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Ao meu sogro, um amigo que partiu


 
"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.
Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo"
Vinícius de Moraes


Fonte: http://pensador.uol.com.br/frase/NDAyNTkx/


Solidão, Tolerância, Trabalho e... Poesia!


"Acho graça às homenagens
que me prestam,
excelente sinal de ilusões
que a eles restam;

sou tão humano quanto os outros,
com qualidades e defeitos
e mais as manhas que se escondem
em seus peitos;

[...]

de nós nada mais deixamos
que vãs memórias,
só Deus é grande, só Deus é santo
e o demais histórias"

 Agostinho da Silva, “Uns Poemas de Agostinho”, pp.17-18


"A solidão é uma ocasião extraordinária de diálogo consigo próprio."

"Se a pessoa não fez consigo tudo o que achava necessário para se esquecer de si mesmo, está errada."

"A pessoa deve encontrar-se a si própria e fazer todo o possível para que não haja uma discórdia consigo mesma."

"Tolerar é já marcar uma superioridade."

"Aceitar os outros como eles são é outra coisa. Aceitar vem da palavra capturar, aceitar é tomar para si e tolerar não, é dar licença, com desprezo que o Outro seja assim."

Alice Cruz: "O que é isso de trabalhar por solidariedade?"

"É quando uma pessoa faz algo que não gostaria de fazer e vai fazer."

"O Elogio da Preguiça de Fernando Pessoa é totalmente contraditório em si mesmo.

Provavelmente deu-lhe bastante trabalho a escrever..."

"Tenho tido a grande sorte de só fazer coisas. Tive sempre a grande sorte de só fazer as coisas que tenho gozado."

"A poesia não é coisa que dê grande importância. (...) quando tem que sair, sai e depois durante muito tempo, não sai mais nenhuma."

Agostinho da Silva, Frases da entrevista



Fonte: http://www.citador.pt/ http://arevistaentre.blogspot.pt/ http://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec

A Liberdade e o Destino


Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, Conquista, in 'Cântico do Homem'


O ideal dos três S: o Sustento, o Saber e a Saúde.

"Na realidade, Liberdade e Destino são duas fantasias nossas, não há nada de real. Sobre as quais podemos constituir belos sistemas filosóficos."

Sobre a Engenharia Genética:

"Não se deve confundir Ciência com aplicação da Ciência"

"Quando o Homem cria uma peça ou máquina tem que decidir logo para que fim a vai usar."

"Se Dostoyevsky tivesse sido curado de sua epilepsia, o que o curaria por exemplo de ter escrito um romance... A pessoa tem que decidir o que é que faz e de que maneira faz. Não creio que a coisa melhor do Homem seja ser normal. Como também não me parece que a melhor fruta do mundo seja normalizada, como aquela que Portugal está aí agora a importar e que a CEE vai continuar a obrigar a importar."

"A pessoa nasce em determinadas circunstâncias, sem se dizer se elas são boas ou más. (...) É um problema esse de dizermos que uma pessoa tem determinados defeitos e qualidades. O que se deve dizer é que as pessoas têm determinadas características e o que nós por vezes verificamos é que são os defeitos que fazem as boas obras e as qualidades aquelas que muitas vezes as abatem.”

"Casos excepcionais é tudo o que há mundo. Cada um de nós é inteiramente excepcional. Não há nenhum Homem igual a nós em todos os biliões que existem, nem fisicamente, nem mentalmente.”

"Se é sua ideia que eu posso ajudar a resolver alguma coisa está inteiramente enganado. Eu posso ajudá-lo em o meu amigo tomar cuidado em não resolver coisa nenhuma. (...) Por dois lados, para não fechar a porta ao Futuro: Toda a pessoa que tomou uma resolução não quer saber de mais nada daquilo que venha depois, pode não se emendar de coisas que seriam mazinhas para a sua vida. Em segundo lugar, porque a pessoa resolveu qualquer coisa, é quase meio passo para estabelecer uma Inquisição qualquer, com a qual quer obrigar todos os outros a serem como ele e a chegarem à mesma verdade."

"Esse muro do Atlântico que travou o Império Romano, quem o foi derrubar? Foi um pequeno povo, quase esquecido, no Ocidente da Península que conseguiu que o muro se derrubasse e que o Império Romano, ou aquilo e que ele se transformara assim o passasse."

Agostinho da Silva, Frases da entrevista


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec http://www.citador.pt/poemas/conquista-miguel-torga

Mãe


 
 "Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação."
Guy Maupassant
 


Do princípio ao fim, a coragem de ser só…


"Tudo vence uma vontade obstinada, todos os obstáculos abate o homem que integrou na sua vida o fim a atingir e que está disposto a todos os sacrifícios para cumprir a missão que a si próprio se impôs."

Agostinho da Silva, in “Considerações”



“Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afetar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam, tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o atual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas despectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estoica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz.”

Agostinho da Silva, in 'Considerações'







Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=rw5ghtXHgbg ; http://www.youtube.com/watch?v=Rkv-9HTyVvQ ; http://www.youtube.com/watch?v=zIEg0o2m-Wc http://www.citador.pt/

A Dama de Ferro


“Suspeito que nenhum outro líder do nosso tempo será capaz de manifestar tanta vontade de resistir ao desejo de agradar”

Hugo Young

A antiga primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, morreu ontem, segunda-feira, aos 87 anos, em resultado de um acidente vascular cerebral. A revista Time considerou-a uma das cem figuras mais influentes do século XX, e poucos britânicos discordarão da sua presença na seletiva lista, mesmo os mais atingidos pela cura de austeridade que a Dama de Ferro aplicou como remédio ao declínio económico do Reino Unido. Mulher de convicções fortes impôs a sua “revolução conservadora” ao país, criando uma era a que emprestou o nome.
Margaret Thatcher foi a primeira e única mulher da Grã-Bretanha primeiro-ministro, eleita três vezes e no poder durante quase 11 anos. Uma das mais admiradas e contestadas figuras políticas contemporâneas. O seu destino foi decidido em três dias, de dia 20 a 22 de novembro de 1999. Desde a preparação da sua destituição à sua queda política, devido a falta de fidelidade dos seus próprios ministros e dos seus colaboradores mais próximos.
Em jeito de homenagem aqui deixo um documentário sobre Margaret Thatcher, exibido pela RTP 2, no dia de sua morte. Esta é também a incrível história dos últimos dias de Margaret Thatcher no poder:

 
QUEM MATOU MARGARET THATCHER? - Documentários - RTP

 


 

Amadeu de Souza-Cardoso


"Eu não sigo escola alguma. As escolas morreram. Nós, os novos, só procuramos agora a originalidade. Sou impressionista, cubista, futurista, abstracionista? De tudo um pouco."
Amadeu de Souza-Cardoso

 
Mais uma vez a Google nos chama à atenção para a comemoração do 125º aniversário de Amadeu de Souza-Cardoso (Manhufe, Amarante, 14 de novembro de 1887 - Espinho, 25 de outubro de 1918).

Em jeito de homenagem, aqui ficam 2 vídeos com imagens da vida e obra daquele que foi o primeiro pintor modernista português, prosseguindo o caminho traçado pelos artistas de vanguarda da sua época. Embora tendo tido uma vida curta (31 anos apenas), a sua obra tornou-se imortal.



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Z9TjvHXG1F0&feature=autoplay&list=PL7BF09AA2867537E1&playnext=6

A vida é um sopro!


Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, carioca, nascido em 15 de dezembro de 1907, teve a sua morte divulgada no início desta sexta-feira. Niemeyer estava hospitalizado e foi transferido de um quarto normal para uma unidade intermediária, no início do dia de ontem, devido a uma piora no seu estado de saúde, segundo informações divulgadas pelo hospital onde estava internado no Rio de Janeiro. O arquiteto apresentava uma deterioração nas funções renais e necessitou de ser encaminhado para uma unidade intermediária, para receber um monitoramento mais continuo e próximo.
Como homenagem fica aqui este vídeo, com alguns trechos selecionados do documentário "A vida é um sopro", do diretor de cinema brasileiro Fabiano Maciel, sobre a vida e a obra do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, onde esse notável brasileiro demonstra toda sua humildade a despeito da grandiosidade de sua obra.


À minha sogra

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
 
 
Vinícius de Moraes

Neil Armstrong

Segundo as informações da emissora CNN, o ex-astronauta norte-americano Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua, morreu aos 82 anos neste sábado, dia 25 de agosto, conforme confirmação da própria família do ex-astronauta. 
 
 
Neil Armstrong nasceu no dia 5 de agosto de 1930. Foi piloto da Marinha dos Estados Unidos entre 1949 e 1952 e lutou na Guerra da Coreia. Formou-se em 1955 em Engenharia Aeronáutica pela Universidade de Purdue e atuou como piloto civil da agência que deu origem à Nasa, a Naca (Conselho Nacional de Aeronáutica).
 
 
Numa rara entrevista em maio deste ano, Neil Armstrong afirmou que os astronautas do histórico voo Apolo 11 calculavam em apenas 50% as possibilidades de pousar sobre a superfície do satélite.
 
"Pensava que eram de 90% as possibilidades de retornar sãos e salvos à Terra depois do voo, mas apenas 50% de possibilidades de pousar sobre a Lua nesta primeira tentativa", disse Armstrong na ocasião.
 

José Hermano Saraiva



O historiador José Hermano Saraiva morreu hoje aos 92 anos. José António Crespo, produtor do historiador, confirmou à RTP que o falecimento aconteceu, ao final da manhã, na sua casa no distrito de Setúbal, de doença prolongada.


"Ardeu uma biblioteca", afirmou José António Crespo, que trabalhou ao longo de 20 anos com o historiador.

José Hermano Saraiva nasceu em Leiria, no dia três de Outubro de 1919, terceiro filho de José Leonardo Venâncio Saraiva e de sua mulher Maria da Ressurreição Baptista.

Era professor e historiador, tendo-se licenciado na Universidade de Lisboa, em Ciências Histórico-Filosóficas em 1941 e em Ciências Jurídicas, em 1942. Foi ministro da Educação entre 1968 e 1970, período durante o qual enfrentou a crise académica de 1969. Seguidamente foi embaixador de Portugal no Brasil, entre 1972 e 1974.

José Hermano Saraiva iniciou a vida profissional como professor no ensino liceal, tendo sido diretor do Instituto de Assistência aos Menores e reitor do Liceu Nacional D. João de Castro, em Lisboa.

Foi ainda professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, tendo acumulado a vida letiva com a advocacia. Deputado à Assembleia Nacional durante o Estado Novo foi ainda procurador à Camara Corporativa.

Estamos cada vez mais pobres…

"O mundo é deslumbrante, mas não é bonito"  

Maria Keil

Natural de Silves, onde nasceu a 9 de agosto de 1914, Maria Keil casou-se aos 19 anos com Francisco Keil do Amaral, que veio a tornar-se um nome fundamental da arquitetura moderna portuguesa.

No dia do funeral de Marial Keil, o Expresso recupera uma longa conversa da artista com o jornalista Valdemar Cruz, parcialmente publicada na Revista na edição de 6 de novembro de 2002 e agora reproduzida na íntegra.

Perdemos um homem culto e bom

"Um grande homem é aquele que morre duas vezes. Primeiro, como homem; e depois, como grande homem."

Paul Valéry

Esta foi uma das últimas escolhas de Miguel Portas:


“Ensinou-me a nadar, a jogar ténis, a jogar pingue-pongue,  a chegar atrasado, a ter interesse pelo conhecimento, a ser teimoso. Quase tudo o que faço hoje, foi ele que me ensinou. Daria tudo o que tenho por um abraço, por um sinal de vida dele. Por causa dele, quero dedicar a minha vida aos outros.”

(Frederico, filho de Miguel Portas)

“Ambos dávamos ao outro não o preconceito sobre o que o outro pensava, mas o benefício da dúvida sobre o que o outro queria. Adorávamo-nos para além das nossas diferenças. Diria um pouco mais: adorávamo-nos também por causa das nossas diferenças.”

Paulo Portas

“As linhas paralelas não se cruzam só no infinito.” (Francisco Louçã) Na cerimónia evocativa a Miguel Portas as linhas cruzaram-se também nos discursos. Provocaram lágrimas, risos e vozes que fraquejaram de tão comovidas. Miguel Portas, o deputado europeu, o jornalista, o economista, o pai ou o irmão, “fazia de tudo para evitar os excessos de melancolia”. A confidência que Paulo Portas fez no seu discurso de homenagem faz pensar também se as lágrimas dos amigos não o teriam deixado zangado: “O meu irmão não era piegas”, assegurou o irmão mais novo.
(in,  http://www.ionline.pt)

Miguel Portas nasceu no dia 1 de Maio, não foi por certo por acaso!

Ver mais em: http://www.tvi24.iol.pt/politica/miguel-portas-homenagem-paulo-portas-sao-luiz-tvi24-be/1344556-4072.html

Adeus meu Pai


Um telefonema… Um minuto apenas e tudo mudou para sempre. O meu coração parou, o meu corpo esfriou e mesmo com vida fiquei como tu. No dia anterior não quiseste jantar, mas aceitas-te um chá. Acarinhei-te, abracei-te e disse que te amava…


Certa vez conheci um homem.

Um homem diferente

Dos de sua época.

Evoluído.

Um homem com sua história

De felicidade e sofrimento

Um homem de sentimento!

Um homem consciente

Que se dava...

Que se envolvia...

Tudo que era seu,

Naturalmente dividia...

Um homem que nasceu

E morreu pobre... Um homem nobre!

Um homem sem preconceitos

Amigo de brancos e pretos

Respeitado e amado

Em qualquer classe social...

Um homem liberal!

Um dia percebi

Que no íntimo do seu ser

Guardava a nostalgia da perfeição...

Um homem de coração!

Um homem que nunca se deixou corroer

Pelo orgulho do poder

Um homem amigo... Leal...

Um homem total!

Um homem que não capitalizou

Em seu próprio benefício.

Até se negou a isso.

Em detrimento de outros homens

Para ele não havia

Mundo em construção

E sim ganância em evolução.

Um homem onde a justiça,

A bondade,

O amor

Transbordavam do seu interior

Com um brilho tão intenso,

Que se reflectiam num espaço imenso.

Um homem que se foi

Mas deixou uma herança

Do tamanho da esperança,

O seu exemplo.

Este homem

A quem eu tanto devo

Está presente em todos

Os meus momentos.

Este homem que partiu sem adeus

Era o meu Pai


Adaptado de um poema de Carmen Vervloet

À minha querida mãe


Branca mulher de olhos claros
De olhar verde e luminoso
Que tinhas luz nas pupilas
E luz nos cabelos louros
Onde te levou o destino
Que te afastou para longe
Da minha vista sem vida
Da minha vida sem vista?

Andavas sempre sozinha
Sem cão, sem homem, sem Deus
Eu seguia-te sozinha
Sem cão, sem homem, sem Deus
Eras a imagem de um sonho
A imagem de um sonho eu era
Ambas levando a tristeza
Dos que andam em busca do sonho.

Ias sempre, sempre andando
E eu ia sempre seguindo
Pisando na tua sombra
Vendo-a às vezes se afastar
Nem sabias quem eu era
Não te assustavam os meus passos
Tu sempre andando na frente
Eu sempre atrás caminhando.

Toda a noite em minha casa
Passavas na caminhada
Eu te esperava e seguia
Na protecção do meu passo
E após o curto caminho
Da praia de ponta a ponta
Entravas na tua casa
E eu ia, na caminhada.

Eu te amei, mulher serena
Amei teu vulto distante
Amei teu passo elegante
E a tua beleza clara
Na noite que sempre vinha
Mas sempre custava tanto
Eu via a hora suprema
Das horas da minha vida.

Eu te seguia e sonhava
Sonhava que te seguia
Esperava ansiosa o instante
De defender-te de alguém
Mas nem sempre o consegui
Mesmo quando precisas-te...

E então meu passo mais forte
Dizia: quero falar-te
E o teu, mais brando, dizia:
Se queres construir... vem.

Eu ficava. E te seguia
Pelo deserto da praia
Até avistar a casa
Pequena e branca da esquina.
Entravas. Por um momento

Esperavas que eu passasse
Para o olhar de boa-noite
E o olhar de até-amanhã.

Uma noite... não passaste.
Esperei-te ansiosa, inquieta
Mas não vieste. Por quê?

Foste embora? Procuraste
O amor de algum outro passo
Que em vez de seguir-te sempre
Andasse sempre ao teu lado?

Eu ando agora sozinha
Na praia longa e deserta
Eu ando agora sozinha
Por que fugiste? Por quê?
Ao meu passo solitário
Triste e incerto como nunca
Só responde a voz das ondas
Que se esfacelam na areia.

Branca mulher de olhos claros
Minha alma ainda te deseja
Traz ao meu passo cansado
A alegria do teu passo
Onde te levou o destino
Que te afastou para longe
Da minha vista sem vida
Da minha vida sem vista?
Adaptado de um poema de
Vinicius de Moraes