A exposição no Museu do Douro intitulada "Barão de Forrester, Razão e Sentimento, uma História do Douro (1831 - 1861)", estava composta por uma mostra apresentada em onze núcleos: A chegada de Joseph James Forrester ao Porto; o Cerco do Porto e as lutas liberais; As origens do escocês e uma das suas primeiras obras de pintura retratando o Porto Marítimo de Hull, sua cidade natal; Forrester e a comunidade inglesa na cidade do Porto; Um jantar na Régua e a problemática da adulteração dos vinhos; As amizades electivas de Forrester, que ele retratou sem excepção; A obra pictórica de Forrester durante o Romantismo; Forrester um amador de fotografia em Portugal; Exposições Universais de 1851 e 1855; A morte do Barão de Forrester; Bibliografia do Barão; A ligação de Forrester à cartografia do Douro, um trabalho absolutamente notável.
Nesta exposição tomei o real conhecimento, do muito que deve o Vinho do Porto a Joseph James Forrester. Em 1844 publicou "Uma palavra ou duas sobre o Vinho do Porto", obra em que declarou guerra a todos aqueles que adulteravam o vinho, o que lhe granjeou muitos inimigos. Foi também um estudioso do oídio da vinha (Oidium tuckeri), e foi um exímio cartografo tendo desenhado notáveis mapas do Vale do Douro. Foi ainda poeta, desenhista e aguarelista.
Joseph James Forrester nasceu na Escócia a 21 de Maio de 1809 e morreu misteriosamente no rio Douro em 12 de Maio de 1861.Veio muito novo viver para o Porto, para a casa de um tio, negociante muito abastado, que comprava as pipas de vinho do Porto por dez mil réis e depois as vendia na Inglaterra por mais de setenta. Educou o sobrinho para lhe continuar o negócio, mas ao jovem aconteceu algo de belo e imprevisível: apaixonou-se pelo rio Douro.
A compra e venda da produção dos lavradores eram para ele apenas um pretexto para viver no rio. Tal era a paixão fluvial, que mandou construir um barco do estilo rabelo, para aí poder permanecer por longos períodos e receber os seus amigos e pessoas importantes da época, aos quais oferecia jantares esplêndidos. Conta a história que este barco, de tão requintado e luxuoso que era, impressionou na época, não só pela magnífica tripulação rigorosamente uniformizada, mas também por já dispor de magnificas condições, tais como: cozinha, sala de jantar, leitos e retrete.
Acompanhado pelos mais valentes marinheiros, o barão navegava desde o Porto até Barca de Alva, ficando horas e horas ancorado no fundo do rio, a desenhar os pormenores das margens, as encostas a descer em catarata até ás arribas rochosas, os cachões sinuosos que a água fazia entre as valeiras, e redigia notas para os seus trabalhos sobre o Douro.
Em Maio de 1861, o Barão de Forrester foi visitar D. Antónia Adelaide Ferreira, a uma das de mais de meia centena de quintas de que a famosa Ferreirinha era proprietária: A Quinta do Vesúvio. Esta quinta, situada na Horta de Numão, entre a Pesqueira e Foz Côa, e que contém dentro dos seus muros sete montes e trinta vales, era uma das propriedades preferidas de D. Antónia.Ali a detentora de uma das maiores fortunas do Douro primava em receber as suas visitas, debaixo de uma frondosa palmeira que ainda hoje lá existe. Ao instalar-se o Barão no Vesúvio, aumentou assim o número de visitantes que já ali se encontravam, a saber, a filha de D. Antónia, o genro (o jovem Conde de Azambuja) e ainda o juiz de direito da comarca, que apreciava muito não se sabe se a quinta, se o famoso vinho, se a Ferreirinha.
D. Adelaide, ao ver-se ladeada de toda esta gente, e talvez um pouco saturada de tantas visitas, decide anunciar a sua partida no dia seguinte para a Régua. O barão disponibiliza-se de imediato para a acompanhar, ao que recebeu resposta negativa da proprietária, alegando que o mesmo não tinha lá o seu barco. Num gesto de galanteio e contra resposta, o barão fez questão de a acompanhar, porque era conhecedor do percurso e seria o governador do barco da enérgica Senhora.
Separava-os da "Princesa do Douro" (Cidade da Régua), a distância de cinquenta e seis quilómetros e haviam que passar pela pior garganta do curso: o Cachão da Valeira. Era este o local que mais impressionava o barão, e que por ele foi desenhado várias vezes. Foi precisamente aí que a tragédia caiu sobre os viajantes.
Os remadoures não puderam evitar a força da corrente, o barco afundou-se e todos os ocupantes foram atirados para as águas revoltosas do rio. As grandes saias de balão que então se usavam seriam motivo de salvação das senhoras. Os cavalheiros tiveram outra sorte. Desapareceram dois criados de D. Adelaide, e os cadáveres encontraram-se dias depois nas imediações da Régua. Até um caixote com pratas que a Ferreirinha levava para a Quinta de Travassos em Loureiro, veio a aparecer longe, entalado na roda de uma azenha.
Só do Barão não houve mais notícias. Vieram mergulhadores, na esperança de encontrar o corpo, sendo todas as tentativas infrutíferas. O Barão, que sempre usava um grande cinto de cabedal atulhado de libras de ouro, tinha nesse dia calçado grandes botas pretas, que chegavam ao cimo da anca, e segundo se consta tudo aquilo era ouro escondido.
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