Arraiolos, a vila branca

Depois de sairmos de Avis, rumámos para Sul, pois pretendíamos visitar a Marina da Amieira, infra-estrutura recente e que ainda não conhecíamos, que aproveita o belo espelho de água do grande lago artificial da barragem do Alqueva. Queríamos ainda visitar Arraiolos e depois desta visita, a passagem por Évora fez-se rapidamente para chegarmos à Amieira ainda cedo.
A nossa ideia no essencial é percorrer sempre que possivel o Alentejo, quase que sem destino, explorando o delicioso interior português, suas paisagens de campos amarelados, seus azeites e cozinha riquíssima e as paisagens recortadas por morros e castelos medievais.

A vila de Arraiolos espreguiça-se num dos mais altos montes da região de Évora, situada no interior sul do país, na vasta região alentejana, é hoje um concelho rural caracterizado por estar dominado por uma muralha de forma elíptica.

Segundo Cunha Rivara*, historiador Arraiolense, na sua obra "Memórias da Vila de Arraiolos", refere que "a abundância de vestígios relacionados com o final do Neolítico ou mesmo com o calcolitico são um sinal de uma significativa ocupação humana a partir do IV Milénio a.C. e, provavelmente, na proto-História, o grande local de habitat corresponderia já à actual elevação onde se localiza o Castelo de Arraiolos".

A fundação desta vila é atribuída, por uns, aos galo-celtas, no século IV a. C., sob o nome de Calantia, e, por outros, como Cunha Rivara* "aos sabinos, tusculanos e albanos, que viveram nesta área, antes de Sertório, no ano 200 a. C.".

Pensa-se que esta vila já existia a partir da ocupação grega, no século II a. C., de modo que o seu topónimo terá derivado do nome de um possivel governador ou um capitão grego de nome Rayeo ou Rayo, que nestas terras foi senhor, "Terras de Rayo", e que, posteriormente, por sucessivas transformações viria a dar Rayolos e, depois, Arrayolos.

Com a chegada dos povos nórdicos, esta vila foi destruída e despovoada. Em 1217, D. Afonso II doou a vila de Arraiolos ao bispo de Évora, concedendo-lhe licença para aí construir um castelo, que não chegou a ser edificado. D. Afonso III recuperou a vila para a coroa e D. Dinis reconstruiu-a, e deu-lhe o primeiro Foral em 1290, mandando edificar o seu Castelo em 1305, e dentro dele mandou também construir um paço.

D. Fernando I doou a vila de Arraiolos a D. Álvaro Pires de Castro, irmão de D. Inês de Castro, e mais tarde a vila foi doada por D. João I a D. Nuno Álvares Pereira, em 1387, que também recebeu o título de Conde de Arraiolos.

Foi condado de D. Nuno Álvares Pereira, 2º conde de Arraiolos, a partir do ano de 1387, onde antes de recolher ao Convento do Carmo em Lisboa, o "Condestável do Reino", permaneceu longos períodos da sua vida.

Em 1511 recebeu novo foral de D. Manuel I. Durante as Guerras de Independência, os espanhóis tomaram esta vila e incendiaram o castelo. Já no reinado de D. João IV, em plena época da "Restauração da Independência", o castelo foi remodelado, mas algumas décadas depois estava ao abandono e o terramoto de 1755, completou a ruína que já apresentava. Mais tarde, em 1910, foi classificado como Monumento Nacional, e ali foram executadas obras de recuperação, a cargo da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

No que se refere ao seu património histórico e monumental, vila é coroada pelo castelo, do século XIV. O Castelo de Arraiolos, destaca-se num monte cónico que lhe serve de pedestal. É um recinto rectangular, com torres nos ângulos e com uma torre de menagem. Aqui também se pode visitar a enorme Igreja do Salvador, construída no século XVI, rodeados de grandes muralhas.

Vale ainda a pena admirar o pelourinho de mármore de Estremoz, a Igreja da Misericórdia, com os seus azulejos do século XVIII, ou ainda o característico Chafariz dos Almocreves, uma fonte rural que dava água à população e servia de bebedouro para animais e de lavadouro público na parte de trás.

A Torre do Relógio é manuelina e no centro do recinto amuralhado possui uma antiga igreja paroquial, que é um edifício quinhentista que se encontra contudo bastante danificado. São ainda de destacar a Igreja da Misericórdia, datada do século XVI, e o Solar da Sempre-Noiva, do século XVII, que constitui uma peça importante da arquitectura civil da época, apresentando janelas de estilo manuelino com influências mouriscas.

É obrigatório um passeio a pé pelas suas ruas limpas, sinuosas e estreitas, com casas imaculadamente brancas, de fachada impecável que vão alternando entre molduras amarelas e azuis e largos que convidam à preguiça.

No artesanato registam-se: a arte pastoril, a cestaria e os tapetes de Arraiolos, cuja arte remonta, no mínimo, ao século XVII e que ainda mantêm o seu aspecto tradicional, sendo bordados com fios coloridos de lã sobre tela de linho ou estopa com um ponto designado de arraiolos ou grego ou, como também é conhecido, ponto entrançado eslavo.

Bordados ao longo de séculos, os Tapetes de Arraiolos são uma das afirmações mais vincadas do génio do nosso povo. Chegaram até nós graças às mãos laboriosas de gerações de bordadeiras que lhes imprimiram o melhor do seu gosto, da sua arte, com traços da vida da grande planície alentejana.

Nos finais do séc. XV, por mandato de D. Manuel I, foram expulsas da Mouraria (Lisboa) várias famílias mouriscas que a caminho do Norte de África e do sul de Espanha, acabaram por fixar-se nestas terras. Com a particularidade de serem exímios artesãos e face ao bom acolhimento da população local, estas famílias dedicaram-se à manufactura de tapeçarias, e disfarçados de cristãos novos, deram-lhe o nome de "Tapetes de Arraiolos".

Os documentos mais antigos que se referem ao fabrico destes tapetes na vila de Arraiolos datam de finais do séc. XVI, supondo-se no entanto que a sua implantação date de épocas mais recuadas no tempo...

Sites: Memória Portuguesa / viajar.clix
* in Corographia Portugueza (tomo I e II)

D. João de Portugal, Mestre de Avis

Em fins do século XIV, uma transformação muito importante aconteceu em Portugal. A morte do rei D. Fernando em 1383, deu origem a uma crise política que, envolvendo vários grupos sociais, veio instituir no poder uma nova família real e iniciar uma nova orientação na vida dos portugueses.

D. Fernando tinha uma única filha, D. Beatriz, que, com apenas doze anos de idade, casara com o rei de Castela, pondo-se assim termo a uma série de guerras em que D. Fernando se envolvera com aquele reino, que haviam enfraquecido a economia do país.

D. Fernando morreu alguns meses depois deste casamento e como D. Beatriz não tinha filhos nem irmãos, não havia sucessores legítimos do rei. Esta situação de impasse desencadeou várias revoltas populares. As populações recusavam-se a aceitar a aclamação de uma rainha que era mulher de um rei estrangeiro (rei de Castela), o que poderia dar origem à união dos dois países, e que teria por consequência a perda da independência de Portugal.

Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, D. João, Mestre de Avis, irmão bastardo de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado foi a "Crise de 1383-1385", um período de interregno, onde o caos político e social dominou.

D. João, Mestre de Avis foi aos seis anos (1364), nomeado Mestre da Ordem de Avis, por benesse paterna. Era filho ilegítimo do rei Pedro I de Portugal (famoso pelos seus amores e em especial pelo seu amor vivido com Inês de Castro), e de uma dama chamada D. Teresa Lourenço.

Em Coimbra realizam-se as Cortes. Houve grande divergência de opiniões e vários pretendentes ao trono: D. Beatriz, filha legitima de D. Fernando, e herdeira directa, D. João e D. Dinis, filhos de D. Pedro e de D. Inês de Castro, e os inevitáveis D. João de Castela (marido de D. Beatriz) e o D. João, Mestre de Avis.

João das Regras, jurisconsulto, rebate uma por uma as pretensões dos outros candidatos ao trono e declara o trono vago. Faz o elogio do Mestre de Avis, dizendo: "merece esta honra e o estado de Rei". E como tal é aclamado a 6 de Abril de 1385, dando início à segunda dinastia, dita "Dinastia de Avis".

O Rei de Castela (D. João de Castela) retirou a regência de D. Leonor Teles (viúva de D. Fernando e mãe de D. Beatriz) e, intitulando-se de "Rei Portugal", dirigiu-se para Lisboa, cercando a cidade. Isso fez com que muitos burgueses finalmente aderissem á causa do Mestre de Avis, mas a maior parte do clero e da nobreza apoiavam D. Beatriz.

Pouco depois, João I de Castela invade Portugal com o objectivo de tomar Lisboa e remover D. João I de Portugal do trono. Com o rei de Castela, seguia um contingente de cavalaria francesa, aliada de Castela para se opor aos ingleses, que tomaram o partido de D. João I na Guerra dos Cem Anos. Como resposta, D. João I nomeia D. Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal e Protector do Reino.

Os castelhanos reagiram a esta decisão, como era de se esperar, invadindo novamente Portugal. Mas os portugueses saíram ao seu encontro e travou-se uma batalha decisiva em Aljubarrota, em Agosto de 1385, que foi uma batalha decisiva. Usando a táctica do quadrado e aproveitando as vantagens da colocação no terreno, pois os inimigos estavam de frente para o sol, as tropas portuguesas, chefiadas pelo próprio rei D. João I e por D. Nuno Álvares Pereira, conseguiram a vitória, pondo o exército inimigo em fuga, quase totalmente aniquilado.

A paz definitiva com Castela só veio a ser assinada alguns anos depois, em 1411. Para assinalar o acontecimento, D. João I mandou iniciar, perto do local da batalha, a construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, conhecido por Mosteiro da Batalha.

O Mosteiro da Batalha, é o maior símbolo da "Dinastia de Avis", erigido na sequência de um voto à Virgem, caso vencesse a Batalha de Aljubarrota. O arranque das obras deu-se em 1388 e foram conduzidas por Afonso Domingues, a quem se deve o plano geral da construção e o grande avanço dos trabalhos na igreja e no claustro. A igreja tem três naves e transepto e é panteão do rei D. João I, D. Filipa de Lencastre e seus filhos, além de outros reis e infantes portugueses.

Depois da retirada de Castela, a estabilidade da coroa de D. João I fica permanentemente assegurada. Em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, Duque de Lencastre, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje. Depois da morte de D. João de Castela, em 1390, sem herdeiros de D. Beatriz, a ameaça castelhana ao trono de Portugal estava definitivamente posta de parte.

A partir de então, D. João I dedicou-se ao desenvolvimento económico e social do país, sem se envolver em mais disputas com a vizinha Castela ou a nível internacional. A excepção no seu reinado foi a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, uma praça de importância estratégica no controle da navegação na costa de África que é conseguida a 21 de Agosto.

Após a conquista de Ceuta são armados cavaleiros, na mesquita daquela cidade, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D.Filipa de Lencastre.

D. João I continua a obra iniciada por D. Dinis de tornar cada vez mais poderosa a marinha e a armada portuguesas. Feita a paz com Castela, prepara a expansão territorial do país, que em seu entender só poderia fazer-se para Oeste, para o lado do Mar. Em 1415, encabeça a tomada de Ceuta, iniciando assim a expansão ultramarina portuguesa. Seguir-se-ão os "Descobrimentos", que o seu filho, o Infante D. Henrique toma a peito.

D. João I vive mais dezoito anos, tentando sempre manter unidas as gentes portuguesas, por isso percorre o país de lés a lés, tentando sempre equilibrar as Finanças da Coroa e os interesses da nova aristocracia com os da burguesia comercial.

Começa a partilhar o governo da Nação com o seu filho D. Duarte. Tem assim tempo disponível para recordar ainda os feitos da sua juventude e escreve "O Livro da Montaria". Nele descreve as múltiplas técnicas de montaria, pois a caça foi sempre a sua grande paixão. Evoca o prazer das lutas corpo a corpo, do jogo da pela e da dança, da música e do xadrez. Chega mesmo a comparar à beata contemplação de Deus, à alegria de ver um urso cair na armadilha.

O seu grande amor ao conhecimento passou também para os filhos, designados pelo grande poeta português Luís Vaz de Camões, na sua epopeia épica, os "Lusíadas", por "Ínclita Geração".

O rei D. Duarte de Portugal, seu primogénito, foi poeta e escritor, D. Pedro, Duque de Coimbra o "Príncipe das Sete Partidas", foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo e muito viajado, e D. Henrique, Duque de Viseu, "O Navegador", investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com a navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos "Descobrimentos". E sua única filha, D. Isabel de Portugal, casou com o Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nos domínios de seu marido.

No reinado de D. João I são descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Tem início, igualmente, a colonização dos Açores e da Madeira.

D. João morreu a 14 de Agosto de 1433. Jaz na Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Foi cognominado o "Rei de Boa Memória", pela lembrança positiva do seu reinado na memória dos portugueses, e alternativamente, é também chamado de o Bom ou o Grande.

Sites: Wikipédia / vidaslusofonas.pt

Avis, uma vila medieval


Um dia de sol acordou-nos e depois do almoço, lá fomos nós para Avis, visitar a vila, que ficava a uns escassos quilómetros da zona de lazer, onde deixámos a autocaravana. O percurso foi feito de mota, o que deu muito jeito, pois a vila ficava lá no alto.

Quem chega a Avis é surpreendido pela imponência de uma vila cuja brancura se destaca altiva, do verde da paisagem envolvente e que tem um brilho especial conferido pelas águas da albufeira e das ribeiras que se estendem a seus pés.

Erigida sobre um morro de granito que atinge os 201 metros de altitude, Avis oferece aos visitantes paisagens deslumbrantes e inesquecíveis. Do cimo dos seus miradouros, o vento traz-nos sussurros da sua história e das torres do Castelo que ainda existem ou da varanda do Jardim do Mestre é possível perder o olhar nos vastos campos que rodeiam Avis, até ao longínquo horizonte.

Com o seu gracioso traçado medieval, de ruas estreitas e tortuosas e pequenas casas que exibem a típica chaminé dianteira, Avis ainda preserva alguns dos seus traços originais, mas o inevitável desenvolvimento trouxe novos bairros bem menos característicos.

O centro histórico, de traçado medieval, constituído por um bonito casario branco, com faixas coloridas de amarelo ou azul, respira história e tem muito para mostrar. Destacam-se nele as ruínas do Convento de S. Bento de Avis, cuja origem remonta a 1211. Parte do edifício é hoje ocupado pelos Paços do Concelho, que fez outrora parte da residência dos Mestres da Ordem de Avis.

A sua Igreja Matriz e o seu bonito Pelourinho, mostram orgulhosos o encanto próprio da arquitectura do Alto Alentejo. Do Castelo de Avis subsistem ainda três das suas seis torres. A Torre da Rainha ou do Convento (junto às portas do Anjo e do Arco), Torre de Santo António (a ocidente) e a Torre de S. Roque (a nordeste).

O castelo encontra-se agora em ruínas, mas o enorme convento igualmente fundado pela Ordem de Avis, embora parte dele abandonado e com grandes estragos, é ainda o monumento mais imponente da vila. Do castelo ainda restam alguns pedaços de muralha, aproveitados como paredes de fundo para algumas construções mais recentes.

O povoamento primitivo do território que corresponde ao actual concelho de Avis é bastante remoto, tendo sido encontrados vários vestígios arqueológicos que comprovam a sua ancestralidade por todo o concelho, com vários monumentos megalíticos e vestígios de populações bem antigas.

A vila de Avis desempenhou um papel de destaque na história do nosso País, por ter sido a sede de uma das mais importantes Ordens Militares e ter dado nome à mais emblemática dinastia portuguesa, iniciada por D. João, Mestre de Avis, (filho bastado de D. Pedro). O que resta do seu Castelo conta-nos hoje em dia a história destes outros tempos, em que as ordens militares povoavam, defendiam e construíam cidades.

A primeira referência ao lugar de Avis em documentação medieval portuguesa data do século XIII, quando, no âmbito da Reconquista, ali foi sedeada uma importante Ordem Militar que adoptou o mesmo nome, a Ordem Militar de Avis.
O origem do nome da Ordem de Avis bem como do seu castelo, estão ligados a uma lenda, que conta que alguns frades andavam a procurar o local ideal para a construção de uma fortaleza, e num monte, frente ao território ainda sob domínio muçulmano, viram duas águias pousadas num sobreiro. Esta observação das águias foi considerada como um sinal favorável e decidiram a construção do castelo naquele local, a que chamaram Avis, uma vez que em latim significa ave. As águias tornaram-se assim parte integrante do símbolo da Ordem.
A vila foi fundada em 1214 pelo mestre da Ordem Militar de Avis, e segundo reza a lenda, o seu castelo foi construído em segredo durante a noite, para que os mouros na vizinhança não fossem alertados, e em cada manhã as muralhas meio construídas eram tapadas com ramos.
Esta ordem usufruía, de um forte poder secular e religioso na vila, não tendo sido permitida a instalação de qualquer outra entidade religiosa, de forma a evitar a existência de mais um concorrente na posse de bens e direitos.

A definição da origem de Avis não é, no entanto, consensual, uma vez que alguns documentos apontam para a preexistência desta localidade em relação à Ordem Militar que ali se instalou, fazendo referência à doação destas terras por Afonso II aos frades de Évora, em 1211, para que aí construíssem uma fortaleza e formassem uma povoação.

Na vila de Avis, o passado, o presente e futuro abraçam-se num jogo constante em que não se confrontam mas se unem para proporcionar uma riqueza única. O passado deixou as suas marcas nos monumentos, nas histórias e nas tradições que se mantêm ainda vivas, pela sabedoria popular e pela memória das gentes que, com a sua arte e engenho, as transpõem para o artesanato, que nasce da sua dedicação, e para a gastronomia, que reflecte as riquezas e os hábitos locais...
Após a visita à vila de Avis que nos deixou encantados, fomos para o parque de campismo já ao final da tarde. O jantar ao pôr-do-sol e a quietude do lugar, fez deste momento um dos muitos episódios de viagem, que se tornam para sempre inolvidáveis.

Sites: Viajar.clix / Câmara Municipal de Avis

Complexo do Clube Náutico de Avis

Esta foi a viagem de inauguração da nossa autocaravana pelo elemento mais novo da família, que até esta ocasião não tinha querido acompanhar-nos. Depois de sairmos de casa, tomámos o rumo da vila de Avis, no Alto Alentejo, onde pretendíamos ficar duas noites.

A chegada à vila de Avis foi pelas 22h00. A noite devia ser passada dentro do Parque de Campismo da Barragem do Maranhão, no entanto por termos chegado depois da hora de encerramento das suas portas, resolvemos pernoitar junto à praia fluvial do Complexo do Clube Náutico de Avis, situada mesmo à frente do Parque de Campismo e do qual este também faz parte.

O lugar é óptimo para pernoita, muito bonito e tranquilo, aparecendo por vezes alguns mirones, mas sem qualquer perigo. E devo acrescentar que gostei muito mais de dormir no exterior, do que no interior do Parque de Campismo. Depois do jantar fomos passear nos jardins da praia fluvial e no cais. Uma delícia...

Bem próximo, localiza-se a bonita Barragem do Maranhão, com paisagens únicas e condições de excelência para as mais diversas actividades desportivas e de lazer, com um Clube náutico, com infra-estruturas diversas, dispondo de um miradouro no parque de campismo, com uma magnífica vista sobre as águas deste lago artificial e sobre as pastagens e searas envolventes.

O Complexo do Clube Náutico de Avis, fica situado na margem do magnífico espelho de água, que é constituído pela praia fluvial. Fazem também parte deste complexo. as piscinas municipais, o solário, um parque infantil, um hangar, parque de merendas e restaurante.

Este é um local ideal para quem procura uns dias de repouso, em contacto com a natureza para retemperar as energias. A proximidade da Albufeira do Maranhão, faz deste lugar e do seu Parque de Campismo um espaço de eleição também para quem procura umas férias activas, pois aqui podem praticar-se um conjunto de actividades náuticas que vão desde a pesca ao windsurf, da canoagem ao remo, bem como outras actividades ao ar livre, como caminhadas, percursos de BTT, moto 4, ou até mesmo piqueniques...

É um lugar de encantos! Lugar onde a máquina fotográfica é fundamental, para se usufruir dele e nunca mais o esquecer...

Site: Câmara Municipal de Avis

Páscoa em Sevilha

Não há lugar mais indicado para visitar na época da Páscoa do que a bela cidade de Sevilha... Sevilha é sem dúvida uma das mais belas cidades espanholas e é a que melhor conserva o espírito das suas tradições, com uma explosão de cores e contrastes e uma óptima harmonia entre modernidade e tradição.

A Semana Santa de Sevilha tem uma inacreditável importância na cidade. Devido a isso, tem renome internacional, sendo um dos eventos que, por ano, atrai até Sevilha o maior número de visitantes. Desde o Domingo de Ramos até ao Domingo de Páscoa, a cidade vive imersa numa tradição cultural e religiosa, que não é ultrapassada por nenhuma outra cidade espanhola.

Para estimular qualquer turista a visitar Sevilha na época da Páscoa, não há como ler a breve mas magnífica síntese feita por JMS, in Rotas & Destinos, em Abril de 1996, sobre o que ali acontece nesta semana.

"A imagem de uma Virgem que chora. Uma janela que se abre para deixar alguém cantar. Um nazareno exausto que molha os lábios no sangue de Cristo. Uma voz rouca que lança um piropo à Triana. Retábulos vivos de Sevilha, a barroca, na semana em que, por amor a Jesus, mergulha numa imensa orgia litúrgica de sangue, suor e lágrimas".

O percurso escolhido para ir e voltar, foi o seguinte:

1º e 2º Dia - Avis ;

3º Dia - Arraiolos / Amieira / Serpa /Aracena;

4º Dia - Aracena;

5º Dia - Aracena / Sevilha;

6º, 7º e 8º Dias - Sevilha;

9º Dia - Sevilha / Casa.

A caminho de Portugal



Nessa mesma noite resolvemos fazer o caminho de volta a Portugal. Depois de uma breve conversa decidimos ir pernoitar à Covilhã, para na quarta-feira gorda passarmos o dia com o elemento mais novo da família, que lá estuda.

O percurso embora longo, fez-se rapidamente e pernoitámos na área de serviço da Covilhã. A noite passou tranquila, mas por volta das 5h30 da madrugada, eis que um puto supostamente folião, julgando estar em plena noite de Carnaval, por certo bem bebido, e também por certo oriundo de uma terra onde o Carnaval não tem fim, nos acorda com o buzinar incessante do seu carro, que só foi útil para o camionista que a poucos metros de nós dormia, e que desperto, se pôs a caminho do seu destino.

Esta é a nova mentalidade da fuga, do esvaziamento da mente, tão popular entre os jovens de hoje, adquirida não se sabe bem onde, e de certeza não proveniente das religiões e filosofias orientais, tão ambicionada por alguns jovens nos tempos da minha juventude, e que não é nem resposta nem terapêutica para ninguém...

O Carnaval de Cáceres

O Carnaval de Cáceres foi o resultado de uma recriação histórica medieval, na Praça de Santa Maria, em pleno coração da cidade monumental, como uma actividade já há algum tempo vivida em algumas cidades quer portuguesas, quer espanholas de passado medieval.

Estas recreações desenvolvidas na Península Ibérica, por vezes com o intercâmbio de experiências entre organizações portuguesas e espanholas, têm o intuito de uma cooperação conjunta para o desenvolvimento turístico e cultural das regiões, bem como a valorização do seu património histórico.

Sem dúvida que estas recreações, do ponto de vista turístico, têm o maior interesse e importância, uma vez que contribuem para o desenvolvimento das cidades e para a divulgação cultural do seu real património histórico e popular.
Assim, as festividades decorreram na Praça de Santa Maria, centrando-se em temas medievais, sendo as actividades praticamente restritas à cidade monumental, e o recinto acolheu eventos medievais e não só. Ali decorreu uma feira medieval, onde se venderam produtos da região extremenha, como doces, mel, queijos, licores, bolos, pão e onde ao principio da noite, foi servida aos visitantes uma gratuita e simbólica refeição medieval.
Nesta praça e após esta pequena refeição, decorreu uma reposição histórica de um confronto medieval, entre guerreiros, resultando no final numa comédia medieval. Num palco na mesma praça, vários grupos cantaram e dançaram, entre os quais um grupo de estudantes da Tuna Académica do Porto.

No intervalo das várias actuações podia ouvir-se, entoando por toda a cidade monumental, e ultrapassando as muralhas da zona velha de Cáceres, excelente música medieval... Sem dúvida uma interessante recreação vivida em ambiente animado e civilizado.

Antes de acabar a festa, resolvemos ir jantar numa esplanada da Praça Maior que ficava ali perto, e no fim deste, voltámos à Praça de Santa Maria. No final das festividades, foi acesa uma grande fogueira, no centro da praça, que veio mesmo a tempo de aquecer os visitantes, pois a noite despertou fria, como é habitual naquela época do ano...

A Concatedral de Santa Maria

O segundo dia na cidade de Cáceres, coincidiu com a terça-feira de Carnaval, sendo a visita iniciada na Praça de Santa Maria, onde deixámos a mota, quando a mesma se preparava para os festejos do Carnaval com uma reconstituição medieval do mesmo período, digna de qualquer filme medieval. Os festejos foram acompanhados por nós mais tarde, onde passámos o final da tarde e o início da noite desse mesmo dia.

O largo da praça fervilhava de actividade com os preparativos para a festa, e nela escolhemos para se iniciar a visita, a esplêndida Concatedral de Santa Maria. Ali na porta da Concatedral esperava-nos o seu pároco, que simpaticamente nos acolheu pedindo-nos uma modesta contribuição para a sua igreja, a que prontamente acedemos.

Encetando conversa connosco, explicou-nos o que ali iria suceder durante a tarde e noite de festejos, entusiasmando-nos para a festa. Assim e desde logo se fez notar a sua simpatia e jovialidade, apesar da sua avançada idade, que após o términos da nossa visita à igreja e ao local, se concretizou mais uma vez, quando partimos de mota, despedindo-se de nós acenando alegremente ao mesmo tempo que se benzia, para que nada de mal nos acontecesse na nossa breve viagem…

A Concatedral de Santa Maria, situada na praça do mesmo nome, foi desde a sua origem a igreja principal do conjunto medieval da cidade. A sua construção começou em finais do séc. XIII, mas a maior parte do edifício foi concluído nos séculos XV e XVI, em estilo gótico, sóbrio e elegante.

Tem três naves divididas em cinco secções, com arcos que se apoiam em pilares góticos compostos, com cobertura abobadada, tendo ao lado duas capelas laterais junto ao presbitério, e outras duas adjacentes ao lado da epístola renascentista e coro.

No seu interior merece uma atenção especial a Porta dos Cavalos, realizada por Alonso de Torralba no ano 1525. No altar mor, o retábulo, é uma obra renascentista e foi construído em madeira de cedro no ano 1551, e foi esculpido por Balduque Roque.

A pia de água benta é em mármore do séc. XIV. Possui muitas lápides, túmulos e sarcófagos, assim como uma rica colecção de objectos litúrgicos do séc. XV ao séc. XIX. Ao pé da torre encontra-se uma estátua em bronze de São Pedro de Alcántara, esculpida por Pérez Comendador.

Na Praça de Santa Maria encontra-se ainda o Palácio Episcopal, o Palácio dos Ovandos, o Palácio de Mayoralgo, o Palácio dos duques de Valência e o famoso de Palácio de Los Golfines de Abajo, em estilo plateresco, que como já foi referido, foi residência dos Reis Católicos durante a sua estadia na cidade.

Cáceres, uma jóia medieval


Após termos percorrido os 46 Km de distancia de Trujillo a Cáceres, surge-nos de repente com todo o seu esplendor e beleza, Cáceres, toda iluminada!… Como já era tarde fomos directos à zona destinada a autocaravanas, que a cidade oferece.

Esta tem excelentes condições e encontra-se junto à Pousada da Juventude, cujo recinto com cerca, é absolutamente seguro e repousante. Dali se desfruta de uma magnífica vista da zona monumental de Cáceres, que lá no alto, toda iluminada, parece chamar-nos através do vento, convidando-nos a uma visita tardia...

Há também que se destacar o modesto mas excelente restaurante da pousada, que nos serviu por duas vezes magnífica comida caseira típica da Extremadura espanhola. Ali também estavam hospedados os membros do grupo de estudantes da Tuna Académica do Porto, que naqueles dias ali se deslocaram para actuarem nos festejos carnavalescos da cidade, e que algumas vezes encontrámos há hora do almoço.

O primeiro dia de visita à cidade foi passado a pé, na zona velha de Cáceres: a Cidade Monumental. Dentro de uma muralha, a "velha Cáceres", ainda muito bem conservada, que servia de forte e de defesa contra as invasões à Península Ibérica, e hoje serve de principal ponto turístico da cidade.

Os principais monumentos de Cáceres estão todos concentrados dentro das muralhas, tornando o seu valor como um todo, e não em pormenores espalhados por vários locais. Ali podemos observar uma reposição histórica do Carnaval vivido na época medieval, o que resultou num autêntico cenário de filme medieval!…

Tempos atrás, na Extremadura, Cáceres foi e ainda é, uma cidade que oferece um excelente exemplo de evolução bem definida por dois períodos ou épocas, a árabe, como fortaleza feudal e da cidade propriamente dita.

Ainda mantém praticamente intactas as suas raízes e história, graças aos seus cidadãos, que foram sempre capazes de passar para a geração seguinte os mesmos valores e interesses, sendo capazes de proteger, um dos melhores exemplos das épocas medieval e renascentista do mundo.

Jóia medieval suspensa no tempo, Cáceres é assim uma cidade que está determinada a ocupar um lugar de privilégio na memória dos visitantes. Enquanto algumas cidades espanholas foram bastante afectadas pelas Invasões Francesas ou pela Guerra Civil espanhola, Cáceres ficou praticamente imaculada durante estes conflitos.

Cáceres foi fundada no ano 29 a.C.. Durante os reinados visigodos, passou desapercebida, mas os árabes converteram-na numa praça forte com o nome de Qasri. Durante o séc. XII, os Almohades perderam e recuperaram-na várias vezes, enquanto iam construindo torres junto à muralha.
Cinco destas torres, ainda lá se encontram, no lado oeste da muralha.

Depois da reconquista, no séc. XIV, registou-se uma maciça chegada de fidalgos, que encheram a cidade de casas nobres com torres fortificadas que rivalizam em beleza com os edifícios religiosos. A cidade ainda mantém alguns troços das suas muralhas árabes, cujo interior conserva inúmeros edifícios góticos e renascentistas.

Para se conhecer a cidade, existem duas zonas que podem servir de ponto de partida: A Praça de San Mateo e a Praça de Santa Maria. Na primeira podemos ver a Igreja de San Mateo, construída sobre uma mesquita árabe, entre os séculos XIV e XVIII, com portada plateresca e retábulo do séc. XVIII. Encravada no ponto mais alto da cidade velha, em estilo gótico tardio, tem uma torre do século XVIII.

Ali também poderemos apreciar ainda, o Palácio dos Ulloa, o Convento de San Pablo, a Casa del Sol, a Casa Mudéjar e a Casa de Los Golfines de Arriba, para além da Casa e a Torre dos Sande.

A Casa de Los Golfines de Arriba é o mais belo exemplo de arquitectura Cacereña. A sua fachada demonstra com simplicidade a beleza do estilo plateresco. Nela podemos ver o que está escrito numa parede exterior: "Esta é a Casa dos Golfines".

O inicio da nossa visita à cidade fez-se a partir do Arco da Estrela subindo sempre, até chegarmos à Praça de Santa Maria, que possui um dos mais belos conjuntos arquitectónicos do gótico urbano espanhol.

Ali se encontra a igreja do mesmo nome, a Concatedral de Sta. María, um edifício gótico do séc. XV, em cujo interior se pode admirar um retábulo plateresco do séc. XVI. No mesmo largo encontra-se ainda o Palácio Episcopal, o Palácio dos Ovandos, o Palácio de Mayoralgo, o Palácio dos duques de Valência e o famoso de Palácio de Los Golfines de Abajo, em estilo plateresco, que foi residência dos Reis Católicos durante a sua estadia na cidade.

Um dos elementos que simbolizam a cidade de Cáceres é, sem dúvida, o Arco de La Estrella. Este arco substituiu a Puerta Nueva, medieval, que ligava a cidade antiga á Praça Maior da cidade nova. A sua construção foi iniciada no séc. XVIII, e é formada por um grande arco esconso, rematado com ameias.

Fora do conjunto amuralhado deveremos visitar a Igreja de Santiago, de origem românica e que foi transformada por Gil Montañón no séc. XVI. Tem um retábulo-mor belíssimo, obra de Berruguete. A Igreja de San Juan, construída nos séculos XIII a XV, e o Convento de San Francisco, que como a igreja anterior, é em estilo gótico.

Site: monfortur.pt
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A caminho de Cáceres


Após a saída de Guadalupe tomamos a direcção de Cáceres e Trujillo, que são outras duas magníficas cidades medievais da Extremadura. Como saímos ao final da tarde de Guadalupe resolvemos que o jantar seria em Trujillo, por quem numa viagem anterior nos apaixonámos, pelo que não queríamos passar por lá, sem novamente visitar a cidade e a sua bela Plaza Mayor.

Do ponto de vista urbanístico, um dos aspectos que mais admiro nas cidades espanholas são as suas Praças Maiores. Elas são o elemento fundamental de qualquer cidade espanhola. "A Plaza Mayor, porticada, cerrada ao trânsito, concebida como uma sala de visitas e de regozijos populares, é uma criação tipicamente espanhola" (O. Ribeiro, in Opúsculos).

A planta da praça não tem uma forma quadrangular perfeita, como acontece com a maioria das praças espanholas. A irregularidade dá uma sensação de amplitude e o contraste dos edifícios dá-lhe um encanto único.

O seu centro histórico, para além dos edifícios modernos, conserva várias igrejas e casas pitorescas na Plaza Mayor, bem como nas ruas adjacentes. Esta praça está ladeada por belos palácios e mansões, destacando-se a estátua equestre de Pizarro no seu centro. Aqui destacam-se os belos palácios de Marqués de la Conquista (1560) e de Orellana-Pizarro (séc. XVI).

Trujillo, é célebre por ser o "berço de conquistadores" do Novo Mundo, como Francisco Pizarro, descobridor do Peru, bem como de outros exploradores do continente americano. O seu irmão mandou edificar o Palácio do Marquês da Conquista, financiado com as riquezas do Novo Mundo.
A bela Igreja de Santa Maria Maior, com os túmulos das grandes famílias medievais de Trujillo, merece uma visita ao seu interior. Também não se deve perder a visita ao Palácio Orellana-Pizarro, do séc. XVI, construído sob as ordens de Francisco de Orellana, explorador do Rio Amazonas e do Equador.

No ponto mais elevado de Trujillo, temos o castelo do séc. XIII, que foi anteriormente uma fortaleza árabe. Do alto deste castelo pode observar-se um cenário muito belo. As paisagens são fantásticas e servem para arregalar e limpar a vista, fazendo esquecer todo e qualquer pensamento menos alegre...

* Mais sobre Trujillo em : Trujillo, uma cidade mágica