2ºDia - Montalegre a Capital do Barroso

Chegados às 21h00 a Montalegre e estacionada a autocaravana no parque em frente da rodoviária da vila, que ficava num alto a ver a vila, fomos a pé até um pouco mais abaixo, junto à zona destinada à Feira do Fumeiro, evento que neste fim-de-semana decorria na vila, afim de procurarmos uma tasquinha onde jantar.

Quando lá chegámos, verificámos que não existiam as tasquinhas anunciádas pela Câmara Municipal de Montalegre no seu site, mas sim dois pseudo-restaurantes (um explorado pelos bombeiros e o outro pelos escoteiros), onde não estavam a ser servidos os anunciados "cosido à transmontana" e a "feijoada à transmontana". Apenas se podia petiscar alheira, chouriço e entrecosto assados, acompanhados com arroz de grelos, tipo "unidos venceremos".

Depois de se petiscar um pouco de todo este cardápio, tentámos dar uma volta pela simpática vila de Montalegre, mas o frio estava de rachar, pelo que se voltou para a caravana que estava quentinha e por isso muito mais comfortável que a rua.

Depois de dormirmos um sono descansado, embora a noite tivesse decorrido sob vento e chuva fortes, quando acordámos já a feira fervilhava de actividade. A XVIII Feira do Fumeiro e Presunto de Barroso, cartaz vivido em Montalegre de 22 a 25 do mês de Janeiro, foi o evento que nos chamou ao Norte do País neste final de semana.

Quem por lá passou por certo observou imagens singulares e até insólitas que ficam na memória de todos. Por entre um enorme leque de "flashes", podemos reter imagens diferentes que caracterizam este evento que arrasta mais de 50 mil pessoas à Capital do Barroso.

Esta feira com um número bastante grande de produtores de fumeiro da Terra Fria Barrosã, cada um deles com um pequeno espaço, onde com simpatia e entusiasmo vendiam os seus produtos, com iguarias que vão desde o presunto, as chouriças e as alheiras, o chouriço de sangue ou sangueira, a farinheira, a barriga, o pé e a cabeça de porco fumado, salpicão, entre outras, revelando a riqueza do que é na realidade uma festa do povo. A alegria da Feira do Fumeiro revela bem o porquê de ser já conhecida como o "S. João das Chouriças".

Paulo Portas parece que tal como nós, não resistiu a uma visita à feira do fumeiro, tendo-se cruzado connosco umas duas vezes, acompanhado por alguns elementos da sua J, aproveitando a ocasião para angariar votos por terras conservadoras. Quanto a nós, depois da compra de vários quilos de várias destas iguarias, e depois de as termos deixado na caravana, fomos dar uma boa passeata pela vila afim de a conhecermos melhor e visitarmos as suas zonas mais emblemáticas.

Montalegre é uma vila transmontana, sede de concelho, que se situa na linda região das terras altas de Barroso, que incluem as serras do Gerês, do Larouco e do Barroso, e formam uma zona natural de serras, carvalhais, rios e ribeiros com zonas áridas mas ao mesmo tempo aconchegante.

Devido ao seu longo isolamento ainda se encontram na zona do Barroso costumes que vêm desde os mais remotos séculos, já desaparecidos noutras regiões, mas tão bem mantidos nesta zona. Parte do concelho de Montalegre está inserido no importante Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Um pouco por toda a região encontram-se vestígios arqueológicos que mostram uma presença humana já desde os tempos pré-históricos, de facto no local onde se encontra a vila de Montalegre, é provável que tenha existido um povoado castrejo pré-histórico que, mais tarde, teria dado lugar a um povoado de vocação agro-pastoril.

Por Montalegre habitaram Lusitanos, Celtas, Visigodos, Suevos e, claro, Romanos, que deixaram um importante património arqueológico, tendo sido posteriormente uma terra importante na Idade Média, dado a sua localização estratégica. Montalegre conta, pois, com uma interessante história e um património rico.

Caracterizada pelo seu imponente castelo que a vigia dia e noite do alto vai, segundo a lenda, buscar o seu nome à história do fidalgo que com as suas comitivas por aquelas paragens passavam e nas aldeias entravam, pilhavam e se abasteciam de tudo um pouco sem prestar as devidas contas.

Os barrosões exigiram então, junto do alcaide do castelo que se pagassem as dívidas e fosse feita justiça e o fidalgo que comandava os assaltantes foi preso até que todas as contas fossem saldadas. A família socorreu o preso e pagou tudo o que o fidalgo devia e este, avisado para não voltar, foi ordenado que montasse o seu cavalo e desaparecesse. Em jeito de despedida e ironia montou o cavalo e proferiu as palavras já tão conhecidas por aqueles lados, "Monto e monto alegre!".

O seu castelo do século XIV, com a sua imponente Torre de Menagem com 27 metros de altura, que foi provavelmente o terceiro castelo a ser construído nesta localidade, a Capela da Misericórdia, e toda a arquitectura rural granítica atestam o valor patrimonial de Montalegre.

Todo o concelho de Montalegre respira este ambiente histórico e pitoresco, como as Igrejas Românicas de São Vicente de Chã e de Viade e as várias casas senhoriais espalhadas pela região, que tão bem têm sido mantidas, muitas delas hoje em dia transformadas em unidades de alojamento turístico de qualidade.


A Rua Direita, que aponta ao Castelo, é ponto de passagem obrigatório numa deambulação pela vila, mas não menos obrigatório é subir-se e assomar-se aos miradouros da Corujeira e de Santa Catarina, às ameias da Torre de Menagem do Castelo, aos adros das igrejas Nova e Velha e, com olho de pássaro, abranger espacidões circundantes que contemplam o Vale do Cávado, os contrafortes da Serra do Larouco, os limites da Galiza, povoados, terrenos de cultivo e bosques do reino da serenidade.

Uma das aldeias a não perder é Pitões das Júnias, bem no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e o seu Mosteiro de Santa Maria das Júnias (séculos IX e XI), que tem conseguido manter ao longo dos séculos a sua pequena população e o aspecto medieval, de construções em pedra, sendo um dos principais atractivos turísticos desta região nos meses de Verão.

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