Trujillo, uma cidade mágica


Quando chegámos a Trujillo já era bastante tarde, mas ainda tentámos ir espreitar a sua Praça Maior, que o Guia da American Express recomendava ver de noite, por ser uma das mais belas de Espanha. No entanto as estradas para a praça estavam fechadas ao trânsito, pelo que resolvemos só visita-la no dia seguinte.

A impressão que o viajante tem quando avista Trujillo ao longe, é a de uma cidade orgulhosa e vigilante que se destaca na planície como que encalhada num belo e surpreendente afloramento rochoso, apresentando uma massa de torres e ameias iluminadas que se destacam no horizonte contra o céu.

No fundo clarividente, entre as luzes, o avistar do altivo perfil da vila medieval, faz com que o viajante quase acredite que o tempo parou e entre no maravilhoso mundo dos sonhos, como que transportado pela arte de algum mágico, à memória medieva que emana das suas ameias, palácios, igrejas e casas ancestrais.

A pernoita foi feita num parque da zona nova de Trujillo paralelo à estrada para Cáceres, em lugar sossegado e junto a uma torre de comunicações, cheia de antenas e ninhos de cegonhas. A noite passou calma e a sensação de segurança garantida por uma brigada de polícia que por ali passava de vez em quando.

Assente sobre uma colina granítica, a cidade de Trujillo conserva restos pré-históricos e pré-romanos, sabendo-se da existência de uma antiga fortaleza, já em tempos muito remotos. Posteriormente foi povoada por romanos, suevos, visigodos e muçulmanos.

A parte mais alta da povoação, a cidade velha entre muralhas, era conhecida como "Turgalium", séculos antes do núcleo posterior do "Castro judeu" ter constituído um município que fazia parte da província da “Lusitânia”(uma antiga província romana que incluía uma parte do que é hoje Portugal, excepto a zona norte, e uma grande porção do que é hoje a Estremadura espanhola), pertencente à vizinha colónia de "Norba Caesarina", hoje Cáceres.*

O domínio visigótico deixou referências à povoação e a chegada dos árabes, séculos mais tarde, fez com que a cidade se desenvolvesse e amplia-se a sua estrutura urbana e a sua relevância militar e comercial.

A "Torgiela" árabe, como era conhecida a Trujillo dessa época, desenvolveu-se à volta do Castelo, edificado no ponto mais alto da cidade e, nos seus arredores, cresceu a vila, à qual não faltaram importantes edifícios militares, religiosos e civis.

Depois de cinco séculos de ocupação destes últimos, foi conquistada em primeiro lugar por Alfonso VIII em 1186. Anos depois voltou a ser de dominação árabe (Almohade), para ser definitivamente conquistada pelos cristãos em Janeiro de 1232, como diz a lenda, com a ajuda da Virgem da Vitória, Padroeira de Trujillo. A praça passou definitivamente para o poder cristão e mais tarde o rei Juan II de Castilla concedeu-lhe o título de cidade em 1430.

Famosa pelos seus monumentos, é um importante centro turístico da Estremadura espanhola, com uma valiosa e sugestiva riqueza monumental. Vibram nela e nas suas antigas vielas, as vozes eloquentes de uma casta senhorial, aventureira, lutadora e mística.

Trujillo foi a terra natal de muitos conquistadores espanhóis, como por exemplo Francisco Pizarro, conquistador do Perú, cuja casa senhorial e a sua estátua equestre se erguem na Praça Maior, e também de Francisco de Orellana, que foi um aventureiro e explorador espanhol, que também participou na conquista do Perú.

Estes conquistadores deixaram à cidade um importante conjunto de edifícios de enorme valor histórico e artístico, que converteram a cidade numa das mais belas e mais visitadas da Estremadura espanhola.

A zona primitiva da Vila ampliou-se até à “Plaza Mayor”, que passou a ser o principal centro da povoação, a partir do século XVI. A Praça Maior é linda e nela além de restaurantes e lojas de produtos artesanais da Estremadura, possui muitas casas senhoriais, como por exemplo, o Palácio del Marquês de la Conquista, mandado edificar pelo irmão de Francisco Pizarro, Hermano Pizarro, construído com as riquezas trazidas do Novo Mundo.

Este palácio destaca-se na Praça Maior, por ter complicadas janelas de esquina, uma obra de engenharia complicada para a época, com as cabeças esculpidas em pedra, dos irmãos Pizarro e das suas mulheres incas. Ainda nesta praça podemos observar o belo Palácio de Pizarro - Orellana, do séc. XVI, que foi construído por descendentes de Francisco Orellana, o explorador do Equador e do rio Amazonas.

Para visitar Trujillo é necessário faze-lo a pé, passo a passo, com calma, não é uma cidade para turistas de câmara e janela de automóvel, mas sim de sapatos confortáveis, chapéu e pau de caminheiro.

Trujillo tem o seu próprio tempo, porque, uma vez ali, a passagem do tempo perde importância. A partir da Praça Maior devemos caminhar para a Cidadela árabe, através da íngreme e serpenteante viela ou rua dos Arqueiros, para depois se fazer a ronda das ameias.

A subida faz-se a um passo forçado até ao acesso à cidadela pela porta de Santiago ou a de San Andrés, qualquer caminho é bom, todos eles levam a mergulhar no passado e a apreciar os vários registos relativos à sua história e arte.

A partir de uma parcial "captura" ao castelo de onde é possível ver toda a cidade e registar a beleza da paisagem nas nossas câmaras mágicas. Aqui perto encontrámos primeiro a torre da igreja de Santa Maria a Maior, que é a chamada de Torre Nova erigida posteriormente no século XVI.

Assim, além dos já referidos, entre os principais monumentos encontram-se: O Castelo, antigo alcazar árabe, que defendeu a cidade contra o avanço dos cristãos durante a reconquista, sendo mais tarde tomado por D. Fernando III de Espanha. A igreja de Santa Maria a Maior, do séc. XIII, a igreja de São Francisco e a igreja de São Martinho, que podem ser visitadas a partir das 16h30.

No final da visita, custou abandonar a cidade, que lá ficou esplendorosa, coroando o alto da colina e dominando as planícies estremenhas com a silhueta do seu recinto medieval amuralhado...

* in Wikipédia

Nenhum comentário: