O retrato inequívoco de Portugal

Somos um pequeno e desgraçado país…
Somos um pequeno e desgraçado país. Não somos pequenos e desgraçados porque sempre fomos; afinal, não somos o Haiti, não somos a Bolívia, não somos a Serra Leoa, não somos o Uganda, não somos a Moldávia, não somos a Guiné; não somos assim porque nos fizeram assim, não fomos colonizados, não descendemos de escravos, não fomos deportados, explorados, invadidos, vencidos. A União Soviética não nos pisou com bota cardada e a Alemanha não nos ocupou. Tivemos um ditador e tivemos a revolução sem sangue e a criação da democracia e dos partidos. Tivemos os fundos europeus e a absorção de um milhão de retornados. Tivemos colónias, ouro, escravos e uma história que não nos envergonha. Temos uma longa e estabelecida nacionalidade. Temos a coragem e o génio de ter escapado a Castela. Temos a miscigenação, a lírica e a épica. Temos as descobertas e a geração de Aviz. Temos uma identidade e uma cultura, temos uma língua falada por milhões. Temos 800 km de praia e sol.
Temos muitas razões para sermos felizes. E não somos. Somos um pequeno, desgraçado e deprimido país que se queixa por tudo e por nada, que se detesta e detesta o sucesso alheio, que aniquila a qualidade e promove a incompetência, que deixou que a administração pública fosse tomada de assalto por parasitas partidários, por gestores imorais e por políticos corruptos ou que fecham os olhos e promovem a corrupção como forma de manutenção do poder. Somos um país sem esperança onde nada avança e nada acontece, como escrevia o poeta Ruy Belo.
Sai-se da pátria e regressa-se à pátria e as notícias são as mesmas; é como se o mundo girasse e nós parados. À espera do apocalipse. Tudo nos diz que amanhã será pior e toda a gente nos pede mais sacrifícios, mais penúria e mais infelicidade. É impossível levantar um país de vencidos ou convencê-lo a fazer alguma coisa por si. Leio as notícias sobre o extraordinário salário de António Mexia, da EDP, os 3,1 milhões anuais, e penso o que pensa uma pessoa normal: não vale a pena. Os velhos morrem de frio no Inverno porque não têm dinheiro para pagar "a luz" e o senhor energia tem um salário igual ao dos melhores 200 gestores americanos. Numa empresa falsamente privatizada que floresce num regime de monopólio e em que o Estado é o maior acionista. E aquilo é o salário, fora os benefícios e os cartões. Fora as reformas e as pensões. A permanente resignação perante a imoralidade é que nos torna passivos, fracos, assustados, irresolutos e cúmplices da delapidação do nosso dinheiro. E um governo socialista autorizou isto e promoveu isto. E pior do que isto. Não se trata de premiar o mérito, trata-se de premiar a estupidez. Porque deixamos isto passar.
Imagine-se que nos acontecia uma verdadeira desgraça. Quando Wall Street veio por aí abaixo eu estava em NY e fui a Wall Street. Vi banqueiros e financeiros saírem de cabeça coberta por jornais a meterem-se nos buracos do metro, envergonhados. Insultados. O mundo pensou que era o fim do seu mundo. Que o sistema capitalista tinha acabado. Etc. O capitalismo não acabou, nem vai acabar. Regenerou-se no que foi obrigado. A linguagem e a política que Obama adotou tiveram efeitos. A América sai da crise, com os seus desempregados. A seu modo, brutal, corrige as falhas. Ali, a política ainda conta e o sistema de justiça funciona (com erros e defeitos) e faz funcionar a democracia. Acima de tudo, os americanos acreditam na América e têm o otimismo do copo meio cheio. A América, um grande e engraçado país, não perde tempo em lamúrias. Já se fazem piadas sobre o 11 de setembro e sobre o crash das bolsas e dos bancos. A América reconstrói-se todos os dias e recomeça. Analisar a vitória política de Obama com o seu Plano de Saúde é uma lição de política, tanto para os republicanos como para os democratas.
A América é um país que corre para a excelência e que rejeita a mediocridade. E a um ciclo de mediocridade segue-se um de excelência porque a rota corrige automaticamente. O sistema autocorrige-se na passagem do tempo. As torres que vão surgir no WTC serão as mais altas do mundo. Esta dose de megalomania é saudável porque toda a gente precisa de símbolos e de modelos. Em Portugal, deixámos de ter símbolos e não temos modelos. O português mais influente é um jogador de futebol. O segundo mais influente é um treinador de futebol. E ponto final. Temos uma elite sofrível e uma classe política sem cultura política nem histórica, ludibriada por autodidatas ou por rapazes com cursos tirados no estrangeiro que chegam a Portugal com um objetivo: enriquecer. Enriquecer à sombra do partido, do padrinho na banca e do Estado. De nós. E a justiça trata de si e dos seus privilégios. Somos um pequeno e desgraçado país.
Clara Ferreira Alves, in Revista Única, Jornal Expresso de 10 de abril de 2010


Qual Sol, Qual Carapuça...

Quando Deus deixou de procrastinar, arranjou coragem e foi fazer Portugal. Mas, mal tinha começado a fazer as compras essenciais, estoirou o orçamento todo no clima. Daí ter ficado tão pouca massa para as outras coisas de que o país precisava urgentemente. É, torrou tudo na secção Casa e Jardim. À parte os sucedâneos do clima (a paisagem, a comidinha, a namoriquice) ficámos bastante mal servidos, e isto dá-nos cobertura para os mais extensos queixumes, que agradecemos amargamente enquanto lhes ululamos. Não há no mundo outra terra em que as caras melancólicas dos habitantes sejam tão maus espelhos da luz e do calor que têm.

Alguma razão há-de ter tido o Criador. É que o clima está lá em cima, fora do nosso alcance. Podemos estragar e vender tudo o que está cá em baixo – e estragamos e vendemos, ai nanas! - mas ao ceuzinho e ao solinho não chegamos. E assim, no meio do negrume circundante, assistimos, a 12, 13, e 14 de Março, a três dias de perfeita Primavera. É, aliás, um fenómeno conhecido dos meteorologistas: em Portugal, as estações do ano apresentam sempre um trailer antes de estrearem. E algumas reposições também.

No terceiro desses dias, eram duas muito bonitas da tarde e deslizávamos junto ao mar em direção ao Estoril, o meu motorista de táxi e eu. Estragando o bendito silêncio da contemplação, caí na asneira de dizer que estava um dia de Primavera. «É? É?», respondeu o condutor. «Está bem, está… Vamos ver quanto tempo é que dura esta maravilha…» E, não fosse eu interpretar mal a atitude do homem, carregou no escárnio – repugnância, até – quando pronunciou «esta maravilha».

No dia seguinte, o clima lá voltou à programação habitual, e aposto que o marmanjo tem andado a ver se caça uma chamada minha, doido para me esfregar na cara um longo «Está a ver?! Está a ver? Eu não dizia? É que o pessoal que não anda nesta vida vê um dia mais ou menos bonito e, pronto, julga logo que a coisa está resolvida. Mas não está, meu amigo, não está…Longe disso. Longe disso, meu amigo…! Era bom, era…» É espantoso, o pouco que consola esta repentina amizade que nos é oferecida por quem nos esclarece.

Esta atitude, tão portuguesa que até chateia mais do que é costume, tem tanto de estúpida como de grandiosa. É estúpida porque nos impede de gozar o que Deus nos deu. O sol de três dias de nada vale se depois vai chover outra vez. Para quê? Para um gajo habituar-se ao calorzinho e amargá-las mais ainda quando voltar à realidade? Para os portugueses, a realidade é um exclusivo da miséria, e tudo o que não seja completamente miserável é mera ilusão.

Não vale a pena dizer que a beleza daqueles três dias não é negada pela fealdade dos seguintes. Quer dizer, eu disse, mas arrependi-me, porque o motorista retorquiu com a bomba atómica do Ó…! Como quem diz, «cantas muito bem mas não me alegras». E ser acusado de querer alegrar um compatriota só não é punível com pena de morte porque ninguém é desentristecível.

Mas, por trás da imbecilidade automutiladora do «vamos ver quanto dura…», há uma ambição gloriosa. É que, para estes portugueses retintos, só o que é eterno pode ter valor. Entretanto, vão-se bebendo uns canecos, como também Platão bebia. Este ódio ao temporário é nada menos que um ódio à própria vida. A vida, como aqueles três dias de sol, também acaba passado um bocadinho. Entre as pregas do pescoço encarniçado daquele motorista havia ânsias recalcadas de imortalidade.

Outros povos (o brasileiro, por excelência) conseguem de vez em quando, viver cada momento como se fosse o único. O português também. Só que, por morbidez e teimosia, logo haveria de ser o da morte. O clima em si nada pode contra nós. Deus não pensou quando nos comprou o melhor que havia. Com os poucos tostões que Lhe restavam, regateou-nos uma mentalidade em que está sempre a chover ou um frio de rachar ou um calor que não se pode. Pouco admira que, quando nos disse «Enjoy!» em hebraico, a gente tenha percebido «Enjoem!».


Miguel Esteves Cardoso, in Revista Única - Jornal Expresso, nº 1743, de 25 de Março de 2006

O Povo Culto

«Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser dignos».

Agostinho da Silva, in «Diário de Alcestes».

A Caminho da Provença - Parte I

A partir da cidade nova de Briançon, vai-se descendo e ziguezagueando pelos Alpes, deixando para trás as fortificações de Vauban, com os seus 1.326 metros acima do nível do mar, sempre acompanhados pelo céu azul encontrado a partir do lado francês dos Hautes Alpes.
A paisagem encontrada é magnífica e exuberante. Os Alpes constituem a mais elevada cimeira da Europa e apesar da sua massa ter uma altitude média de cerca de 1.121 m, os Alpes franceses constituem um maciço montanhoso facilmente penetrável e arejado por profundas calhas glaciares.
Estas calhas glaciares formam largos corredores de penetração longitudinais, como o vale do rio Durance nos Alpes do Sul, que segue no meio de montanhas, que facilitam as comunicações e que favoreceram implantações urbanas muito precoces. É por estas calhas de origem glaciar que segue a estrada, sempre acompanhada de belas e altas montanhas.
Mais à frente e depois de descermos mais um pouco, entramos no largo vale de Gap. É nele que se observa a pequena cidade de Embrun, que nos aparece do lado esquerdo.

A cidade de Embrun senta-se num platô no topo de uma falésia (o "Roc"), com vista para o rio Durance superior, pouco antes de desaguar no Lac de Serre-Ponçon.
As colinas que cercam a cidade de perto, são cobertos com prédios modernos e chalés de férias. Mesmo da estrada tem-se uma boa visão de Embrun do outro lado do rio, porém, as montanhas mais altas que a cercam, fazem um conjunto de uma beleza inesquecível.     

Chegamos após alguns quilómetros uma pequena localidade de Savines-le-Lac, à beira de um enorme lago, uma povoação bastante turística e onde fazem passeios de barco pelo lago, que se destaca do lado esquerdo da estrada. Atravessamos depois uma comprida ponte sobre o Lac Serre-Ponçon, que vai dar à outra margem do lago. Depois de duas centenas de metros a subir a encosta, encontramos uma área de merendas, situada num miradouro de onde se desfrutam belas panorâmicas sobre o lago e arredores.
O Lac de Serre-Ponçon é um grande lago, alimentado pelos rios Durance e Ubaye e que é também o maior lago artificial da Europa. Esta bela jóia azul de límpidas águas, fica abaixo das montanhas dos Hautes-Alpes e no extremo norte da Haute-Provence.
O lago foi formado pela Barragem de Serre-Ponçon que foi construída na bacia do rio Durance, logo abaixo da zona onde o rio Ubaye se lhe junta. A barragem com 123 m de altura foi iniciada em 1955, construída a partir de um solo de argila de aluvião, retirada do leito do rio Durance.
A aldeia de Savines-le-Lac, localizado na costa do sul ao lado da ponte, é uma reconstrução da antiga aldeia de Savines, que agora está inundada debaixo do lago. A Chapelle Saint-Michel, que agora podemos ver numa pequenina e pitoresca ilha no meio do lago, ficava no topo de uma colina, sobranceira à anterior aldeia de Savines.

Hautes-Alpes - Briançon

Briançon, devido à sua posição estratégica, sempre foi uma cidade com guarnição defensiva por ser uma cidade de fronteira com a Itália. Ao olhar para as pesadas fortificações ​​em torno da cidade velha, é fácil entender porque resistiu a várias ondas de invasões, às vezes sem mesmo lutar. Como muitas outras cidades francesas, foi fortificada três séculos atrás, embora sendo uma cidade já naturalmente protegida, pela sua localização em cima de uma enorme montanha de rocha íngreme.
A cidade antiga fortificada por Vauban e também chamada de "Cité Vauban" ou "Gárgula" é um lugar muito popular entre os turistas visitantes. As fortificações e arquitetura pitoresca fazem desta antiga cidadela uma verdadeira obra de arte.
O antigo centro histórico protegido dentro de muralhas rodeadas de um fundo fosso, foram construídos para defender a região das tropas austríacas no séc. XVII. O seu objetivo era duplo, prestar atenção à estrada para a Itália e negar ao inimigo uma posição estratégica que poderia ameaçar a cidade.
À sua volta podem ser descobertas as pistas para caminhantes, marcadas há muito por quem se aventura pelas colinas circundantes, um giro que nos leva em torno das muralhas, onde se pode desfrutar de magníficas vistas sobre os vales circundantes.
No interior das suas muralhas a antiga cidadela contém muitos tesouros, como igrejas, vários elementos arquitetónicos, fontes, relógios de sol… As suas ruas empedradas são muito íngremes e estreitas, embora muito pitorescas, que descem até à cidade nova, já fora de muralhas.
Briançon fica no sopé da descida do Col de Montgenèvre, possuindo ainda outras fortificações em seu redor, empoleiradas nas colinas à volta da principal cidade antiga amuralhada. Estas pequenas fortificações foram construídas nas alturas em torno dela, especialmente em direção ao leste, como o Forte Janus situado a menos de 1.200 m acima da cidade.
Dentro de muralhas a igreja paroquial, com suas duas torres, foi construída em 1703-1726, e ocupa uma posição muito visível fora de muralhas.
A Pont d'Asfeld, uma antiga ponte a leste da cidade, construída em 1734, forma um arco de 40 m de diâmetro, numa altura de 56 m sobre o vale profundo do rio Durance.
Em 8 de julho de 2008, vários edifícios de Briançon foram classificadas pela UNESCO como Património Mundial, como fazendo parte do grupo das "Fortificações de Vauban". Estes edifícios são: as Muralhas da cidade antiga, des Salettes Redoute, Fort des Trois-Têtes, Fort du Randouillet e a Ponte Asfeld. Estas obras foram projetadas por Sébastien Le Prestre de Vauban (1633-1707), um engenheiro militar do rei Louis XIV.
A cidade moderna, que possui um ótimo parque de autocaravanas, estende-se numa planície situada no sopé do planalto sudoeste, onde se situa a cidade velha, que hoje forma o subúrbio de St. Catherine.
Pelos vales à volta da cidade nova, correm rápidos os seus rios de águas límpidas, onde o Durance se destaca, por ser um afluente do rio Ródano. O rio Ubaye, afluente do Durance, dá ao seu vale e à cidade de Briançon, todas as boas razões para ser um centro incontornável do turismo desportivo, por proporcionar a prática do rafting e outros desportos de águas vivas.
No verão, o rio é um domínio de predileção para os rafts, caiaques e outros. A montante, transversalmente do Colo de Larche e do Colo de la Bonnette encontra-se o Parque do Mercantour, um paraíso para os caminhantes e os amantes da  Natureza.           
Descendo para Sul, ao longo de la Durance, atinge-se o Vale de La Valloise, porta aberta sobre o Parque National des Ecrins, que oferece aos alpinistas experientes uma escolha interessante de corridas em alta montanha.
Fonte: Fonte: http://www.snow-forecast.com / Wikipédia.org / http://www.snow-forecast.com / http://pt.franceguide.com / http://www.briancon-online.com

De Torino a Briançon

Saímos de Torino ao final da tarde, ainda com algumas horas de dia pela frente, a caminho dos Alpes italianos, pois iriamos ainda passar por estradas perigosas antes de atravessarmos a fronteira francesa, situada nos Altos Alpes, a fim de pernoitarmos na bela e histórica cidade de Briançon.
O caminho desde Torino até aos Alpes italianos é realizado pela E70, uma estrada que se faz primeiro por um longo vale bem cultivado, onde os milharais e vinhas abundam. Toma-se o caminho em direção aos Alpes e a estrada vai ziguezagueando pelo vale entre altas montanhas.
Depois vai-se trepando montanhas acima, atravessando tuneis e não mais parando de subir. Por vezes a estrada apresenta-se estreita e com piso em mau estado de conservação, com fendas que adivinham cedência de terras, devidas à erosão. Escavada nas montanhas a estrada vai ziguezagueando até ao cimo das montanhas, onde encontramos lá no alto, a povoação de Cesana Torinese, uma estação de esqui italiana muito bonita, onde se sente um ar muito puro e de uma frescura infinita.
Depois de muito se subir já quase sem gasóleo, foi ali que abastecemos de combustível, para encetarmos a última etapa daquele dia de viagem.
Passa-se a fronteira para a região francesa dos Altos Alpes e entramos no portão sul da Serre Chevalier. Bem perto da fronteira está localizada a povoação de Serre Chevalier, entre os 1.200 m e 2.800 m acima do nível do mar, é uma das maiores áreas de ski da França, com 250 quilómetros de pistas.
A povoação de Serre Chevalier está situada num vale virado para sul, entre o Col du Lautaret e a cidade de Briançon, rodeada com 13 aldeias que à distancia pontilham os vales mais baixos, situados entre altas montanhas.
Depois sempre a descer, em vertente virada a sul, a folhagem vai variando de tons, entre o verde-escuro, o verde-claro e o verde-amarelado das árvores, ganhando por vezes até tons alaranjados que vão colorindo a paisagem, passando-nos a ilusão de calor, mas que na verdade é o sinal que a natureza nos dá, relativo às baixas temperaturas sentidas durante a noite, naqueles lugares alpinos.
Assim se chega a Briançon, ao cair da noite. Depois de descermos até à cidade nova para irmos ao parque de autocaravanas, a fim de se fazer o reabastecimento de águas e esvaziamento de esgotos, fomos novamente para cima, até junto da cidade antiga amuralhada, para ali passarmos a noite, num grande parque de estacionamento, situado junto às muralhas, onde a maioria dos autocaravanistas preferiu ficar a pernoitar.
A bonita cidade alpina de Briançon situa-se na confluência dos vales dos rios Durance, Guisane e Cerveyrette. A 1.326 m de altitude, é a mais alta cidade francesa e a segunda da Europa (depois de Davos, na Suíça).
O largo vale do rio Durance abre-se ao norte, pelo passo de Montgenèvre, as portas da Itália, e desce para o sul a caminho de Gap e da Provença. Briançon é famosa pelo seu centro antigo situado numa antiga cidadela fortificada, outrora construída sob as ordens do Marechal de Vauban. É igualmente uma estação de ski pertencente ao domínio da Serre-Chevalier, de que ela foi a origem, em 1941, no sítio de Chantemerle.
Fonte: http://www.snow-forecast.com / Wikipédia.org / http://www.snow-forecast.com / http://www.briancon-online.com

Visita a Torino - Parte VI

Depois da visita ao Duomo, seguimos novamente para a Piazza Castello para em seguida irmos ao encontro da rua mais conhecida da cidade de Torino, a Via Roma.
A Via Roma é a mais impressionante rua da cidade e uma das principais do centro histórico de Torino. Ela liga a muito central Piazza Castello com a histórica estação ferroviária Porta Nuova e inclui no seu caminho a Piazza CLN e da famosa Piazza San Carlo, terminando na Piazza Carlo Felice. Orientada no eixo norte-sul, ela viaja paralelamente à grade de configuração da antiga cidade romana Taurinorum Julia Augusta.

Uma vez lá chegados, observa-se a notável perspetiva arquitetónica da Via Roma, com as suas igrejas “gémeas” de S. Carlo e S. Cristina, fechando o cenário do percurso. Na Piazza S. Carlo temos o Palazzo dell’Accademia delle Scienze que hospeda o Museo Egípcio e a Galleria Sabauda, que guarda obras de Beato Angelico, Bronzino, Mantegna, Veronese, Tintoretto, Gentileschi, Carracci, Reni, Tiepolo, entre outros.

É uma rua com uma vocação comercial diferenciada, interdita há maioria de veículos, sendo praticamente só de acesso pedonal. É imprescindível uma caminhada por ela, onde por baixo de pórticos, podemos observar os portais, as praças e a elegância.
Desde a sua renovação, a Via Roma tornou-se numa das principais rotas do comércio da cidade, realizado sob as arcadas características, onde estão sediados elegantes cafés, a histórica sede do jornal La Stampa, diversas lojas e boutiques exclusivas, mas também muitas lojas de pronto a vestir de conhecidas marcas.

Torino é famosa também por seus típicos cafés e por seus restaurantes de alto nível que se localizam pelas ruas com os pórticos que se espalham pela cidade e frequentá-los, significa fazer parte de uma das grandes tradições da cidade.
Por isso mesmo, andar a pé pela cidade é a melhor forma de a conhecer, e como há mais de 18 km de galerias porticadas por baixo dos edifícios, pode-se andar confortavelmente por elas, protegidos do sol, chuva ou neve, admirando os inúmeros cafés que vendem chocolates deliciosos, restaurantes e belas montras.

Depois do percurso pela Via Roma, caminha-se até à autocaravana para nela irmos até às margens do rio Pó, pois Torino é também uma cidade de jardins e de “águas” e nas margens do rio localizam-se alguns jardins e o magnífico Parco del Valentino, um dos símbolos da cidade.
Toma-se o movimentado Corso Vittorio Emanuele II, e chega-se, virando à direita  no sentido rio Pó, ao Parco del Valentino, que equivale, como diz o escritor Giuseppe Culicchia de Torino, “À Casa Mia”, o "terraço da cidade". O parque tem mais de 400 mil metros de verde intenso, que nos proporciona uma visão das colinas nevadas, que rodeiam a cidade.
Um passeio pela área verde, é imprescindível, onde se encontra o Castelo Valentino, onde está sediada a faculdade de arquitetura. Nos últimos anos o parque tem sido bastante atualizado, possuindo belos cafés nas margens do rio Pó, sendo o destino, ao pôr-do-sol, de muitos fãs de corrida e ciclismo.
Mas há um monumento em Torino que sobressai acima do resto, acima de tudo, que é a Mole Antonelliana. E foi para lá que seguimos, antes de deixarmos a cidade de Torino.
Projetada pelo arquiteto Antonelli, iniciada em 1863 (séc. XIX) e concebida como um templo judeu, para a sinagoga da cidade, a Mole é agora um monumento à unificação italiana e arrogância arquitetónica, que alberga o Museu Nacional de Cinema da Itália.
A Mole Antonelliana é uma enorme e conhecida torre, exuberante por fora, e muito bem decorada por dentro, considerada um símbolo para a cidade, com os seus mais de 160 metros de altura. Lá dentro podemos visitar o Museu do Cinema e subir de elevador até ao seu cimo, de onde se observa a cidade em todo o seu esplendor.
Fonte: http://revistaespresso.uol.com.br / Wikipédia.org / http://www.officeoftourism.org

Visita a Torino - Parte V - Duomo de Torino

Após a saída da Chiesa di San Lorenzo, seguimos agora em direção à Piazza di San Giovanni, onde se encontra o Duomo, a Catedral da cidade de Torino, desenhada por Guarino Guarini entre 1668 e 1694, com três portais em estilo toscano.
Tinha chegado o momento mais esperado por nós!... O Duomo, dedicado a San Giovanni Batista (São João Batista), é a unica igreja na cidade em estilo renascentista e nela se encontra o Sudário de Torino ou Santo Sudário, como é designado na Cristandade. O Sudário está ali guardado, desde o séc. XIV, e segundo a crença é o pedaço de pano de linho onde está gravada com sangue, a silhueta de Jesus Cristo, quando foi limpo durante a caminhada até à cruz, sendo considerado uma das mais importantes relíquias do cristianismo.
O Sudário, é uma peça retangular de linho com cerca de 4,5 metros de comprimento e 1,1 de largura. O tecido apresenta a imagem de um homem de 1,83m de altura que parece ter sido crucificado, com feridas consistentes, como as que Jesus sofreu antes de sua crucificação, como está descrito no relato bíblico.

A 28 de maio de 1898, o fotógrafo italiano Secondo Pia, tirou a primeira fotografia ao sudário e constatou que o negativo da fotografia assemelhava-se a uma imagem positiva do homem, o que significava que a imagem do sudário era, em si, um negativo.

As primeiras referências à existência de um possível Sudário surgem na própria Bíblia. O Evangelho de Mateus refere que José de Arimateia envolveu o corpo de Jesus Cristo, com "um pano de linho limpo". São João também descreve o evento, e relata que os apóstolos Pedro e João, ao visitarem o túmulo de Jesus após a ressurreição, encontraram os lençóis dobrados.

As primeiras análises científicas de laboratório ao Sudário, foram realizadas em 1973 por uma equipe internacional de cientistas. Os resultados demonstraram, que a imagem do sudário é composta por inúmeras gotículas de tinta fabricada a partir de ocre, mas não foi autorizado o teste por datação carbono-14.

No exterior o Duomo destaca-se na Piazza di San Giovanni Battista, mostrando uma imponente fachada renascentista de mármore branco, com três portas das quais, a central, a principal, é encimada por um frontão e ladeado por duas volutas. A majestosa Torre Sineira bastante alta e em tijolo, é reconhecida de vários pontos da cidade, marcando imponente o ponto de situação do seu Duomo.

Ao entrar-se no Duomo os visitantes deparam-se com um interior austero, dividido em três naves com uma planta em cruz latina. Enriquecido com um pouco de cada século, o interior da Catedral está agora decorada nas laterais, por numerosas capelas, onde trabalharam uma grande variedade de pintores, escultores e decoradores. É numa das capelas à esquerda de quem entra, próxima do altar mor, que encontramos a capela do Santo Sudário. Numa vitrine à prova de bala, está exposta a urna de prata que guarda o Sudário ali conservado, desde 1998. Por cima da urna, por trás do vidro está exposta uma cópia do Santo Sudário.

Numa das capelas laterais também podemos ver o túmulo do jovem Beato Pier Giorgio Frassati, que iluminado de fé e caridade morreu de poliomielite (paralisia) depois de humilde e manso, enfrentar sozinho os sintomas terríveis da doença morbida, de cuja gravidade ele não se apercebia. Foi a visitar os pobres em suas casas que Pier Giorgio contraiu uma poliomielite fulminante que o levou de repente, até a morte em menos de uma semana, a partir de 29 de junho a 04 de julho, o dia que ele morreu. Quando os pais apavorados afinal compreenderam o que lhe estava a acontecer já era tarde. A vacina que veio rapidamente do Instituto Pasteur de Paris, já não tinha efeito devido ao avanço da doença.

Pier Giorgio Frassati nasceu em Torino, a 6 de abril de 1901 num sábado santo, era filho de uma das famílias mais proeminentes da alta burguesia de Torino, cuja mãe Adelaide Ametis uma pintora e o pai, Alfredo Frassati, que em 1895 com pouco mais de trinta e seis anos, fundara o jornal “La Stampa”, sendo eleito em 1913, Senador do Reino e que mais tarde foi embaixador da Itália em Berlim.
Numa das capelas laterais pode ainda ser visto o túmulo e escultura de Giovanna d'Orlier de la Balme. No topo falta o brasão da sua família, que foi destruído pelas tropas francesas durante a ocupação napoleônica.

A Catedral está localizada num dos mais ricos locais da história da cidade de Torino. A poucos passos dela estão os vestigios arqueológicos da antiga cidade romana, onde pode ser visto o Teatro Romano e outras ruinas da antiga Julia Augusta Taurinorum. 

Fonte: http://www.visitatorino.com / Wikipédia.org / http://piergiorgiofrassati.no.sapo.pt/