Francisco de Goya

Francisco José de Goya y Lucientes, dotado e precoce pintor aragonês, nasceu em Fuendetodos, perto de Calatayud e de Saragoça, em 30 de Março de 1746.

Goya iniciou sua aprendizagem como pintor em 1759, aos treze anos, com Don José Luzan y Martinez. Como era costume na época, começou fazendo cópias de pinturas de vários mestres. Aos dezassete anos, transferiu-se para Madrid, onde tentou por duas vezes, uma em 1763 e outra em 1766, entrar para a Academia de Belas Artes, sendo rejeitado em ambas as tentativas. Os biógrafos atribuem a Goya todo o tipo de aventuras nos anos que se seguiram, como a de ter-se tornado toureiro em Roma e ter-se envolvido em inúmeras aventuras amorosas.

No final de 1771, inscreveu-se em concurso da Academia de Belas Artes de Parma, recebendo uma menção honrosa com a sua primeira encomenda, o fresco na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça. A partir daí, seguiram-se encomendas para o Palácio de Sobradiel e o Monastério Aula Dei.
Entre os anos de 1773 e 1774 foram executadas, provavelmente, as últimas pinturas desse período em que esteve em Saragoça. Especializou-se no desenho de cartões para a indústria das tapeçarias e na decoração de igrejas como a igreja de San Juan el Real, de Calatayud com brilhantes frescos.

Depois de estabelecido em Madrid, começou a pintar retratos. O mais antigo que se conhece data de 1774, sendo que no ano de 1778 fez nada menos do que catorze retratos. No ano de 1780, entrou para a Academia de San Fernando em Madrid e apresentou a obra "La Crucificada". Nessa pintura, Goya seguiu as regras académicas, provando que era um mestre do estilo convencional.

Em 1785, começou a receber encomendas da aristocracia. A primeira encomenda foi para o "Festival Folclórico" do dia de Santo Isidoro. No mesmo ano, executou o primeiro retrato de um membro da nobreza, a "Duquesa de Osuna".

Em 1786 foi nomeado pintor da corte por Carlos III, nomeação confirmada por seu filho Carlos IV, em 25 de Abril de 1785, nomeando-o "Primeiro Pintor da Câmara do Rei", tendo pintado o monarca e sua esposa Maria Luísa com excelente precisão artística. Em 1790, pintou um de seus auto-retratos.
Em 1799, era o primeiro pintor da corte, mas retirou-se em 1808, quando a invasão de Madrid pelas tropas napoleónicas e a ocupação do trono por José Bonaparte. Reassumiu o cargo em 1814, com Fernando VII, mas a restauração do absolutismo levou-o a isolar-se na Quinta del Sordo, e em 1824, e a mudar-se mais tarde para Bordéus, na França.

Pintou em 1787 "O prado de São Isidro". Suas inclinações realistas só se afirmaram a partir de 1792, em quadros como "O manicómio", "O tribunal da Inquisição", "Procissão de flagelantes" e o mais marcante "O funeral da sardinha", cenas realistas em que há um fluxo subterrâneo de visões fantásticas.

Em 1800, no auge do prestígio, pintou seus quadros mais discutidos, "Maja desnuda" ("Mulher despida") e "Maja vestida", e o famoso "A família de Carlos IV", que é um exemplo de como introduzia traços grotescos nas figuras. Em todos o realismo ora explode em erotismo, ora detém-se na análise desapiedada dos modelos.
Goya pintou também os episódios da invasão francesa, e os horrores que se seguiram, que influenciaram muito o temperamento de Goya, como o "Três de Maio", que representa uma cena de fuzilamento de composição insólita. "El Sabado de las Brujas" e "Saturno" são o ápice da carreira e manifestam uma visão sombria da realidade.

Goya foi tão importante na pintura quanto na gravura, onde pôde manifestar de forma extremamente expressiva o espírito do humor espanhol, que tende para a deformação e até para o trágico. Predominam a sátira social, cheia de sarcasmo, os motivos eróticos e a feitiçaria, como obra oposta à razão, pois Goya era um iluminista e fustigava as crendices do tempo. A mais emblemática é a que traz a inscrição "O sono da razão produz monstros", o charlatanismo, a inveja, a avareza e a vaidade, são seus alvos.

A sátira está entretanto ausente na colecção mais célebre de Goya, "Os desastres da guerra" (1810-1814), na qual o artista rememora as atrocidades das invasões napoleónicas na Espanha. É também o Goya mais "heróico", que exalta os patrícios, sobretudo as mulheres, e mostra a infâmia dos invasores, numa sucessão de mutilações, fuzilamentos, saques, tentativas de estupro e outros males da guerra.

A colecção de gravuras "Tauromaquia" escapa desse universo atormentado, para mostrar as façanhas e heróis célebres da praça de touros. Nessa colecção, editada em 1816, Goya desenvolve um clima de dinamismo e tensão raros na arte da gravura.

Por volta de 1819, realizou o último dos seus conjuntos e o de mais difícil abordagem, os "Disparates". Há neles um carácter crítico, em que volta o génio sarcástico de "Os caprichos", mas os temas são genéricos e há maior liberdade de composição e de proporção das figuras.

Existe ainda uma pequena série de obras litográficas. Das suas obras mais fortes a mais impressionante é a intitulada "O colosso", um gigante sentado defronte a um quarto crescente, com o rosto voltado para o contemplador, talvez o emblema mais contundente dos enigmas de seu génio artístico. Goya morreu em Bordéus, em 16 de Abril de 1828.

Como era interessante termos ainda entre nós Francisco Goya, para que pintasse da sua forma sarcástica e crítica, as vivências dos nossos dias...

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