Visita a Valencia - 1º Dia - Cidade das Artes e das Ciências - Parte II

A Cidade das Artes e das Ciências é o maior centro de lazer e cultura da Europa. Combina conteúdos de interesse científico e popular, com elementos de diversão para todo os tipo de pessoas. A entrada inclui: O Hemisférico, o Museu de Ciências Príncipe Felipe, o L'Umbracle, o Oceanográfico e o Palácio das Artes.

No início da nossa visita, começamos pelo Hemisferic, que ocupa uma área de 26.000m² aproximadamente e fica localizado entre o Museu de Ciências e o Palácio das Artes.

O Hemisferic é um edifício único, que representa a forma de um olho humano, e acolhe o único ecrã em Espanha onde os visitantes podem desfrutar de três tipos diferentes de espectáculos audiovisuais: O Hemisfério é um planetário com um cinema IMAX, cuja tela de projeção em forma de semi-círculo de 900 m2, é a cúpula do edifício, que tem um ângulo de 180º. Nele são projetados filmes científicos e documentários.

Dentro da área oval ou elíptica em redor da cúpula da sala de projeção, o cinema IMAX e o planetário estão protegidos pelo grande telhado do edifício. Em seu interior possui uma área de 1.200 m2 utilizáveis ​​como projeção de fundo ao ar livre, delimitada por portas laterais transparentes, uma característica móvel do edifício.

No exterior o Hemisféric, tem uma cúpula ovoide  e é formada por grandes lâminas teóricas, formadas por vigas metálicas que formam um caixão de 90 m de comprimento, que surgindo do nível da água envolvem a cúpula. Estas lâminas estão providas de enormes cancelas móveis como as pálpebras do olho, que abrem ou fecham. O movimento é obtido por meio de um sistema hidráulico, semelhante ao usado nos portões de garagem. Os espaços vazios das "costelas" entre a viga inferior e a sua imediata superior, servem como janelas envidraçadas executadas com vidro laminado.
Possui ainda uma sala para apresentações, conferências e simpósios, com uma capacidade de mais de 300 pessoas, que tem uma tela hemisférica de 24m de diâmetro.

Para quem quiser petiscar qualquer coisita, possui um café e um restaurante com capacidade para cerca de 100 pessoas. Na loja do Hemisfèric, os produtos estão relacionados com os temas dos filmes, como acontece com os relacionados com o seu planetário, como planetas, estrelas, galáxias e a astronomia em geral.
Santiago Calatrava não entende a arquitetura como algo estático. Procura o movimento nas suas construções, sendo esta uma das suas preocupações constantes. Assim, mais uma vez, ele utiliza o conceito de movimento e dinamismo nos seus projetos, dotando este edifício de uma característica marcante, utilizando cancelas curvas de aço e vidro movimentadas por um sistema hidráulico que, como “pálpebras”, abrem e fecham as laterais da cúpula complementando o efeito do “Olho que tudo vê”, simbolizando a Ciência e o Conhecimento.

O Umbracle é o pórtico de entrada da “Cidade das Artes e das Ciências”, colocado num ponto mais elevado. É uma estrutura de 300m de comprimento e 60 m de largura, formado por 55 arcos fixos e 54 arcos flutuantes com 18m de altura. Sob o Umbracle foi construído um jardim com plantas da região de Valencia, formando uma área de acesso público de 7.000m². No Umbracle também foram colocadas esculturas de artistas contemporâneos (como Yoko Ono, mais famosa por ser a viuva de John Lennon do que por suas esculturas), formando o “Passeio das Esculturas”.
O Palácio das Artes Rainha Sofia tem 4 salas de espetáculo que permitem uma multiciplidade de atividades, de óperas a espetáculos de dança contemporânea. A cobertura é a parte mais representativa do conjunto, pois além de sua rugosidade estrutural e geométrica, contém uma grande carga de expressividade e intenção plástica. Ela tem 230 m de comprimento e mais de 70 m de altura.

A Sala principal com capacidade para 1.700 pessoas, principalmente vocacionada para ópera, mas que pode ser convertida para dança e outras artes performativas. O Auditório está localizado acima do Hall Principal. Tem capacidade para 1.500 pessoas e as suas instalações incluem sistemas de som e de vídeo capazes de projetar telas de eventos que ocorrem em locais abaixo. É um local espetacular com múltiplos usos, desde concertos de música clássica, sendo usado ainda para comícios políticos. A Aula Magistral é outra sala que possui a capacidade para 400 pessoas e é usado para música de câmara, performances e conferências. O Martí i Soler Teatro foi construído abaixo da base da pluma do Palau e tem uma capacidade para 400 pessoas. É usado para produções teatrais e como centro de ensaios.
O Museu das Ciências Príncipe Felipe, foi concebido como um museu aberto e dinâmico onde o lema principal é “é proibido não tocar”. Ao longo dos seus 4.000 m² os visitantes passam pelas diferentes áreas que cobrem uma ampla gama de temas científicos, desde biologia e física até às mais avançadas tecnologias aplicadas à comunicação, construção, desporto, etc.

Depois de percorrermos os vários espaços ocupados pelos mais emblemáticos edifícios da Cidade das Artes e das Ciências, bebendo avidamente a sua beleza arquitetónica, pedalámos a caminho do Parque Oceanográfico, situado a este, para uma visita com maior cuidado e interesse.
Fonte: http://www.info-costablanca.com/ tp://www.destinosdeviagem.com/ http://www.engenium.net

Visita a Valencia - 1º Dia - Cidade das Artes e das Ciências - Parte I

No dia seguinte à nossa chegada à cidade de Valencia e após uma boa noite passada sem sobressaltos, tirámos as bicicletas e pedalando fomos conhecer a zona mais moderna da cidade.
Valencia é uma cidade grande mas predominantemente plana, o que proporciona boas passeatas de bicicleta, além de ter uma boa rede de transportes públicos, que nos permitem uma fácil acessibilidade a qualquer zona da cidade.

Aquele dia foi destinado a um passeio pela Cidade das Artes e das Ciências, de visita obrigatória para quem ese encontra na cidade de Valencia. Foi projetada pelo arquiteto Santiago Calatrava, juntamente com Félix Candela e inaugurada em abril de 1998.
A Cidade das Artes e das Ciências é um lugar belíssimo onde se respira vanguarda e se têm largas vistas. É uma autêntica cidade futurista, integrada num parque urbano de 350.000 m², soberbamente construída no lugar do antigo leito do rio Turia. Alberga 5 impressionantes edifícios onde o vanguardismo e a criatividade se fundem numa grande beleza visual. Nela se destacam:

1- O Hemisferic
2- Museu das Ciências Príncipe Felipe
3- L’Umbracle

4- Parque Oceanográfico
5- Palácio das Artes (não visível na imagem
)
Depois o lugar impressiona realmente pelas formas arquitetónicas dos seus belos edifícios, em que sobressai o betão, o vidro, o aço e a cerâmica branca e azul de Valencia (aplicada aos fragmentos de cerâmica, os trencadís, numa técnica de mosaico semelhante à usada por Gaudi), que se refletem em enormes espelhos de água que os rodeiam e que se recriam graças ao movimento das suas linhas, como a forma de um olho do Hemisfèric, a forma de um esqueleto do Museo de las Ciencias ou de uma espinha de peixe, a marca registada do Palau de les Arts.

Ali encontramos o Cinema Imax, um planetário, o Museu interativo de Ciências, um trilho para caminhadas, uma galeria de arte, um bonito e um enorme oceanário com 110 mil metros quadrados, que foi o nosso eleito para uma visita mais demorada, salas de espetáculos e conferências, pontes e torres de escritórios, que ocupam este espaço na zona mais moderna da cidade.
Esta bela Cidade das Artes e das Ciências vale, não tanto pelo interesse do seu conteúdo científico, que pode ser encontrado noutros lugares, mas sobretudo pelo seu lado lúdico, pois possui o ecrã gigante de 900 m² do Hemisfèric, as plantas aromáticas do Umbracle, um jardim de 17 500 m² coberto por uma fabulosa arcada, ou os inúmeros aquários e lagos ligados por incríveis corredores de vidro que suportam largas massas de água, no Oceanogràfic, que é ainda mais impressionante do que o nosso Oceanário de Lisboa.

Educar hoje para não chorar amanhã

"Os maus pais são os que acham que a criança tem direito a tudo"                           
25.03.2009 - 08:41 Por Bárbara Wong

Aldo Naouri está reformado e orgulha-se de antes de ter deixado o exercício da pediatra, ter observado os netos de uma das suas primeiras doentes. Sabe dizer “não tenhas medo” em 48 línguas, tantas quantas as nacionalidades de doentes que recebia no seu consultório, em Paris. Escolheu ser pediatra porque acreditava que não ia lidar com a morte. Enganou-se. Agora dedica-se à escrita de livros.
Em Educar os Filhos: Uma Urgência nos Dias Que Correm, publicado pela Livros d´Hoje, defende uma educação sem relações democráticas, onde as crianças são postas no seu lugar, que é o de obedecer sem questionar. Eles não têm direitos, porque não são o centro do mundo. Conservador? “Sim, mas no bom sentido da palavra”, admite.

Defende que os pais são muito permissivos e que devem exercer mais a autoridade. Como é que chegou a essa conclusão?
Quando os bebés vêm ao mundo, passam por um processo muito violento que é o da expulsão do corpo da mãe. Desde o primeiro dia que os pais procuram ajudá-los a adaptar-se e quando o bebé chora, a resposta dos pais é imediata na procura do seu conforto. Os pais acorrem imediatamente e o bebé compreende-o. O que defendo é que o bebé precisa de regras desde cedo, porque se estas não lhe forem ensinadas, ele permanecerá um bebé para o resto da vida.

Não é um cenário exagerado?
Não. A sociedade será constituída por indivíduos que estão centrados sobre si próprios, para os quais as regras e os outros não interessam. O problema da educação não é só de cada uma das famílias, mas diz respeito directamente a toda a sociedade.

É por isso que defende que uma ordem, dada pelos pais, não deve ser explicada, mas executada?
Os pais e os filhos não estão no mesmo nível geracional, entre o pai e a criança a relação é vertical. Ao educarmos a criança, queremos elevá-la, fazê-la ascender ao nosso nível, ou seja, partimos do bebé para fazermos um adulto. Quando damos uma ordem e a explicamos, a relação vertical torna-se horizontal porque permitimos à criança que possa negociá-la. No entanto, ela precisa de saber que há limites.

Mas se aplicarmos este princípio, não estaremos a criar adultos sem pensamento crítico, que executam ordens sem perceber, nem contestar?
Este é um conceito que deve ser aplicado em qualquer idade: os pais dão a ordem e a criança executa. Claro que a ordem pode ser explicada, mas só depois. Dizer “não” a uma criança é como o parapeito de uma ponte, em cima da qual ela se encontra. Se não houver esse parapeito, a criança cai para o vazio e nenhum pai quer que isso aconteça. O “não” é uma protecção.

Os pais nunca pedem desculpa, nem mesmo quando erram ou são injustos?
Nunca! Os pais nunca pedem desculpa. Devem falar com firmeza e ternura. Nunca temos de nos justificar, nem de dar argumentos à criança. Podemos explicar, mas não justificar. O limite entre ambas é ténue, por isso defendo que na maior parte das vezes nem se explique.

O modo como os pais educam, por vezes, não é em reacção à forma como foram educados? Ou seja, eles tiveram pais rigorosos e autoritários, logo, são mais democráticos?
Justamente, quando os pais se tornam pais, por vezes, recordam que há algum ressentimento em relação aos seus pais e não querem repetir, nem querem que os seus filhos o sintam mais tarde. O que digo a esses pais é que as crianças estão condenadas a amá-los, porque foram eles que as educaram. É inútil entrar no jogo da sedução, esse é que é perigoso. Quando dizemos “não”, estamos a impor limites, estamos a dizer à criança: “O teu percurso é por cima desta ponte e esta tem parapeitos para que não caias à água.” Se os pais disserem “não” com tranquilidade, a criança não vai contestar.

Não haverá uma altura em que a criança quer espreitar por cima do parapeito ou pôr-se em cima dele?
A criança vai querer abanar a ponte, transgredir para ver se a ponte é sólida. Essa transgressão vai ajudá-la. As crianças são extremamente sensíveis aos limites, porque têm medo. A autoridade não é nociva, porque dá-lhes boas indicações sobre como é que devem seguir o seu percurso.

Por isso defende que é preferível educar as crianças de uma forma ditatorial a uma democrática?Os pais são permissivos porque a ideia da democracia e dos direitos está muito espalhada. Ao criar as crianças de um modo ditatorial e autoritário, estas vão aprender a reprimir. A partir desse momento, compreendem que os outros também existem e, no futuro, serão democratas. Mas, se os criarmos em democracia, como se fossem iguais aos pais, vão crescer centrados sobre si mesmos, vão crescer como fascistas. O que é um fascista? É um indivíduo que pensa que tem todos os direitos.

Os pais têm mais direitos do que os filhos?
Hoje os pais procuram o prazer da criança e devia ser ao contrário. Os pais têm mais direitos, mas também mais deveres. O direito de saber o que é que lhes convém e às crianças e o dever de o impor à criança.

Não é isso a ditadura?
Não! Não é ditadura, mas autoridade. Se os pais continuarem a dar todos os direitos à criança, começam a pedir-lhe autorização para sair à noite, para fazer esta ou aquela compra. Em França, 53 por cento das decisões sobre que produtos comprar são decididas pelas crianças. Alerto para o risco de estarmos a criar tiranos.

Que tipo de adultos estamos a criar?
A mensagem do marketing insiste na importância dos filhos, o que paralisa os pais. A mensagem tem como objectivo aumentar o consumo. E estamos a criar crianças tiranas, autocentradas, perversas, que só pensam nelas.

São crianças que não sabem reagir à frustração? Que efeitos pode a actual crise económica ter sobre elas?
A crise económica é já um resultado de uma educação irresponsável.

Isso significa que as duas gerações anteriores já foram educadas nesse paradigma de que a criança é o centro do mundo?
Sim. As coisas começaram a mudar a partir do momento em que entrámos numa sociedade de abundância. Antes disso, dizíamos: “Não se pode ter tudo.” A partir dos anos de 1955/1960, passámos a dizer: “Temos direito a tudo.” A partir desse momento, começou a crescer a importância do “eu, eu, eu”.

Sempre pensou assim, ou, à medida que foi envelhecendo, foi mudando?
As crianças vão ao meu consultório e não têm problemas. Porquê? Porque trato rapidamente desta dimensão da educação com os pais. Quando estes falam com outros pais, recomendam-me: “Vai falar com Naouri.” E eles vêm. Preciso de duas ou três consultas para resolver os problemas com eles. Porquê? Porque dou este tipo de explicações.

Quais são as principais queixas dos pais?
Falta de disciplina, mau comportamento, desobediência nas horas de comer, tomar banho ou de dormir. Os pais pedem socorro, porque não conseguem reprimir as pulsões das crianças. Seja uma criança de um, três ou sete anos, procedo sempre do mesmo modo. Falo com os pais, escuto o que se passa, agradeço à criança por me ter vindo ver e ter trazido os pais e digo-lhe ainda que me vou ocupar dos pais. Em 80 por cento dos casos, as coisas ficam em ordem.

Como é que os pais sabem que são bons pais?
Os bons pais são os que permitem à criança poder desejar. Os excelentes não existem. Todos os pais têm defeitos, os maus são os que acham que a criança tem direito a tudo.

Qual é a sua opinião sobre as novas famílias, as monoparentais, as homossexuais, as divorciadas que voltam a casar... Podem ou não ser boas educadoras?
Em nome do egoísmo pessoal tomamos decisões que são prejudiciais para as crianças. As crianças filhas de pais divorciados divorciam-se mais rapidamente. As crianças de famílias monoparentais são crianças sós. Quanto aos casais homossexuais, a criança é como que um produto. Temos direito à felicidade, à saúde, a tudo o que queremos e também a uma criança. Isso é desumanizante.

Deviam existir escolas de pais, para estes aprenderem a educar?Pessoalmente acho que a escola de pais vai ainda paralisá-los mais. Eles recebem demasiadas mensagens, algumas contraditórias e que paralisam. Defendo que os pais devem ser pais, que não tenham medo de o ser e de ter confiança. Se assim agirem, saberão o que fazer. Disciplinas como

Educação para a Cidadania ou Educação Sexual são necessárias?
Tudo é necessário. A função da escola não é educar, a educação deve ser dada nos três primeiros anos de vida, pelos pais. A escola faz isso como paliativo, mas não chega, porque a educação é um problema e responsabilidade dos pais.

Porque é que os pais não são mais firmes? Porque têm medo que os seus filhos os deixem de amar?
As crianças olham para o mundo como os pais o apresentam. A firmeza, quando é usada, vai passar a ser uma dimensão natural do mundo. Por vezes, as coisas não são perfeitas e é preciso gastar mais energia e mais tempo, mas os pais devem manter-se firmes, sem nunca esquecerem a ternura.

No seu livro afirma que as crianças não têm direitos. Porquê?
Explico no livro que quando a França tencionava assinar a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, os especialistas reunidos pelo Governo, entre os quais eu me encontrava, recusaram a sua assinatura porque é um documento que não se adequa ao contexto europeu, porque são só direitos, sem enunciar qualquer dever, o que leva ao laxismo. No entanto, o Governo já a havia assinado.

Mas há crianças europeias que vivem na miséria, são vítimas de abusos e de maus tratos. Não precisam de ter direitos?
São poucas as que vivem essas situações. É importante sublinhar que o direito mais importante a que a criança tem direito é à educação. É curioso verificar que "educar" e "seduzir" são construídas a partir da mesma palavra do latim "ducere", que quer dizer, "puxar para si", "conduzir", o que deu "ducare", "educar". Mas "ducere" parte do radical "dux" que quer dizer "chefe". A ideia de chefe ou do exemplo que dele se destaca. Ora "seducere", é exactamente o contrário, é colocar de parte o exemplo do chefe. Educar implica impor à criança um constrangimento ou uma privação que faça sentido em si. E que não é para ter efeito imediato, mas a longo prazo.

Em consultório, já houve pais que discordaram consigo e deixaram de o consultar?
Há pais que ficam chocados com o que digo. Não posso fazer nada. Pelo meu consultório passaram pessoas de 48 línguas diferentes. Quando vejo alguém pela primeira vez cuja língua materna não é o francês, pergunto como é que na sua língua se diz "não tenhas medo" e transcrevo foneticamente. Sei em chinês, grego... E quando pego na criança digo-lhe "não tenhas medo". À criança digo pouca coisa, trato-a com ternura e ela sente-a. Mas falo sobretudo com os pais. O que é surpreendente é a rapidez com que os pais recuperam as suas capacidades de educadores. Falo com eles e é como se se encontrassem e se sentissem autorizados.

Já foi acusado de ser de extrema-direita?
Sim, por uma imprensa que recusa totalmente a possibilidade de educar. Digo que são pessoas que não sabem nada de educação, que me acusam de fazer muito barulho e de querer impor um modelo e de dar uma ideia de catástrofe. Mas é preciso chamar a atenção para os perigos de uma educação permissiva. Contudo, a maior parte das reacções, as centenas de cartas e de e-mails que recebo são de pais que me agradecem.

E os investigadores e outros autores estão de acordo com as suas ideias?
A maior parte está de acordo. Os psicanalistas que conheço, excepto, dois ou três, dizem que o meu trabalho é excelente e necessário.

Os pediatras devem ser mais do que médicos que fazem diagnósticos?Antigamente, os pais pediam aos pediatras: Faça tudo para que o nosso filho não morra e que tenha uma boa saúde. Agora, pedem-nos para colaborar com eles na educação. Mas os pediatras não sabem responder e é uma pena.

Não sabem responder porque falta formação nessa área?
Sim, há 60 anos que a pediatra continua a ser ensinada da mesma maneira. Os estudos deviam preparar os pediatras para saber responder a todas as dúvidas educacionais dos pais. Um dos problemas da pediatria é que as palavras “pai” e “mãe” não existem e os médicos só conhecem as palavras “bebé” e “criança”.

Os pediatras deveriam ter mais conhecimentos de psicologia e pedagogia?
Absolutamente. Os pediatras deviam perceber que os pais quando têm problemas com o comportamento dos filhos não querem ir falar com um psicólogo, mas com o médico que acompanha os seus filhos. É preciso mudar. Eu estudei psicanálise, mas também antropologia, sociologia, linguística. Fui-me formando e os meus colegas pedem-me para falar com eles sobre estes temas porque percebem que têm essa dificuldade.

Entrevista a Aldo Naouri, in Jornal Público, de 7 de março de 2012

*A não perder também, "Inventem-se novos pais", de Daniel Sampaio 

A Geração de Abril

Um dia isto tinha que acontecer, por Mia Couto

Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (atualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquer coisa phones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que coleciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as que foi ditando à escola, alarvamente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato coletivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

O vazio das não-notícias


O Público deu-nos a possibilidade, neste número, de fazer aparecer esse avesso do estado da nação, levantando uma ponta do véu que o recobre e o esconde. Não se tratou, pois, de informar ou de desinformar, mas de fazer pensar diferentemente no país que temos e na informação que dele dispomos.

Vivemos num país desconhecido. Por baixo da informação tangível, dos números e das estatísticas, correm fluxos de acontecimentos inquantificáveis e que, no entanto, condicionam decisivamente a nossa vida. Quantas doenças psíquicas foram desencadeadas pela crise? Quanta energia vital se desperdiça na fabricação da imagem de um rosto jovem necessário exigido por tal profissão? São "dados" incognoscíveis ou imateriais, não suscetíveis de se tornarem informação. São não-notícias.

Ordenámos a não-informação em três categorias: o que é impossível conhecer (por exemplo, aquele fator decisivo, singular, único do "talento", que não entra numa grelha de avaliação de competências de um aluno), mas é condição essencial para que se ordene de modo inteligente, ético e eficaz a informação que se conhece; o que não se conhece mas que se poderia e deveria conhecer (o número de mortes estimado por atraso na lista de espera de uma operação) para o fazer entrar numa decisão política ou outra; o que seria possível conhecer mas que se torna impossível saber porque o seu conhecimento poria radicalmente em questão o regime das nossas sociedades pós-democráticas (por exemplo, o número de políticos corruptos). As inúmeras perguntas que fizemos aos organismos competentes receberam não-respostas, confirmando a ideia de um vazio obrigatório de informação: na secção "Pobreza" os dados recolhidos não permitem um plano de combate exaustivo e eficaz à pobreza; na secção "Política" a ausência de números oficiais sobre os políticos que detêm depósitos em offshores indica que a transparência nesse domínio subverteria o nosso regime político; e assim por diante.

O nosso país está demasiado "cheio" (de informações, imagens, bugigangas de toda a espécie) e quanto mais se enche mais se enterra o vazio essencial a que não se dá a importância que tem. Acreditamos que a informação que, por definição, vive da positividade do dado, do pleno, que nos enche os olhos e o cérebro criando a ilusão de pensamento, pode ser tratada de outra forma. A massa de informação a que hoje temos acesso contribui para uma espécie de visão global que faz da realidade um conjunto de coisas e factos objetivos - de que decorre ao mesmo tempo a despoetização do mundo e um crescente caos afetivo. Contra isso, acreditemos nas virtudes do vazio.
O que fizemos - em trabalho extraordinário de equipa - sugere a possibilidade e a necessidade de traçar um mapa de Portugal que mostre os trajetos duplos, de um pleno que constantemente atropela e exclui o vazio; e dos movimentos do vazio que abrem linhas de fuga, incita a pensar diferentemente, desencadeia poderosas forças de criação. Não estamos condenados ao que julgamos que nos condenaram. Só assim poderemos conceber reformas radicais que libertem as energias e mudem o país.

José Gil, in Jornal Publico.pt, nº 8001 de 5 de março de 2012

A caminho de Valencia - Última etapa

Saímos ao final da tarde de Uclés, depois de mais uma paragem num miradouro junto da estrada, para as fotos finais à povoação e ao seu mosteiro. A última etapa da viagem com rumo a Valencia é feita pela A3, a Autovia del este, que liga Madrid a Valencia.
A estrada Madrid-Valencia é uma das estradas mais movimentadas do país e um dos caminhos clássicos dos tempos modernos. A transferência é permanente, uma vez que esta estrada junta a primeira e a terceira maior cidade da Espanha, que são dois dos centros de maior atividade económica do país.
O percurso de 352 km a viajar a uma velocidade média de 100km/h, perfaz um percurso de cerca de 3 horas. As paisagens que nos acompanham em zona planáltica são próprias da meseta ibérica.
Ali os planaltos têm formas aplanadas e a sua altitude, geralmente, varia entre 200 e 1000 metros. São antigas montanhas que, ao longo dos tempos, foram sendo desgastadas por elementos naturais como o vento, a chuva, o gelo, os rios e o mar.

A meio caminho e antes de anoitecer, passámos junto da povoação de Coestas de Contreras e após a passagem por um túnel, entra-se na província de Valencia. É ali que se observa a Barragem de Contreras do lado esquerdo da estrada, e por trás da barragem a enorme albufeira com o mesmo nome.
A barragem foi construída na confluência dos rios Cabriel e Guadazaón, sendo usada para produzir energia elétrica e fornecer água para o Canal Júcar-Turia, que abastece de água potável a cidade de Valencia.

A jusante da barragem está localizada Ponde de Contreras, construída entre 1845 e 1851 pelo engenheiro Lucio del Valle, que foi complementada com um viaduto, que atravessa o grande reservatório de água da Barragem de Contreras.
Ali perto encontra-se a Reserva Natural Hoces de Cabriel, localizada na região de Cuenca, entre as cidades de Minglanilla e Iníesta (Cuenca). Este é um vale escarpado e fundo, com encostas íngremes e paredes verticais de inegável interesse, uma zona de grande qualidade geomorfológica e paisagística e habitat para muitas plantas e espécies animais da região do Mediterrâneo.

Já de noite se chega a Valencia e logo se procura a única estação de serviço de autocaravanas da cidade, que é ao mesmo tempo um parque de estacionamento automóvel particular, sem sombras, próxima de um viaduto e por isso mesmo um pouco barulhenta, mas com ligação à eletricidade, água e esgoto.
Fonte: http://www.turismocastillalamancha.com / Wikipédia.org