Carnaval 2011 - Espanha, Valencia

No Carnaval de 2011, a região escolhida para passarmos estas pequenas férias, foi a bela cidade de Valencia, a capital e a maior cidade da Comunidade Valenciana, além de ser a terceira maior de Espanha.

É uma cidade muito antiga, referenciada desde o séc. II a.C.. Com uma longa história, diversos museus e tradições populares como as Fallas, que nesta época são festejadas na cidade. Devido à sua proximidade ao Mar Mediterrâneo, é uma das cidades mais conhecidas e visitadas de Espanha.

As Fallas são uma festa com uma arreigada tradição na cidade de Valencia e povoações circundantes, celebrada em homenagem a São José, o santo padroeiro dos carpinteiros.

É a festa que naquela região está destinada à celebração do Carnaval, comemorado em todas as praças da cidade, onde são erguidas umas enormes esculturas, que ali substituem os carros alegóricos, e que são na realidade as Fallas propriamente ditas.

Hoje, as Fallas, em valenciano "Les Falles", é a maior celebração valenciana com uma semana de duração, durante a qual se queimam nas principais praças da cidade, as figuras chamadas "fallas". É um festival tradicionalmente valenciano, com uma forte tradição na cidade de Valencia, em que participam vários bairros da cidade. De 15 a 19 de março, durante Las Fallas, rolam desfiles pelas ruas, feiras de comida e bebidas típicas e tudo aquilo que estamos habituados a ver em qualquer festa ou romaria popular.

Poder-se-ia dizer que no Carnaval da cidade de Valencia, a população ao desenhar e realizar aquelas enormes esculturas com grande conotação crítica, representada nos monumentos erguidos nas praças da cidade, faz uma espécie de exorcismo ao queimá-las, para que se eliminem os problemas e males da cidade.

No entanto, nesta viagem como fazemos sempre, não nos limitámos só ao conhecimento da cidade eleita, mas também à procura de alguns lugares interessantes, que sabíamos estarem próximos das rotas efetuadas, quer no caminho de ida, como no caminho de volta.

Assim sendo o percurso escolhido para ir e voltar, foi:

1º Dia – Cáceres;


2º Dia – Cáceres,Turjillo, Oropesa, Toledo, Chinchón (jantar), Uclés;

3º Dia - Uclés, Mosteiro de Uclés, Valência;

4º, 5º e 6º Dias - Valência;

7º Dia – Valência, Ciudad Real, Almagro;
8º Dia - Almagro, Mérida;

9º Dia – Mérida, Casa.

Fonte: Wikipédia.org

Fim da Viagem (Verão 2010)

Depois de uma tarde bem passada em Andorra La Vella, seguimos rumo a Portugal, o que já foi feito ao final da tarde. Queríamos fazer naquela noite o maior número de quilómetros possíveis, até estarmos cansados, pois já ansiávamos chegar a casa, após tantos dias de viagem.
Já bem tarde, por volta das duas horas da manhã, procurámos o lugar de pernoita, que recaiu, pela proximidade à estrada que se percorria, na pequena povoação espanhola de Saúca, um município espanhol, situado na Província de Guadalajara, na comunidade autónoma de Castilla - La Mancha.
Para chegarmos a Saúca, tomámos a saída 126 da N-II e encontrámos a aldeia a menos de uma milha de distância. A pernoita foi realizada à frente do quartel da polícia da cidade, onde a calma e o silêncio se fizeram sentir durante toda a noite.
Na manhã seguinte, seguimos viagem atravessando Espanha, a caminho de casa, praticamente sem pararmos, para que ainda naquele dia fossemos dormir a casa. No entanto pela hora de jantar, parámos em Cáceres para jantar e desentorpecer as pernas, num breve passeio noturno pela bela e silenciosa cidade antiga, antes de fazermos a etapa final desta nossa inolvidável viagem de tantos dias, com passagem por Portagem/Marvão, a caminho de casa.

Andorra . Parte II

No dia seguinte à nossa chegada a Andorra, saímos de Canillo a caminho da Andorra la Vella a capital do Principado de Andorra, para ali passarmos a tarde, para compras e conhecimento da nova cidade, que desde a nossa última visita tinha crescido muito.
A cidade antiga é atravessada por uma larga rua no sentido Norte-Sul, aliás praticamente a única rua da cidade. No bairro central, uma rede de ruas estreitas conduz o visitante à igreja românica e à Casa de La Vall (século XVI), a sede do governo: a visita com um guia permite descobrir sucessivamente a cozinha, no primeiro andar, o grande salão (pinturas murais do século XVI) de onde se pode ter acesso à Câmara do Conselho, onde se conservam os arquivos no armário «das sete chaves» (cada uma das sete paróquias de Andorra dispõe da sua).

A cidade nova encontra-se agora cheia de grandes centros comerciais, enormes parques de estacionamento, avenidas cheias de edifícios modernos onde o vidro predomina, um mundo incomparável de ofertas comerciais, onde abundam as lojas outlet e por isso um verdadeiro perigo para os gastadores compulsivos ou distraídos.

Andorra é um pequeno Principado, situado num país não muito extenso, mas a sua pequena extensão contrasta com o número de ofertas. A oferta turística de Andorra é muito ampla, pois nos dias de hoje vive dos desportos de inverno como o esqui, e de atividades desenvolvidas ao ar livre, dentro dos seus domínios.
Andorra é um principado livre de impostos onde se pode comprar produtos a preços muito mais baixos dos que se encontram no nosso país de origem. Trata-se por isso de uma região onde a maioria das pessoas vêm para esquiar, fazer compras ou passarem umas férias nas montanhas.
A história de Andorra é uma história relativamente jovem. A sua localização nas alturas, fez com que os seus domínios fossem zonas inexpugnáveis durante séculos. Segundo algumas lendas, Carlos Magno foi seu fundador no ano de 805.
Os primeiros sinais de povoamento, embora não sejam muito específicos encontram-se em Engordany e datam ao primeiro ou segundo séculos antes de Cristo.
O primeiro soberano conhecido de Andorra foi um nobre espanhol, o Conde de Urgel, que dominou a região no século IX. Por isso na Idade Média, Andorra e os seus vales pertenceram ao Condado de Urgel e pouco depois foram entregues ao Visconde de Castelbó. Mais tarde foi trocado por outras terras em Cerdaya, que passaram mais tarde para as mãos do condado de Foix e foram divididas entre o Conde de Foix e o Bispo de Urgell, após um tratado assinado em 1176. Essa situação perdurou até o século XIII, quando ambos decidiram dividir estas terras depois de anos e anos de disputas.
A partir dali, o bispo de Urgell e o rei de França ficaram a governar Andorra. Esta situação continua até aos dias de, com a diferença de que atualmente em França existe uma república e quem tem a responsabilidade sobre Andorra é o Presidente da República.
O Principado, desde o século XIII que mantêm esta condição política, exceto por um pequeno período de anexação que teve na altura em que Napoleão governou a França.
Durante o século XV, os condes de Foix tornaram-se reis do Reino de Navarra. Um século depois em 1589, Enric, rei de Navarra, Conde de Foix, visconde de Béarn e senhor das terras de Andorra, sobe ao trono da França. Em 1419 realizou-se a primeira forma de auto-governo em Andorra, com o Conselho da Terra.
No século XIX, a política de Andorra começou a germinar e estabelece-se uma democracia em que os chefes de família podiam votar e escolher os seus representantes.
Nos nossos dias, Andorra é um principado Parlamentar Constitucional. A sua constituição data de 1993, mais especificamente ao dia 14 de Março e o poder recai, da mesma forma que no século XIII, sobre o bispo de Seu d'Urgell e ao Presidente da República de França.
No que diz respeito à economia, nos dias de hoje o Principado conta com uma forte dependência do turismo europeu, com 80% do seu produto interno bruto que provêm das cerca de nove milhões de pessoas que o visitam anualmente. Andorra tem uma enorme procura no turismo de Inverno, devido à prática de ski e de verão, para as caminhadas de natureza e das montanhas. É por isso que é uma região onde os hotéis em grande parte, permanecem abertos durante todo o ano.

Atualmente, Andorra não é membro da União
Europeia, mas está diretamente relacionada com a instituição supranacional, tendo acordos específicos, como por exemplo, a moeda corrente em Andorra é o Euro.
Atualmente, este país tem cerca de 80 000 habitantes, divididos entre Andorrenses (35%), Espanhóis (38%), Franceses e Portugueses que compõem cerca de 20% e de outras nacionalidades são á volta de 5%.

Fonte:
http://andorra.costasur.com / Wikipédia.org

Andorra - Parte I

Depois de dois dias de descanso passados em Narbonne Plage, seguimos para o Principado de Andorra que já não visitávamos há muito tempo e onde queríamos passar para fazer algumas compras, antes de entrarmos em Espanha, a caminho de casa.
Saímos de Narbonne a caminho de Perpignam, seguindo depois pela N116 em direção aos Pirenéus, para ainda naquele dia irmos dormir a Andorra. Nesta estrada acompanham-nos cenários de enorme beleza cénica. É uma estrada espetacular, onde o verde abunda e que é pontuada por pequenas aldeias que se agarram às encostas.
Já perto do Principado de Andorra, apanha-se a N20 que nos leva até à N22, que nos conduz até à fronteira com Andorra. A partir dos enormes tuneis da fronteira com a França e da estação de ski de Pas de la Case, seguimos a CG-2, que nos leva montanhas a dentro por tuneis e estrada ziguezagueante, que não para de subir.
Pas de la Case é uma animada estância (referida localmente somente como Pas) está situada a apenas algumas centenas de metros da fronteira francesa. Fica a uma altitude de 2050m e é a estância mais alta dos Pirenéus. Devido à sua excelente localização, Pas goza de neve na maioria do ano, complementada por uma abundância de sol e céu azul. Enquanto no resto de Andorra o idioma que mais se ouve é o catalão e o espanhol, em Pas de la Case a língua predominante nas ruas é o francês.
Cai a noite em plena montanha e o silêncio e breu combinam-se para nos incentivar a um maior respeito pelo cuidado na condução. O ar é puro e de uma frescura inexplicável, o que me levou a abrir a janela, para me inebriar com o sublime vento fresco que oscilava entre o boémio e o atrevido.
Começam a aparecer algumas das povoações de montanha, que vivem da neve e a nossa atenção centra-se na procura de um lugar para a pernoita. Esse lugar é encontrado na famosa estância de ski de Canillo, no fresco e reconfortante Camping Janramon, situado junto da estrada, na margem esquerda do rio Valira d´Orient, cujas águas rápidas e cantantes, descem pelas vertentes, embalando-nos pela noite dentro.
Na manhã seguinte, o dia acordou ensolarado e pela janela por onde entrava um ar gélido, observámos com melhor perceção o pequeno parque de campismo, confinado entre a margem esquerda do rio Valira d’Orient e altas montanhas escarpadas, que caem a pique no fresco relvado do parque, que se espalha aos pés de uma paisagem vegetal de verde intenso.
Fonte: Wikipédia.org

A Caminho da Provença - Parte II

Da Ponte de Savines até à cidade de Gap, são cerca de 25 km pela N94. Esta estrada atravessa mais à frente uma zona de históricas cidades. É ali que se encontra Chorges, uma pequena cidade situada ainda na margem do Lac de Serre-Ponçon.
Chorges vem do latim "caturigomagus”, que significa “mercado dos reis da guerra”. Foi por volta de 400 a.C, que a tribo celta Caturiges se instalou na região ocidental dos Alpes. Eles eram caçadores, agricultores, fazendeiros e comerciantes, fazendo trocas comerciais especialmente com as grandes tribos vizinhas do norte da Itália.

Na pré-época Romana, Chorges era uma cidade com um importante mercado, então situada num lugar chamado o Castelo. No período romano, deu-se ali uma batalha contra os exércitos de Júlio César, e Chorges torna-se uma das principais cidades romanas da região, situada na Via Domitia, a estrada romana que ligava a Espanha à Itália. Neste período a cidade torna-se um centro económico, que será seguido por um longo período de anarquia, devido às invasões bárbaras, no início da Idade Média.
Mais à frente, do lado direito da estrada, vê-se a cidade de La Bâtie-Neuve, distribuída por uma área de 28 Km2, que se estende por um vale entre serranias. La Bâtie-Neuve é uma pequena cidade localizada entre a região dos Hautes-Alpes e a região francesa de Haute-Provence, já bem perto da cidade de Gap.

A 14 Km a sul de Gap, apanha-se a A51, a Autoroute du Val de Durance, que tal como o nome indica, segue todo o vale do rio Durance, a caminho do rio Ródano. A partir dali o vale do rio muda drasticamente e o rio flui através de uma paisagem a montante, cercado por morros e planaltos. Mais à frente o vale amplia-se numa planície aluvial, com vários quilómetros de largura.
Ali, o regime do rio Durance tornava-se Mediterrâneo, provocando inundações aquando das chuvas de outono e graves baixos fluxos no verão. Assim sendo, foram feitas várias obras de regularização e várias barragens foram construídas ao longo do vale médio do rio Durance, a fim de evitar as cheias e as secas. O rio passou para um leito condicionado e assim nasceu o Canal EDF de Ventavon, que acompanha a estrada por muitos quilómetros.

É ali que se encontra a aldeia de La Saulce, situada no sopé de um contraforte montanhoso, que do lado esquerdo da estrada chama a nossa atenção. Do lado direito da estrada os campos de cultivo situados na margem esquerda do rio Durance e do largo Canal de Ventavon.
A aldeia deve seu nome à presença de uma mola de sal. No topo da colina em cujo pé está construída La Saulce, ergue-se ainda hoje uma torre quadrada em ruínas, do século XII, que foi construída pelos antigos senhores da povoação, com vista para o vale e que foi usada para fazer guarda à antiga estrada romana.

A pequena aldeia de La Saulce fica situada numa encruzilhada ensolarada que une o Durance ao Vale do Gapençais, principalmente agrícola, com plantações de árvores de fruta, em especial de maçãs e peras.
A 26 Km a sul, encontramos a bela cidade de Sisteron na margem direita do rio Durance, situada do lado direito da A51. É a partir da estrada que vemos a velha cidade de Sisteron, construída a ver o rio Durance e dominada por uma cidadela.

A Cidadela é um lugar turístico e cultural. Da majestosa cidadela, situada no cimo de uma rocha com vista para a cidade, podem ver-se os telhados da antiga cidade. Localizada a 485 metros de altitude, a cidade é considerada "a porta de entrada para La Provence". Sisteron é também o berço do poeta Paulo Arena (1843-1896).
Por trás da cidade de Sisteron podemos observar um enorme rochedo, a rocha de Baume, que se eleva a 1147 m, além de outras montanhas em redor. A bela rocha de la Baume tem uma forma muito específica, como se fosse uma extensão natural da cidadela, na margem oposta do rio Durance.

Pelo caminho para sul, encontramos também a região vinícola de Claret, situada já na região de Languedoc-Roussillon, no sul de França, a 28 km de Montpellier. Dali até à costa azul, no sul de França é uma viagem curta.

A costa sul da França está convenientemente dividida em duas seções, a oeste do rio Rhone, o Languedoc, e no leste do rio Ródano, a Provença e a Costa Azul.

Já no sul de França percorremos a região a caminho do oeste, até a Narbonne Plage, no litoral sul, onde queríamos ficar durante dois dias, para descansarmos e fazer praia. Narbonne Plage é uma estância na costa sul da França, situada no sopé do maciço calcário de Montagne de la Clape, onde se encontram praias grandes e bem cuidadas.

O parque de campismo escolhido foi o Camping “La Cote des Roses”, que aninhado nas montanhas de Clape entre o mar e o mato, possui 16 ha, com acesso direto à lagoa adjacente e com uma praia de areia de cerca de 200m, onde se pode desfrutar de uns belos dias de férias com os "pés na água".

Nos dias de descanso ali passados, fizemos um pouco de tudo, desde passeios de bicicleta, praia e banhos de mar, bem como belas sestas após o almoço, embora os dias tenham decorrido ventosos e quentes, com uma humidade atmosférica muito elevada.

Fonte: http://www.map-france.com / http://about-france.com/tourism / http://fr.wikipedia.org / http://www.photos-provence.fr/



A região de Languedoc oferece milhas e milhas de praias pouco movimentadas com grandes areais e onde a água é geralmente mais quente do que estamos habituados na costa atlântica. Ao redor do delta do Ródano, entre a Camargue e Marselha, a costa não é particularmente turística, e por isso é uma zona muito sossegada, com a proximidade de portos de embarque, como o de Fos e Marselha.

O retrato inequívoco de Portugal

Somos um pequeno e desgraçado país…
Somos um pequeno e desgraçado país. Não somos pequenos e desgraçados porque sempre fomos; afinal, não somos o Haiti, não somos a Bolívia, não somos a Serra Leoa, não somos o Uganda, não somos a Moldávia, não somos a Guiné; não somos assim porque nos fizeram assim, não fomos colonizados, não descendemos de escravos, não fomos deportados, explorados, invadidos, vencidos. A União Soviética não nos pisou com bota cardada e a Alemanha não nos ocupou. Tivemos um ditador e tivemos a revolução sem sangue e a criação da democracia e dos partidos. Tivemos os fundos europeus e a absorção de um milhão de retornados. Tivemos colónias, ouro, escravos e uma história que não nos envergonha. Temos uma longa e estabelecida nacionalidade. Temos a coragem e o génio de ter escapado a Castela. Temos a miscigenação, a lírica e a épica. Temos as descobertas e a geração de Aviz. Temos uma identidade e uma cultura, temos uma língua falada por milhões. Temos 800 km de praia e sol.
Temos muitas razões para sermos felizes. E não somos. Somos um pequeno, desgraçado e deprimido país que se queixa por tudo e por nada, que se detesta e detesta o sucesso alheio, que aniquila a qualidade e promove a incompetência, que deixou que a administração pública fosse tomada de assalto por parasitas partidários, por gestores imorais e por políticos corruptos ou que fecham os olhos e promovem a corrupção como forma de manutenção do poder. Somos um país sem esperança onde nada avança e nada acontece, como escrevia o poeta Ruy Belo.
Sai-se da pátria e regressa-se à pátria e as notícias são as mesmas; é como se o mundo girasse e nós parados. À espera do apocalipse. Tudo nos diz que amanhã será pior e toda a gente nos pede mais sacrifícios, mais penúria e mais infelicidade. É impossível levantar um país de vencidos ou convencê-lo a fazer alguma coisa por si. Leio as notícias sobre o extraordinário salário de António Mexia, da EDP, os 3,1 milhões anuais, e penso o que pensa uma pessoa normal: não vale a pena. Os velhos morrem de frio no Inverno porque não têm dinheiro para pagar "a luz" e o senhor energia tem um salário igual ao dos melhores 200 gestores americanos. Numa empresa falsamente privatizada que floresce num regime de monopólio e em que o Estado é o maior acionista. E aquilo é o salário, fora os benefícios e os cartões. Fora as reformas e as pensões. A permanente resignação perante a imoralidade é que nos torna passivos, fracos, assustados, irresolutos e cúmplices da delapidação do nosso dinheiro. E um governo socialista autorizou isto e promoveu isto. E pior do que isto. Não se trata de premiar o mérito, trata-se de premiar a estupidez. Porque deixamos isto passar.
Imagine-se que nos acontecia uma verdadeira desgraça. Quando Wall Street veio por aí abaixo eu estava em NY e fui a Wall Street. Vi banqueiros e financeiros saírem de cabeça coberta por jornais a meterem-se nos buracos do metro, envergonhados. Insultados. O mundo pensou que era o fim do seu mundo. Que o sistema capitalista tinha acabado. Etc. O capitalismo não acabou, nem vai acabar. Regenerou-se no que foi obrigado. A linguagem e a política que Obama adotou tiveram efeitos. A América sai da crise, com os seus desempregados. A seu modo, brutal, corrige as falhas. Ali, a política ainda conta e o sistema de justiça funciona (com erros e defeitos) e faz funcionar a democracia. Acima de tudo, os americanos acreditam na América e têm o otimismo do copo meio cheio. A América, um grande e engraçado país, não perde tempo em lamúrias. Já se fazem piadas sobre o 11 de setembro e sobre o crash das bolsas e dos bancos. A América reconstrói-se todos os dias e recomeça. Analisar a vitória política de Obama com o seu Plano de Saúde é uma lição de política, tanto para os republicanos como para os democratas.
A América é um país que corre para a excelência e que rejeita a mediocridade. E a um ciclo de mediocridade segue-se um de excelência porque a rota corrige automaticamente. O sistema autocorrige-se na passagem do tempo. As torres que vão surgir no WTC serão as mais altas do mundo. Esta dose de megalomania é saudável porque toda a gente precisa de símbolos e de modelos. Em Portugal, deixámos de ter símbolos e não temos modelos. O português mais influente é um jogador de futebol. O segundo mais influente é um treinador de futebol. E ponto final. Temos uma elite sofrível e uma classe política sem cultura política nem histórica, ludibriada por autodidatas ou por rapazes com cursos tirados no estrangeiro que chegam a Portugal com um objetivo: enriquecer. Enriquecer à sombra do partido, do padrinho na banca e do Estado. De nós. E a justiça trata de si e dos seus privilégios. Somos um pequeno e desgraçado país.
Clara Ferreira Alves, in Revista Única, Jornal Expresso de 10 de abril de 2010


Qual Sol, Qual Carapuça...

Quando Deus deixou de procrastinar, arranjou coragem e foi fazer Portugal. Mas, mal tinha começado a fazer as compras essenciais, estoirou o orçamento todo no clima. Daí ter ficado tão pouca massa para as outras coisas de que o país precisava urgentemente. É, torrou tudo na secção Casa e Jardim. À parte os sucedâneos do clima (a paisagem, a comidinha, a namoriquice) ficámos bastante mal servidos, e isto dá-nos cobertura para os mais extensos queixumes, que agradecemos amargamente enquanto lhes ululamos. Não há no mundo outra terra em que as caras melancólicas dos habitantes sejam tão maus espelhos da luz e do calor que têm.

Alguma razão há-de ter tido o Criador. É que o clima está lá em cima, fora do nosso alcance. Podemos estragar e vender tudo o que está cá em baixo – e estragamos e vendemos, ai nanas! - mas ao ceuzinho e ao solinho não chegamos. E assim, no meio do negrume circundante, assistimos, a 12, 13, e 14 de Março, a três dias de perfeita Primavera. É, aliás, um fenómeno conhecido dos meteorologistas: em Portugal, as estações do ano apresentam sempre um trailer antes de estrearem. E algumas reposições também.

No terceiro desses dias, eram duas muito bonitas da tarde e deslizávamos junto ao mar em direção ao Estoril, o meu motorista de táxi e eu. Estragando o bendito silêncio da contemplação, caí na asneira de dizer que estava um dia de Primavera. «É? É?», respondeu o condutor. «Está bem, está… Vamos ver quanto tempo é que dura esta maravilha…» E, não fosse eu interpretar mal a atitude do homem, carregou no escárnio – repugnância, até – quando pronunciou «esta maravilha».

No dia seguinte, o clima lá voltou à programação habitual, e aposto que o marmanjo tem andado a ver se caça uma chamada minha, doido para me esfregar na cara um longo «Está a ver?! Está a ver? Eu não dizia? É que o pessoal que não anda nesta vida vê um dia mais ou menos bonito e, pronto, julga logo que a coisa está resolvida. Mas não está, meu amigo, não está…Longe disso. Longe disso, meu amigo…! Era bom, era…» É espantoso, o pouco que consola esta repentina amizade que nos é oferecida por quem nos esclarece.

Esta atitude, tão portuguesa que até chateia mais do que é costume, tem tanto de estúpida como de grandiosa. É estúpida porque nos impede de gozar o que Deus nos deu. O sol de três dias de nada vale se depois vai chover outra vez. Para quê? Para um gajo habituar-se ao calorzinho e amargá-las mais ainda quando voltar à realidade? Para os portugueses, a realidade é um exclusivo da miséria, e tudo o que não seja completamente miserável é mera ilusão.

Não vale a pena dizer que a beleza daqueles três dias não é negada pela fealdade dos seguintes. Quer dizer, eu disse, mas arrependi-me, porque o motorista retorquiu com a bomba atómica do Ó…! Como quem diz, «cantas muito bem mas não me alegras». E ser acusado de querer alegrar um compatriota só não é punível com pena de morte porque ninguém é desentristecível.

Mas, por trás da imbecilidade automutiladora do «vamos ver quanto dura…», há uma ambição gloriosa. É que, para estes portugueses retintos, só o que é eterno pode ter valor. Entretanto, vão-se bebendo uns canecos, como também Platão bebia. Este ódio ao temporário é nada menos que um ódio à própria vida. A vida, como aqueles três dias de sol, também acaba passado um bocadinho. Entre as pregas do pescoço encarniçado daquele motorista havia ânsias recalcadas de imortalidade.

Outros povos (o brasileiro, por excelência) conseguem de vez em quando, viver cada momento como se fosse o único. O português também. Só que, por morbidez e teimosia, logo haveria de ser o da morte. O clima em si nada pode contra nós. Deus não pensou quando nos comprou o melhor que havia. Com os poucos tostões que Lhe restavam, regateou-nos uma mentalidade em que está sempre a chover ou um frio de rachar ou um calor que não se pode. Pouco admira que, quando nos disse «Enjoy!» em hebraico, a gente tenha percebido «Enjoem!».


Miguel Esteves Cardoso, in Revista Única - Jornal Expresso, nº 1743, de 25 de Março de 2006

O Povo Culto

«Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser dignos».

Agostinho da Silva, in «Diário de Alcestes».

A Caminho da Provença - Parte I

A partir da cidade nova de Briançon, vai-se descendo e ziguezagueando pelos Alpes, deixando para trás as fortificações de Vauban, com os seus 1.326 metros acima do nível do mar, sempre acompanhados pelo céu azul encontrado a partir do lado francês dos Hautes Alpes.
A paisagem encontrada é magnífica e exuberante. Os Alpes constituem a mais elevada cimeira da Europa e apesar da sua massa ter uma altitude média de cerca de 1.121 m, os Alpes franceses constituem um maciço montanhoso facilmente penetrável e arejado por profundas calhas glaciares.
Estas calhas glaciares formam largos corredores de penetração longitudinais, como o vale do rio Durance nos Alpes do Sul, que segue no meio de montanhas, que facilitam as comunicações e que favoreceram implantações urbanas muito precoces. É por estas calhas de origem glaciar que segue a estrada, sempre acompanhada de belas e altas montanhas.
Mais à frente e depois de descermos mais um pouco, entramos no largo vale de Gap. É nele que se observa a pequena cidade de Embrun, que nos aparece do lado esquerdo.

A cidade de Embrun senta-se num platô no topo de uma falésia (o "Roc"), com vista para o rio Durance superior, pouco antes de desaguar no Lac de Serre-Ponçon.
As colinas que cercam a cidade de perto, são cobertos com prédios modernos e chalés de férias. Mesmo da estrada tem-se uma boa visão de Embrun do outro lado do rio, porém, as montanhas mais altas que a cercam, fazem um conjunto de uma beleza inesquecível.     

Chegamos após alguns quilómetros uma pequena localidade de Savines-le-Lac, à beira de um enorme lago, uma povoação bastante turística e onde fazem passeios de barco pelo lago, que se destaca do lado esquerdo da estrada. Atravessamos depois uma comprida ponte sobre o Lac Serre-Ponçon, que vai dar à outra margem do lago. Depois de duas centenas de metros a subir a encosta, encontramos uma área de merendas, situada num miradouro de onde se desfrutam belas panorâmicas sobre o lago e arredores.
O Lac de Serre-Ponçon é um grande lago, alimentado pelos rios Durance e Ubaye e que é também o maior lago artificial da Europa. Esta bela jóia azul de límpidas águas, fica abaixo das montanhas dos Hautes-Alpes e no extremo norte da Haute-Provence.
O lago foi formado pela Barragem de Serre-Ponçon que foi construída na bacia do rio Durance, logo abaixo da zona onde o rio Ubaye se lhe junta. A barragem com 123 m de altura foi iniciada em 1955, construída a partir de um solo de argila de aluvião, retirada do leito do rio Durance.
A aldeia de Savines-le-Lac, localizado na costa do sul ao lado da ponte, é uma reconstrução da antiga aldeia de Savines, que agora está inundada debaixo do lago. A Chapelle Saint-Michel, que agora podemos ver numa pequenina e pitoresca ilha no meio do lago, ficava no topo de uma colina, sobranceira à anterior aldeia de Savines.