Salvador Dalí, o génio surrealista

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol nasceu às 8h45 da manhã de 11 de Maio de 1904, no número 20 da rua Monturiolin da vila de Figueres.

Seu irmão mais velho, também chamado Salvador (nascido em 12 de Outubro de 1901), havia morrido de gastroenterite, nove meses antes, em 1 de Agosto de 1903. Seu pai, Salvador Dalí i Cusí, era um advogado de classe média, figura popular da cidade e senhor de um carácter irascível e dominador e sua mãe, Felipa Domenech Ferrés, que sempre incentivou os esforços artísticos do filho. Dalí também teve uma irmã, Ana Maria, que era três anos mais nova. Em 1949, ela publicou um livro sobre seu irmão, "Dalí visto por sua irmã".

Salvador Dalí foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista, chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e o seu trabalho mais conhecido, "A Persistência da Memória", foi concluído em 1931.

Salvador Dalí teve também trabalhos artísticos no cinema, escultura, e fotografia. Ele colaborou com a Walt Disney na curta metragem de animação "Destino", que foi lançado postumamente em 2003, e ao lado de Alfred Hitchcock, realizou o filme "Spellbound".

Dalí insistiu muito na sua "linhagem árabe", alegando que os seus antepassados eram descendentes de mouros que ocuparam o sul da Espanha por quase 800 anos (711 a 1492), e atribui a isso, o seu amor de tudo o que é excessivo e dourado, a sua paixão pelo luxo e seu amor oriental por roupas.

Tinha uma reconhecida tendência para atitudes e realizações extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que por vezes aborrecia aqueles que apreciavam a sua arte, ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, já que sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho artístico.
Dalí frequentou a Escola de Desenho Municipal, onde iniciou a sua educação artística formal. Em 1916, durante umas férias de Verão em Cadaquès, passadas com a família de Ramon Pichot, descobriu a pintura impressionista. Pichot era um artista local que fazia viagens frequentes a Paris. No ano seguinte, o pai de Dalí organizou uma exposição dos desenhos a carvão do filho na sua casa de família. Sua primeira exposição pública ocorreu no Teatro Municipal em Figueres em 1919.

Em Fevereiro de 1921 sua mãe morreu de câncer da mama. Dalí, então com dezasseis anos de idade, disse depois da morte de sua mãe: "Foi o maior golpe que eu havia experimentado em toda a minha vida. Eu adorava-a… eu não podia resignar-me à perda de um ser com quem eu sempre contei para tornar invisíveis as inevitáveis manchas de minha alma".

Após a morte de Felipa Domenech Ferrés, o pai de Dalí casou-se com a irmã de falecida esposa. Dalí não ressentiu este casamento, como alguns pensam, pois ele tinha um grande amor e respeito pela tia.
Em Outubro de 1921, Dalí foi viver em Madrid, onde estudou na Academia de Artes de San Fernando. Já então Dalí chamava a atenção nas ruas como um excêntrico cabelo comprido, um grande laço ao pescoço, calças até ao joelho, meias altas e casacos compridos.
O que lhe granjeou maior atenção por parte dos colegas foram os quadros onde fez experiências com o Cubismo, embora na época destes primeiros trabalhos cubistas ele provavelmente não compreendesse por completo este movimento, dado que tudo o que sabia de arte cubista provinha de alguns artigos de revistas e de um catálogo que Ramon Pichot lhe oferecera, visto não haver artistas cubistas, neste tempo, em Madrid.

Fez também experiências com o Dadaísmo, que provavelmente influenciou todo o seu trabalho. Nesta altura, tornou-se amigo íntimo do poeta Federico García Lorca e de Luis Buñuel, cineasta espanhol. Dalí foi expulso da Academia em 1926, pouco tempo depois dos exames finais, quando declarou que "ninguém na Academia era suficientemente competente para o avaliar". Seu domínio de competências na pintura está bem documentado, nesse tempo, em sua impecável e realista pintura "Cesto de Pão", de 1926.

Em 1924 o ainda desconhecido Salvador Dalí ilustrava pela primeira vez um livro, o poema catalão "Les bruixes de Llers" ("As bruxas de Llers") de seu amigo, o poeta Carles Fages de Climent. Foi nesse mesmo ano que fez a sua primeira viagem a Paris, onde se encontrou com Pablo Picasso, que era reverenciado pelo jovem Dalí.

"Vim vê-lo antes de ir ao Louvre", disse-lhe Dalí. "Fez você muito bem", respondeu-lhe Picasso. O artista mais velho já tinha ouvido falar bem de Dalí através de Juan Miró. Nos anos seguintes, realizou uma série de trabalhos fortemente influenciados por Picasso e Miró, enquanto ia desenvolvendo o seu próprio estilo.

Algumas tendências no trabalho de Dalí que iriam permanecer ao longo de toda a sua carreira, já eram evidentes na década de 20, sendo inspirado principalmente pelo trabalho de grandes pintores como Raphael, Bronzino, Francisco de Zurbarán, Vermeer, e Velázquez. As exposições de seus trabalhos em Barcelona despertaram grande atenção e uma mistura de elogios e debates por parte dos críticos.

Nesta época, Dalí deixou crescer o bigode, que se tornou emblemático, com o estilo baseado no pintor espanhol do século XVII, Diego Velázquez. Em 1929, colaborou com o cineasta espanhol Luis Buñuel na curta-metragem "Un Chien Andalou", e conheceu, em Agosto, a sua musa e futura mulher, Gala Éluard, cujo nome verdadeiro é Elena Ivanovna Diakonova, nascida em 7 de Setembro de 1894, em Kazan, Tartária, Rússia.
Gala Éluard era uma imigrante russa dez anos mais velha que Dalí, casada na época com o poeta surrealista Paul Éluard, amigo da Dalí. Juntou-se oficialmente ao grupo surrealista no bairro parisiense de Montparnasse, embora o seu trabalho já estivesse há dois anos sendo influenciado pelo surrealismo. Em 1934 Dalí e Gala, que já viviam juntos deste 1929, casaram-se numa cerimónia civil e voltam a Espanha.

Com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Dalí fugiu e recusou-se a alinhar com qualquer grupo politico. Em 1940, no início da II Guerra Mundial, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos da América, onde viveram durante oito anos. Em 1942, ele publicou a sua autobiografia, "A Vida Secreta de Salvador Dalí". Após o seu regresso à Catalunha e após a Segunda Guerra Mundial, Dalí tornou-se mais próximo do regime de Franco.

Foi na sua amada Catalunha que Dalí viveu o resto da vida. O facto de ter escolhido viver em Espanha enquanto o país era governado pelo ditador fascista Francisco Franco trouxe-lhe críticas dos progressistas e de muitos outros artistas da época.

Em 1960, Dalí começou a trabalhar no Teatro Museu Dala Salvador Dalí, na sua terra natal em Figueres. Foi o projecto de maior vulto de toda a sua carreira e o principal foco de suas energias até 1974, ano da sua inauguração, embora continuasse a fazer acrescentos até meados dos de 1980.

Gala morreu em Port Lligat na madrugada de 10 de Junho de 1982. Desde então, Dalí ficou profundamente deprimido e desorientado, perdendo toda a vontade de viver. Recusava-se a comer, tendo ficando desidratado, teve de ser alimentado por uma sonda nasal.

Em 1980, um cocktail de medicamentos não prescritos, danificou o seu sistema nervoso, provocando assim um inoportuno fim a sua capacidade artística. Aos 76 anos, Dalí sofre tremores terríveis do seu lado direito, causado pela doença de Parkinson. Mudou-se de Figueres para o castelo em Pubol, que comprara para Gala.

Em 1984, deflagrou um incêndio no seu quarto em circunstâncias pouco claras, talvez tenha sido uma tentativa de suicídio de Dalí, talvez tenha sido uma tentativa de homicídio de um empregado, ou talvez simples negligência pelo seu pessoal, não se sabendo ao certo o que realmente aconteceu. Mas Dalí foi salvo e levado para Figueres, onde um grupo de amigos, patronos e artistas se assegurou de que o pintor vivesse confortavelmente os seus últimos anos no Teatro Museu.

Em Novembro de 1988, Dalí foi levado ao hospital com insuficiência cardíaca e em 5 de Dezembro de 1988 foi visitado pelo rei Juan Carlos da Espanha, que confessou ter sido sempre um grande admirador de Dalí.

Em 23 de Janeiro de 1989, morreu de insuficiência cardíaca em Figueres, com a idade de 84 anos, e está sepultado na cripta do seu Teatro Museu Dalí, em Figueres. Do outro lado da rua, fica a igreja de Sant Pierre, onde ocorreu o seu funeral, a sua primeira comunhão e o seu baptismo, a poucos metros da casa onde nasceu.

Sites: Wapedia / Diário Universal – O Percurso da História


Teatro Museu Gala Salvador Dalí

Costuma-se dizer que “o melhor fica sempre para o fim”. Assim foi, guardámos a visita a este magnífico museu para o final das nossas férias de Natal... O Teatro Museu Gala Salvador Dalí, é uma Casa Museu, que há muito queria visitar e nunca tinha tido oportunidade para o fazer. A nossa visita a este museu, deixou-nos encantados com todo o espectáculo que se vive no seu interior, que é absolutamente incrível!

O museu situado em Figueres, terra natal de Dali, foi todo criado pelo próprio Salvador Dalí com a ajuda de um arquitecto seu amigo, a partir das ruínas do teatro da cidade, deixadas pelas bombas da Guerra Civil Espanhola. O museu abriu em 1974 e foi ampliado nos anos 80 e é o mais visitado museu de Espanha, depois do Museu do Prado. É uma obra-prima e no seu interior tudo se pode considerar Arte: pinturas, esculturas, jóias e até a própria arquitectura do edifício...
Este Museu foi também o “sonho paranóico” de Salvador Dalí que, como ele próprio referia, era a forma como desejava que qualquer visitante saísse depois de visitar o seu Teatro Museu, como saindo de um verdadeiro sonho paranóico. Desde a entrada, até à saída o museu possui pormenores que só vindos de um génio poderiam ser idealizados e realizados.

A ida ao Teatro Museu Salvador Dalí é sem duvida uma experiência alucinante, para além das fantásticas obras do mestre do Surrealismo, todo o museu é por si só uma experiência surreal, mas também uma experiência maravilhosa. O próprio fez questão de o decorar com as mais bizarras figuras, instalações, esculturas e de demais objectos de arte que realizou propositadamente para o rechear.

Esta Casa Museu contém a maior e mais completa colecção de obras de Salvador Dalí do mundo. Nem todas as obras são do pintor surrealista e nenhum dos seus melhores trabalhos se encontra ali. Além de pinturas de todas as décadas da sua carreira, também abriga inúmeras esculturas, colagens e tapeçarias.

A meio da exposição podemos encontrar uma sala/quarto no mínimo bizarra e excêntrica, homenagem do pintor a uma actriz americana, que para se observar a real intenção do artista, quando o concebeu, tem que se subir uma escada e quando se observa o conjunto de cima podemos ver o rosto da actriz Mae West. Um espanto!...

O próprio edifício do museu é também... surrealista. As pinturas e esculturas podem ser classificadas entre inusitadas ou completamente bizarras, mas sem dúvida belas e primorosas obras de arte... Um dos meus quadros favoritos de Salvador Dalí, "A Persistência da Memória", que também lá se encontrava, ou melhor, uma miniatura algo diferente e mais pequena, baseada no original, porque o verdadeiro não se encontra neste museu e é muito maior. Nesta obra, as imagens flácidas dos relógios que se dobram, mas não se desfazem, e que evocam a obsessão humana com a passagem do tempo e com a memória, foi segundo Dalí, um quadro que levou apenas 2 horas para a ser pintado. Gala, a sua mulher e "Musa", ao voltar do cinema, quando o avistou, afirmou que "quem visse esta pintura jamais a esqueceria".

Logo à entrada podemos ver o Cadillac preto, designado de "Táxi Chuvoso" e uma escultura do artista, que é um monumento apropriado para o homem que ali está sepultado. Na ampla sala que se segue avista-se um quadro que preenche toda a parede e que parece convidar a entrar naquele “sonho”. Depois é só vivê-lo em catadupa... De sala em sala...De corredor em corredor...

Nesta grande sala, podemos ver ainda ao fundo, ao centro de três arcadas e ao fundo da arcada central, um quadro deveras surpreendente, que parece feito por um qualquer programa de computador próprio para trabalhar imagens, que só um génio como Dalí seria capaz de o conceber. Trata-se de uma imagem que no centro apresenta um nu perfeito de Gala, sua mulher, mas ao tentarmos fotografa-lo, aparece-nos a imagem de Abraham Lincoln, décimo sexto presidente dos Estados Unidos da América, e deixa de se ver Gala. Uma maravilha!...

Qualquer canto é especial, porque em todo lado há ARTE. As três horas que passaram a correr, em que viajámos por aquele mundo tão próprio de Salvador Dalí, levou-nos a sair pensando... “Hei-de cá voltar... muitas vezes”... É assim o Museu Dalí... Quando se sai, a imensa sensação de preenchimento total ou quiçá vazio, é inevitável!...


Figueres - A Terra Natal de Salvador Dalí

A viagem de regresso pelo Sul de França, fez-se durante toda a tarde e principio da noite do primeiro dia do ano de 2009. Atravessámos todo o Sul de França, com algumas breves paragens para se fotografar a paisagem ou para se petiscar qualquer coisita. No caminho também foram feitas as compras finais de perfumes e cosméticos à base de lavanda, de que tanto gosto.
No final do dia, já depois da noite ter caído, detivemo-nos na cidade de Figueres já em Espanha, perto da fronteira com a França. A noite em Figueres esperava-nos numa calma profunda, não se vendo vivalma. Depois de várias voltas pela cidade para se fazer o seu reconhecimento, foi escolhido para a pernoita, um grande e sossegado parque de estacionamento junto ao Parc Bosc, a cerca de 120 metros do Teatre Museu Gala Salvador Dalí, que no dia seguinte se revelou buliçoso devido ao movimento frenético de carros que chegavam e partiam a todo o momento.

Figueres, o local que viu nascer o famoso pintor Salvador Dalí, que também ali morreu, em 1989, faz parte da região que foi também uma espécie de pano de fundo para grande parte de sua obra. Situa-se na fértil planície fluvial de Empordà na província de Girona, no nordeste de Espanha, perfeitamente localizada a poucos quilómetros das praias da Costa Brava, abençoadas pelo glorioso sol da Catalunha, e perto da sua capital, pois a cidade fica a cerca de 100 km ao norte de Barcelona.

Figueres encontra-se submersa na cultura catalã, que é celebrada com fervor através de uma série de festivais, eventos e exposições ao longo do ano. É uma cidade muito agradável, com suas ruelas e ruas movimentadas, cheias de turistas que aqui se deslocam para visitar, tal como nós, o "Teatre Museu Gala Salvador Dalí".
As ruas de Figueres estão repletas de excelentes restaurantes catalães que servem delícias da gastronomia local com fortes influências espanholas e francesas, pelo que não deixámos a cidade sem experimentar duas das suas afamadas paellas.
A cidade tem excelentes lojas de recordações, com réplicas das obras de Dalí, de onde não saí sem comprar um dos célebres relógios moles de Dalí. A animação nocturna em Figueres é também de grande qualidade, com entretenimento para todos os gostos. A quinta-feira é dia de mercado em Figueres, que é a oportunidade ideal para comprar e experimentar os seus deliciosos produtos regionais.

La Moyenne Corniche



Quer seja a partir do cinema, da história da actriz Grace Kelly que de um dia para o outro se transformou em princesa do Mónaco, ou a partir da visita às cidades da Côte d'Azur, a Grande Corniche para muitos é apenas uma estrada. Mas não...

Entre Nice e Menton montanhas descem directamente para o Mediterrâneo. Três estradas foram construídas entre estas duas cidades. A estrada de la Corniche Grande, já percorrida por nós numa anterior viagem até Génova, é construída a grande altitude, por vezes com altitudes superiores a 400 metros, com belíssimas vistas para o mar e cidades próximas.

A Moyenne Corniche é igualmente interessante, e foi a percorrida por nós nesta viagem, de onde se desfrutam magníficas paisagens. A estrada de la Corniche Baixa (ou Route du littoral) é a que percorre todas as cidades e todas as aldeias do litoral, junto ao mar Mediterrâneo.

La Moyenne Corniche é a majestosa estrada que tal como o vento, cavalga a crista montanhosa junto à costa, a partir de Nice até Este de Menton e que nós na viagem de regresso a casa tivemos tempo para melhor observar, pois já tínhamos visitado as cidades à ida até Menton. É uma estrada sem paralelo, constituída por uma elegante estrada a meia encosta, que liga à estrada direita e abaixo da costa, a "Basse Corniche", no sopé da serra.

Dela se avistam várias vilas e cidades maravilhosas, desde o Mónaco, como Le Cap Ferrat e Villefranche-sur-Mer, que fica numa íngreme colina que contorna um curvo porto natural, sendo esta talvez a melhor imagem para descrever Villefranche-sur-Mer, um dos destinos mais aconchegantes da Côte d'Azur.

Protegida por uma cidadela do século XVI, Villefranche acolhe os visitantes em ruas sinuosas que descem do alto da colina, em direção ao mar, cercadas por muros. Um pouco mais adiante, a oeste, encontra-se a cidade vizinha de Villefranche, Beaulieu-sur-Mer, que é um belo lugar que já fez parte de Villefranche, da qual se separou em 1891, tornando-se independente.

Depois encontramos várias lindas cidades, como Nice, Vence, Saint Paul de Vence e Cagnes sur Mer, Antibes e Juan les Pins, Le Cap d'Antibes, Cannes e muitas outras até Saint Tropez.

Mas a Grande Corniche é também um parque com um labirinto de trilhas, com uma "Maison de la Nature" para informação de visitantes, oferecendo uma grande e detalhada diversidade de trilhos nas montanhas do Mercantour para caminhadas para observação de paisagens de tirar o fôlego, nas arredondadas colinas que estas montanhas formam.

Para além de tudo isto, para os amantes das observações de aves, o Parc de la Grande Corniche oferece a oportunidade de marcar uma águia ocasional, uma grande coruja, ou outra ave que paire por cima de nós.

Desde as estradas em direcção ao mar, do litoral de San Remo até à península de St Tropez, este novelo de estradas brilham à distância. Há até quem diga que num dia muito claro, talvez mesmo da ilha de Córsega, podem observar-se estas estradas, de forma sinuosa e fraca flutuando sobre o horizonte das curvaturas montanhosas do litoral continental...

Menton

Menton é uma pequena cidade vizinha do principado do Mónaco que tem um estilo Mediterrâneo, com uma forte influência italiana (a fronteira é apenas a três quilómetros de distância). A cidade velha supervisiona a baía, que se situa entre Cap Martin e Cap Mortola.

Menton é uma estância balnear formada pela Igreja de São Miguel e o seu casario muito característico que formam um todo de uma formosura quase indescritível. A cidade no Inverno, mantém usualmente numerosos eventos culturais.

Até meados do século XIX, Menton fazia parte do Principado do Mónaco, mas a cidade foi separada em 1860, tornando-se parte da França. Rumo ao oeste a estrada leva à Roquebrune e Cap Martin. Roquebrune é uma aldeia medieval que mantém um castelo muito antigo, do século X, que não visitámos por falta de tempo.

O Fim de Ano no Mónaco


Para passarmos o nosso dia e noite de final de ano de 2008, foi escolhida a zona junto à Marina de Monte Carlo, também designada de Porto de Hércules. À volta do Porto de Hércules, estende-se o bairro de La Condamine caracterizado por uma actividade comercial intensa, com muitas cafés, restaurantes e esplanadas.
La Condamine é o segundo bairro mais antigo do Mónaco, e o seu nome provem da Idade Média e significa o solo arável ao pé de uma aldeia ou de um castelo. Primeiro, encontra-se o mercado coberto da Place d'Armes, totalmente renovado, que proporciona um espaço de convívio, ao mesmo tempo moderno e funcional. Perpendicular à artéria comercial da rua Grimaldi, estende-se a zona de peões da rua Princesse Caroline constituída de numerosas lojas, ordenamentos paisagísticos e esplanadas de cafés, que revela ser uma passagem agradável para o Quai Albert I e a zona do porto.

No coração de uma baía natural onde os navegadores fenícios já tinham por hábito fazer escala, o Porto do Mónaco faz parte da cidade desde que o Príncipe Alberto I, instituiu em 1900 uma comissão encarregue pela construção de um porto que fornecesse um abrigo aos vários iates de recreio estacionados na Côte d'Azur, constituindo também uma saída para o comércio da região.
Nos anos 60, foram empreendidos estudos para melhorar a protecção do plano de água, dispondo, de diques implementados ao largo, sendo feito também um novo dique destinado a proteger o porto das marés provenientes do sector Leste. Estes estudos acabaram por levar, nos anos 80, à implementação de um procedimento chamado "muro de água fixo", através da construção de um dique semi-flutuante de 352 metros de comprimento.

As obras terminaram em Julho de 2002, tornando o porto de la Condamine ou Porto Hércules, com estas novas infra-estruturas de acolhimento, num dos maiores portos de recreio do Mediterrâneo, e contribuindo assim para o desenvolvimento da paisagem urbana e a economia do bairro de la Condamine, actualmente principal eixo do desenvolvimento económico do Principado do Mónaco.
Na foz do vale Vallon des Gaumates encontra-se a Capela Votiva, dedicada à santa padroeira do Mónaco e da Família Principesca. A capela da Santa Devota, foi construída no século XI, onde decorrem, todos os anos, no dia 27 de Janeiro, cerimónias em sua memória.

Para nós esta singela capela, serviu-nos de abrigo no final da tarde de fim de ano, que decorreu muito chuvosa, permitindo-nos assistir a uma belíssima missa rezada por um padre já ancião, com um ar boníssimo, que no final da homília, veio para a porta da capela, não só despedir-se de todos os fiéis que à missa assistiram, mas também desejar a todos um Bom Ano de 2009.

Foi aqui neste glamoroso local, que ainda durante o dia, escolhemos o café/restaurante mais bonito e simpático da Marina de Monte Carlo, onde iríamos passar a nossa noite de réveillon. Aqui ao início da noite, fomos carinhosamente recebidos por todos os funcionários e pelo dono do restaurante, onde durante toda a noite fomos mimados, sem esquecer a simpatia das restantes pessoas que tal como nós tinham escolhido o mesmo local para passar o réveillon.

Esta escolha, resultou melhor do que inicialmente tinhamos previsto, resultando num belíssimo final de ano, com o restaurante/bar cheio de gente jovem onde se degustou um menu de cozinha francesa absolutamente primoroso, que mais parecia não ter fim, regado com champanhe da melhor qualidade.

A Marina de Monte Carlo, é um local sinónimo de festa e famoso pelos quatro cantos do planeta por aliar um mar de um azul paradisíaco, gente bonita, restaurantes primorosos e uma noite dentro das casas nocturnas preparadas para o réveillon, para lá de agitada. No entanto e talvez devido ao tempo chuvoso que se fazia sentir, a cidade estava calma. Uma calma tão gostosa que me é difícil pensar nestes momentos lá vividos, sem uma enorme saudade.

Aqui onde milionários de todo o planeta, gostam de se encontrar, sem contudo se fazerem notar, tornando o local de uma simplicidade e tranquilidade impar, sem contudo deixar de ser ao mesmo tempo glamoroso. Afinal, este local proporciona o tradicional réveillon à beira-mar, com direito a contagem regressiva num grande ecrã situado na encosta onde se encontra o palácio, fogos de artifício, que em meu entender são bastante pobres para o local em causa, embora o som do buzinão que provem de centenas de iates, que se faz tradicionalmente ouvir à meia noite, seja um espectáculo fascinante e inesquecível.

Após a saída do restaurante, continuámos a festa no exterior, com as muitas actividades preparadas pelo principado, para o Natal e o Fim do Ano. Além de uma pista de gelo, encontrámos várias lojinhas de artesanato e de comes e bebes, como é comum em todas as cidades de França na época de Natal. A Vila Natal em tudo idêntica à sua homónima da nossa vila de Óbidos, garantia aos menos endinheirados uma festa tão ou mais divertida que a festa vivida dentro dos locais de caros réveillons...

O Grand Casino do Mónaco

Num mero rochedo no extremo leste da Provença, numa cidade escarpada sobre o Mediterrâneo, que se tornaria num território de inevitável sedução, num “principado de sonho”, e num país quase “irreal”, nasce o primeiro Casino de Monte Carlo.

Na segunda metade do século XIX, o Mónaco possuía uma economia frágil e instável, constantemente abalada pelas extravagâncias de seus governantes. Coube ao príncipe Carlos III, encomendar ao famoso arquitecto Charles Garnier, (também responsável pela Ópera de Paris), o projecto do grandioso edifício que abrigaria o primeiro Casino de Mónaco, a ser instalado no alto de um penhasco com uma maravilhosa vista da marina.

Inaugurado em 1878, ao qual deram mais tarde o nome de Casino de Monte Carlo, em honra do príncipe Carlos III, os seus luxuosos salões abrigavam visitantes nobres, milionários e aventureiros vindos de toda a parte para tentar a sua sorte, neste que acabou por ficar conhecido como o “pátio de recreio” dos ricos da época.

Graças ao seu casino, o Mónaco alcançou a estabilidade económica e financeira, apesar de ter a sua reputação seriamente abalada, demorando anos para recuperá-la. O sucesso do casino foi tal, que proporcionou ao príncipe lucros imensos e possibilitou a abolição dos impostos em 1869. Hoje o Casino de Monte Carlo é considerado a maior atracção do principado, recebendo desde turistas a grandes jogadores com acesso a exclusivas salas de apostas.

O casino foi concebido para ser um local dedicado à "arte dos jogos de azar", e trata-se de um edifício impressionante. O seu interior, em estilo "Belle Époque", lembra o tempo em que aqui se encontravam príncipes, aristocratas e aventureiros. Está rodeado de magníficos jardins e oferece uma vista soberba sobre a baía de Monte Carlo.

O edifício foi construído em 1863, com vista para o mar Mediterrâneo. No seu interior destacam-se: O "Atrium", pavimentado a mármore e com paredes de mármore pintadas a ouro, é cercado por 28 colunas em ónix e conduz ao auditório da ópera.
Actualmente as slots machines ocupam a Salle Blanche, e as roletas a Salle Europe, que por um preço módico se podem visitar, sendo o jogo, no entanto, para os mais afortunados. As salas destinadas ao jogo, compreendem uma sucessão de várias divisões, que nos apresentam vitrais, decorações fantásticas, admiráveis esculturas, várias pinturas alegóricas e candeeiros em bronze.

O Auditório da Ópera, também chamado "Salle Garnier", está decorado a vermelho e dourado, com uma profusão de baixos-relevos, frescos e esculturas. Aqui, há mais de um século, decorrem espectáculos internacionais de ópera, ballet e concertos de música.

Se olharmos para cima, nos telhados, podemos observar um impressionante trabalho de Victor Vasarely (pintor e escultor húngaro radicado na França, que faleceu em 1997, considerado o "pai da OP ART", abreviatura da Optical Art), com peças cerâmicas, geométricas e multicoloridas, que decoram os telhados do Centro de Convenções e do Auditório.

A parte de trás do Casino, em frente ao mar, está rodeada de terraços ensolarados. Em todo o exterior do casino podemos ver magníficos canteiros e relvados intercalados com lagos e repuxos de água, formando jardins de encosta que descem suavemente em direcção da rua comercial da cidade, formando uma perspectiva muito admirada por visitantes de todo o mundo.

Mónaco, o Rochedo mítico




Chegámos ao Mónaco no dia 30 de Dezembro. Embora a distância entre Nice e o Mónaco seja curta, a nossa chegada ao Mónaco fez-se já de noite, e como é nosso custume, fomos procurar o lugar onde pernoitar.
Parques para autocaravanas no Mónaco não existem ao ar livre, só existindo para estas, um parque subterrâneo, onde não se pode pernoitar. Assim sendo e depois de uma boa visita pela cidade de Monte Carlo, que é fabulosa à noite e que a essa hora já se encontrava vazia de trânsito e de gente, rumámos à cidade vizinha de Menton, onde encontrámos um bom parque a meia encosta, virado para o Mediterrâneo e com vista para uma das praias privadas da cidade. Aqui neste lugar bem sossegado, ficámos estacionados duas noites, fazendo o percurso para Monte Carlo de mota.
O Principado do Mónaco e o seu famosíssimo Rochedo estende-se entre a França e o Mediterrâneo. O prestígio e o renome deste atraente território encravado no território francês dos Alpes-Marítimos, vai muito para além das suas fronteiras, a propósito das quais a escritora Colette dizia que eram feitas de flores.

O espaço é limitado (195 ha), mas o sítio é encantador, ampliado em mais de 30 hectares entre 1969 e 1972 com terrenos ganhos ao mar, estende-se cerca de 3 km, ao longo da costa provençal. Protegido pelos contrafortes dos Alpes Marítimos ao longo de uma estreita faixa costeira de quatro quilómetros, (limitada pelos contrafortes montanhosos da Tête de Chien e do Monte Agel), com o seu clima temperado particularmente ameno e uma excepcional exposição ao sol de mais de 300 dias por ano, fazem do Mónaco uma terra de acolhimento por vocação.

O enclave está dividido em quatro zonas: A cidade velha, chamada de Mónaco Ville, é o local onde está o Palácio Real e o prédio do governo; La Condamine está situada aos pés da cidade velha, junto ao porto e com casas residenciais. A poucos minutos de La Condamine, está a capital Monte Carlo, cidade frequentada por gente famosa, artistas, desportistas de fama mundial e playboys europeus, possuindo diversos casinos e hotéis luxuosos. A última parte é o subúrbio industrial, chamado de Fontvieille.

Mónaco é um dos mais luxuosos locais de turismo do mundo. O minúsculo Principado é formado por quatro pequenos distritos, sendo o maior deles Monte Carlo, onde fica o famoso casino, devido ao qual o principado é sobretudo conhecido.

O primeiro casino, fundado em 1856, foi construído num promontório situado a norte do porto da antiga cidade, à qual deram mais tarde o nome de Monte Carlo, em honra do príncipe Carlos III. Este casino proporcionou ao príncipe lucros imensos e o sucesso foi tal que possibilitou a abolição de impostos em 1869.

Ainda hoje o Mónaco é um paraíso fiscal para alguns privilegiados, e os seus habitantes têm o rendimento per capita mais elevado do mundo. Conquistando algumas terras ao mar, o principado aumentou a sua superfície em 30%, mas mesmo assim é inferior ao Central Park de Nova York.

É o menor pais do mundo, depois da cidade do vaticano. Independente desde o século XIII, com alguns períodos de interrupção. Monte Carlo é uma cidade famosa pela sua sofisticação, pelos seus casinos e porque nas suas ruas se realiza o Grande Prêmio do Mónaco de Fórmula 1, sem dúvida um dos maiores eventos do país. O circuito pode ser percorrido por qualquer um de nós, o que é particularmente emocionante.

O rochedo do Mónaco, projectado sobre as águas do Mar Mediterrâneo, serviu de refúgio a várias populações primitivas. Os lígures, primeiros habitantes sedentários da região, eram montanheses acostumados a trabalhar em condições adversas.

A costa e o porto eram a saída para o mar de um destes povoados lígures, Oratelli de Peille. A região foi ocupada por fenícios, gregos e cartagineses. Inicialmente o Mónaco foi uma colónia grega, que posteriormente foi conquistada pelos romanos, no final do século II a.C..

Em 1191, Génova toma posse do território e, em 1297, o Sacro Império Romano-Germânico outorga o enclave a uma importante família genovesa, os Grimaldi, forçada ao exílio. A família francesa dos Goyon-Matignon sucede aos Grimaldi, adopta o seu nome e alinha Mónaco com a França.

Em 1793, a Monarquia Grimaldi é deposta pelo regime revolucionário da França, que anexa Mónaco. A família real retorna com a queda de Napoleão Bonaparte, em 1815. No ano seguinte, o Congresso de Viena coloca o Mónaco sob protecção do Reino da Sardenha, mas o território volta ao domínio francês em 1848.

Em 1861, um tratado restaura a soberania dos Grimaldi, em 1918, que prevê que a sucessão ao trono tenha a aprovação do governo francês e que, se a casa Grimaldi for extinta, o Principado se tornará ao protectorado francês...

Em 1962, o príncipe Rainier III outorga uma nova Constituição e estabelece um Parlamento eleito por sufrágio universal. O governo passa a ser dirigido por dois ministros, que devem ser cidadãos franceses e três conselheiros representantes do príncipe. Em 1993, o país torna-se membro da ONU e integra a União Europeia.

Apesar dos dramas familiares ilustrados por numerosos conflitos e até alguns assassinatos, a família Grimaldi, que festejou 700 anos, em 1997, é a dinastia mais antiga do mundo. O aniversário é em 8 de Janeiro, mas o apogeu das comemorações acontece durante três dias de festejos em Agosto.

O principado de Mónaco é um lugar ímpar, que nos remete a um mundo encantado, onde tudo funciona e onde“ todos são felizes”. O luxo e a beleza, principalmente a segurança faz-nos sentir como num conto-de-fadas...