O que distingue um amigo verdadeiro

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.
Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta..

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c. Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. 

É fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus.
A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.
 
Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

Todos nós hoje nos desabituamos do trabalho de verificar

Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou — apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos — «Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar — «É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma resistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz dum céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios. Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há ação individual ou coletiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda. E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo.
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

O maior problema é quando a verificação tende para o infinito... Aí o mal é outro. É doença que passa por contágio...

Visita a Verona - 2º Dia - Parte VII


Após o jantar e cerca de meia hora antes do início do espetáculo de ópera, caminhamos em direção à Arena de Verona para assistirmos à Ópera Turandot, um drama em 3 atos de Giacomo Puccini.
A noite caiu muito chuvosa e mesmo após o jantar, uma cacimba persistente teimava em não abrandar. Comprámos impermeáveis a vendedores ambulantes, que nos protegeram dos chuviscos intensos durante a caminhada até à Arena de Verona.
Lá dentro a multidão rapidamente encheu as milenares bancadas em pedra da esplendida Arena de Verona, e um colorido intenso completou o cenário magnânimo e emocionante, próprio de um espetáculo daquela natureza.
Há algo peculiarmente pungente sobre a ópera Turandot. Ela é a última ópera de escrita e pensada por Giacomo Puccini, que só estreou depois da sua morte em 1924. Na verdade a magistral ópera ficou inacabada e a história de Turandot foi por ele elaborada a partir de um conjunto de histórias persas inspiradas no livro das “Mil e uma Noites”, e as suas cenas supostamente passam-se em Pequim.
O espetáculo tardou a iniciar, uma vez que os chuviscos, agora entre algumas abertas teimavam em prosseguir. Assim à medida que o tempo passava a orquestra ia afinando os diversos instrumentos e as arpas por várias vezes, entravam na arena ou logo as retiravam, não fossem estes sensíveis instrumentos sofrer com a humidade.
Após uns 3 quartos de hora, os chuviscos cessaram e a lua apareceu esplendorosa sob a Arena de Verona, como que impondo a sua vontade de querer também, tal como nós e todos os que ali se encontravam, apreciar o bel canto naquela conturbada noite de agosto.
Sobre a ópera sobra muito a dizer: “Turandot” é sem dúvida nenhuma uma obra-prima; o cenário fabuloso; a direção, excelente, de Franco Zeffirelli (que no final veio até ao palco receber as ovações do público); a acústica proporcionada pela milenar Arena de Verona, excelente; todo o Bel Canto, simplesmente maravilhoso.
E com chave d'ouro despedimo-nos da bela cidade de Verona.

Visita a Verona - 2º Dia - Parte VI

Deixámos a Tomba di Giulietta tomando novamente o caminho da Piazza Bra. A elegante  Piazza Bra encontrava-se novamente cheia de gente desde a área da Areana até à área alinhada com cafés. Esta praça além de edifícios governamentais e lojas, possui uma enorme elegância que facilmente esconde a sua história anterior, tendo sido outrora um mercado de gado local. Há também ali um escritório de informações turísticas no extremo sul da Piazza, perto da Câmara Municipal.

Da Piazza Bra até à Piazza della Erbe, embora ameaçasse chover, podemos ainda sem sobressaltos desfrutar da caminhada pela Via Mazzini, só com acesso a piões, onde se encontram muitas das mais famosas lojas de moda, onde os endinheirados que gostam de marcas, podem adquirir roupa e sapatos Gucci, Cartier, Fendi, entre outras.

A Via Mazzini termina na Via Cappello, a rua onde se encontra a famosa Casa di Giulietta, no nº 23. Ali perto, algumas ruas atrás, na Via Arche Scaliger, encontra-se a Casa di Romeo 

É uma autêntica casa medieval, onde é suposto ter vivido a família dos Montagues. No entanto só há a certeza de ter sido propriedade da família Cagnolo Nogarola, do século XIV, que faziam parte dos della Scala. A varanda é gótica e o pátio está a necessitar de obras. A casa não pode ser visitada e pertence a uma hospedaria que tem um restaurante adjacente. Na fachada uma inscrição em memória da história de Romeo e Giulietta.
Encaminhamo-nos para a Piazza delle Erbe que transborda de história, com edifícios de arquitetura fascinante, bem como bancas de fruta colorida, produtos hortícolas e recordações.
Mesmo antes de se entrar na Piazza delle Erbe, passa-se o Arco della Costa (Arco da Costela), que deve o seu nome à costela de baleia que ali se encontra pendurada. Este arco dá passagem para a praça vizinha da Piazza delle Erbe, a Piazza dei Signori.

A Piazza dei Signori ou Piazza Dante, é uma das mais famosas praças da cidade, que guarda sinais importantes da família Scala (os senhores da cidade na época medieval) e da dominação veneziana. No centro da praça, observa-se a estátua de Dante Alighieri, do séc. XIX, que lembra a longa estadia do poeta na cidade, depois de ser banido de Florença. Dante foi ali magistrado no do Tribunal de Cangrande.
A estátua de Dante Alighieri, parece fixar-se no Palazzo del Capitano, em frente, que foi o antigo palácio do governador militar de Verona. Também ali se encontra o Palazzo della Ragione (Palácio da Razão), o tribunal. No seu pátio sobressai uma magnífica escadaria exterior em pedra. Do cimo da Torre Lamberti, no lado ocidental do pátio, podem avistar-se os Alpes italianos e a cidade.
Próximo da entrada do edifício de Santa Maria Antica, a igreja românica da antiga família della Scala, podemos entrar no panteão com os túmulos dos príncipes Scaliger. O Panteão Scaliger encontra-se rodeado de muros encimados por um rendilhado gradeamento em ferro forjado, que se abre à rua por um grande portão em ferro forjado. Junto ao portão encontra-se o magníficico túmulo de Cangrande I della Scala, e por trás todo o complexo monumental dos Arcos della Scala, com os túmulos de Mastino II e Cansignorio.
Seja por projeto ou acaso o sentimento emanado dos túmulos é bastante indecifrável, o que certamente contribui para a sua mística. Na praça toda a área é repleta de magníficos edifícios de história intrigante. Há até um lugar onde uma velha estrada romana espreita para fora, sob os pátios e calçadas.
Do lado norte da Piazza dei Signori, atrás da estátua de Dante Alighieri, fica a Loggia del Consiglio, construída em 1400 e um dos melhores edifícios da Renascença italiana (por Fra Giocondo, 1486-1493), coroada com estátuas de cidadãos famosos da antiguidade, nascidos em Verona, como Plínio, o Velho, o naturalista e Vitrúvio, o arquiteto.
A chuva começou a cair de forma intensa e rapidamente desapareceram as gentes da cidade e os turistas, e nós ali ficámos a observar a chuva torrencial, que fazia elevar o bom cheirinho a terra seca.
Sem conseguirmos apanhar um táxi, pois deveriam todos estar em serviço, resolvemos jantar com antecipação e numa corrida fomos até a um pequeno bar, situado na esquina exterior do Palazzo della Ragione, onde num ambiente acolhedor se serviam pizzas e saborosas lasanhas. E ali estivemos, até à hora de irmos para a ópera.

Fonte: http://www.offbeattravel.com / http://www.tourism.verona.it

Mensagem de Natal e Ano Novo


Estes dias são momentos doces e cheios de significado para as nossas vidas. É tempo de repensar valores, de ponderar sobre a vida e tudo que a cerca. É o momento de deixar nascer essa criança pura, inocente e cheia de esperança que mora dentro de nossos corações.

É sempre o tempo de contemplar aquele menino pobre, que nasceu numa manjedoura, para nos fazer entender que o ser humano vale por aquilo que é e faz, e nunca por aquilo que possui.

A noite de Natal é uma noite cristã, onde a alegria invade os nossos corações trazendo a paz e a harmonia. O Natal é um dia festivo e espero que o nosso olhar possa estar voltado para uma festa maior, a festa do nascimento de Cristo dentro dos nossos corações.

Neste Natal faço votos para que todas  as famílias sintam mais forte ainda, o significado da palavra amor e que traga os raios de luz que iluminem o caminho e transformem o nosso coração a cada dia, fazendo que se viva sempre com a felicidade possível.

Também é tempo de refazer planos, reconsiderar os equívocos e retomar o caminho para uma vida cada vez mais feliz. Teremos outras 365 novas oportunidades de dizer à vida, que de fato queremos ser felizes. Que queremos viver cada dia, cada hora e cada minuto em sua plenitude, como se fosse o último. Que queremos renovação e buscaremos os grandes milagres da vida a cada instante.

Todo o Ano Novo é hora de renascer, de florescer, de viver de novo. Aproveite-se este ano que chega para realizar todos os nossos sonhos!

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO PARA TODOS!

Visita a Verona - 2º Dia - Parte V


Pela Via San Fermo e passando pela clareira em frente à Ponte Nevi, caminha-se ao longo da Estradone Barbieri Maffei, a caminho da Piazza Bra.
A Piazza Bra é o coração da cidade de Verona, um lugar amplo onde o sol incide luminoso, fazendo com que uma luz intensa passe através dos edifícios coloridos de diferentes idades e diferentes arquiteturas, que limitam a praça.
Ali impera a enorme Arena romana (1º séc. d.C.). Apesar de ter sido construída em 30 d.C, grande parte da sua arquitetura original permanece e o seu anfiteatro ainda abriga produções de ópera durante todo o verão. Ali decorre o Festival de Ópera de Verona, que todos os anos decorre na cidade.
À sua volta encontrámos um grande número de adereços próprios dos cenários das mais famosas óperas italianas e são usados nas várias apresentações da temporada de ópera da cidade, que decorre desde junho a setembro. Como não podia deixar de ser, resolvemos comprar logo os bilhetes para a apresentação de Turandot”, a última ópera de Giacomo Puccini, composta em três atos e baseada numa peça de Carlo Gozzi, que ali decorreria naquela noite.

Na Piazza Bra também se encontram o Palazzo Barbieri e o Palazzo della Gran Guardia, dois palácios famosos e admirados da cidade. Mas junto da praça há muitos cantos que merecem a atenção, como a estátua equestre de Vittorio Emanuele II, no centro da praça, construída no século XIX. Atrás dela, no meio de pinheiros que decoram o centro do jardim, há a Fonte dos Alpes, criada em 1975.
A Arena dominante é o monumento que lembra mais do que qualquer outro, a origem romana da cidade e é também o seu símbolo. O grande anfiteatro da Arena de Verona é o terceiro maior do mundo, entre aqueles que restam e um dos mais bem preservados no mundo.
No lado oeste da praça encontra-se o Palazzo della Gran Guardia de estrutura imponente, usado como um local para importantes exposições, congressos e reuniões, cujo logradouro se encaixa na continuidade da Arena, quebrando a linha de casas coloridas com vista para a zona dos cafés e geladarias.
À sua direita, olhando para a arena, vê-se o Palazzo Barbieri, que é nos dias de hoje a Câmara Municipal de Verona. É um edifício construído pelos barbeiros da cidade, onde ficava o Hospital da Misericórdia e a Igreja de St. Agnes. É um edifício monumental em estilo neoclássico.

Da Piazza Bra, percorre-se uma curta distância até à Tomba de Giulietta (o túmulo de Julieta), o local de descanso final da heroína, que pode ser encontrado num claustro, no Convento di San Francesco al Corso, situado na Via del Pontiere.

O Convento onde se encontra o Tomba de Giulietta, pertenceu outrora aos monges Capuchinhos e remonta ao séc. XIII. A Tomba é o “cemitério” sentimental da cidade e é visitado por turistas românticos de todas as partes do mundo.

O túmulo é um sarcófago de mármore vermelho antigo, situado numa pequena sala rebaixada (uma espécie de cripta), junto de um claustro do antigo convento. É um sarcófago sem cobertura que se encontra completamente vazio e está indicado como o local de enterro de Giulietta, no início do séc. XIX. O túmulo em pedra mármore está ali há décadas, talvez séculos. 
Nos dias de hoje, o Túmulo de Giulietta é procurado por jovens casais, para ali fazerem celebrar os seus casamentos civis. Muitos vêm do estrangeiro, para coroar o seu sonho de amor no lugar onde os amantes, Romeu e Julieta viram as suas esperanças de futuro destruídas.

O lugar é de dificil descrição!... Mas poder-se-á dizer, que é magnificamente iluminado por duas belas janelas góticas, onde o túmulo vazio aguarda a homenagem romântica dos inúmeros visitantes.

Visita a Verona - 2º Dia - Parte IV


A partir da Casa di Giulietta caminha-se pela Via Cappello a caminho do rio Ádige. A meio caminho cruza-se a Via Giovanni Zambelli e no seguimento da Via Cappello segue-se pela Via Leoni.
Na Via dei Leoni destaca-se num pequeno largo umas interessantes escavações, que são os restos de uma antiga muralha e de uma torre romanas, dois metros abaixo do atual nível da estrada, que remontam à época romana de meados do século I a.C.
A Via Leoni na continuação da Via Cappello, onde a estrada se alarga consideravelmente, tornando-se luminosa e espaçosa. É um caminho curto, mas é uma rua importante, pois é ali que se encontram dois dos mais famosos monumentos da cidade: o portão romano dei Leoni (dos Leões) e a igreja românica-gótica medieval de San Fermo Maggiore.
Chiesa di San Fermo Maggiore, junto à margem do rio Ádige e bem visível da outra margem, encontra-se próxima da Ponte Navi (Ponte dos Navios). A Ponte Navi sobre o rio Ádige fica situada na extremidade oriental de Verona e é famosa pela memória da batalha entre Cangrande II e seu irmão rebelde Fregnano, que ocorreu em 1354. O local onde se encontra a Ponte Navi foi outrora um porto de rio, onde no passado se fazia o desembarque de mercadorias para fins aduaneiros.
No último trecho da Via Leoni, em direção à ponte, observa-se bela vista proporcionada pela Chiesa di San Fermo. É uma visão de beleza suprema quando observada da calçada de frente para a estrada principal de San Fermo, em linha com o ângulo do Palazzo Bottagisio (o local onde ocorreu o tratado de paz, conhecido por "armistício de Villafranca”, assinado por Napoleão III de França, e Francisco José d'Áustria, em 11 julho 1859, que lançou as bases para o fim da segunda guerra de independência, preparando o palco para a paz).
A Chiesa di San Fermo Maggiore tem uma estrutura muito interessante, sendo constituída por duas igrejas sobrepostas. No exterior, junto da porta principal destacam-se os túmulos suspensos, com os restos mortais de Aventino Fracastoro e de Giovanni da Tolentino. O primeiro era o médico e conselheiro de Cangrande I della Scala e o segundo o Conde della Stacciola, um importante guerreiro.  
Os primeiros vestígios desta igreja datam do séc. VIII. Muitas reformas importantes foram feitas pela Ordem dos Beneditinos no séc. XI, e foram eles que construíram a igreja superior e inferior, tendo também começado a construção da torre, que só foi concluída em torno do séc. XIII.
A fachada tem duas lojas e uma janela de caixilhos, bem como um portal impressionante de arquitetura românica, construído no séc. XIV.
O interior tem uma única nave com cinco absides, e é no "altar da Torre”, do século XVIII, em estilo barroco que se encontra o belo retábulo de Bellotti que retrata San Francesco. O santuário possui também um altar, feito com o trabalho de escravos, onde repousam as relíquias dos santos Fermo e Rústico.
Por uma porta no transepto direito, descemos pelo claustro românico, onde uma escada conduz à igreja inferior. Também este edifício tem uma  planta em cruz latina, mas com três naves divididas por colunas e pilares, com capitéis de pedra medieval. Nesta igreja inferior a atenção deve ser dada aos interessantes frescos do século XI e XIII que cobrem as colunas e pilares, onde se destaca o recentemente restaurado "Batismo de Cristo", no terceiro pilar do corredor esquerdo.

O que forma o individuo hoje?

Vivemos numa época em que temos liberdade para decidirmos quem queremos ser, além de podermos criar a nossa própria identidade, sem interferência de terceiros.

No entanto, a liberdade de poder fazer escolhas trouxe para junto de nós a angústia de infrentar a oposição de muitos cuja individualidade ainda não se encontra bem definida, ou daqueles cuja formação não é das melhores, além de nos obrigar constantemente a escolhas concretas no meio social em que nos encontramos. Conquistamos assim novas formas de estar no mundo, mas também ganhamos novos problemas e novas dúvidas.

Neste episódio do Café Filosófico podemos acompanhar as excelêntes
reflexões de vários especialistas sobre a construção da identidade nos sujeitos de hoje. Quais são os valores que nos formam e que nos guiam? Quem é, afinal, o sujeito contemporâneo? São essas as perguntas que os psicanalistas Benilton Bezerra, Diana Corso, Maria Rita Kehl, a psicóloga Rafaela Zorzanelli e o psiquiatra Rossano Lima Cabral, buscam responder nesta edição. Esta edição do Café Filosófico faz parte da série "Efeitos Psicológicos da Crise", preparada pelo psicanalista Benilton Bezerra.

A não perder.

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VII

Visita a Verona - 2º Dia - Parte III


Deixa-se a Torre dei Lamberti, o campanário octogonal que nos proporcionou uma vista panorâmica de Verona e pela Piazza delle Erbe, segue-se em direção à Casa di Giulietta.

Tinha chegado o momento mais esperado de toda a nossa visita a Verona. Estávamos bem perto da casa de uma das heroínas dos mais famosos dramas de Shakespeare e por isso mesmo um dos locais de maior importância da história de Romeo e Giulietta.

Entrámos na Via Cappello a partir da Piazza delle Erbe e caminhámos mais um pouco, até que do lado esquerdo um portal rasga-se nas paredes de pedra de um antigo edifício da aparência medieval. 
  
Tinhamos chegado à antiga casa da família Cappello, os antigos proprietários da casa mais visitada da cidade de Verona, situada no nº 23. É uma casa há muitos anos visitada, como a casa dos Capuletos, mas na verdade, é a semelhança de seu nome, que gerou a crença popular de que aquela era a casa dos “Capuletos”, da peça de Shakespeare.

Ao portal uma pequena multidão juntava-se, uns saindo, outros entrando. Um pequeno túnel separa a rua do pátio interior da antiga casa centenária, e nele muitos escritos que os turistas ali foram deixando, como testemunho da sua presença ao longo dos anos.

Naquele lugar como é óbvio, está presente na memória de todos, a famosa lenda dos trágicos amantes, perpetuada pela escrita de Shakespeare, e que curiosamente não foi o único a debruçar-se sobre ela, pois como se sabe a história dos dois amantes, foi também anteriormente recordada e escrita por Luigi da Porto, de Vicenza.

Já dentro do pátio, reina a confusão, onde domina a pequena e famosa varanda de traça medieval rodeada por centenas de curiosos, que muitos olham à espera que nela apareçam os seus familiares ou amigos, tal como eu esperava que nela aparecesse a minha amada “Giulietta". Vive-se ali um clímax de emoções. Esta é supostamente a mesma varanda onde a trágica heroína, falava com o seu Romeo.
No pátio a um canto, uma estátua em bronze de Giulietta, onde todos se atropelam para com ela serem retratados, colocando a mão no seu seio direito, para segundo a crença lhes dar sorte.

Ali, na parede por cima da pedra angular do arco interno do pátio, ainda pode ser visto o brasão de armas da família dell Capello. A casa foi construída no séc. XIII e já na nossa era, foi feito um esforço de restauração maciça, na qual lhe foram adicionadas as janelas e portas góticas, bem como a famosa varanda, realizada na década de 1930.
Dentro da casa há um pequeno museu. O mobiliário e os trajes em exibição são antiguidades genuínas dos séculos XVI e XVII. A cama e algum do vestuário exposto foram usados no filme de 1936, de Franco Zeffirelli"Romeu e Julieta". Os frescos, pinturas e cerâmicas estão todos relacionados com peça de Shakespeare, mas, novamente, não está provado que eles tenham pertencido aos Capuleto.

No pátio, do lado oposto da casa, fica a loja de recordações, que é também o Clube di Giulietta, que desde 1930, recebe cartas de todo o mundo endereçadas à amada de Romeo e que continuam a chegar a Verona. A partir do momento em que o clube foi criado, mais de 5.000 cartas são recebidas anualmente, três quartos das quais são de mulheres, que pelos vistos ainda continuam a ser as sempre eternas românticas.


Os maiores grupos de remetentes são de adolescentes norte-americanos. As cartas são lidas e respondidas por voluntários locais, organizados desde a década de 1980 no Clube di Giulietta que é financiado pela cidade de Verona.

Não são as circunstâncias que decidem a nossa vida

A nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas. Mas assim como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo mais problemática. Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu próprio destino.


Mas agora é preciso completar o diagnóstico. A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância – as possibilidades – é o que da nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o mundo. A vida não elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. O nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra a nossa vida. Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a bala de um fuzil, cuja trajetória está absolutamente pré-determinada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é sempre este, este de agora – consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente força-nos... a eleger. Surpreendente condição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem num só instante se deixa descansar a nossa atividade de decisão. Inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir.


É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.


Ortega y Gasset, in 'A Rebelião das Massas'