A Extremadura Espanhola

A Extremadura é uma das comunidades autónomas da Espanha, cuja capital é Mérida. Está dividida em duas províncias, Cáceres a Norte e Badajoz a Sul, ambas com fronteira com Portugal a oeste.

Os extremenhos têm muito respeito e carinho por Portugal. É uma região espanhola onde há um maior número de estudantes que falam a língua portuguesa (cerca de 70% de todos os estudantes de português da Espanha). Além disso têm uma boa amizade e cooperação com Portugal e a vizinha região do Alentejo.

Uma curiosidade actual é o "Lusitanismo", (doutrina nacionalista extremenha, que defende uma união política com Portugal, para criar uma Federação Lusitana, cuja bandeira seria verde, branca e vermelha). A Estremadura tem um passado histórico partilhado com Portugal, que vai desde a antiga Lusitânia (romana) até ao Reino de Badajoz (árabe).
A Lusitânia, era uma antiga província romana que incluía uma grande parte do que é hoje Portugal (excepto a zona norte), e uma grande porção do que é hoje a Extremadura espanhola. Já tinha como capital Mérida, isto é, "Emerita Augusta", uma das mais importantes cidades daquela época.

Grande parte do vasto território é formado por planícies, mas há também serras densamente arborizadas a erguer-se sobre vales verdejantes, salpicados de velhas aldeias, assim como o magnífico Parque Natural de Monfragüe, que abriga um notável conjunto de aves de rapina, o lince ibérico e veados. A azinheira é a arvore típica da Extremadura e encontra-se no centro do escudo extremenho.
A Extremadura oferece a possibilidade de explorar uma parte genuína de Espanha que ainda preserva muitas das suas características originais e uma certa atmosfera intemporal. Cidades históricas como Cáceres, Trujillo e Guadalupe exibem centros medievais perfeitamente conservados, e Mérida orgulha-se de apresentar a melhor colecção de ruínas romanas do país.

Esta região foi também o local de nascimento de muitos conquistadores do Novo Mundo, seguidos por um fluxo constante de emigrantes em direcção às Américas. Recordações dos seus feitos são visíveis em locais como Cáceres ou Trujillo e as riquezas que acumularam foram utilizadas para construir belas residências, palácios e monumentos como o belíssimo Mosteiro de Guadalupe, do século XIV.

A gastronomia da Extremadura também se caracteriza por um curioso contraste, que vai dos sabores rurais de especialidades típicas como a “caldereta” (borrego ou cabrito na caçarola) ou as populares “ancas de Rana” (pernas de rã), a sofisticados pratos de perdiz, faisão e javali.
Sites usados: Biztravels.net / Wikipédia

Carnaval na Extremadura Espanhola

"O ano só começa depois do Carnaval". Esta é uma frase que muitos gostam de proferir. Justamente no Carnaval é comum as pessoas permitirem-se a fazer coisas que “não fariam” normalmente.

Vestem as fantasias que desejam e que na realidade gostariam de usar no seu dia a dia, falam o que desejam, bebem o quanto desejam, ou seja, rendem-se aos excessos, sem o mínimo de atenção às regras sociais. Afinal, não é possível expressar tão livremente os seus verdadeiros instintos como nesta época.

Carnaval é assim o tempo de excessos. Álcool, falta de sono, má alimentação e excessiva actividade física por parte de quem gosta de gozar esta festa.

Nunca gostei da euforia excessiva do Carnaval e do Carnaval vivido na terra onde resido, muito menos. Tenho até a sensação que nesta terra se vive o Carnaval o ano inteiro... A chungaria, o barulho infernal da música de péssima qualidade que o vento nos trás, os exageros e a falta de salvaguarda dos valores essenciais que chegam a roçar a pura anarquia, levam-me a não gostar desta festa.
Por isso sempre que podemos viajamos nesta época. Este ano resolvemos passar a semana de Carnaval na bela Extremadura espanhola e fazer o mais famoso triângulo da região. Assim sendo, o percurso para ir e voltar, foi decidido:

1º Dia - Partida de casa /Mérida;

2º Dia - Mérida / Guadalupe;

3º Dia - Guadalupe / Trujilho / Cáceres;

4º e 5º Dia - Cáceres;

6º Dia - Cáceres / Covilhã;

7º Dia - Covilhã / Casa.

A caminho do fim da viagem


A partida de Trujillo ao final da tarde e sob um céu fabulosamente colorido ao pôr-do-sol, fez com que a última etapa desta viagem a caminho de Cáceres e finalmente de volta a casa, fosse para nós inesquecível.
Em Cáceres fez-se uma paragem para se lavar a autocaravana num posto de lavagem automóvel à entrada da cidade e junto ao seminário. De cara e corpo lavados, partimos para entrar-mos em seguida em Portugal rumo a casa...
Viajar é na realidade um prazer... Gostamos de viajar e, sempre que possível, temos viajado. Entendemos uma viagem como um investimento pessoal valioso, que permite obter grandes e surpreendentes rendimentos, ajudando a construir uma poupança de ideias, de emoções, de valores e, principalmente, de recordações. Viajar é carregar a memória de lembranças e permitir que, no futuro, o passado faça reviver o sabor de bons e lindos momentos...

Trujillo, uma cidade mágica


Quando chegámos a Trujillo já era bastante tarde, mas ainda tentámos ir espreitar a sua Praça Maior, que o Guia da American Express recomendava ver de noite, por ser uma das mais belas de Espanha. No entanto as estradas para a praça estavam fechadas ao trânsito, pelo que resolvemos só visita-la no dia seguinte.

A impressão que o viajante tem quando avista Trujillo ao longe, é a de uma cidade orgulhosa e vigilante que se destaca na planície como que encalhada num belo e surpreendente afloramento rochoso, apresentando uma massa de torres e ameias iluminadas que se destacam no horizonte contra o céu.

No fundo clarividente, entre as luzes, o avistar do altivo perfil da vila medieval, faz com que o viajante quase acredite que o tempo parou e entre no maravilhoso mundo dos sonhos, como que transportado pela arte de algum mágico, à memória medieva que emana das suas ameias, palácios, igrejas e casas ancestrais.

A pernoita foi feita num parque da zona nova de Trujillo paralelo à estrada para Cáceres, em lugar sossegado e junto a uma torre de comunicações, cheia de antenas e ninhos de cegonhas. A noite passou calma e a sensação de segurança garantida por uma brigada de polícia que por ali passava de vez em quando.

Assente sobre uma colina granítica, a cidade de Trujillo conserva restos pré-históricos e pré-romanos, sabendo-se da existência de uma antiga fortaleza, já em tempos muito remotos. Posteriormente foi povoada por romanos, suevos, visigodos e muçulmanos.

A parte mais alta da povoação, a cidade velha entre muralhas, era conhecida como "Turgalium", séculos antes do núcleo posterior do "Castro judeu" ter constituído um município que fazia parte da província da “Lusitânia”(uma antiga província romana que incluía uma parte do que é hoje Portugal, excepto a zona norte, e uma grande porção do que é hoje a Estremadura espanhola), pertencente à vizinha colónia de "Norba Caesarina", hoje Cáceres.*

O domínio visigótico deixou referências à povoação e a chegada dos árabes, séculos mais tarde, fez com que a cidade se desenvolvesse e amplia-se a sua estrutura urbana e a sua relevância militar e comercial.

A "Torgiela" árabe, como era conhecida a Trujillo dessa época, desenvolveu-se à volta do Castelo, edificado no ponto mais alto da cidade e, nos seus arredores, cresceu a vila, à qual não faltaram importantes edifícios militares, religiosos e civis.

Depois de cinco séculos de ocupação destes últimos, foi conquistada em primeiro lugar por Alfonso VIII em 1186. Anos depois voltou a ser de dominação árabe (Almohade), para ser definitivamente conquistada pelos cristãos em Janeiro de 1232, como diz a lenda, com a ajuda da Virgem da Vitória, Padroeira de Trujillo. A praça passou definitivamente para o poder cristão e mais tarde o rei Juan II de Castilla concedeu-lhe o título de cidade em 1430.

Famosa pelos seus monumentos, é um importante centro turístico da Estremadura espanhola, com uma valiosa e sugestiva riqueza monumental. Vibram nela e nas suas antigas vielas, as vozes eloquentes de uma casta senhorial, aventureira, lutadora e mística.

Trujillo foi a terra natal de muitos conquistadores espanhóis, como por exemplo Francisco Pizarro, conquistador do Perú, cuja casa senhorial e a sua estátua equestre se erguem na Praça Maior, e também de Francisco de Orellana, que foi um aventureiro e explorador espanhol, que também participou na conquista do Perú.

Estes conquistadores deixaram à cidade um importante conjunto de edifícios de enorme valor histórico e artístico, que converteram a cidade numa das mais belas e mais visitadas da Estremadura espanhola.

A zona primitiva da Vila ampliou-se até à “Plaza Mayor”, que passou a ser o principal centro da povoação, a partir do século XVI. A Praça Maior é linda e nela além de restaurantes e lojas de produtos artesanais da Estremadura, possui muitas casas senhoriais, como por exemplo, o Palácio del Marquês de la Conquista, mandado edificar pelo irmão de Francisco Pizarro, Hermano Pizarro, construído com as riquezas trazidas do Novo Mundo.

Este palácio destaca-se na Praça Maior, por ter complicadas janelas de esquina, uma obra de engenharia complicada para a época, com as cabeças esculpidas em pedra, dos irmãos Pizarro e das suas mulheres incas. Ainda nesta praça podemos observar o belo Palácio de Pizarro - Orellana, do séc. XVI, que foi construído por descendentes de Francisco Orellana, o explorador do Equador e do rio Amazonas.

Para visitar Trujillo é necessário faze-lo a pé, passo a passo, com calma, não é uma cidade para turistas de câmara e janela de automóvel, mas sim de sapatos confortáveis, chapéu e pau de caminheiro.

Trujillo tem o seu próprio tempo, porque, uma vez ali, a passagem do tempo perde importância. A partir da Praça Maior devemos caminhar para a Cidadela árabe, através da íngreme e serpenteante viela ou rua dos Arqueiros, para depois se fazer a ronda das ameias.

A subida faz-se a um passo forçado até ao acesso à cidadela pela porta de Santiago ou a de San Andrés, qualquer caminho é bom, todos eles levam a mergulhar no passado e a apreciar os vários registos relativos à sua história e arte.

A partir de uma parcial "captura" ao castelo de onde é possível ver toda a cidade e registar a beleza da paisagem nas nossas câmaras mágicas. Aqui perto encontrámos primeiro a torre da igreja de Santa Maria a Maior, que é a chamada de Torre Nova erigida posteriormente no século XVI.

Assim, além dos já referidos, entre os principais monumentos encontram-se: O Castelo, antigo alcazar árabe, que defendeu a cidade contra o avanço dos cristãos durante a reconquista, sendo mais tarde tomado por D. Fernando III de Espanha. A igreja de Santa Maria a Maior, do séc. XIII, a igreja de São Francisco e a igreja de São Martinho, que podem ser visitadas a partir das 16h30.

No final da visita, custou abandonar a cidade, que lá ficou esplendorosa, coroando o alto da colina e dominando as planícies estremenhas com a silhueta do seu recinto medieval amuralhado...

* in Wikipédia

O silêncio de Calatayud


Após o almoço, que foi degustado numa estação de serviço mesmo à saída de Zaragoça, posemo-nos a caminho de Madrid, com o intuito de fazermos o maior número de quilómetros possíveis. No entanto quando passámos por Calatayud não resistimos ao chamamento das suas duas belas torres mudéjares e fomos visitar a cidade.

Calatayud é uma cidade fundada muito cedo pelos muçulmanos, certamente no século V ou VI, criada com o objectivo de controlar o cruzamento dos vales dos rios Jalon e Jiloca e, ao mesmo tempo, de explorar a sua planície irrigada e fértil.

Os romanos iniciaram o povoamento da região, fundando a cidade de Augusta Bilbilis, que se encontra a aproximadamente quatro quilómetros ao norte da actual Calatayud. A cidade moderna foi fundada pelos mouros em torno do castelo de onde provém o seu nome árabe Qal'at 'Ayyūb, "forte de Ayyub".

Alargada no século IX e XI, já totalizava dentro das suas vastas muralhas uma população de cerca de 5000 habitantes, sendo a capital de um Distrito do Reino Árabe de Saragoça. A cidade foi conquistada por Afonso I de Aragão em 1120 e foi a capital de sua própria província durante três anos, no século XIX.

Uma parte da população muçulmana continuou a dedicar-se às actividades agrícolas e à construção, o que iria favorecer o desenvolvimento de Calatayud, na sua região com a "arte mudéjar", sobretudo no século XIV e XV.

O conjunto constituído pelas suas muralhas islâmicas julga-se ter sido construído, em grande parte, de 862 a 863, sendo o mais antigo do seu género, conservado em Espanha. É parcialmente cavado na rocha de gipso, (rocha sedimentar formada de sulfato hidratado de cálcio cristalizado, também chamada gesso de Paris), e a sua construção tem uma base de alvenaria de pedras de gipso e de taipa. Na sua parte Sul desapareceu, mas o que se conserva até hoje, mostra que se trata de um dos mais complexos conjuntos de muralhas medievais.

A nossa visita à cidade começou com um reconhecimento pela parte velha da cidade, que se encontra um pouco degradada e abandonada, notando-se no contraforte sedimentar sobranceiro à cidade a presença de algumas casas trogloditas.

Estas casas são construídas dentro de pequenos montes sedimentares e em muitas delas só se vê as portas e algumas janelas. Logo abaixo encontrámos o presépio da cidade em tamanho real, que me fez lembrar os belos presépios vivos que no Lobito, a terra da minha infância, se faziam e de que eu tanto gostava.

A igreja de San Juan el Real, encontrava-se fachada para pena nossa, pelo que não podemos observar as telas com pinturas de Francisco de Goya do início da sua carreira. Era sábado à tarde e a cidade estava calma e silenciosa...

O silêncio só era quebrado pelo espírito do vento ou pelo ruído do motor de algum carro que pelas suas ruelas se lembrava de passar. A visita pelas ruelas da cidade adormecida à hora da "siesta", resultou na verificação que a cidade estava vazia de gentes, mas não das coisas da alma, uma vez que em muitas das janelas e varandas das casas, observava-se a imagem impressa em tecido vermelho do Menino Jesus!...

*Mais sobre Calatayud em: Calatayud - Verão 2003 - Espanha

Zaragoza, a "sempre heróica e imortal"

Partimos de Figueres já depois do jantar a caminho de Barcelona. Quando chegámos a Barcelona resolvemos não parar para visitar a cidade e assim depois de atestarmos a autocaravana de combústivel, seguimos para Zaragoza, onde resolvemos pernoitar. O caminho fez-se bem até metade do percurso, mas a outra metade foi feita sob nevoeiro serrado, o que tornou esta última etápa penosa não só por já ser bastante tarde mas também por se ter de fazer o resto do precurso muito devagar.

Zaragoza ou Saragoça, cidade já por várias vezes visitada por nós, está localizada no nordeste da Espanha, devendo à sua posição, parte do que fez esta cidade tão famosa e tão cobiçada por muitos conquistadores. Zaragoza fica situada no vale do rio Ebro que torna a área extremamente fértil e perfeita para a agricultura.

Numa importante encruzilhada entre os Pirenéus e o reino de Castela, casa de muitos reis e rainhas de Espanha e num ponto-chave da entrada no reino, Saluba, como era conhecida no momento em que foi tomada pelos romanos, que a nomearam Colonia Caesaraugusta. Após os romanos chegaram os suevos, os visigodos e os mouros.

Em 1118, Alfonso I de Aragão ocupou a cidade, e durante séculos foi a residência dos reis de Aragão. A cidade mais tarde foi atacada pelos franceses no início dos anos 1800 e pelos Carlistas (partidários de D.Carlos, na Guerra da Sucessão Espanhola, que lutavam para evitar uma união das coroas francesa e espanhola), 30 anos mais tarde, e em ambas as vezes Zaragoza sobreviveu, dizendo-se que Saragoça é uma cidade "Sempre heróica e imortal".

Saragoza é uma cidade verdadeiramente notável. Com uma história longa e sangrenta, mas recheada com episódeos de heroísmo e histórias de encantar. A cidade que descansa agora pacificamente no vale do Ebro, com uma paisagem exuberante e bela, tal como o Monumento que é a cidade propriamente dita...
*Mais sobre Zaragoza em : Zaragoza -

Tributo a Salvador Dalí





Salvador Dalí, o génio surrealista

Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol nasceu às 8h45 da manhã de 11 de Maio de 1904, no número 20 da rua Monturiolin da vila de Figueres.

Seu irmão mais velho, também chamado Salvador (nascido em 12 de Outubro de 1901), havia morrido de gastroenterite, nove meses antes, em 1 de Agosto de 1903. Seu pai, Salvador Dalí i Cusí, era um advogado de classe média, figura popular da cidade e senhor de um carácter irascível e dominador e sua mãe, Felipa Domenech Ferrés, que sempre incentivou os esforços artísticos do filho. Dalí também teve uma irmã, Ana Maria, que era três anos mais nova. Em 1949, ela publicou um livro sobre seu irmão, "Dalí visto por sua irmã".

Salvador Dalí foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista, chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e o seu trabalho mais conhecido, "A Persistência da Memória", foi concluído em 1931.

Salvador Dalí teve também trabalhos artísticos no cinema, escultura, e fotografia. Ele colaborou com a Walt Disney na curta metragem de animação "Destino", que foi lançado postumamente em 2003, e ao lado de Alfred Hitchcock, realizou o filme "Spellbound".

Dalí insistiu muito na sua "linhagem árabe", alegando que os seus antepassados eram descendentes de mouros que ocuparam o sul da Espanha por quase 800 anos (711 a 1492), e atribui a isso, o seu amor de tudo o que é excessivo e dourado, a sua paixão pelo luxo e seu amor oriental por roupas.

Tinha uma reconhecida tendência para atitudes e realizações extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que por vezes aborrecia aqueles que apreciavam a sua arte, ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, já que sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho artístico.
Dalí frequentou a Escola de Desenho Municipal, onde iniciou a sua educação artística formal. Em 1916, durante umas férias de Verão em Cadaquès, passadas com a família de Ramon Pichot, descobriu a pintura impressionista. Pichot era um artista local que fazia viagens frequentes a Paris. No ano seguinte, o pai de Dalí organizou uma exposição dos desenhos a carvão do filho na sua casa de família. Sua primeira exposição pública ocorreu no Teatro Municipal em Figueres em 1919.

Em Fevereiro de 1921 sua mãe morreu de câncer da mama. Dalí, então com dezasseis anos de idade, disse depois da morte de sua mãe: "Foi o maior golpe que eu havia experimentado em toda a minha vida. Eu adorava-a… eu não podia resignar-me à perda de um ser com quem eu sempre contei para tornar invisíveis as inevitáveis manchas de minha alma".

Após a morte de Felipa Domenech Ferrés, o pai de Dalí casou-se com a irmã de falecida esposa. Dalí não ressentiu este casamento, como alguns pensam, pois ele tinha um grande amor e respeito pela tia.
Em Outubro de 1921, Dalí foi viver em Madrid, onde estudou na Academia de Artes de San Fernando. Já então Dalí chamava a atenção nas ruas como um excêntrico cabelo comprido, um grande laço ao pescoço, calças até ao joelho, meias altas e casacos compridos.
O que lhe granjeou maior atenção por parte dos colegas foram os quadros onde fez experiências com o Cubismo, embora na época destes primeiros trabalhos cubistas ele provavelmente não compreendesse por completo este movimento, dado que tudo o que sabia de arte cubista provinha de alguns artigos de revistas e de um catálogo que Ramon Pichot lhe oferecera, visto não haver artistas cubistas, neste tempo, em Madrid.

Fez também experiências com o Dadaísmo, que provavelmente influenciou todo o seu trabalho. Nesta altura, tornou-se amigo íntimo do poeta Federico García Lorca e de Luis Buñuel, cineasta espanhol. Dalí foi expulso da Academia em 1926, pouco tempo depois dos exames finais, quando declarou que "ninguém na Academia era suficientemente competente para o avaliar". Seu domínio de competências na pintura está bem documentado, nesse tempo, em sua impecável e realista pintura "Cesto de Pão", de 1926.

Em 1924 o ainda desconhecido Salvador Dalí ilustrava pela primeira vez um livro, o poema catalão "Les bruixes de Llers" ("As bruxas de Llers") de seu amigo, o poeta Carles Fages de Climent. Foi nesse mesmo ano que fez a sua primeira viagem a Paris, onde se encontrou com Pablo Picasso, que era reverenciado pelo jovem Dalí.

"Vim vê-lo antes de ir ao Louvre", disse-lhe Dalí. "Fez você muito bem", respondeu-lhe Picasso. O artista mais velho já tinha ouvido falar bem de Dalí através de Juan Miró. Nos anos seguintes, realizou uma série de trabalhos fortemente influenciados por Picasso e Miró, enquanto ia desenvolvendo o seu próprio estilo.

Algumas tendências no trabalho de Dalí que iriam permanecer ao longo de toda a sua carreira, já eram evidentes na década de 20, sendo inspirado principalmente pelo trabalho de grandes pintores como Raphael, Bronzino, Francisco de Zurbarán, Vermeer, e Velázquez. As exposições de seus trabalhos em Barcelona despertaram grande atenção e uma mistura de elogios e debates por parte dos críticos.

Nesta época, Dalí deixou crescer o bigode, que se tornou emblemático, com o estilo baseado no pintor espanhol do século XVII, Diego Velázquez. Em 1929, colaborou com o cineasta espanhol Luis Buñuel na curta-metragem "Un Chien Andalou", e conheceu, em Agosto, a sua musa e futura mulher, Gala Éluard, cujo nome verdadeiro é Elena Ivanovna Diakonova, nascida em 7 de Setembro de 1894, em Kazan, Tartária, Rússia.
Gala Éluard era uma imigrante russa dez anos mais velha que Dalí, casada na época com o poeta surrealista Paul Éluard, amigo da Dalí. Juntou-se oficialmente ao grupo surrealista no bairro parisiense de Montparnasse, embora o seu trabalho já estivesse há dois anos sendo influenciado pelo surrealismo. Em 1934 Dalí e Gala, que já viviam juntos deste 1929, casaram-se numa cerimónia civil e voltam a Espanha.

Com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Dalí fugiu e recusou-se a alinhar com qualquer grupo politico. Em 1940, no início da II Guerra Mundial, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos da América, onde viveram durante oito anos. Em 1942, ele publicou a sua autobiografia, "A Vida Secreta de Salvador Dalí". Após o seu regresso à Catalunha e após a Segunda Guerra Mundial, Dalí tornou-se mais próximo do regime de Franco.

Foi na sua amada Catalunha que Dalí viveu o resto da vida. O facto de ter escolhido viver em Espanha enquanto o país era governado pelo ditador fascista Francisco Franco trouxe-lhe críticas dos progressistas e de muitos outros artistas da época.

Em 1960, Dalí começou a trabalhar no Teatro Museu Dala Salvador Dalí, na sua terra natal em Figueres. Foi o projecto de maior vulto de toda a sua carreira e o principal foco de suas energias até 1974, ano da sua inauguração, embora continuasse a fazer acrescentos até meados dos de 1980.

Gala morreu em Port Lligat na madrugada de 10 de Junho de 1982. Desde então, Dalí ficou profundamente deprimido e desorientado, perdendo toda a vontade de viver. Recusava-se a comer, tendo ficando desidratado, teve de ser alimentado por uma sonda nasal.

Em 1980, um cocktail de medicamentos não prescritos, danificou o seu sistema nervoso, provocando assim um inoportuno fim a sua capacidade artística. Aos 76 anos, Dalí sofre tremores terríveis do seu lado direito, causado pela doença de Parkinson. Mudou-se de Figueres para o castelo em Pubol, que comprara para Gala.

Em 1984, deflagrou um incêndio no seu quarto em circunstâncias pouco claras, talvez tenha sido uma tentativa de suicídio de Dalí, talvez tenha sido uma tentativa de homicídio de um empregado, ou talvez simples negligência pelo seu pessoal, não se sabendo ao certo o que realmente aconteceu. Mas Dalí foi salvo e levado para Figueres, onde um grupo de amigos, patronos e artistas se assegurou de que o pintor vivesse confortavelmente os seus últimos anos no Teatro Museu.

Em Novembro de 1988, Dalí foi levado ao hospital com insuficiência cardíaca e em 5 de Dezembro de 1988 foi visitado pelo rei Juan Carlos da Espanha, que confessou ter sido sempre um grande admirador de Dalí.

Em 23 de Janeiro de 1989, morreu de insuficiência cardíaca em Figueres, com a idade de 84 anos, e está sepultado na cripta do seu Teatro Museu Dalí, em Figueres. Do outro lado da rua, fica a igreja de Sant Pierre, onde ocorreu o seu funeral, a sua primeira comunhão e o seu baptismo, a poucos metros da casa onde nasceu.

Sites: Wapedia / Diário Universal – O Percurso da História


Teatro Museu Gala Salvador Dalí

Costuma-se dizer que “o melhor fica sempre para o fim”. Assim foi, guardámos a visita a este magnífico museu para o final das nossas férias de Natal... O Teatro Museu Gala Salvador Dalí, é uma Casa Museu, que há muito queria visitar e nunca tinha tido oportunidade para o fazer. A nossa visita a este museu, deixou-nos encantados com todo o espectáculo que se vive no seu interior, que é absolutamente incrível!

O museu situado em Figueres, terra natal de Dali, foi todo criado pelo próprio Salvador Dalí com a ajuda de um arquitecto seu amigo, a partir das ruínas do teatro da cidade, deixadas pelas bombas da Guerra Civil Espanhola. O museu abriu em 1974 e foi ampliado nos anos 80 e é o mais visitado museu de Espanha, depois do Museu do Prado. É uma obra-prima e no seu interior tudo se pode considerar Arte: pinturas, esculturas, jóias e até a própria arquitectura do edifício...
Este Museu foi também o “sonho paranóico” de Salvador Dalí que, como ele próprio referia, era a forma como desejava que qualquer visitante saísse depois de visitar o seu Teatro Museu, como saindo de um verdadeiro sonho paranóico. Desde a entrada, até à saída o museu possui pormenores que só vindos de um génio poderiam ser idealizados e realizados.

A ida ao Teatro Museu Salvador Dalí é sem duvida uma experiência alucinante, para além das fantásticas obras do mestre do Surrealismo, todo o museu é por si só uma experiência surreal, mas também uma experiência maravilhosa. O próprio fez questão de o decorar com as mais bizarras figuras, instalações, esculturas e de demais objectos de arte que realizou propositadamente para o rechear.

Esta Casa Museu contém a maior e mais completa colecção de obras de Salvador Dalí do mundo. Nem todas as obras são do pintor surrealista e nenhum dos seus melhores trabalhos se encontra ali. Além de pinturas de todas as décadas da sua carreira, também abriga inúmeras esculturas, colagens e tapeçarias.

A meio da exposição podemos encontrar uma sala/quarto no mínimo bizarra e excêntrica, homenagem do pintor a uma actriz americana, que para se observar a real intenção do artista, quando o concebeu, tem que se subir uma escada e quando se observa o conjunto de cima podemos ver o rosto da actriz Mae West. Um espanto!...

O próprio edifício do museu é também... surrealista. As pinturas e esculturas podem ser classificadas entre inusitadas ou completamente bizarras, mas sem dúvida belas e primorosas obras de arte... Um dos meus quadros favoritos de Salvador Dalí, "A Persistência da Memória", que também lá se encontrava, ou melhor, uma miniatura algo diferente e mais pequena, baseada no original, porque o verdadeiro não se encontra neste museu e é muito maior. Nesta obra, as imagens flácidas dos relógios que se dobram, mas não se desfazem, e que evocam a obsessão humana com a passagem do tempo e com a memória, foi segundo Dalí, um quadro que levou apenas 2 horas para a ser pintado. Gala, a sua mulher e "Musa", ao voltar do cinema, quando o avistou, afirmou que "quem visse esta pintura jamais a esqueceria".

Logo à entrada podemos ver o Cadillac preto, designado de "Táxi Chuvoso" e uma escultura do artista, que é um monumento apropriado para o homem que ali está sepultado. Na ampla sala que se segue avista-se um quadro que preenche toda a parede e que parece convidar a entrar naquele “sonho”. Depois é só vivê-lo em catadupa... De sala em sala...De corredor em corredor...

Nesta grande sala, podemos ver ainda ao fundo, ao centro de três arcadas e ao fundo da arcada central, um quadro deveras surpreendente, que parece feito por um qualquer programa de computador próprio para trabalhar imagens, que só um génio como Dalí seria capaz de o conceber. Trata-se de uma imagem que no centro apresenta um nu perfeito de Gala, sua mulher, mas ao tentarmos fotografa-lo, aparece-nos a imagem de Abraham Lincoln, décimo sexto presidente dos Estados Unidos da América, e deixa de se ver Gala. Uma maravilha!...

Qualquer canto é especial, porque em todo lado há ARTE. As três horas que passaram a correr, em que viajámos por aquele mundo tão próprio de Salvador Dalí, levou-nos a sair pensando... “Hei-de cá voltar... muitas vezes”... É assim o Museu Dalí... Quando se sai, a imensa sensação de preenchimento total ou quiçá vazio, é inevitável!...


Figueres - A Terra Natal de Salvador Dalí

A viagem de regresso pelo Sul de França, fez-se durante toda a tarde e principio da noite do primeiro dia do ano de 2009. Atravessámos todo o Sul de França, com algumas breves paragens para se fotografar a paisagem ou para se petiscar qualquer coisita. No caminho também foram feitas as compras finais de perfumes e cosméticos à base de lavanda, de que tanto gosto.
No final do dia, já depois da noite ter caído, detivemo-nos na cidade de Figueres já em Espanha, perto da fronteira com a França. A noite em Figueres esperava-nos numa calma profunda, não se vendo vivalma. Depois de várias voltas pela cidade para se fazer o seu reconhecimento, foi escolhido para a pernoita, um grande e sossegado parque de estacionamento junto ao Parc Bosc, a cerca de 120 metros do Teatre Museu Gala Salvador Dalí, que no dia seguinte se revelou buliçoso devido ao movimento frenético de carros que chegavam e partiam a todo o momento.

Figueres, o local que viu nascer o famoso pintor Salvador Dalí, que também ali morreu, em 1989, faz parte da região que foi também uma espécie de pano de fundo para grande parte de sua obra. Situa-se na fértil planície fluvial de Empordà na província de Girona, no nordeste de Espanha, perfeitamente localizada a poucos quilómetros das praias da Costa Brava, abençoadas pelo glorioso sol da Catalunha, e perto da sua capital, pois a cidade fica a cerca de 100 km ao norte de Barcelona.

Figueres encontra-se submersa na cultura catalã, que é celebrada com fervor através de uma série de festivais, eventos e exposições ao longo do ano. É uma cidade muito agradável, com suas ruelas e ruas movimentadas, cheias de turistas que aqui se deslocam para visitar, tal como nós, o "Teatre Museu Gala Salvador Dalí".
As ruas de Figueres estão repletas de excelentes restaurantes catalães que servem delícias da gastronomia local com fortes influências espanholas e francesas, pelo que não deixámos a cidade sem experimentar duas das suas afamadas paellas.
A cidade tem excelentes lojas de recordações, com réplicas das obras de Dalí, de onde não saí sem comprar um dos célebres relógios moles de Dalí. A animação nocturna em Figueres é também de grande qualidade, com entretenimento para todos os gostos. A quinta-feira é dia de mercado em Figueres, que é a oportunidade ideal para comprar e experimentar os seus deliciosos produtos regionais.