lima/ ; http://arquivo.cm-pontedelima.pt/figura.php?id=12

Ponte de Lima - 2º Dia - Parte I




A manhã do dia 8 de junho acordou chuvosa e fria. Logo ao alvorecer, a neblina invadia as margens do Lima e por entre relva e juncos observam-se as volumosas e plácidas águas que corriam para a foz, mostrando-nos uma beleza quase etérea.

Durante toda a manhã, as canoas e desportivos barcos a remos invadiram o rio, subindo e descendo a corrente.


Do outro lado da margem, o casario do bairro de Além-da-Ponte em primeiro plano, e em segundo plano recorta-se na nevoa o Monte de Santo Ovídeo, que guarda no seu cimo a capela e o miradouro com o mesmo nome.

À direita, logo ali ao lado, destaca-se a comprida ponte que forma com a Igreja de Santo António da Torre Velha, um todo tão harmonioso e belo, que faz com que qualquer olhar, nele se detenha por longo tempo.

Sabe-se hoje que o rio Lima tomou ao longo dos tempos quatro nomes: Lethes, Oblívio, Belion e Limea (ou Limaia).

Limea ou Limaia parece ser a designação mais antiga do rio Lima, que pode ter tido origem no termo indo-europeu Lim” que posteriormente terá dado Lime, que significa terreno alagadiço ou lodo. Há referências ao seu uso pelo autor hispânico Pompónio Mela (Pomponius Mela século I d.C., que escreveu um compêndio geográfico que se compõe de três volumes de título "De Chorographia"), para referir o Lima como um rio de margens pantanosas ou lamacentas. O termo Latino Limici” também tem sido interpretado como referência aos povos que habitavam, outrora, a região pantanosa da nascente do rio Lima.

O termo Belion terá sido usado pelo autor grego Estrabão, um geógrafo que descreveu com certo pormenor a Península Ibérica e que viveu entre 63 a.C. e 19 d.C., estando a sua origem talvez ligada à antiga designação "belitanos", que referia os originais Lusitanos (povos ibéricos pré-romanos de origem indo-europeia, que habitaram a porção oeste da Península Ibérica desde a Idade do Ferro).

Os termos, Lethes e Oblivio significam ambos “esquecimento” (Lethes é o termo latino e Oblivio é o equivalente termo grego). Segundo a mitologia grega, Lethes era o rio que corria no Inferno, e cujas águas tinham a particularidade de provocar o esquecimento, pelo que os condenados bebiam delas, a fim de esquecer o passado e o sofrimento em que viviam.

Também segundo Estrabão, foram os celtas de Anas ou os túrdulos que, durante uma expedição guerreira aquelas terras, depois de atravessarem as águas deste rio, perderam o seu chefe, esquecendo-se completamente das suas origens, pelo que batizaram de Lethes (esquecimento) este rio.

Sai-se da autocaravana e segue-se o deambular pela margem direita do rio Lima. Neste deambular, logo chama a nossa atenção a presença, no areal junto ao rio, uma “formação” de soldados romanos. É uma espécie de monumento alusivo a uma antiga lenda ancestral, que tem a ver com o mito latino do rio Lethes, o lendário e infernal rio que, segundo os romanos, apagava todas as recordações de quem o atravessasse. Do outro lado do rio, a cavalo e virado para a legião, num outro “monumento” alusivo à mesma lenda, está Décimus Junus Brutus.

Conta esta lenda, que quando as tropas romanas comandadas por Décimus Junus Brutus ali chegaram, depois de numa sangrenta campanha terem submetido sucessivamente os povos nativos da Lusitânia, os soldados, extremamente supersticiosos, julgaram ser este o mítico rio do esquecimento.

Como nenhum soldado se atrevia a cruzá-lo, o general furioso pegou no estandarte da legião e cruzou sozinho o rio a cavalo. Chegado à outra margem, cavalgou por ela até avistar a sua legião, começando a chamar os seus soldados um por um. Os soldados, espantados pelo facto do seu general manter a memória, atravessaram então o rio, sem medo, claudicando o mito do Lethes.

Porém, alguns autores latinos referem a origem do "oblivionis fluvius", como estando ligada a uma ardilosa forma dos habitantes desta região intimidarem os soldados romanos comandados por Décimus Junus Brutus, impedindo-os, pela superstição, de atravessar o Lethes, sob pena de nunca mais regressarem, já que se esqueceriam de tudo.
 
Fontes: http://diogopuga.no.sapo.pt/Rio.htm;http://dokatano.blogspot.com/2009/12/passeio-nocturno-por-ponte-de-lima.html#ixzz2Y4pHi7Fz; https://maps.google.pt/maps; https://pt.wikipedia.org/;http://dokatano.blogspot.pt/

Chegada a Ponte de Lima - 1º Dia




A partida para esta pequena viajem, foi realizada ao final da tarde, sendo o caminho feito todo em autoestrada, com poucas paragens pelo caminho, sendo uma delas para o jantar cozinhado em casa.

A chegada a Ponte de Lima pelas 21h30, levou-me de imediato para o lugar de pernoita, num enorme parque de estacionamento livre, junto do rio Lima, e onde já tudo se preparava para a representação do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, que naquela noite animaria a vila e que ia servir de abertura ao evento Ruarte/Mercado das Artes 2013.

Depois de estacionada a autocaravana, fomos em direção ao teatro para assistirmos à representação do "Auto da Barca do Inferno", levada à cena pelo grupo de teatro "Unhas do Diabo", de Ponte de Lima.

A peça que ocorria perto da ponte romana, num teatro ao ar livre, montado de modo a que se aproveita-se a proximidade do rio Lima, usando os seus típicos barcos movidos à vara (as barcas do Céu e do Inferno), para uma bela e engenhosa encenação.

Os atores na representação davam liberdade às suas vozes, que ecoavam pelas margens do Lima, e como a música desempenhou sempre um papel importante nos autos de Gil Vicente, não faltou na representação, a participação especial do grupo de música medieval Al Medievo, que animou desde o princípio ao fim o Auto.

Além disso, este belo espetáculo primou por muita cor e vida, numa linguagem teatral muito apelativa e emotiva para quem quer o estivesse a ver. Finda a representação, foi a vez de uma pausada passeata pela vila.

Ponte de Lima fica situada em pleno coração do Vale do Lima e possui uma beleza castiça e peculiar, sendo considerada a vila mais antiga de Portugal, escondendo na sua nobre aparência do interior do povoado, raízes profundas e lendas ancestrais.

No passeio pela vila deixamo-nos levar pelo acaso. No centro histórico observam-se belos edifícios que somam à beleza natural da vila, magníficas fachadas góticas, maneiristas, barrocas, neoclássicas e oitocentistas, que aumentam significativamente o seu valor histórico, cultural e arquitetónico.

É ali em plena centro histórico, quer na marginal, quer no interior da vila, que encontramos também variada e magnífica estatuária, que aqui e ali homenageia as gentes minhotas ou figuras ilustres, sendo a principal, a de D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que concedeu o primeiro foral à vila em 1125, na Avenida em frente do Paço do Marquês; mas também outras como a do Conde d’ Aurora (um aristocrata e ilustre diplomata, escritor, fotógrafo), que encontramos no Largo da Feira, ou do Cardeal Saraiva, na rua com o seu nome, ambos filhos da terra. Perto também se vê uma evocação à corrida da Vaca das Cordas, uma tradição de Ponte de Lima que se perde nos tempos.

Na rua do Cardeal Saraiva, encontramos a Igreja Matriz e a seguir a Igreja da Misericórdia. No Largo da Igreja Matriz, a Casa das Rolas e já no Largo da Câmara Municipal, uma bela fonte, encimada por um painel de azulejos com o belo poema “Amor e o Tempo” de António Feijó.

Mas a beleza desta vila ainda é maior junto das margens do Lima. Passamos então pela Capela da Guia, pela Igreja de Santo António dos Capuchos, pela Torre da Cadeia e pela Torre de São Paulo, tendo a uni-las um antigo pano da antiga muralha. Estas últimas edificações são o  que resta das antigas muralhas medievais, que apresentavam várias torres com planta quadrangular e ameias prismáticas. Das duas torres restantes, Torre de São Paulo é a mais bela, sendo coroada por merlões e possuindo gárgulas de canhão em cada uma das faces. Na face virada ao rio apresenta ainda, um belíssimo painel de azulejos alusivo à Reconquista com datas de 1140 - 1940.

Sentados numa esplanada na margem esquerda, observamos em primeiro lugar, a magnífica Ponte de origem romana, toda iluminada, que faz a ligação entre a parte central do burgo e o bairro de Além-da-Ponte, onde se destaca também iluminada a Igreja de Santo António da Torre Velha.

Do lado oposto da ponte, abre-se à nossa frente o Largo de Camões, o antigo fórum e que hoje é a sala de visitas da vila, onde se pode apreciar um formoso chafariz maneirista, que data de princípios do séc. XVII, com as armas de Ponte de Lima.

Pela meia-noite e meia, recolhemos à autocaravana, para dormir à beira rio, embalados pelo correr das suas frescas águas, que depois de passarem apressadas por terras mais altas por entre ravinas e penedos, ali surgem mais mansas, regando hortas, pomares e veigas de vinho verde.



Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_de_Lima; http://ruarte-martes.pontedelima.com/auto-da-barca-do-inferno/; http://www.igogo.pt/torre-de-sao-paulo/ https://www.youtube.com/watch?v=2nf_zk7Uorg; http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvRegArtigo.asp?reg=363211