A região do Languedoc e os Cátaros - "Os Puros"

A Idade Média foi uma etapa da história muito marcada pela pressão religiosa, imposta desde Roma e materializada através da tão temida Inquisição e das Cruzadas, tanto na Terra Santa como pela Reconquista da Península Ibérica aos mouros.

Os Cátaros, do grego katharos, que significa puro, formavam uma seita cristã da Idade Média surgida no Limousin (França), na região de Languedoc e no Norte da Península Itálica, no final do século XI. A doutrina cátara diferenciava-se da doutrina católica em alguns dos principais "pilares" da doutrina católica.

Os cátaros eram seguidores inequívocos de Jesus. Justificavam a sua predilecção pelas Sagradas Escrituras, com especial ênfase pelo apóstolo João. Muito próximos do cristianismo primitivo, observavam em grande parte os seus rituais e práticas e o modelo de organização e por último, propunham um modelo de salvação baseado na recepção de um único sacramento, a extrema-unção, a que chamavam o "consolament", o sacramento da salvação.

Para eles, o livro sagrado era a Bíblia, em particular o Novo Testamento, mas segundo a sua crença, Jesus não era filho de Deus, mas apenas um profeta importante. Eles também recusavam a hóstia sagrada (apenas repartiam o pão nas suas cerimónias) e não admitiam distinção entre sexos, permitindo inclusive que mulheres celebrassem ritos religiosos. Na época medieval, os Cátaros também chamados de albigenses, foram considerados hereges sendo perseguidos até à morte.

Os cátaros viam-se como os verdadeiros sucessores dos apóstolos e divulgavam que o seu cristianismo era o autêntico, enquanto o de Roma não passava de uma manifestação do Diabo. Com uma face reformadora, o movimento pregava o retorno ao evangelismo primitivo, enfatizando a pobreza pessoal e a ausência de hierarquias clericais, em detrimento da acumulação de bens e de poder tão valorizado pela Igreja Católica na época. Seus seguidores também praticavam a castidade e ajudavam os doentes e necessitados.

Além disso não reconheciam a autoridade Papal ou dos bispos, dividindo os seguidores da religião em três níveis: Perfeitos, Crentes e Ouvintes. Os Perfeitos ou "bons homens" praticavam o celibato e passavam os dias em oração e em jejuns. Eram excelentes oradores. Os Crentes praticavam a virtude e a humildade, mas não eram obrigados a abstinências. Os Ouvintes eram simpatizantes da religião, acompanhando as palestras dos Perfeitos.

O chamado "Pays Cathare" (País Cátaro) estendia-se pela zona chamada Occitania, actual Languedoc, numa extensão fronteiriça entre Toulosa (actual Toulouse), até ao oeste, nos Pirinéus, e até ao sul, no Mediterrâneo e deste até leste. Em definitivo, uma área política que, durante o século XIII e em plena época medieval, era limitado entre o reino de Aragão, França e condados independentes como o de Foix e Toulouse.

O mais curioso nesta cultura era o cuidado de construir os seus castelos e abadias em cima de precipícios e inacessíveis colinas, em locais o mais elevados possíveis, razão pela qual, na actualidade, os fazem turisticamente muito atractivos, não só pelas suas extensas vistas sobre o horizonte, mas também pela possibilidade de se observarem paisagens impressionantes.

Militarmente, apesar de terem o apoio de pequenos condados, muitos dos cátaros não conseguiram resistir ao genocídio das cruzadas, mas estas não conseguiram erradicar totalmente o catarismo de forma definitiva. Foi a Inquisição, a instituição que realmente conseguiu exterminar definitivamente o catarismo.

A Cidadela de Carcassonne



Situada no Sul da França, na região do Languedoc, entre Narbonne e Toulouse, encontra-se a a cidade feudal de Carcassonne, a maior fortaleza medieval e a mais bem preservada de toda a Europa num conjunto arquitectónico que testemunha mais de 2500 anos de história. Carcassonne atravessou as brumas do tempo e preservou o seu passado.

A chegada a Carcassonne fez-se já noite serrada. Ver as muralhas e torres de Carcassonne surgirem de repente contra o céu, toda iluminada, após uma curva da estrada, é de fazer o coração bater mais rápido...
O parque destinado às autocaravanas situado junto à cidadela, foi o lugar vantajoso e privilegiado de pernoita. Na manhã seguinte o acordar fez-se com temperaturas negativas, neblina e céu encoberto. Depois de um gostoso banho quente e de um bom pequeno-almoço, fomos visitar a cidadela que nos esperava em ambiente festivo normal para a quadra do Natal e Ano Novo.

Em posição dominante na margem direita do rio Aude, a Sudeste da moderna cidade, encontra-se constituído o conjunto arquitectónico medieval de Carcassonne, que foi restaurado pelo arquitecto Viollet-le-Duc, encontrando-se inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO desde 1997.

Carcassonne é uma combinação doce e irresistível entre a vanguarda discreta de uma cidade tranquila que as muralhas protegem de um sol que por vezes espreita apaziguador, e a ternura dos ocres de uma cidade nova, discreta, que pacientemente espera pelo vento suão que irá fazer o rodopiar dos girassóis e o ondular das searas, que crescem à volta da cidade no Verão...

A origem da cidade vem desde os tempos dos conquistadores Romanos, e segue até o século XIV. O lugar ocupado pela Cidadela de Carcassonne remonta aos povos Celtas, Galo-romanos, Visigodos e Sarracenos. As fundações das suas casas e muralhas retratam com clareza essas sucessivas ondas civilizadoras.

A posição estratégica de Carcassonne, colocou a cidade no centro de conflitos religiosos. No século X os cruzados sitiam a cidade para combater os Cátaros (seita de monges católicos que dominava a região do Languedoc), que acabaram por ser dizimados, em 1209, por ordem de Roma.

Diversos senhores feudais, e reis da França, entre outros, contribuíram para o crescimento e fortalecimento da Cidadela de Carcassonne. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidadela foi usada como campo de prisioneiros. No final do século XIX, o conjunto estava praticamente abandonado, quando foi redescoberto por turistas ingleses. A Cidadela de Carcassonne, é hoje um resquício da Idade Média, em lugar altaneiro sobre a cidade nova.

A história de Carcassonne é muito interessante. Outrora a cidade fortificada ficava na fronteira com a Espanha e por isto era fortemente armada. Em algum momento a prosperidade de Carcassonne causava inveja a outras cidades como Paris e muitas outras. Assim a cidade foi invadida (por franceses, não por espanhóis!) e tomada e a sua população foi expulsa, estabelecendo-se no vale logo abaixo.

A fronteira com a Espanha foi alterada e Carcassonne perdeu sua importância militar. Os "novos ocupantes" da cidade abandonaram-na em decadência enquanto os "velhos ocupantes" prosperavam no vale adjacente. Daí a "velha Carcassonne" ter ficado tão preservada, enquanto a "nova Carcassonne" mudava, evoluía e prosperava.

Agora a cidade tornou-se uma fantástica atracção turística, de entrada grátis, embora se pague para uma visita ao Castelo, onde ao percorrer as suas muralhas se pode observar a formidável paisagem proporcionando um passeio inesquecível. Na cidadela além das muitas ruelas sinuosas, pode observar-se a bela arquitectura proveniente de muitos anos de história emocionante.

Entre os pontos mais visitados estão o Portão de Narbonne, a Torre da Justiça, e a Torre da Inquisição, no Castelo Callares. Depois podemos optar por visitar a Basílica de Saint-Nazaire, o Castelo do Conde, construído no ano 1130, que abriga hoje o famoso Museu Lapidário e o Museu de Cera, que mostra os costumes da população local na Idade Média.

Para além do castelo propriamente dito, há uma infinidade de atracções dentro da Cidadela, acrescido de um número infinito de fascinantes lojas, com estreitas ruas calcetadas, repletas de lojas e de uma sucessão de cafés e restaurantes onde se pode desfrutar de uma boa refeição "gourmet" ou tomar apenas um café...

A visita a Carcassone é uma emocionante viagem ao passado, um exemplo do que é belo nunca deve ser destruído, constituindo sem dúvida, um dos pontos altos de qualquer viagem à França.

Burgos - O acordar numa manhã nevada

A onda de frio que assolou toda a Europa durante o Inverno deste ano de 2009, mudou a paisagem até em Portugal e Espanha. Burgos, no Norte de Espanha enfrentou neste Inverno e por várias vezes fortes nevascas.

Chegádos já de noite a Burgos onde pernoitámos, nos arredores da cidade, tendo a noite passado limpa e tranquila, embora muito fria. No entanto pela manhã, o acordar fez-se debaixo de neve que pintou de branco a paisagem. Lindo! Tudo branquinho à nossa volta!...

Para mim, o avistar do primeiro nevão do ano, tem sempre algo de poético. Na cidade e arredores tudo estava mais calmo, diria até silencioso!... E depois todos os problemas que a neve traz consigo... No entanto e por aquelas bandas, já habituados a estas intempéries, não tardaram os limpa-neves que de um lado e do outro da auto-estrada, a percorriam incessantemente.

Mas depois que o encanto poético passa, só se espera que a neve pare de cair e que a cidade volte ao seu ritmo normal, e principalmente que se possa prosseguir viagem como era nossa intenção.
A cidade de Burgos já visitada por nós anteriormente, foi observada só de passagem, pois pretendíamos percorrer nesse dia o maior número de quilómetros possíveis.

Depois de um leve almoço de tapas, numa estação de serviço da auto-estrada, partimos com o rumo marcado para Carcassonne, no Sul de França. A partida e o resto da viagem fez-se sem sobressaltos e no final do dia já pernoitámos no destino.

* Mais sobre Burgos em :

A Côte d'Azur

A Côte d'Azur (Costa Azul), assim chamada pela cor das águas do Mediterrâneo, que aí são claras, mornas e tranquilas, é também conhecida como Riviera francesa. Compreende um trecho do litoral da França (inclusive o principado de Mónaco), entre Cannes e Menton, no departamento dos Alpes Marítimos, e é a mais importante região turística da França.

Juntamente com a costa da Provença, constitui um conjunto topográfico de aspectos variados: cabos, angras e baías onde se abrigam barcos de pesca e de recreio, cidades, estações balneárias e estradas que se prolongam pelo litoral.

A Côte d'Azur apresenta dois trechos distintos, a este e a oeste da embocadura do rio Var. O trecho oriental é montanhoso e nele se localizam Menton, Mónaco, Cap d'Ail, Beaulieu, Eze-la-Sarrazine, Nice e Villefranche. No trecho ocidental encontram-se Cagnes, Antibes, Juan-les-Pins e Cannes. A influência do Mediterrâneo na região, que ao norte é protegida pelos Alpes Marítimos, manifesta-se por Invernos curtos e brandos, Verões secos e quentes e violentos mas breves temporais na Primavera e no Outono.

A vegetação do litoral é tipicamente mediterrânea, com algumas plantas tropicais como cactos, palmeiras, laranjeiras e limoeiros. A temperatura é sempre elevada, mas nos pontos onde a montanha atinge o mar, o clima torna-se temperado. A poucos quilómetros do mar encontram-se, nos Alpes, cumes cobertos de neves eternas.

No século XIX, nos melhores círculos da sociedade europeia, falava-se sempre de um país mágico onde o Inverno não existia. A partir de então, a estrela da Côte d'Azur nunca mais se apagou.

O azul do sul define esta terra. Luminosa a ponto de confundir o céu com o mar. A Côte d'Azur está destinada à felicidade estival ao longo do ano inteiro, sendo uma das zonas mais turísticas e glamorosas de França, onde as suas praias mediterrâneas, o seu glamour, as suas marinas e os seus restaurantes de alta cozinha francesa atraem cada ano uma boa parte da elite do turismo europeu a cidades como Nice, Marselha, Mónaco (Monte Carlo), Cannes...
A Costa Azul é um local em que o turismo é a principal fonte de receita, assim como os diferentes eventos que se produzem anos após ano, eventos como o Festival Internacional de Cinema de Cannes (um dos mais importantes do Mundo), o Rally de Monte-Carlo, O GP de Fórmula 1 do Mónaco...

A Costa Azul é, desde o Século XX, destino de numerosos artistas, pintores e personalidades do mundo do espectáculo e da aristocracia também, assim como da realeza. Personalidades em todos esses âmbitos já passaram férias nesta regiao que começa na fronteira espanhola e termina na italiana.

Viagem ao Sul de França

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... A festa do Natal que sempre teve para mim tanta importância, começa a perder a mesma por razões nem sempre perceptíveis, e assim sendo, por minha vontade teria iniciado a viagem mais cedo.
No entanto, porque o membro mais novo da família não nos queria acompanhar, talvez pelo mesmo motivo inicialmente assinalado, resolvemos viajar só após a celebração da Festa do Menino Jesus.
São poucas as pessoas que têm a sorte de poder viajar no Inverno, época da baixa temporada. A grande maioria dos viajantes tem que se contentar com datas nos meses de Verão. A verdade é que este tipo de viagens com a presença de frio, chuva, vento e por vezes até neve, não nos incomoda tanto quando passeamos, como se estivéssemos a trabalhar.
Para quem decide aventurar-se a viajar no Inverno, quando os preços em geral são mais baixos, o que torna a viagem mais barata, pode ter além deste, outros motivos de interesse. Podemos considerar também que, a maioria das vezes, as experiências de viagens no Inverno (algumas vezes com temperaturas em torno dos 2º ou 3º negativos e sob forte chuva ou nevasca) podem ser inesquecíveis e bastante gratificantes.
Outra vantagem do Inverno é que esta é uma excelente estação para fotografar – as paisagens ficam mais amplas porque muitas das copas das árvores estão nuas, a luz do dia é melhor, e até a neve faz um efeito e tanto nas nossas lembranças. E o melhor de tudo, no Inverno não há aquela infinidade de turistas que aparecem nas nossas fotos!

Assim sendo, o percurso escolhido para ir e voltar, foi o seguinte:

1º Dia (25 de Dezembro) - Burgos;

2º Dia (26 de Dezembro) - Carcassonne;

3º Dia (27 de Dezembro) - Carcassonne, Marselha;

4º Dia (28 de Dezembro) - Marselha, Cassis, Saint-Tropez;

5º Dia (29 e 30 de Dezembro) - Saint-Tropez, Saint-Rafael, Cannes;

6º Dia (30 de Dezembro) - Cannes, Antibes, Nice, Mónaco (Monte-Carlo), Menton;

7º Dia (31 de Dezembro) - Menton, Mónaco;

8º Dia (1 de Janeiro) - Mónaco, Nice, Figueras;

9º Dia (2 de Janeiro) - Figueras, Barcelona, Zaragoza;

10º Dia (3 de Janeiro) - Catalayud, Trujillo;

11º Dia (4 de Janeiro) - Trujillo, Casa.

A caminho de casa

A caminho de casa e como já referi várias vezes, sou assaltada por vários pensamentos, que em resumo e desta vez se centraram na necessária promoção cultural do turismo e no meio de transporte mais adequado à viagem.

Como se sabe a cultura é a soma total da criação humana através da sua ampla história. Ela engloba as religiões, os valores, as artes e as ciências. Viajar permite-nos experimentar e conhecer as distintas culturas, instituições, costumes, tradições características nacionais e ambientes sociais de outros lugares.

A cultura tem enriquecido o significado do turismo e o turismo deve também promover o aperfeiçoamento da cultura. Assim sendo, o turismo serve como meio para preservar a cultura e deve proporcionar a inovação cultural, o que nem sempre acontece.

Viajar no entanto implica escolher também o meio de transporte mais confortável. No nosso caso foi eleita a autocaravana. O viajar de autocaravana é sem dúvida a opção avançada para o amante do contacto com a natureza, sem abdicar do máximo conforto possível. O conforto é sem dúvida, mais vantajoso que em qualquer outra opção, por se ter mais espaço, mais acessórios e uma maior qualidade ambiente. É uma autêntica casa em miniatura.

Para nós o viajar de autocaravana é verdadeiramente agradável e pode tornar a maioria das vezes uma viagem emocionante, porque a aventura está sempre presente, dando-nos ainda a possibilidade de desfrutar da liberdade que este tipo de viagem proporciona.

Santuário do Bom Jesus do Monte



Após um pequeno lanche num café à saída do Sameiro e depois da compra de 1 Kg de bonitas e saborosas nozes, rumámos ao Santuário do Bom Jesus do Monte a apenas dois 2 Kms de distância.

A alguns Kms de Braga, levanta-se majestoso o local turístico e religioso do Santuário do Bom Jesus do Monte ou Bom Jesus de Braga, em que a natureza e a arte "dão mutuamente as mãos" para fazerem dele um verdadeiro ex-libris da cidade dos Arcebispos.

As origens do Bom Jesus remontam ao principio do século XIV, quando alguém, talvez a seguir à Batalha do Salado (1340), decidiu colocar uma cruz no alto da encosta do monte Espinho. Bem depressa esta cruz foi abrigada por uma ermida, que se tornou meta de peregrinação por parte dos Bracarenses e de outros fiéis das redondezas.
Em 1629, um grupo de devotos da Santa Cruz do Monte resolveu construir uma confraria a que foi dado o nome de Confraria do Bom Jesus do Monte, sendo a sua finalidade fazer tudo para o engrandecimento deste centro de peregrinação.

Pouco a pouco foi ganhando corpo a ideia de transformar a ermida da Santa Cruz do Monte Espinho num grandioso monumento em honra da paixão de Cristo. De 1629 a 1722 foi-se abrindo um caminho sinuoso e íngreme nas margens do qual se construíram capelas em forma de pequenos nichos, que lembram aos peregrinos os diversos passos do Calvário.
A partir de 1722, com o Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles, foi iniciado o projecto e começou-se a realizar um grande plano, que acabou por redundar no Santuário do Bom Jesus do Monte actual. Tratava-se de reedificar, em Braga a cidade de Jerusalém, para que os cristãos que não podiam peregrinar até à Palestina pudessem fazer aqui a sua peregrinação aos lugares santos, revivendo as cenas da Paixão de Cristo. Estas estações do Gólgota espiritual conduzem gradualmente até à igreja concluída em 1811, que substituiu o santuário original de forma circular.

Os peregrinos, ou o turistas, que chegam ao Bom Jesus do Monte, se querem ficar com uma ideia exacta desta «via-sacra», em pedra, que, no dizer de Germain Bazin, é talvez o mais monumental e poético exemplar de todas as vias-sacras de pedra, devem começar a sua visita pelo pórtico, encimado pelas armas de D. Rodrigo de Moura Teles (foi reitor da Universidade de Coimbra, e em 1694, foi bispo da Guarda e de 1704 até a sua morte em 1728 foi arcebispo de Braga), e em cujos umbrais se podem ver duas cartelas, que indicam o objectivo do Santuário do Bom Jesus do Monte.

Além disso o peregrino e o turista também encontram no Bom Jesus ocasião para uma sã diversão, não só proporcionada pela bela vista que daqui se desfruta, mas também pela existência da sua bela mata com exemplares magníficos e ar puro que proporciona óptimos passeios.

O adro da Igreja projectado por Carlos Amarante em 1784, apresenta 8 estátuas, que representam personagens que intervieram na condenação, paixão e morte de Cristo, tendo a própria Igreja uma planta em cruz latina.

O Bom Jesus do Monte é por todos estes motivos um local magnifico, onde se conjuga a obra da natureza com a notável obra do homem, (vasta, diversificada e absolutamente fabulosa), numa das maiores intervenções barrocas do País desenvolvida por André Soares, e se afirma como uma referência obrigatória do Barroco europeu, que evidência a própria evolução da arte-bracarense, consubstanciada na introdução do neoclássico por Carlos Amarante.

Importa ainda referir o elevador, movido a água de finais do século XIX, peça viva da arqueologia dos transportes portugueses e hoje um imóvel de interesse público, que pode ser usado durante todo o dia. As célebres escadas do Bom Jesus do Monte (1723-1837), são a outra opção para alcançar o santuário que proporcionam um óptimo exercício.

Santuário de Nossa Senhora do Sameiro

O acordar em frente do Santuário do Sameiro foi repousante pelo silêncio sentido no local, mas ao mesmo tempo conturbado pela prolongada chuva de granizo que deixou um lençol de pequenas pedrinhas brancas à nossa volta, que devido ao frio que se fazia sentir, não mudaram de estado com facilidade.
O Sameiro já visitado por nós em algumas ocasiões, tem para mim um significado muito especial, por ter sido o local onde fui pela única vez na vida, madrinha de um casamento religioso. Assim, foi com muito carinho que o visitei mais uma vez, tentando reter o seu carisma por mais algum tempo, através da retina e de todos os outros sentidos.

O Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, cuja construção se iniciou em meados do séc. XIX, mais precisamente a 14 de Julho de 1863 e é o segundo maior centro de devoção mariana em Portugal, depois do de Fátima.

Do conjunto monumental destaca-se a basílica, a imponente e vasta escadaria, virada para a cidade, e os monumentos aos Papas Pio IX e João Paulo II. O Templo, só foi concluído no século XX, e nele se destacam no seu interior o altar-mor em granito branco polido, bem como o seu sacrário de prata.
A história deste santuário é longa e interessante. Em 14 de Junho de 1637, o então Arcebispo de Braga, jurou solenemente defender o privilégio da Imaculada Conceição da Virgem Nossa Senhora, mais de duzentos anos antes de a Igreja definir o seu dogma.

Na mesma data do ano de 1863, foi benta e lançada à primeira pedra de um monumento em honra de Maria Imaculada, no alto do Monte Sameiro, sobranceiro à cidade. O monumento era um amplo quadrado com uma coluna encimada por uma bela estátua de mármore da padroeira. Só em Agosto de 1880 foi benta uma capela, junto ao monumento, que receberia a imagem que ainda hoje lá se venera, esculpida em Roma e benzida pelo Papa Pio IX. O actual templo, que alberga a mesma imagem, foi iniciado dez anos depois e elevado por Paulo VI à categoria de Basílica.O templo actual só foi concluído já no século XX, e nele se destaca no seu interior o altar-mor em granito branco polido, bem como o sacrário de prata.

Em frente do Templo ergue-se uma imponente e vasta escadaria, no topo do qual se levantam dois altos pilares, encimados da Virgem e do Coração de Jesus. Do cimo desta escadaria com 265 degraus, avista-se uma paisagem esplendorosa, não só de Braga, mas também dos seus arredores até à linha do horizonte.

Pólo de grandes peregrinações, só em 1955 entraram no Sameiro mais de um milhão de pessoas. Por outro lado, acarinhado por vários Papas, a partir de Pio IX, o santuário foi visitado em 1982 por Sua Santidade o Papa João Paulo II e a ele dedicou o monumento ao Papa Peregrino. A festa da Senhora do Sameiro foi fixada em 12 de Junho, dia em que S. Pio X coroou oficialmente a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

3º Dia - Braga - "A Cidade dos Arcebispos"


Braga é das mais antigas cidades portuguesas e uma das cidades cristãs mais antigas do mundo. No tempo dos romanos era designada como Bracara Augusta e conta com mais de 2000 anos de História como cidade. É uma cidade cheia de cultura e tradições, onde a História e a religião vivem lado a lado com a indústria tecnológica.

O astrónomo e geógrafo grego Claudius Ptolemeu (c. 85 – c. 165), em meados do século II, referiu na sua obra - "Geografia" (8 v.) -, que a cidade de Bracara Augusta era anterior à Invasão Romana da Península Ibérica. A recente pesquisa arqueológica, conduzida pela Universidade do Minho, identificou uma cerca defensiva com planta poligonal, reforçada por torreões de planta semicircular, que remonta ao século III.
Assim a ocupação humana da região onde se integra o município de Braga remonta a milhares de anos, estando documentada a partir do período megalítico. Na época correspondente à Idade do Ferro, desenvolveu-se a denominada cultura castreja, característica do povo brácaro que ocupava estrategicamente sítios fortificados nos pontos altos do relevo.

O processo de romanização iniciou-se por volta do ano 200 a.C., consolidando-se a partir dos primórdios da nossa era, com a fundação da primeira cidade, Bracara Augusta. A partir do século V, as invasões bárbaras (Suevos e Visigodos), trouxeram à região profunda conturbação que se prolongou com os Árabes até finais do século VIII, só se iniciando o processo reorganizativo nos finais do século seguinte.

Sofrendo com os focos de conflito e destruição devidos às invasões francesas e lutas liberais, Braga ganha nova vida em meados do século passado com a vinda do dinheiro e o gosto dos brasileiros (emigrantes portugueses regressados do Brasil), verificando-se então na cidade algumas "melhorias" a nível de infra-estruturas e equipamentos.
O período pós-revolução (25 de Abril) traduziu-se num enorme crescimento a todos os níveis (demográfico, económico, cultural e urbanístico), convertendo-se Braga na terceira cidade do País. Braga é assim uma cidade jovem que no ano 2000 comemorou seu bimilenário.

A cidade tem muitos topónimos, devido a vários factos que foram ocorrendo através dos tempos. Assim temos: A "Cidade dos Arcebispos", porque durante séculos o seu Arcebispado foi o mais importante da Península Ibérica e ainda é o detentor do velho título de Primaz das Espanhas. A "Cidade Romana", porque no tempo dos romanos era a maior e mais importante cidade situada no território que mais tarde constituiu o território português. Ausónio, ilustre letrado de Bordéus e perfeito da Aquitânia, incluiu Bracara Augusta entre as grandes cidades do Império Romano.

A "Roma Portuguesa", porque no século XVI o arcebispo D. Diogo de Sousa, influenciado pela sua visita à cidade de Roma, desenha uma nova cidade onde as praças e igrejas abundam tal como em Roma. A este título está também associado o facto de existirem inúmeras igrejas por km² em Braga. É ainda considerada, como o maior centro de estudos religiosos em Portugal. A "Cidade Barroca", porque durante o século XVIII o arquitecto André Soares transforma a cidade de Braga no Ex-Libris do Barroco em Portugal.

A cidade é também conhecida por "Capital do Minho" ou o "Coração do Minho", por estar localizada no centro desta província. Braga reúne um pouco de todo o Minho e todo o Minho tem um pouco de Braga. É também chamada de a "Cidade dos Três Sacro-Montes", por ter três santuários situados a Sudeste da cidade numa cadeia montanhosa, e são pela ordem Este a Sul: O Bom Jesus, Nossa Senhora do Sameiro e a Falperra (Sta. Maria Madalena e Sta. Marta das Cortiças).

A cidade está estritamente ligada a todo o Minho: a Norte situa-se o tradicional Alto Minho, a Este o Parque Nacional da Peneda-Gerês, a Sul as terras senhoriais de Basto e o industrial Ave e a Oeste o litoral marítimo Minhoto.

Braga, como o resto do Minho tem uma gastronomia riquíssima. O bacalhau assume-se como o prato de peixe favorito, a cidade é famosa pelas suas inúmeras receitas de bacalhau (bacalhau à Narcisa, bacalhau à Minhota, bacalhau à moda de Braga...). O arroz de pato, as papas de sarrabulho com rojões, a tripa enfarinhada, os farinhotes, os enchidos de sangue, o cabrito à moda de Braga, as frigideiras do cantinho ou da, os rojões à moda do Minho, o frango "pica no chão", o vinho verde, e como sobremesas, o pudim Abade de Priscos, o toucinho do céu, o bolo rei escangalhado, fidalguinhos, pederneiras, suplícios, paciências, entre muitos outros, fazem de Braga uma cidade de sabores.

A Caminho de Braga

Ao final da tarde do dia 24 e depois de comprarmos um belíssimo cosido à transmontana, para se jantar mais tarde, que nos foi cedido gentilmente pelo Restaurante "Falta de Ar" de Montalegre, que recomendamos, partimos rumo a Braga, porque segundo as informações meteorológicas, nessa noite iria cair um nevão.
No caminho e até ser noite fomos parando pelo caminho para ver vários locais de interesse turístico, entre as quais a Barragem de Pisões ou do Alto Rabagão, que é alimentada pelo rio Rabagão, que foi concluída em 1964, têm uma altura de 94m e um comprimento de coroamento de 1.897 metros, fazendo uma enorme albufeira.

Algumas aldeias por que passámos como Cervos que nos oferece uma arquitectura muito característica das aldeias transmontanas, com casas em pedra antiga onde podemos apreciar as sacadas trabalhadas, solares de família e os antigos espigueiros tão característicos da zona, tal como o forno comum da aldeia utilizado ainda pelas poucas famílias da localidade.

Em seguida mergulhamos de um momento para o outro dentro da serra em direcção a Braga. A estrada que nos guia, convida a reduzir a velocidade e a apreciar as vistas que desde logo se tornam panorâmicas. Embora já noite a Barragem de Venda-a-Nova faz adivinhar paisagens de enorme beleza, dando-nos a certeza de em breve lá voltarmos.

Por vezes a estrada oferecia-nos zonas de miradouro a pequenas vilas e aldeias lá em baixo e passados mais alguns quilómetros chegámos a Braga, onde num escaparate de estacionamento, jantámos o famoso e saboroso cosido à transmontana, (com carnes só de fumeiro), em pleno centro da cidade.

Após o jantar resolvemos passear por todo o centro da cidade, sob chuva e vento refrescantes, sendo um verdadeiro prazer percorrer a Rua Direita, contornar a Sé de Braga e visitar algumas das suas praças mais emblemáticas. Depois a bordo novamente da nossa autocaravana rumámos ao Sameiro onde pernoitámos virados para o Santuário de Nossa Senhora, mais uma vez debaixo de chuva, muito granizo e vento forte. Uma verdadeira delícia...