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“Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!”




“Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!” Esta é uma frase que ouço pronunciar muitas vezes e que estranho sempre. É uma frase tão comum que até virou letra de canção.

Será por certo uma boa frase para se cortar a conversa a alguém que esteja a querer falar da vida alheia, mas infelizmente não é nesses casos que ela é usada com frequência.
No outro dia em conversa com uma pessoa, eu lhe falava de Stephen Hawking, um dos mais consagrados cientistas da atualidade. Expliquei que este cientista, embora fosse portador de esclerose lateral amiotrófica (uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir as funções cerebrais), tinha tido a sorte de ter conseguido fazer uma vida digna, ter estudado, casado e tido filhos, ajudado por certo por uma família muito solidária e por um país com reais preocupações sociais.
A pessoa com quem falava disse desconhecer o caso, ao que retorqui, que enviaria a informação relativa a Stephen Hawking por email.
No dia seguinte perguntei a essa mesma pessoa se tinha recebido o email e lido sobre o caso. Em resposta tive uma cara de poucos amigos, como que querendo ignorar o assunto, dizendo-me de seguida, “que se iria confirmar “tudo” dali para a frente”.
Confirmar o quê? Se Stephen Hawking existe ou não? E como é que se confirma, aquilo que não se quer confirmar?
Agora sim, eu entendia com precisão o significado real desta frase tão badalada entre as gentes do nosso Portugal.

Ler mais em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking

Sociedade Invertida

Há um dia atrás, a minha filha dizia-me que em conversa com um dos seus amigos estrangeiros, com quem fala pela Internet para praticar Inglês, este lhe tinha dito feliz, que naquele dia iria ajudar um colega de trabalho a partir uma parede em sua casa, mostrando com isso, um verdadeiro entusiasmado.


A minha filha embora muito agradada com essa conversa, mostrava-se ao mesmo tempo espantada com a motivação feliz e solidária desse seu amigo. Dizendo-me que o que era habitual em Portugal era precisamente o oposto. Dizia que, “Aqui, o normal é que se alguém pedisse essa ajuda, das duas, uma, ou teria que partir a parede sozinho, ou teria de dizer que a seguir, ofereceria um bom e farto jantar.”


Enquanto ouvia isto, não pude deixar de pensar que atitudes solidárias desse tipo realmente não são muito abundantes entre nós, o que demonstra mais uma vez que vivemos numa “sociedade invertida”, sem valores de solidariedade e amizade incondicional.


Como é que então podemos passar do “homem invertido e dividido” ao “Homem Novo”, da sociedade egoísta à comunidade solidária, do mundo materialista e concentrador ao mundo da partilha?



Imitando bichos

“A verdade é que os bichos, quando imitam as pessoas, perdem toda a dignidade”.

Mário Quintana


Por vezes quando ando a tratar do meu jardim; quando saio de casa para ir buscar qualquer coisa ao carro; quando vou dar comida aos meus cães; quando desfruto de um pouco de sol no jardim de minha casa;… alguém na vizinhança em gritos estridentes imita gatos, pavões, corujas, pássaros...


Quando olho em direção aos sons, alguém invariavelmente se esconde na folhagem de frondosas árvores do jardim vizinho. Quando isto acontece, lembro-me sempre de um salmo de São Mateus: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.” (Mateus 10:16)

Como este tipo de acontecimentos já dura há muito tempo, ao ponto de já estar habituada, não dando importância ao assunto, continuo a fazer a minha vida normal. No entanto não posso deixar de me perguntar: E quando os homens imitam com tanta insistência os animais, ganham dignidade?

Para acabar recordo aqui também e mais uma vez, o salmo do mesmo apóstolo: “E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis.” (Mateus 10:11)

Que pena esta ser a minha casa permanente e não uma qualquer hospedaria, não é?

Páscoa ao relento

“Todos os animais têm direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.”
(in Artigo 2º, Declaração Universal dos Direitos dos Animais)


De sexta-feira santa para sábado dormimos na tranquila vila de São João da Pesqueira, considerada o Coração do Alto Douro Vinhateiro.
 
A noite estava escura e sem estrelas, mas no lugar de pernoita, junto de um varandim a ver as serranias em lugar um pouco abaixo do nível da estrada, pastava um rebanho de ovelhas, que nos embalaram durante a primeira parte da noite, com a leve melodia do tilintar dos seus guizos.

Já em hora tardia essa melodia deixou de se ouvir, significando que as ovelhas já estavam deitadas na pastagem. Abri a janela e vi na obscuridade os pequenos pontos brancos salpicando o lugar. Uma brisa fria fazia-se sentir e pensei... O que fizeram estes animais fofos, meigos, obedientes, tranquilos e tão úteis, para merecerem uma noite ao relento? Não sendo esta sua situação suficiente, uma chuva persistente começou a cair e as infelizes ovelhas ali continuaram espalhadas um pouco por todo o terreno, aguentando a noite molhada e gélida, sem um telheiro para se recolherem.

Onde estava o pastor que cuida delas e não dorme nunca? Não deveria de ser ele e a música da sua flauta que as deveria acompanhar? Não, nos dias de hoje é o carro que dorme sob telheiro e nem em época pascal as ovelhas e seus cordeiros têm o direito ao respeito, que devia merecer a companhia, o leite e a própria pele e carne que nos dão.

Ninho de Vespas

"O verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais um momento quando tudo parece perdido."
 

Num dia de primavera, enquanto lavava uma cúpula envidraçada, com uma máquina de pressão a partir de uma varanda da minha casa, observei que algumas vespas insistentemente esvoaçavam à minha volta, zumbindo, zumbindo, mas sem coragem, afastavam-se. Falta-lhes o fôlego para a luta, pensei...
Continuei a lavar as vidraças com a pistola de pressão até que observei na última nesga de vidraça, um pequeno ninho de vespas em forma de cogumelo. Parei a lavagem e observei que uma delas, possivelmente a vespa-rainha, não abandonava o ninho, por mais próximo que o jato de pressão estivesse e por mais água que lhe caísse em cima.

Continuei a lavar, observando sempre a estoicidade da rainha, que ali esteve até ao fim, ostentando forte zumbido de firmeza, dela emanando enorme coragem.

Só essa vespa abalava estruturas e avivava as vulnerabilidades do vespeiro, só essa vespa arriscava, zumbia e tinha uma atitude firme no seio daquele vespeiro, desprezando a própria vida. Será essa sua atitude uma pretensão verdadeiramente ambiciosa, que vai percorrendo, sem pressa, o seu caminho de crescimento político?... Se assim for, creio que existirão muitos políticos que muito teriam que aprender com esta determinada vespa-rainha!...