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"Barão de Forrester, Razão e Sentimento, uma História do Douro (1831 - 1861)"

A melhor das surpresas para nós, foi a presença de uma exposição sobre um homem impar para a região do Douro Vinhateiro, o Barão de Forrester, de seu nome, Joseph James Forrester. Já por várias vezes tinha ouvido falar e lido sobre a excepcional mas curta vida deste escocês notável, que pelo Douro se apaixonou, e que nele morreu, mas desconhecia parte da sua vida e até de alguma da sua enorme cultura, realmente versátil para a sua época. Foi por isso com muitíssimo prazer e interesse que visitei a exposição de homenagem a este homem do Douro.

A exposição no Museu do Douro intitulada "Barão de Forrester, Razão e Sentimento, uma História do Douro (1831 - 1861)", estava composta por uma mostra apresentada em onze núcleos: A chegada de Joseph James Forrester ao Porto; o Cerco do Porto e as lutas liberais; As origens do escocês e uma das suas primeiras obras de pintura retratando o Porto Marítimo de Hull, sua cidade natal; Forrester e a comunidade inglesa na cidade do Porto; Um jantar na Régua e a problemática da adulteração dos vinhos; As amizades electivas de Forrester, que ele retratou sem excepção; A obra pictórica de Forrester durante o Romantismo; Forrester um amador de fotografia em Portugal; Exposições Universais de 1851 e 1855; A morte do Barão de Forrester; Bibliografia do Barão; A ligação de Forrester à cartografia do Douro, um trabalho absolutamente notável.

Nesta exposição tomei o real conhecimento, do muito que deve o Vinho do Porto a Joseph James Forrester. Em 1844 publicou "Uma palavra ou duas sobre o Vinho do Porto", obra em que declarou guerra a todos aqueles que adulteravam o vinho, o que lhe granjeou muitos inimigos. Foi também um estudioso do oídio da vinha (Oidium tuckeri), e foi um exímio cartografo tendo desenhado notáveis mapas do Vale do Douro. Foi ainda poeta, desenhista e aguarelista.

Joseph James Forrester nasceu na Escócia a 21 de Maio de 1809 e morreu misteriosamente no rio Douro em 12 de Maio de 1861.Veio muito novo viver para o Porto, para a casa de um tio, negociante muito abastado, que comprava as pipas de vinho do Porto por dez mil réis e depois as vendia na Inglaterra por mais de setenta. Educou o sobrinho para lhe continuar o negócio, mas ao jovem aconteceu algo de belo e imprevisível: apaixonou-se pelo rio Douro.

A compra e venda da produção dos lavradores eram para ele apenas um pretexto para viver no rio. Tal era a paixão fluvial, que mandou construir um barco do estilo rabelo, para aí poder permanecer por longos períodos e receber os seus amigos e pessoas importantes da época, aos quais oferecia jantares esplêndidos. Conta a história que este barco, de tão requintado e luxuoso que era, impressionou na época, não só pela magnífica tripulação rigorosamente uniformizada, mas também por já dispor de magnificas condições, tais como: cozinha, sala de jantar, leitos e retrete.

Acompanhado pelos mais valentes marinheiros, o barão navegava desde o Porto até Barca de Alva, ficando horas e horas ancorado no fundo do rio, a desenhar os pormenores das margens, as encostas a descer em catarata até ás arribas rochosas, os cachões sinuosos que a água fazia entre as valeiras, e redigia notas para os seus trabalhos sobre o Douro.

A coroa de glória a que aspirava, conseguiu completá-la: o Mapa do Douro, um minucioso levantamento reduzido a um desenho de três metros de comprido e 68 cm de largo, nunca o tendo comercializado, mas sim oferecido a quem se mostrasse interessado, independentemente da classe social a que pertencesse. Nunca um rio português tinha sido estudado com tanto amor, tanto rigor científico, tanta despreocupação material. Este trabalho esplendoroso, adicionado aos vários mapas da região demarcada, fez com que o rei D. Pedro V, em 1855, lhe concede-se o título de Barão, o que constituiu um feito inédito até então, conseguido por um estrangeiro.

Em Maio de 1861, o Barão de Forrester foi visitar D. Antónia Adelaide Ferreira, a uma das de mais de meia centena de quintas de que a famosa Ferreirinha era proprietária: A Quinta do Vesúvio. Esta quinta, situada na Horta de Numão, entre a Pesqueira e Foz Côa, e que contém dentro dos seus muros sete montes e trinta vales, era uma das propriedades preferidas de D. Antónia.Ali a detentora de uma das maiores fortunas do Douro primava em receber as suas visitas, debaixo de uma frondosa palmeira que ainda hoje lá existe. Ao instalar-se o Barão no Vesúvio, aumentou assim o número de visitantes que já ali se encontravam, a saber, a filha de D. Antónia, o genro (o jovem Conde de Azambuja) e ainda o juiz de direito da comarca, que apreciava muito não se sabe se a quinta, se o famoso vinho, se a Ferreirinha.

D. Adelaide, ao ver-se ladeada de toda esta gente, e talvez um pouco saturada de tantas visitas, decide anunciar a sua partida no dia seguinte para a Régua. O barão disponibiliza-se de imediato para a acompanhar, ao que recebeu resposta negativa da proprietária, alegando que o mesmo não tinha lá o seu barco. Num gesto de galanteio e contra resposta, o barão fez questão de a acompanhar, porque era conhecedor do percurso e seria o governador do barco da enérgica Senhora.

Separava-os da "Princesa do Douro" (Cidade da Régua), a distância de cinquenta e seis quilómetros e haviam que passar pela pior garganta do curso: o Cachão da Valeira. Era este o local que mais impressionava o barão, e que por ele foi desenhado várias vezes. Foi precisamente aí que a tragédia caiu sobre os viajantes.

Os remadoures não puderam evitar a força da corrente, o barco afundou-se e todos os ocupantes foram atirados para as águas revoltosas do rio. As grandes saias de balão que então se usavam seriam motivo de salvação das senhoras. Os cavalheiros tiveram outra sorte. Desapareceram dois criados de D. Adelaide, e os cadáveres encontraram-se dias depois nas imediações da Régua. Até um caixote com pratas que a Ferreirinha levava para a Quinta de Travassos em Loureiro, veio a aparecer longe, entalado na roda de uma azenha.

Só do Barão não houve mais notícias. Vieram mergulhadores, na esperança de encontrar o corpo, sendo todas as tentativas infrutíferas. O Barão, que sempre usava um grande cinto de cabedal atulhado de libras de ouro, tinha nesse dia calçado grandes botas pretas, que chegavam ao cimo da anca, e segundo se consta tudo aquilo era ouro escondido.

O Barão de Forrester desapareceria para sempre, nas profundezas deste rio, amante sôfrego, que o abraçou para sempre e o não deixou mais partir. Sentida e merecida homenagem a este amante do Douro Vinhateiro e do seu rio.

Sílvia Hestnes Ferreira, um Mundo de Abstracção

A pintura de Sílvia Hestnes Ferreira também se encontrava exposta no Museu do Douro, e foi com agrado que observei o seu trabalho cheio de cor e simbolismos. Além da pintura Sílvia Hestnes dedica-se também ao desenho, à escultura e à escrita. A pintura, o desenho e a escultura são para a artista, tanto experimentação como anotação.

Sobre a sua obra Philippe Cyroulnik (Director of Centre d'Art Contemporain, Montbéliard), diz: "Algumas das suas notas escritas, deslocam-se do texto ao desenho. Como a vida tem os seus nós, as suas alegrias e a sua gravidade, os materiais e as formas, os traços e as cores remetem por vezes a um sentimento do mundo ou a uma maneira de o experimentar. Eles são aqui o território duma translação que entrelaça as ligações entre o vivido e o imaginário, o sensível e o pensamento. (...)"
A sua obra, à medida das palavras e ao longo dos desenhos e outros trabalhos, convida-nos a um vai e vem subtil e perturbador entre o mundo e os objectos, entre as formas e os sentidos. Sílvia Hestnes conduz-nos da extremidade da pena e das suas mãos a deixar-nos invadir pela sua maneira de sentir e ressentir. Ela faz-nos entrar num universo onde o sorriso tem também a cor da melancolia e a tristeza a voz da felicidade de um dia.

Sílvia Hestnes Ferreira, ao escrever sobre o seu trabalho acrescenta: "(...) O meu trabalho em objectos/esculturas começou por ser a recolha de materiais diversos e de cores – cores sob a forma de pigmentos puros espalhados sobre tiras de papel. Os objectos/esculturas surgiram dos materiais como são na origem, segundo jogos de formas, de recortes, ou então segundo ideias iniciais, reformuladas ou sonhadas. (...) Há uma ligação entre os objectos/esculturas e os desenhos-pinturas. Uma passagem que é feita pela fotografia e a memória. E então desencadeiam-se as coisas. Uma ideia que se exprime pode desenvolver-se, alastrar-se, crescer e materializar-se de todas as maneiras de que falei até agora. Assim há uma continuidade. Mas essa continuidade é logo quebrada quando há repetição. Tento, pois, ensaiar diferentes tópicos, encontrar variantes, imaginar e construir."

Dessa imaginação e construção resulta um trabalho sem dúvida muito agradável, levando-nos para um Mundo imaginário e ao mesmo tempo real, a partir das formas e dos sentidos captados pelo observador.

Tito Roboredo, Um Corpo na Primavera

De 20 de Dezembro a 1 de Fevereiro de 2009, podemos observar a excepcional pintura de Tito Roboredo na sede do Museu do Douro no Peso da Régua. O Museu do Douro ao expor a obra de Tito Roboredo, veio dar a conhecer ao público interessado em pintura, a obra praticamente desconhecida deste pintor.

O pintor ultrapassou as fronteiras agrestes da sua terra natal, Mêda que, na simplicidade da sua beleza e das vivências das suas gentes, influenciou em grande parte a sua obra. Primeiro, os lugares familiares são importantes nas narrativas do passado do artista. Os lugares entre Alto Douro e Beira Alta, a Quinta do Barrocal, as propriedades agrícolas, a caça, a adega onde, durante as férias, fazia vinho com os irmãos, os montes, expressão que habitualmente usava para se referir a esses lugares da infância a que voltava.

A obra de Tito Roboredo apresenta uma composição intrincada e muito densa, uma figuração complexa, onde se detectam seres que geram muitos outros seres, planos que se sobrepõem, numa demanda incessante e obscura que se agudiza para entender o que se afigura como uma relação entre diferentes mundos. A sua pintura, não é uma pintura fácil, pelo contrário, força o espectador a uma procura de sentido.

A sua obra integra plenamente a figuração e a abstracção, pela via de uma sensibilidade absolutamente surreal. Não é fácil encontrar-lhe parentescos próximos na grande família da pintura portuguesa saída dos meados do século XX. Mas, se quiséssemos procurá-los, talvez fosse algures nesse intervalo entre mundo concreto e onírico, entre real e fantástico. E assim, iniciar-se-ia essa difícil leitura de formas que se diluem nos fundos, de fundos onde se geram formas, de nebulosas que engendram figuras. Enfim um estilo e uma pintura realmente conseguida. Adorei... Pena as câmaras não poderem ser usadas.

A exposição sobre "Tito Roboredo (1934-1980). Um Corpo na Primavera", deu uma imagem completa do trabalho que este pintor realizou ao longo dos vinte e cinco anos da sua carreira. Esta exposição contou com cerca de 90 obras do pintor, que teve como principal objectivo consolidar o conhecimento sobre o período agitado da prática artística que foram as décadas de 60 e de 70, bem como para definir com rigor o posicionamento do artista nesse período.

Tito Roboredo nasceu na Mêda em 4 de Junho de 1934 e, cinco anos depois, a família muda-se para Leça da Palmeira. Em 1955 inicia os estudos de Desenho e Pintura na Academia Alvarez, em 1958 inscreve-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), onde frequenta o Curso Geral de Pintura e participa na III Exposição da Academia Alvarez.

Em 1960 frequenta o Curso Geral de Escultura e, entre este ano e 1968, participa em seis edições das Exposições Magnas da ESBAP. Em 1963 conclui o Curso Geral de Pintura, um ano depois viaja para França e Inglaterra e casa com Madalena Von Hafe.

Em 1965 conclui o Curso Complementar de Pintura com a classificação de 20 valores e ocupa um lugar de professor eventual no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, e colabora com o Teatro Experimental do Porto fazendo a cenografia para a peça "O Guiché" de Jean Tardieu, com encenação de João Guedes.

Em 1966 é convidado para segundo Assistente do 5º Grupo (pintura) da ESBAP, em 1971 presta provas públicas para professor Agregado do 7º Grupo (desenho), em 1974 é suspenso da actividade de professor e três anos mais tarde é readmitido na ESBAP. Morre no Porto a 23 de Outubro de 1980...

Joan Miró (1893-1983)



Contemporâneo do fauvismo e do cubismo, Joan Miró criou sua própria linguagem artística e procurou retratar a natureza como o faria o homem primitivo ou uma criança, que tivesse, no entanto, a inteligência de um homem maduro do Século XX.

Joan Miró nasceu em Barcelona, em 20 de Abril de 1893. Filho de joalheiro, desde muito cedo se revelou a sua inclinação para a pintura. Apesar da insistência do pai em vê-lo graduado, não completou os estudos. Frequentou uma escola comercial e trabalhou num escritório por dois anos até sofrer um esgotamento nervoso.

Em 1912, seus pais finalmente consentiram que ingressasse numa escola de arte em Barcelona. Estudou com Francisco Galí, que o apresentou às escolas de arte moderna de Paris, e lhe transmitiu a sua paixão pelos frescos de influência bizantina das igrejas da Catalunha e que o levou a interessar-se pela fantástica arquitectura de Antoni Gaudí.

Joan Miró trazia intuitivamente a visão despojada de preconceitos que os artistas das escolas fauvista e cubista buscavam, mediante a destruição dos valores tradicionais. Em sua pintura e desenhos, tentou criar meios de expressão metafórica, ou seja, descobrir signos que representassem conceitos da natureza num sentido poético e transcendental. Nesse aspecto, tinha muito em comum com dadaístas e surrealistas.

Uma grave doença fê-lo deslocar-se para Montriog del Camp, Tarragona, onde se decidiria a dedicar-se inteiramente à pintura, e aonde voltaria frequentemente em busca de inspiração. De 1915 a 1919, Joan Miró trabalhou em Montroig, próximo a Barcelona, e em Maiorca, onde pintou paisagens, retratos e nus. Depois, viveu em Montroig e Paris alternadamente. De 1925 a 1928, influenciado pelo dadaísmo, pelo surrealismo e principalmente por Paul Klee, pintou cenas oníricas e paisagens imaginárias.

Após uma viagem aos Países Baixos, em 1928, onde estudou a pintura dos realistas do século XVII, os elementos figurativos ressurgiram em suas obras. Na Holanda, pintou as suas duas obras "Interiores holandeses I" e "Interiores holandeses II".

Na década de 1930, seus horizontes artísticos se ampliaram. Fez cenários para espectáculos de dança (balé), e seus quadros passaram a ser expostos regularmente em galerias francesas e americanas. As tapeçarias que realizou em 1934 despertaram seu interesse pela arte monumental e mural. Estava em Paris no fim da década, quando eclodiu a guerra civil espanhola, cujos horrores influenciaram sua produção artística desse período.

No início da Segunda Guerra Mundial voltou para Espanha e pintou a célebre "Constelações", que simboliza a evocação de todo o poder criativo dos elementos e do cosmos para enfrentar as forças anónimas da corrupção política e social causadora da miséria e da guerra.

Em 1937, trabalhou em pinturas murais e anos depois, em 1941, concebeu a sua mais conhecida e radiante obra "Números e constelações em amor com uma mulher". Mais tarde, em 1944, iniciou-se em cerâmica e escultura. Em suas obras, principalmente nas esculturas, utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.

A partir de 1948, Miró mais uma vez dividiu seu tempo entre a Espanha e Paris. Nesse ano iniciou uma série de trabalhos de intenso conteúdo poético, cujos temas são variações sobre a mulher, o pássaro e a estrela. Algumas obras revelam grande espontaneidade, enquanto em outras se percebe a técnica altamente elaborada, e esse contraste também aparece em suas esculturas. Joan Miró tornou-se mundialmente famoso e expôs seus trabalhos, inclusive ilustrações feitas para livros, em vários países.

Em 1954, ganhou o prémio de gravura da Bienal de Veneza e, quatro anos mais tarde, o mural que realizou para o edifício da UNESCO em Paris, ganhou o Prémio Internacional da Fundação Guggenheim. Em 1963, o Museu Nacional de Arte Moderna de Paris realizou uma exposição de toda a sua obra.


No fim da sua vida reduziu os elementos de sua linguagem artística a pontos, linhas, alguns símbolos e reduziu a cor, passando a usar basicamente o branco e o preto. Joan Miró morreu em Palma de Maiorca, em 25 de dezembro de 1983.


Antoni Gaudí (1852-1926)

Antoni Placid Gaudí i Cornet, aparece como um arquitecto de novas concepções plásticas ligado ao modernismo catalão, a variante local da "Art Nouveau". Arquitecto cujo estilo distinto se caracteriza pela liberdade da forma, cor e texturas voluptuosas e na unidade orgânica, que usando de várias influências distintas criou um estilo próprio.
Não é preciso ser arquitecto para apreciar a obra de Gaudí, nem é preciso andar de guia na mão para entender a complexidade da sua obra. Nem sequer é necessário imaginar quão complexos seriam os exercícios matemáticos que Antoni Gaudí fazia, no início do século, para calcular pesos de estruturas e engendrar a forma de fazer com que uma simples coluna se transformasse numa árvore, ou que um muro de um jardim nos faça lembrar uma onda marítima.

Gaudí é o nome máximo da arquitectura catalã, e reconhecido no mundo inteiro. Influenciado por Viollet Le Duc e Ruskin, foi um dos pilares fundamentais do Modernismo. Suas obras arquitectónicas demonstram qualidades das mais inovadoras entre as demais obras de sua época, notáveis por estabelecer um conjunto harmonioso ao utilizar a fusão de estilos como o neogótico, o cubismo e o art nouveau.

Nasceu em Reus, uma localidade na zona costeira da Catalunha, em 25 de Junho de 1852. Seus pais eram Francesc Gaudí i Serra e Antonia Cornet i Bertran. Seu pai, era um artesão de Riudoms, e Gaudi desde menino foi um grande observador da Natureza, e gostava das formas, da cor e de geometria. Quando rapaz, ajudava seu pai na oficina e passou grande parte de sua infância, tentando curar suas dores reumáticas.
Decidiu estudar arquitectura em Barcelona, numa escola onde o Neoclássico e o Romantismo predominavam. Em 1869 mudou-se com seu irmão Francesc para Barcelona e começou seus estudos de arquitectura em 1873, na Faculdade de Belas-Artes, posteriormente transformada em Faculdade de Arquitectura da Universidade de Barcelona.

Formou-se em arquitectura em 15 de Março de 1878, tendo começado à partir de então, a fazer seus primeiros projectos, como candeeiros de ruas, um quiosque em ferro fundido, uma oficina, entre outros. Seu estilo único caracteriza-se por formas e linhas curvas e orgânicas, e sua obra se localiza dentro do Movimento Modernista, ainda que ele o tenha superado, criando um estilo próprio, caracterizado por uma continuidade do gótico, baseado, de forma predominante, nas formas curvilíneas.
Logo aclamado por seu estilo nada convencional em matéria de tradição arquitectónica, Gaudí logo obteve reconhecimento, passando a ser patrocinado por Eusebio Güell, seu mecenas. Também se distingue pelo uso de mosaicos com diferentes tonalidades, assim como também pela utilização de vitrais e do ferro forjado como aspectos que definem a sua ornamentação.

Tinha uma adoração pela Natureza e seu trabalho era inspirado a partir de suas formas. Devido a este facto, ele percebeu que a Natureza não concebia formas regulares, ou se estas formas existissem, ocorreriam raramente. Segundo Gaudí “(...) se a Natureza é um feito do Criador e as formas arquitecturais derivam da natureza, isto significa que o trabalho do Criador estará sendo continuado”.

Com o tempo, entretanto, passou a adoptar uma linguagem escultórica bastante pessoal, projectando edifícios com formas fantásticas e estruturas complexas. Algumas de suas obras-primas, mais notavelmente o Templo Expiatório da Sagrada Família possuem um poder quase alucinatório. Gaudí é conhecido por fazer extenso uso do arco parabólico catenário, uma das formas mais comuns na natureza.

Para tanto, possuía um método de trabalho incomum para a época, utilizando modelos tridimensionais em escala, moldados pela gravidade. Gaudí usava correntes metálicas presas pelas extremidades e quando elas ficavam estáveis, ele copiava a forma e reproduzia-as ao contrário, formando suas conhecidas cúpulas catenárias.

Também utilizou da técnica catalã tradicional do “trencadis”, que consiste de usar peças cerâmicas quebradas para compor superfícies. Gaudí dimensionava seus prédios de forma integral, fazendo desde as fundações e estruturas até os menores detalhes ornamentais, o que o caracterizava como um arquitecto peculiar e único.

Antoni Gaudí trabalhou essencialmente em Barcelona, onde havia estudado arquitectura. Em suas obras, procurou assimilar as concepções estéticas vanguardistas que então se afirmavam por toda a Europa. Deixou-se influenciar por inúmeras tendências, não tendo nunca dedicado a sua arquitectura à tentativa de cópia de um estilo determinado. Uma das mais fortes influências que recebeu foi a de Viollet-le-Duc através do qual conheceu parte do seu gótico inspirador.

Ainda jovem, já era procurado pela Igreja e pelos burgueses, para elaboração dos seus projectos. E estes seguiram como seus principais clientes. Seus primeiros trabalhos possuem claras influências da arquitectura gótica (reflectindo o revivalismo do século XIX) e da arquitectura catalã tradicional.

Em 1883 começou a construção da Casa Vincens, com estilo de influência Mudéjar, que se caracteriza por uma mistura especial da arte muçulmana com a cristã. Nesse mesmo ano foi nomeado arquitecto-chefe da Sagrada Família por recomendação de Joan Martorell, um grande amigo de Gaudí, que teve considerável importância na projecção da sua vida profissional.

Nos anos posteriores, construiu um edifício na área da Sagrada Família. Outro cliente de renome foi Eusebi Güell, o qual lhe confiou a construção de um palácio para si, o Palau Güell, tendo-se iniciado a sua construção em 1886. Em 1889 trabalhou na construção do Palácio Episcopal a pedido de Joan Baptista Grau i Vallespinós, um padre de Reus, conterrâneo de Gaudí.

Já em 1891 construiu a Casa Fernández y Andrés. Nesta época outros edifícios importantes foram realizados, como a Casa Calvet e ainda nesse período foi iniciada a construção do Parque Güell, inspirado nas cidades-jardim inglesas.


A Associação de Devotos de São José, encomendou-lhe a continuação do projecto do Templo Expiatório da Sagrada Família (sua obra mais famosa e ainda inacabada). Cabem ainda aqui outras citações de importância, como a Casa Milá e a Casa Batlló. De todas suas obras a sua criação que condensa todo seu trabalho é a Sagrada Família. Em 1883 começou sua realização, mas nunca a pôde ver terminar. Um templo criado como um bosque de torres e colunas, ainda sem conclusão.

Antoni Gaudí i Cornet, foi mestre de uma forma de arquitectura fora do vulgar e extraordinariamente original, e na sua obra pode encontrar-se uma prodigiosa imaginação, rebeldia e fúria de viver não usual no seu tempo, fazendo dele um génio e um ícine da arquitectura mundial.

Faleceu em 1926, atropelado por um eléctrico, quando tinha 74 anos, deixando uma obra revolucionária para a Arquitectura Moderna, e um sonho, a conclusão do Templo da Sagrada Família, que continua em construção.

Francisco de Goya

Francisco José de Goya y Lucientes, dotado e precoce pintor aragonês, nasceu em Fuendetodos, perto de Calatayud e de Saragoça, em 30 de Março de 1746.

Goya iniciou sua aprendizagem como pintor em 1759, aos treze anos, com Don José Luzan y Martinez. Como era costume na época, começou fazendo cópias de pinturas de vários mestres. Aos dezassete anos, transferiu-se para Madrid, onde tentou por duas vezes, uma em 1763 e outra em 1766, entrar para a Academia de Belas Artes, sendo rejeitado em ambas as tentativas. Os biógrafos atribuem a Goya todo o tipo de aventuras nos anos que se seguiram, como a de ter-se tornado toureiro em Roma e ter-se envolvido em inúmeras aventuras amorosas.

No final de 1771, inscreveu-se em concurso da Academia de Belas Artes de Parma, recebendo uma menção honrosa com a sua primeira encomenda, o fresco na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça. A partir daí, seguiram-se encomendas para o Palácio de Sobradiel e o Monastério Aula Dei.
Entre os anos de 1773 e 1774 foram executadas, provavelmente, as últimas pinturas desse período em que esteve em Saragoça. Especializou-se no desenho de cartões para a indústria das tapeçarias e na decoração de igrejas como a igreja de San Juan el Real, de Calatayud com brilhantes frescos.

Depois de estabelecido em Madrid, começou a pintar retratos. O mais antigo que se conhece data de 1774, sendo que no ano de 1778 fez nada menos do que catorze retratos. No ano de 1780, entrou para a Academia de San Fernando em Madrid e apresentou a obra "La Crucificada". Nessa pintura, Goya seguiu as regras académicas, provando que era um mestre do estilo convencional.

Em 1785, começou a receber encomendas da aristocracia. A primeira encomenda foi para o "Festival Folclórico" do dia de Santo Isidoro. No mesmo ano, executou o primeiro retrato de um membro da nobreza, a "Duquesa de Osuna".

Em 1786 foi nomeado pintor da corte por Carlos III, nomeação confirmada por seu filho Carlos IV, em 25 de Abril de 1785, nomeando-o "Primeiro Pintor da Câmara do Rei", tendo pintado o monarca e sua esposa Maria Luísa com excelente precisão artística. Em 1790, pintou um de seus auto-retratos.
Em 1799, era o primeiro pintor da corte, mas retirou-se em 1808, quando a invasão de Madrid pelas tropas napoleónicas e a ocupação do trono por José Bonaparte. Reassumiu o cargo em 1814, com Fernando VII, mas a restauração do absolutismo levou-o a isolar-se na Quinta del Sordo, e em 1824, e a mudar-se mais tarde para Bordéus, na França.

Pintou em 1787 "O prado de São Isidro". Suas inclinações realistas só se afirmaram a partir de 1792, em quadros como "O manicómio", "O tribunal da Inquisição", "Procissão de flagelantes" e o mais marcante "O funeral da sardinha", cenas realistas em que há um fluxo subterrâneo de visões fantásticas.

Em 1800, no auge do prestígio, pintou seus quadros mais discutidos, "Maja desnuda" ("Mulher despida") e "Maja vestida", e o famoso "A família de Carlos IV", que é um exemplo de como introduzia traços grotescos nas figuras. Em todos o realismo ora explode em erotismo, ora detém-se na análise desapiedada dos modelos.
Goya pintou também os episódios da invasão francesa, e os horrores que se seguiram, que influenciaram muito o temperamento de Goya, como o "Três de Maio", que representa uma cena de fuzilamento de composição insólita. "El Sabado de las Brujas" e "Saturno" são o ápice da carreira e manifestam uma visão sombria da realidade.

Goya foi tão importante na pintura quanto na gravura, onde pôde manifestar de forma extremamente expressiva o espírito do humor espanhol, que tende para a deformação e até para o trágico. Predominam a sátira social, cheia de sarcasmo, os motivos eróticos e a feitiçaria, como obra oposta à razão, pois Goya era um iluminista e fustigava as crendices do tempo. A mais emblemática é a que traz a inscrição "O sono da razão produz monstros", o charlatanismo, a inveja, a avareza e a vaidade, são seus alvos.

A sátira está entretanto ausente na colecção mais célebre de Goya, "Os desastres da guerra" (1810-1814), na qual o artista rememora as atrocidades das invasões napoleónicas na Espanha. É também o Goya mais "heróico", que exalta os patrícios, sobretudo as mulheres, e mostra a infâmia dos invasores, numa sucessão de mutilações, fuzilamentos, saques, tentativas de estupro e outros males da guerra.

A colecção de gravuras "Tauromaquia" escapa desse universo atormentado, para mostrar as façanhas e heróis célebres da praça de touros. Nessa colecção, editada em 1816, Goya desenvolve um clima de dinamismo e tensão raros na arte da gravura.

Por volta de 1819, realizou o último dos seus conjuntos e o de mais difícil abordagem, os "Disparates". Há neles um carácter crítico, em que volta o génio sarcástico de "Os caprichos", mas os temas são genéricos e há maior liberdade de composição e de proporção das figuras.

Existe ainda uma pequena série de obras litográficas. Das suas obras mais fortes a mais impressionante é a intitulada "O colosso", um gigante sentado defronte a um quarto crescente, com o rosto voltado para o contemplador, talvez o emblema mais contundente dos enigmas de seu génio artístico. Goya morreu em Bordéus, em 16 de Abril de 1828.

Como era interessante termos ainda entre nós Francisco Goya, para que pintasse da sua forma sarcástica e crítica, as vivências dos nossos dias...

Homenagem a Van Gogh



Van Gogh génio da pintura universal, nasceu na Holanda, no dia 30 de Março de 1853. Teve uma irmã e dois irmãos, sendo um deles, Théo, o seu incentivador e bem feitor. Com este irmão, estabeleceu uma forte relação de amizade. Através das cartas que trocou com o irmão, os pesquisadores conseguiram resgatar muitos aspectos da vida e do trabalho do pintor.
Começou a trabalhar ainda jovem, por volta dos 15 anos de idade. Trabalhou para um comerciante de arte da cidade de Haia e com quase vinte anos, foi morar em Londres onde começou a desenhar, e mais tarde foi para Paris, graças ao reconhecimento que teve. Porém, o interesse pelos assuntos religiosos acabou por desviar a sua atenção e resolveu estudar Teologia, na cidade de Amesterdão. Mesmo sem terminar o curso, passou a actuar como pastor na Bélgica, por apenas seis meses. Impressionado com a vida e o trabalho dos pobres mineiros da cidade, elaborou vários desenhos a lápis.

Resolveu retornar à cidade de Haia, em 1880, e passou a dedicar mais tempo à pintura. Após receber uma significativa influência da Escola de Haia, começou a elaborar uma série de trabalhos, utilizando técnicas de jogos de luzes. Neste período, suas telas retratavam a vida quotidiana dos camponeses e dos trabalhadores das zonas rurais da Holanda.

O ano de 1886, foi de extrema importância para a sua carreira. Foi morar para Paris, com seu irmão. Conheceu, na nova cidade, importantes pintores da época como, por exemplo, Emile Bernard, Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Edgar Degas, representantes do impressionismo. Recebeu uma grande influência destes mestres do impressionismo, como podemos perceber em várias de suas telas.

Dois anos após ter chegado a França, parte para a cidade de Arlés, ao sul do país, uma região rica em paisagens rurais, com um cenário bucólico. Foi neste contexto que pintou várias obras com girassóis. Em Arlés, fez o único quadro que conseguiu vender durante toda sua vida: "A Vinha Encarnada". Quanto a isto, profetizou: “Não posso evitar o facto de que meus quadros não sejam vendáveis. Mas virá o tempo em que as pessoas verão que eles valem mais que o preço da tinta”.
Convidou Gauguin para morar consigo no sul da França. Este foi o único que aceitou a sua ideia de fundar um centro artístico naquela região. No início, a relação entre os dois era tranquila, porém com o tempo, os desentendimentos foram aumentando e, quando Gauguin retornou para Paris, Vincent entrou em depressão.Em várias ocasiões teve ataques de violência e seu comportamento ficou muito agressivo.

Foi neste período que chegou a cortar sua própria orelha. Esta é talvez, a cena mais polémica do pintor e várias interpretações foram dadas, por biógrafos e contemporâneos do artista, entretanto, foi o cineasta japonês Akira Kurosawa, no filme "Sonhos", quem nos legou a versão mais poética. Na película sobre a vida de van Gogh, o artista dos girassóis aparece tentando pintar a sua própria orelha, mas o resultado é insatisfatório. Não vendo outra saída, o van Gogh do filme a decepa, resolvendo assim o seu problema pictural.

Seu estado psicológico começa a reflectir-se nas suas obras. Deixou a técnica do pontilhado e passou a pintar com rápidas e pequenas pinceladas. Em seu óleo sobre tela, “Girassóis” (1888), exposto na National Gallery, em Londres, mostra cores vibrantes e quase espanta quem olha o vaso cheio de flores, que decorava o seu quarto, na casa alugada em Arlés. O quadro com tons de amarelo e castanho, mostra um mundo belo e cheio de esperança.

Contudo, na época que pintou “Girassóis”, o mundo interior de van Gogh fugia de seu próprio controle, o que é demonstrado na superfície do quadro, que parece agitada, reflectindo o estado de espírito do artista, que se aproximava do fim trágico da sua vida. No ano de 1889, a sua doença agravou-se e teve que ser internado numa clínica psiquiátrica. Nesta clínica, dentro de um mosteiro, havia um belo jardim que passou a ser sua fonte de inspiração. As pinceladas foram deixadas de lado e as curvas em espiral começaram a aparecer em suas telas.

No mês de Maio, deixou a clínica e voltou a morar em Paris, próximo de seu irmão e do doutor Paul Gachet, que o iria tratar. Este médico foi retratado num de seus trabalhos: "Retrato do Doutor Gachet". Porém a situação depressiva não regrediu e no dia 27 de Julho de 1890, atirou em seu próprio peito.

Foi levado para um hospital, mas não resistiu, morrendo três dias depois. A arma emprestada, mediante o argumento de que iria servir para espantar os corvos. Na realidade, a sua última tela “Campo de Trigo com Corvos” (1890), retratava justamente os corvos sobrevoando belíssimos trigais. Horas antes de morrer teria dito ao irmão Théo: “A miséria triunfou mais uma vez. A fome...!


Cabe, por fim, observar que Cornelius, irmão de van Gogh, também se suicidou e que sua irmã Wilhelmina morreu louca, internada num hospício, reforçando a ideia de que havia um componente familiar genético na doença de van Gogh, a psicose maníaco-depressiva, hoje chamada de distúrbio bipolar do humor...