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Recordando o presente...

"O problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de dúvidas."
 
 
Bertrand Russell
 




Pensar Portugal. Nós somos um país de «elites», de indivíduos isolados que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de exceções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país. A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, poe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal. O liberalismo foi Mouzinho e a França. A reação foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a coletividade há o vazio. O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas quando ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho. Não há por aí um original para servir?

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'

Recordando a Angola de outros tempos

Estas imagens são em especial dedicadas aqueles que fizeram parte da debandada que foi o maior êxodo de todos os tempos da história mundial, no ano de 1974, recorrente da libertação dos cravos, que abreviou em passos acelerados todo um conjunto de circunstâncias, que levaram muitos ao abandono de todos os seus bens, acumulados em tantos anos de trabalho e sacrifícios e deixando para trás e definitivamente as belas terras africanas, sem se despedir de ninguém e apenas com a roupa que levavam no corpo, sem dinheiro e sem outros valores que não os de si mesmos.

Que a terras portuguesas chegaram, sem consentimento prévio, tendo como único remédio, o crer que Portugal fosse a partir daí o seu “Paraíso” futuro, que infelizmente não é, nem nunca foi e cada vez mais difícilmente será...

Nova Lisboa – Huambo



Luanda




Angola antes da Guerra


Fonte. YouTube - Broadcast Yourself

Recordando o passado...




Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.

Bob Marley


As férias da Páscoa já lá vão, mas foi o tempo escolhido para a leitura de dois belos livros sobre Angola, a minha terra natal. Esses dois livros, além de me terem proporcionado bons momentos de leitura, estão cheios de lugares comuns que remontam à minha infância, descrevendo um quotidiano vivido por muitos que tiveram o privilégio de por aquelas terras passar.

Embora diferentes, são ambos documentos que descrevem um caminho feito de cruzamentos múltiplos que nos conduzem a uma persistente comparação rigorosa e próxima da realidade do nosso passado.

“Fazenda Sofia, Uma gratificante história do passado - Janela de Esperança do Futuro”, de João Guerra da Silva, um belíssimo documento que é uma história de vida e “Fala-me de África”, um romance de Carlos Vale Ferraz (pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes), que tal como escreve o autor é "Uma história dos afetos e rivalidades de uma família com uma causa comum: o amor a África!" (que deu origem a uma série de televisão com o nome “Regresso a Sizalinda”), são os dois livros que muito apreciei; um recordando a vida de muito trabalho numa fazenda africana e com muitas e belas imagens, e o outro cheio de realidades e momentos porque muitos de nós passámos.

O último livro referido, que ainda estou lendo, descreve com grande autenticidade muitos lugares comuns ao meu passado, quer em Portugal (as férias de verão na Nazaré e o Colégio Andaluz), quer em Angola (o Porto do Lobito; a Catumbela, o Caminho de Ferro de Benguela; Benguela, a minha terra natal; a Praia Morena, a Caotinha, muitos termos angolanos, o quimbundo…), resultando esta leitura num despertar constante de sentimentos de felicidade (pela lembrança do que foi viver naquele país), de saudade pelos tempos lá vividos que não voltam mais, e o recordar constante de memórias que há muito pareciam estar apagadas.

Trata-se de um romance com muito de verídico e, certamente, algo de biográfico que nos trás à memória o drama de uma debandada a que muitos foram obrigados, e a luta para reconstruir toda uma nova vida, num meio que discriminava quem “retornou”, mais que não fosse por razões históricas, pois tal como o autor refere, "África foi sempre uma doença para Portugal! Levou os novos e deixou os velhos, derrubou a monarquia, fez cair o anterior regime! Tudo por causa de África... Mas, se não tivéssemos lá estado, não sabíamos o que aquilo era." (pág. 172)

Este foi o motivo que levou a que em mim despertasse a vontade de rever novamente esses lugares, que partilhando aqui vos deixo…


Lobito, A Sala de Visitas de Angola e Benguela