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A caminho de casa

A caminho de casa e como já referi várias vezes, sou assaltada por vários pensamentos, que em resumo e desta vez se centraram na necessária promoção cultural do turismo e no meio de transporte mais adequado à viagem.

Como se sabe a cultura é a soma total da criação humana através da sua ampla história. Ela engloba as religiões, os valores, as artes e as ciências. Viajar permite-nos experimentar e conhecer as distintas culturas, instituições, costumes, tradições características nacionais e ambientes sociais de outros lugares.

A cultura tem enriquecido o significado do turismo e o turismo deve também promover o aperfeiçoamento da cultura. Assim sendo, o turismo serve como meio para preservar a cultura e deve proporcionar a inovação cultural, o que nem sempre acontece.

Viajar no entanto implica escolher também o meio de transporte mais confortável. No nosso caso foi eleita a autocaravana. O viajar de autocaravana é sem dúvida a opção avançada para o amante do contacto com a natureza, sem abdicar do máximo conforto possível. O conforto é sem dúvida, mais vantajoso que em qualquer outra opção, por se ter mais espaço, mais acessórios e uma maior qualidade ambiente. É uma autêntica casa em miniatura.

Para nós o viajar de autocaravana é verdadeiramente agradável e pode tornar a maioria das vezes uma viagem emocionante, porque a aventura está sempre presente, dando-nos ainda a possibilidade de desfrutar da liberdade que este tipo de viagem proporciona.

Santuário do Bom Jesus do Monte



Após um pequeno lanche num café à saída do Sameiro e depois da compra de 1 Kg de bonitas e saborosas nozes, rumámos ao Santuário do Bom Jesus do Monte a apenas dois 2 Kms de distância.

A alguns Kms de Braga, levanta-se majestoso o local turístico e religioso do Santuário do Bom Jesus do Monte ou Bom Jesus de Braga, em que a natureza e a arte "dão mutuamente as mãos" para fazerem dele um verdadeiro ex-libris da cidade dos Arcebispos.

As origens do Bom Jesus remontam ao principio do século XIV, quando alguém, talvez a seguir à Batalha do Salado (1340), decidiu colocar uma cruz no alto da encosta do monte Espinho. Bem depressa esta cruz foi abrigada por uma ermida, que se tornou meta de peregrinação por parte dos Bracarenses e de outros fiéis das redondezas.
Em 1629, um grupo de devotos da Santa Cruz do Monte resolveu construir uma confraria a que foi dado o nome de Confraria do Bom Jesus do Monte, sendo a sua finalidade fazer tudo para o engrandecimento deste centro de peregrinação.

Pouco a pouco foi ganhando corpo a ideia de transformar a ermida da Santa Cruz do Monte Espinho num grandioso monumento em honra da paixão de Cristo. De 1629 a 1722 foi-se abrindo um caminho sinuoso e íngreme nas margens do qual se construíram capelas em forma de pequenos nichos, que lembram aos peregrinos os diversos passos do Calvário.
A partir de 1722, com o Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles, foi iniciado o projecto e começou-se a realizar um grande plano, que acabou por redundar no Santuário do Bom Jesus do Monte actual. Tratava-se de reedificar, em Braga a cidade de Jerusalém, para que os cristãos que não podiam peregrinar até à Palestina pudessem fazer aqui a sua peregrinação aos lugares santos, revivendo as cenas da Paixão de Cristo. Estas estações do Gólgota espiritual conduzem gradualmente até à igreja concluída em 1811, que substituiu o santuário original de forma circular.

Os peregrinos, ou o turistas, que chegam ao Bom Jesus do Monte, se querem ficar com uma ideia exacta desta «via-sacra», em pedra, que, no dizer de Germain Bazin, é talvez o mais monumental e poético exemplar de todas as vias-sacras de pedra, devem começar a sua visita pelo pórtico, encimado pelas armas de D. Rodrigo de Moura Teles (foi reitor da Universidade de Coimbra, e em 1694, foi bispo da Guarda e de 1704 até a sua morte em 1728 foi arcebispo de Braga), e em cujos umbrais se podem ver duas cartelas, que indicam o objectivo do Santuário do Bom Jesus do Monte.

Além disso o peregrino e o turista também encontram no Bom Jesus ocasião para uma sã diversão, não só proporcionada pela bela vista que daqui se desfruta, mas também pela existência da sua bela mata com exemplares magníficos e ar puro que proporciona óptimos passeios.

O adro da Igreja projectado por Carlos Amarante em 1784, apresenta 8 estátuas, que representam personagens que intervieram na condenação, paixão e morte de Cristo, tendo a própria Igreja uma planta em cruz latina.

O Bom Jesus do Monte é por todos estes motivos um local magnifico, onde se conjuga a obra da natureza com a notável obra do homem, (vasta, diversificada e absolutamente fabulosa), numa das maiores intervenções barrocas do País desenvolvida por André Soares, e se afirma como uma referência obrigatória do Barroco europeu, que evidência a própria evolução da arte-bracarense, consubstanciada na introdução do neoclássico por Carlos Amarante.

Importa ainda referir o elevador, movido a água de finais do século XIX, peça viva da arqueologia dos transportes portugueses e hoje um imóvel de interesse público, que pode ser usado durante todo o dia. As célebres escadas do Bom Jesus do Monte (1723-1837), são a outra opção para alcançar o santuário que proporcionam um óptimo exercício.

Santuário de Nossa Senhora do Sameiro

O acordar em frente do Santuário do Sameiro foi repousante pelo silêncio sentido no local, mas ao mesmo tempo conturbado pela prolongada chuva de granizo que deixou um lençol de pequenas pedrinhas brancas à nossa volta, que devido ao frio que se fazia sentir, não mudaram de estado com facilidade.
O Sameiro já visitado por nós em algumas ocasiões, tem para mim um significado muito especial, por ter sido o local onde fui pela única vez na vida, madrinha de um casamento religioso. Assim, foi com muito carinho que o visitei mais uma vez, tentando reter o seu carisma por mais algum tempo, através da retina e de todos os outros sentidos.

O Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, cuja construção se iniciou em meados do séc. XIX, mais precisamente a 14 de Julho de 1863 e é o segundo maior centro de devoção mariana em Portugal, depois do de Fátima.

Do conjunto monumental destaca-se a basílica, a imponente e vasta escadaria, virada para a cidade, e os monumentos aos Papas Pio IX e João Paulo II. O Templo, só foi concluído no século XX, e nele se destacam no seu interior o altar-mor em granito branco polido, bem como o seu sacrário de prata.
A história deste santuário é longa e interessante. Em 14 de Junho de 1637, o então Arcebispo de Braga, jurou solenemente defender o privilégio da Imaculada Conceição da Virgem Nossa Senhora, mais de duzentos anos antes de a Igreja definir o seu dogma.

Na mesma data do ano de 1863, foi benta e lançada à primeira pedra de um monumento em honra de Maria Imaculada, no alto do Monte Sameiro, sobranceiro à cidade. O monumento era um amplo quadrado com uma coluna encimada por uma bela estátua de mármore da padroeira. Só em Agosto de 1880 foi benta uma capela, junto ao monumento, que receberia a imagem que ainda hoje lá se venera, esculpida em Roma e benzida pelo Papa Pio IX. O actual templo, que alberga a mesma imagem, foi iniciado dez anos depois e elevado por Paulo VI à categoria de Basílica.O templo actual só foi concluído já no século XX, e nele se destaca no seu interior o altar-mor em granito branco polido, bem como o sacrário de prata.

Em frente do Templo ergue-se uma imponente e vasta escadaria, no topo do qual se levantam dois altos pilares, encimados da Virgem e do Coração de Jesus. Do cimo desta escadaria com 265 degraus, avista-se uma paisagem esplendorosa, não só de Braga, mas também dos seus arredores até à linha do horizonte.

Pólo de grandes peregrinações, só em 1955 entraram no Sameiro mais de um milhão de pessoas. Por outro lado, acarinhado por vários Papas, a partir de Pio IX, o santuário foi visitado em 1982 por Sua Santidade o Papa João Paulo II e a ele dedicou o monumento ao Papa Peregrino. A festa da Senhora do Sameiro foi fixada em 12 de Junho, dia em que S. Pio X coroou oficialmente a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

3º Dia - Braga - "A Cidade dos Arcebispos"


Braga é das mais antigas cidades portuguesas e uma das cidades cristãs mais antigas do mundo. No tempo dos romanos era designada como Bracara Augusta e conta com mais de 2000 anos de História como cidade. É uma cidade cheia de cultura e tradições, onde a História e a religião vivem lado a lado com a indústria tecnológica.

O astrónomo e geógrafo grego Claudius Ptolemeu (c. 85 – c. 165), em meados do século II, referiu na sua obra - "Geografia" (8 v.) -, que a cidade de Bracara Augusta era anterior à Invasão Romana da Península Ibérica. A recente pesquisa arqueológica, conduzida pela Universidade do Minho, identificou uma cerca defensiva com planta poligonal, reforçada por torreões de planta semicircular, que remonta ao século III.
Assim a ocupação humana da região onde se integra o município de Braga remonta a milhares de anos, estando documentada a partir do período megalítico. Na época correspondente à Idade do Ferro, desenvolveu-se a denominada cultura castreja, característica do povo brácaro que ocupava estrategicamente sítios fortificados nos pontos altos do relevo.

O processo de romanização iniciou-se por volta do ano 200 a.C., consolidando-se a partir dos primórdios da nossa era, com a fundação da primeira cidade, Bracara Augusta. A partir do século V, as invasões bárbaras (Suevos e Visigodos), trouxeram à região profunda conturbação que se prolongou com os Árabes até finais do século VIII, só se iniciando o processo reorganizativo nos finais do século seguinte.

Sofrendo com os focos de conflito e destruição devidos às invasões francesas e lutas liberais, Braga ganha nova vida em meados do século passado com a vinda do dinheiro e o gosto dos brasileiros (emigrantes portugueses regressados do Brasil), verificando-se então na cidade algumas "melhorias" a nível de infra-estruturas e equipamentos.
O período pós-revolução (25 de Abril) traduziu-se num enorme crescimento a todos os níveis (demográfico, económico, cultural e urbanístico), convertendo-se Braga na terceira cidade do País. Braga é assim uma cidade jovem que no ano 2000 comemorou seu bimilenário.

A cidade tem muitos topónimos, devido a vários factos que foram ocorrendo através dos tempos. Assim temos: A "Cidade dos Arcebispos", porque durante séculos o seu Arcebispado foi o mais importante da Península Ibérica e ainda é o detentor do velho título de Primaz das Espanhas. A "Cidade Romana", porque no tempo dos romanos era a maior e mais importante cidade situada no território que mais tarde constituiu o território português. Ausónio, ilustre letrado de Bordéus e perfeito da Aquitânia, incluiu Bracara Augusta entre as grandes cidades do Império Romano.

A "Roma Portuguesa", porque no século XVI o arcebispo D. Diogo de Sousa, influenciado pela sua visita à cidade de Roma, desenha uma nova cidade onde as praças e igrejas abundam tal como em Roma. A este título está também associado o facto de existirem inúmeras igrejas por km² em Braga. É ainda considerada, como o maior centro de estudos religiosos em Portugal. A "Cidade Barroca", porque durante o século XVIII o arquitecto André Soares transforma a cidade de Braga no Ex-Libris do Barroco em Portugal.

A cidade é também conhecida por "Capital do Minho" ou o "Coração do Minho", por estar localizada no centro desta província. Braga reúne um pouco de todo o Minho e todo o Minho tem um pouco de Braga. É também chamada de a "Cidade dos Três Sacro-Montes", por ter três santuários situados a Sudeste da cidade numa cadeia montanhosa, e são pela ordem Este a Sul: O Bom Jesus, Nossa Senhora do Sameiro e a Falperra (Sta. Maria Madalena e Sta. Marta das Cortiças).

A cidade está estritamente ligada a todo o Minho: a Norte situa-se o tradicional Alto Minho, a Este o Parque Nacional da Peneda-Gerês, a Sul as terras senhoriais de Basto e o industrial Ave e a Oeste o litoral marítimo Minhoto.

Braga, como o resto do Minho tem uma gastronomia riquíssima. O bacalhau assume-se como o prato de peixe favorito, a cidade é famosa pelas suas inúmeras receitas de bacalhau (bacalhau à Narcisa, bacalhau à Minhota, bacalhau à moda de Braga...). O arroz de pato, as papas de sarrabulho com rojões, a tripa enfarinhada, os farinhotes, os enchidos de sangue, o cabrito à moda de Braga, as frigideiras do cantinho ou da, os rojões à moda do Minho, o frango "pica no chão", o vinho verde, e como sobremesas, o pudim Abade de Priscos, o toucinho do céu, o bolo rei escangalhado, fidalguinhos, pederneiras, suplícios, paciências, entre muitos outros, fazem de Braga uma cidade de sabores.

A Caminho de Braga

Ao final da tarde do dia 24 e depois de comprarmos um belíssimo cosido à transmontana, para se jantar mais tarde, que nos foi cedido gentilmente pelo Restaurante "Falta de Ar" de Montalegre, que recomendamos, partimos rumo a Braga, porque segundo as informações meteorológicas, nessa noite iria cair um nevão.
No caminho e até ser noite fomos parando pelo caminho para ver vários locais de interesse turístico, entre as quais a Barragem de Pisões ou do Alto Rabagão, que é alimentada pelo rio Rabagão, que foi concluída em 1964, têm uma altura de 94m e um comprimento de coroamento de 1.897 metros, fazendo uma enorme albufeira.

Algumas aldeias por que passámos como Cervos que nos oferece uma arquitectura muito característica das aldeias transmontanas, com casas em pedra antiga onde podemos apreciar as sacadas trabalhadas, solares de família e os antigos espigueiros tão característicos da zona, tal como o forno comum da aldeia utilizado ainda pelas poucas famílias da localidade.

Em seguida mergulhamos de um momento para o outro dentro da serra em direcção a Braga. A estrada que nos guia, convida a reduzir a velocidade e a apreciar as vistas que desde logo se tornam panorâmicas. Embora já noite a Barragem de Venda-a-Nova faz adivinhar paisagens de enorme beleza, dando-nos a certeza de em breve lá voltarmos.

Por vezes a estrada oferecia-nos zonas de miradouro a pequenas vilas e aldeias lá em baixo e passados mais alguns quilómetros chegámos a Braga, onde num escaparate de estacionamento, jantámos o famoso e saboroso cosido à transmontana, (com carnes só de fumeiro), em pleno centro da cidade.

Após o jantar resolvemos passear por todo o centro da cidade, sob chuva e vento refrescantes, sendo um verdadeiro prazer percorrer a Rua Direita, contornar a Sé de Braga e visitar algumas das suas praças mais emblemáticas. Depois a bordo novamente da nossa autocaravana rumámos ao Sameiro onde pernoitámos virados para o Santuário de Nossa Senhora, mais uma vez debaixo de chuva, muito granizo e vento forte. Uma verdadeira delícia...

2ºDia - Montalegre a Capital do Barroso

Chegados às 21h00 a Montalegre e estacionada a autocaravana no parque em frente da rodoviária da vila, que ficava num alto a ver a vila, fomos a pé até um pouco mais abaixo, junto à zona destinada à Feira do Fumeiro, evento que neste fim-de-semana decorria na vila, afim de procurarmos uma tasquinha onde jantar.

Quando lá chegámos, verificámos que não existiam as tasquinhas anunciádas pela Câmara Municipal de Montalegre no seu site, mas sim dois pseudo-restaurantes (um explorado pelos bombeiros e o outro pelos escoteiros), onde não estavam a ser servidos os anunciados "cosido à transmontana" e a "feijoada à transmontana". Apenas se podia petiscar alheira, chouriço e entrecosto assados, acompanhados com arroz de grelos, tipo "unidos venceremos".

Depois de se petiscar um pouco de todo este cardápio, tentámos dar uma volta pela simpática vila de Montalegre, mas o frio estava de rachar, pelo que se voltou para a caravana que estava quentinha e por isso muito mais comfortável que a rua.

Depois de dormirmos um sono descansado, embora a noite tivesse decorrido sob vento e chuva fortes, quando acordámos já a feira fervilhava de actividade. A XVIII Feira do Fumeiro e Presunto de Barroso, cartaz vivido em Montalegre de 22 a 25 do mês de Janeiro, foi o evento que nos chamou ao Norte do País neste final de semana.

Quem por lá passou por certo observou imagens singulares e até insólitas que ficam na memória de todos. Por entre um enorme leque de "flashes", podemos reter imagens diferentes que caracterizam este evento que arrasta mais de 50 mil pessoas à Capital do Barroso.

Esta feira com um número bastante grande de produtores de fumeiro da Terra Fria Barrosã, cada um deles com um pequeno espaço, onde com simpatia e entusiasmo vendiam os seus produtos, com iguarias que vão desde o presunto, as chouriças e as alheiras, o chouriço de sangue ou sangueira, a farinheira, a barriga, o pé e a cabeça de porco fumado, salpicão, entre outras, revelando a riqueza do que é na realidade uma festa do povo. A alegria da Feira do Fumeiro revela bem o porquê de ser já conhecida como o "S. João das Chouriças".

Paulo Portas parece que tal como nós, não resistiu a uma visita à feira do fumeiro, tendo-se cruzado connosco umas duas vezes, acompanhado por alguns elementos da sua J, aproveitando a ocasião para angariar votos por terras conservadoras. Quanto a nós, depois da compra de vários quilos de várias destas iguarias, e depois de as termos deixado na caravana, fomos dar uma boa passeata pela vila afim de a conhecermos melhor e visitarmos as suas zonas mais emblemáticas.

Montalegre é uma vila transmontana, sede de concelho, que se situa na linda região das terras altas de Barroso, que incluem as serras do Gerês, do Larouco e do Barroso, e formam uma zona natural de serras, carvalhais, rios e ribeiros com zonas áridas mas ao mesmo tempo aconchegante.

Devido ao seu longo isolamento ainda se encontram na zona do Barroso costumes que vêm desde os mais remotos séculos, já desaparecidos noutras regiões, mas tão bem mantidos nesta zona. Parte do concelho de Montalegre está inserido no importante Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Um pouco por toda a região encontram-se vestígios arqueológicos que mostram uma presença humana já desde os tempos pré-históricos, de facto no local onde se encontra a vila de Montalegre, é provável que tenha existido um povoado castrejo pré-histórico que, mais tarde, teria dado lugar a um povoado de vocação agro-pastoril.

Por Montalegre habitaram Lusitanos, Celtas, Visigodos, Suevos e, claro, Romanos, que deixaram um importante património arqueológico, tendo sido posteriormente uma terra importante na Idade Média, dado a sua localização estratégica. Montalegre conta, pois, com uma interessante história e um património rico.

Caracterizada pelo seu imponente castelo que a vigia dia e noite do alto vai, segundo a lenda, buscar o seu nome à história do fidalgo que com as suas comitivas por aquelas paragens passavam e nas aldeias entravam, pilhavam e se abasteciam de tudo um pouco sem prestar as devidas contas.

Os barrosões exigiram então, junto do alcaide do castelo que se pagassem as dívidas e fosse feita justiça e o fidalgo que comandava os assaltantes foi preso até que todas as contas fossem saldadas. A família socorreu o preso e pagou tudo o que o fidalgo devia e este, avisado para não voltar, foi ordenado que montasse o seu cavalo e desaparecesse. Em jeito de despedida e ironia montou o cavalo e proferiu as palavras já tão conhecidas por aqueles lados, "Monto e monto alegre!".

O seu castelo do século XIV, com a sua imponente Torre de Menagem com 27 metros de altura, que foi provavelmente o terceiro castelo a ser construído nesta localidade, a Capela da Misericórdia, e toda a arquitectura rural granítica atestam o valor patrimonial de Montalegre.

Todo o concelho de Montalegre respira este ambiente histórico e pitoresco, como as Igrejas Românicas de São Vicente de Chã e de Viade e as várias casas senhoriais espalhadas pela região, que tão bem têm sido mantidas, muitas delas hoje em dia transformadas em unidades de alojamento turístico de qualidade.


A Rua Direita, que aponta ao Castelo, é ponto de passagem obrigatório numa deambulação pela vila, mas não menos obrigatório é subir-se e assomar-se aos miradouros da Corujeira e de Santa Catarina, às ameias da Torre de Menagem do Castelo, aos adros das igrejas Nova e Velha e, com olho de pássaro, abranger espacidões circundantes que contemplam o Vale do Cávado, os contrafortes da Serra do Larouco, os limites da Galiza, povoados, terrenos de cultivo e bosques do reino da serenidade.

Uma das aldeias a não perder é Pitões das Júnias, bem no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e o seu Mosteiro de Santa Maria das Júnias (séculos IX e XI), que tem conseguido manter ao longo dos séculos a sua pequena população e o aspecto medieval, de construções em pedra, sendo um dos principais atractivos turísticos desta região nos meses de Verão.

Santa Marta de Penaguião

Ao final da tarde do dia 23, sexta-feira, partimos do Peso da Régua a caminho de Santa Marta de Penaguião, que fica a cerca de 10 Km, afim de visitar como é nosso costume a guarnecida loja da Cooperativa Agrícola de Santa Marta, a laborar desde 1959, para se fazer a habitual compra de vinho de mesa, vinho do porto vintage e vinho generoso.

As Caves Santa Marta estão situadas na Região Demarcada do Douro, aquela que é a mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo, desde o ano de 1756, resultado da responsabilidade e mestria do Marquês de Pombal, o 1º Ministro de D. José I.

Fomos atendidos com a simpatia e simplicidade habitual das gentes do norte, por duas senhoras da loja, que ficaram encantadas com o meu vulgar chapéu, e um dos representantes da Cooperativa que nos deu a ajuda necessária à escolha dos vinhos das melhores colheitas. Após a saída da Adega Cooperativa, rumámos a Montalegre debaixo de muita chuva, granizo e vento forte, que nos acompanharam até ao destino com a persistência habitual numa boa noite de Inverno.

Santa Marta de Penaguião é uma bonita Vila, sede de concelho, da região Norte do País, situada na fantástica Região Demarcada do Douro e muito afamada pela sua Adega Cooperativa, produtora de muitos apreciados vinhos, caracterizada pela natureza envolvente de campos de vinha a perder de vista, disposta em socalcos. Aqui, tal com no resto da região do Douro, o homem a golpes de força desmedida moldou a montanha xistosa em milhentos calços, transformando-a num admirável anfiteatro.

Santa Marta de Penaguião apresenta vestígios de ocupação humana bem remotos, com algumas fortificações castrejas por todo o território concelhio, como em Fontes, Lobrigos, Cumieira, Louredo e Medrões. Apesar de alguns documentos referirem a vida municipal de Santa Marta de Penaguião, foi sem dúvida a criação da Região Demarcada do Douro, em 1756, que mais contribuiu para o desenvolvimento deste concelho, conferindo uma riqueza até aí nunca vista.

A vila está rodeada de uma paisagem magnífica, caracterizada pelos socalcos cultivados, pela imensa vinha, e pelo Rio Corgo, que confere uma beleza única ao conjunto, enriquecido com o património arquitectónico da vila, como a Igreja Paroquial com uma original torre sineira, o Pelourinho da vila ou os muitos Moinhos de água existentes por toda a região, uns comunitários, outros domésticos, símbolo da importância dos muitos cursos de água aqui existentes e da manutenção agrícola que se mantém ao longo dos anos.

O rio Corgo, um dos mais importantes afluentes do rio Douro, forma no concelho de Santa Marta de Penaguião, que atravessa, uma zona de fortes declives e de grande beleza, conhecida por "encostas do Corgo", local afamado pelos excelentes vinhos aí produzidos.

De destaque são também os Marcos Graníticos da Demarcação da Região do Douro efectuada em 1756, e que tanto alterou o rumo destas terras. Marco da importância económica que os férteis solos da região e a criação da Região Demarcada do Douro possibilitaram a Santa Marta de Penaguião, encontram-se por toda a região diversos Solares e Casas Senhoriais, mormente dos séculos XVII e XVIII, como o Solar dos Pinheiros ou a Quinta do Bertelo.

As tradições de Santa Marta de Penaguião estão, elas próprias, muito ligadas á viticultura, como se pode observar no interessante Artesanato da região, nomeadamente em técnicas ligadas à cestaria e á tanoaria, bem como a tapeçaria, rendas e bordados que eram utilizados para servir doces e o Vinho do Porto.

1º Dia - Peso da Régua

No dia 22 de Janeiro, após o almoço partimos a caminho do norte, com uma breve paragem na "Campilusa", afim de se fazerem algumas correcções necessárias ao pleno funcionamento da nossa autocaravana. Após a compra de Leitão da Bairrada num restaurante vizinho da Campilusa, partimos para pararmos mais tarde em Penacova, em zona alta a ver a vila e seu vale, para jantar o saboroso leitão.

Depois de percorridos muitos quilómetros, parámos na cidade de Peso da Régua, onde passámos a noite de 22 para 23 de Janeiro. Estacionada a autocaravana em frente da Marina da cidade e a ver o Douro, a pernoita foi repousante e o acordar reconfortante, pela beleza da paisagem observada.

Aqui nesta zona privilegiada onde pernoitámos, fica o cais fluvial de Peso da Régua de onde partem e chegam muitos dos famosos Cruzeiros que cruzam o seu bonito rio, possuindo igualmente várias infra-estruturas de lazer como uma área pedonal, campos de ténis, piscinas e equipamentos para pesca, lojas de artesanato, restaurantes e bares.

Foi precisamente no bar junto à Marina, o "Bar do Cais", que depois do banho matinal foi tomado o pequeno almoço, que nos serviu de almoço por a hora já ser tardia. O vento forte que se fazia sentir e alguma chuva, encurtou o passeio que pertendíamos fazer pela área pedonal junto ao rio Douro.
O Museu do Douro foi o local escolhido por nós para passarmos a tarde do dia 23, na cidade da Régua. O Museu que reconverteu a antiga sede da Casa da Real Companhia Velha, tinha sido inaugurado pelo Primeiro-ministro José Sócrates, no passado dia 20 de Dezembro, como um projecto de desenvolvimento regional âncora, para o Alto Douro Vinhateiro.
Esta estrutura tinha como principal exposição uma homenagem ao Homem que ajudou a construir a paisagem vinhateira do Alto Douro, designada por "Barão de Forrester, Razão e Sentimento, uma História do Douro (1831 - 1861)". Além desta exposição ainda podemos ver uma excelente exposição do artista plástico Tito Roboredo (1934 - 1980), intitulada «Tito Roboredo. Um corpo na Primavera» e outra da artista plástica Sílvia Hestnes Ferreira.

Peso da Régua, visitada por nós tantas vezes, também conhecida apenas por “Régua”, é uma cidade sede de concelho, junto ao Rio Douro, conhecida por ser a capital da região demarcada que produz o célebre vinho do Porto. Não existem certezas das origens da localidade, mas pensa-se aqui ter existido uma casa Romana denominada “Villa Reguela”, que teria dado o nome à cidade.

O Peso da Régua desde sempre deu a conhecer ao Mundo a grandeza dos homens que a criaram. O sacrifício, a coragem e a paixão de um povo que esculpiu, com mestria, um berço de prodigiosa beleza. A região distingue-se das imediatas não pela topografia do terreno, ou pelos cursos de água ou até pelo património artístico, mas sim pela modelação que o homem operou nela ao longo de vários séculos, visando a sua utilização agrícola e a melhoria da sua qualidade de vida.

O produto por excelência da região é o vinho (generoso ou licoroso e de vinho de mesa), introduzido na Idade Média pelas comunidades cistercienses, como aconteceu, aliás, com outras zonas demarcadas de produção vitivinícola, nomeadamente a do Dão. A qualidade do produto duriense era já reconhecida na Europa no século XVI, surgindo a denominação “Vinho do Porto” num documento de 1675, onde se refere a sua exportação para a Holanda.
Da riqueza patrimonial do concelho destacam-se as muitas casas senhoriais, pequenos palacetes e grandes quintas rurais dos “senhores do vinho”, muitas delas abertas ao público, demonstrando a riqueza que esta produção trouxe à terra, mas também outros monumentos, como a Igreja Matriz de S. Faustino, construída no local onde outrora existiu a capela do Espírito Santo, a Capela do Senhor do Cruzeiro do século XVIII, a Igreja do Asilo Vasques Osório, as Capelas do Espírito Santo, a de Nossa Senhora do Desterro, a de São João ou a de Nossa Senhora da Boa Morte, entre tantos outros.

As paisagens naturais da região são, pois, lindíssimas e especiais, estando o Alto Douro classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, provendo panoramas espectaculares tanto observados do próprio Rio Douro, ou no alto, nos muitos miradouros da zona, destacando-se o de São Leonardo e o de Santo António do Loureiro.