Recordando o passado...




Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.

Bob Marley


As férias da Páscoa já lá vão, mas foi o tempo escolhido para a leitura de dois belos livros sobre Angola, a minha terra natal. Esses dois livros, além de me terem proporcionado bons momentos de leitura, estão cheios de lugares comuns que remontam à minha infância, descrevendo um quotidiano vivido por muitos que tiveram o privilégio de por aquelas terras passar.

Embora diferentes, são ambos documentos que descrevem um caminho feito de cruzamentos múltiplos que nos conduzem a uma persistente comparação rigorosa e próxima da realidade do nosso passado.

“Fazenda Sofia, Uma gratificante história do passado - Janela de Esperança do Futuro”, de João Guerra da Silva, um belíssimo documento que é uma história de vida e “Fala-me de África”, um romance de Carlos Vale Ferraz (pseudónimo literário de Carlos Matos Gomes), que tal como escreve o autor é "Uma história dos afetos e rivalidades de uma família com uma causa comum: o amor a África!" (que deu origem a uma série de televisão com o nome “Regresso a Sizalinda”), são os dois livros que muito apreciei; um recordando a vida de muito trabalho numa fazenda africana e com muitas e belas imagens, e o outro cheio de realidades e momentos porque muitos de nós passámos.

O último livro referido, que ainda estou lendo, descreve com grande autenticidade muitos lugares comuns ao meu passado, quer em Portugal (as férias de verão na Nazaré e o Colégio Andaluz), quer em Angola (o Porto do Lobito; a Catumbela, o Caminho de Ferro de Benguela; Benguela, a minha terra natal; a Praia Morena, a Caotinha, muitos termos angolanos, o quimbundo…), resultando esta leitura num despertar constante de sentimentos de felicidade (pela lembrança do que foi viver naquele país), de saudade pelos tempos lá vividos que não voltam mais, e o recordar constante de memórias que há muito pareciam estar apagadas.

Trata-se de um romance com muito de verídico e, certamente, algo de biográfico que nos trás à memória o drama de uma debandada a que muitos foram obrigados, e a luta para reconstruir toda uma nova vida, num meio que discriminava quem “retornou”, mais que não fosse por razões históricas, pois tal como o autor refere, "África foi sempre uma doença para Portugal! Levou os novos e deixou os velhos, derrubou a monarquia, fez cair o anterior regime! Tudo por causa de África... Mas, se não tivéssemos lá estado, não sabíamos o que aquilo era." (pág. 172)

Este foi o motivo que levou a que em mim despertasse a vontade de rever novamente esses lugares, que partilhando aqui vos deixo…


Lobito, A Sala de Visitas de Angola e Benguela



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