Em fins do século XIV, uma transformação muito importante aconteceu em
Portugal. A morte do rei
D. Fernando em 1383, deu origem a uma crise política que, envolvendo vários grupos sociais, veio instituir no poder uma nova família real e iniciar uma nova orientação na vida dos portugueses.
D. Fernando tinha uma única filha, D. Beatriz, que, com apenas doze anos de idade, casara com o rei de Castela, pondo-se assim termo a uma série de guerras em que D. Fernando se envolvera com aquele reino, que haviam enfraquecido a economia do país.
D. Fernando morreu alguns meses depois deste casamento e como D. Beatriz não tinha filhos nem irmãos, não havia sucessores legítimos do rei. Esta situação de impasse desencadeou várias revoltas populares. As populações recusavam-se a aceitar a aclamação de uma rainha que era mulher de um rei estrangeiro (rei de Castela), o que poderia dar origem à união dos dois países, e que teria por consequência a perda da independência de Portugal.
Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, D. João, Mestre de Avis, irmão bastardo de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado foi a "Crise de 1383-1385", um período de interregno, onde o caos político e social dominou.
D. João, Mestre de Avis foi aos seis anos (1364), nomeado Mestre da Ordem de Avis, por benesse paterna. Era filho ilegítimo do rei Pedro I de Portugal (famoso pelos seus amores e em especial pelo seu amor vivido com Inês de Castro), e de uma dama chamada D. Teresa Lourenço.
Em Coimbra realizam-se as Cortes. Houve grande divergência de opiniões e vários pretendentes ao trono: D. Beatriz, filha legitima de D. Fernando, e herdeira directa, D. João e D. Dinis, filhos de D. Pedro e de D. Inês de Castro, e os inevitáveis D. João de Castela (marido de D. Beatriz) e o D. João, Mestre de Avis.
João das Regras, jurisconsulto, rebate uma por uma as pretensões dos outros candidatos ao trono e declara o trono vago. Faz o elogio do Mestre de Avis, dizendo: "merece esta honra e o estado de Rei". E como tal é aclamado a 6 de Abril de 1385, dando início à segunda dinastia, dita "Dinastia de Avis".
O Rei de Castela (D. João de Castela) retirou a regência de D. Leonor Teles (viúva de D. Fernando e mãe de D. Beatriz) e, intitulando-se de "Rei Portugal", dirigiu-se para Lisboa, cercando a cidade. Isso fez com que muitos burgueses finalmente aderissem á causa do Mestre de Avis, mas a maior parte do clero e da nobreza apoiavam D. Beatriz.
Pouco depois, João I de Castela invade Portugal com o objectivo de tomar Lisboa e remover D. João I de Portugal do trono. Com o rei de Castela, seguia um contingente de cavalaria francesa, aliada de Castela para se opor aos ingleses, que tomaram o partido de D. João I na Guerra dos Cem Anos. Como resposta, D. João I nomeia D. Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal e Protector do Reino.
Os castelhanos reagiram a esta decisão, como era de se esperar, invadindo novamente Portugal. Mas os portugueses saíram ao seu encontro e travou-se uma batalha decisiva em Aljubarrota, em Agosto de 1385, que foi uma batalha decisiva. Usando a táctica do quadrado e aproveitando as vantagens da colocação no terreno, pois os inimigos estavam de frente para o sol, as tropas portuguesas, chefiadas pelo próprio rei D. João I e por D. Nuno Álvares Pereira, conseguiram a vitória, pondo o exército inimigo em fuga, quase totalmente aniquilado.
A paz definitiva com Castela só veio a ser assinada alguns anos depois, em 1411. Para assinalar o acontecimento, D. João I mandou iniciar, perto do local da batalha, a construção do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, conhecido por Mosteiro da Batalha.
O Mosteiro da Batalha, é o maior símbolo da "Dinastia de Avis", erigido na sequência de um voto à Virgem, caso vencesse a Batalha de Aljubarrota. O arranque das obras deu-se em 1388 e foram conduzidas por Afonso Domingues, a quem se deve o plano geral da construção e o grande avanço dos trabalhos na igreja e no claustro. A igreja tem três naves e transepto e é panteão do rei D. João I, D. Filipa de Lencastre e seus filhos, além de outros reis e infantes portugueses.
Depois da retirada de Castela, a estabilidade da coroa de D. João I fica permanentemente assegurada. Em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, Duque de Lencastre, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje. Depois da morte de D. João de Castela, em 1390, sem herdeiros de D. Beatriz, a ameaça castelhana ao trono de Portugal estava definitivamente posta de parte.
A partir de então, D. João I dedicou-se ao desenvolvimento económico e social do país, sem se envolver em mais disputas com a vizinha Castela ou a nível internacional. A excepção no seu reinado foi a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, uma praça de importância estratégica no controle da navegação na costa de África que é conseguida a 21 de Agosto.
Após a conquista de Ceuta são armados cavaleiros, na mesquita daquela cidade, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D.Filipa de Lencastre.
D. João I continua a obra iniciada por D. Dinis de tornar cada vez mais poderosa a marinha e a armada portuguesas. Feita a paz com Castela, prepara a expansão territorial do país, que em seu entender só poderia fazer-se para Oeste, para o lado do Mar. Em 1415, encabeça a tomada de Ceuta, iniciando assim a expansão ultramarina portuguesa. Seguir-se-ão os "Descobrimentos", que o seu filho, o Infante D. Henrique toma a peito.
D. João I vive mais dezoito anos, tentando sempre manter unidas as gentes portuguesas, por isso percorre o país de lés a lés, tentando sempre equilibrar as Finanças da Coroa e os interesses da nova aristocracia com os da burguesia comercial.
Começa a partilhar o governo da Nação com o seu filho D. Duarte. Tem assim tempo disponível para recordar ainda os feitos da sua juventude e escreve "O Livro da Montaria". Nele descreve as múltiplas técnicas de montaria, pois a caça foi sempre a sua grande paixão. Evoca o prazer das lutas corpo a corpo, do jogo da pela e da dança, da música e do xadrez. Chega mesmo a comparar à beata contemplação de Deus, à alegria de ver um urso cair na armadilha.
O seu grande amor ao conhecimento passou também para os filhos, designados pelo grande poeta português Luís Vaz de Camões, na sua epopeia épica, os "Lusíadas", por "Ínclita Geração".
O rei D. Duarte de Portugal, seu primogénito, foi poeta e escritor, D. Pedro, Duque de Coimbra o "Príncipe das Sete Partidas", foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo e muito viajado, e D. Henrique, Duque de Viseu, "O Navegador", investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com a navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos "Descobrimentos". E sua única filha, D. Isabel de Portugal, casou com o Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nos domínios de seu marido.
No reinado de D. João I são descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Tem início, igualmente, a colonização dos Açores e da Madeira.
D. João morreu a 14 de Agosto de 1433. Jaz na Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Foi cognominado o "Rei de Boa Memória", pela lembrança positiva do seu reinado na memória dos portugueses, e alternativamente, é também chamado de o Bom ou o Grande.
Sites: Wikipédia / vidaslusofonas.pt