Sintra - 3º Dia - Quinta da Regaleira - Jardins - Parte III

A partir da Torre da Regaleira podem ser tomados três caminhos. Se optarmos por virar à direita vamos ter às antigas, cocheiras, cavalariças e vacaria, por onde se sai ao exterior da quinta, pelo Portão das Cocheiras. Se escolhermos ir em frente, iremos ter à Oficina das Artes (núcleo que outrora era destinado às dependências dos funcionários, onde existia a garagem e a casa do gerador, que produzia a eletricidade para toda a propriedade), estando hoje destinada a exposições, workshops, projeção de curtas-metragens ou conversas temáticas de tertúlia…
Por trás da Oficina das Artes encontra-se a Inceneradora, que tal como o nome indica era o lugar destinado à queima do lixo.
Da Torre da Regaleira, virámos à esquerda e subindo um pouco deparasse-nos do lado direito o Lago da Cascata, um lugar mágico, onde grutas, pontes e um lago que tudo liga e que nos surpreende a cada momento, quando perscrutamos os seus recantos.
Pelos recantos deste lago, continuamos a subir, contornando a gigantesca Cisterna, onde é armazenada toda a água para regar o sumptuoso jardim, assim como alimentar as fontes. No topo encontramos os Terraços Celestes, em frente do Portal dos Guardiães, uma estrutura cénica rematada por dois torreões laterais e por um mirante central, que nos oferece magníficas vistas s obre o Palácio e os jardins em redor.


O Portal dos Guardiães é um espaço amplo, uma espécie de terraço, que proporcionou a Carvalho Monteiro a criação de um teatro na sua própria propriedade. Segundo consta, havia um espaço destinado à plateia, criando um anfiteatro, com uma acústica adequada.



Sob o Portal dos Guardiães está dissimulada uma das entradas onde começa o circuito que conduz até ao Poço Iniciático. Este portal consiste assim, num túnel que leva a meio do Poço Iniciático, que está guardado por dois tritões. Surgem novamente aqui as referências à mitologia uma vez que, na Divina Comédia, Cérbero aparece como guardião da entrada no Inferno. Neste Portal, o  Poço Iniciático inferior, à semelhança da obra clássica, possui guardiões a proteger esta entrada.

À nossa volta observa-se que este magnífico jardim é constituído por inúmeras árvores exóticas e vegetação abundante integrada de forma harmoniosa com a vegetação autóctone, que nos vai acompanhando de forma exuberante, compondo o curioso percurso de características marcadamente cenográficas e que nos dá a ideia de uma real viagem de cariz iniciático, isto é, a passagem de uma a outra dimensão.
Esta iniciação opera-se em “cerimónias” de iniciação, por meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito (principiante), recebe o segredo da transmutação, aceitando a filiação no grupo de companheiros, para aceder a um nível espiritual superior.

Sobe-se agora com mais dificuldade, uma vez que a caminhada se torna mais ingreme, e lá em cima parece que todos os caminhos nos conduzem a um aglomerado de pedras erguidas, com a aparência de um menir, situado num dos locais mais belos da mata. Uma porta de pedra  bem disfarçada de qualquer olhar menos atento, está no meio de um amontoado de outras pedras, como que perdido entre a vegetação. Rejubilamos... É a entrada para o Poço Iniciático...
A entrada é feita por uma curiosa porta de pedra giratória, que  passa facilmente despercebida e que roda impulsionada por um qualquer mecanismo oculto, facultndo-nos a entrada para "outro mundo". Esta é a entrada superior do Poço Iniciático, e é ali, precisamente, mais do que em qualquer outro local dos jardins da Quinta da Regaleira, que ganham vida os ideais dos mestres maçónicos e as demandas em nome da fé, levadas a cabo pelos cavaleiros templários.

Depois de breve descanso após a subida, entra-se no surpreendente Poço Iniciático. Trata-se de uma galeria subterrânea em espiral, de 27 metros, por onde descem nove patamares até às “profundezas da terra”. No Poço Iniciático pode optar-se por se descer ou subir, dependendo do percurso iniciático escolhido.
Os nove patamares lembram os nove círculos do Inferno, as nove secções do Purgatório e os nove céus do Paraíso, segundo a “Divina Comédia” de Dante Alighieri. A principal ideia por detrás deste poço, é a de morrer e voltar a nascer num rito de iniciação ligado à terra, uma vez que esta representa o útero materno de onde provem a vida, mas também a sepultura para onde se voltará, quando a vida se apagar.
Fonte: Panfleto com o plano-guia da Quinta da Regaleira / http://www.historiadeportugal.info/ http://atracoessintra.no.sapo.pt/ http://www.lifecooler.com/

Sintra - 3º Dia - Quinta da Regaleira - Jardins - Parte II

Escolhida a modalidade de visita livre à Quinta da Regaleira, iniciámos em primeiro lugar o percurso pelos seus mágicos jardins, com a ajuda de um plano-guia, para com liberdade e calma, podermos descobrir os seus vários recantos mágicos, os seus ambientes ou edifícios de exuberante arquitetura, como as torres, lagos, poços ou as demais dependências acessíveis à visita, bem como os seus misteriosos percursos subterrâneos de enigmático simbolismo.
Sobem-se as escadinhas para o Terraço das Quimeras, onde está situado o bar ao ar livre e compra-se uma garrafa de água fresca, não vá o calor tece-las… E inicia-se a visita...

Caminha-se em direção ao edifício da Estufa, que foi outrora a paixão de Carvalho Monteiro, que também gostava de “botanizar”. O edifício comprido e estreito é um templo dedicado à deusa Flora. A fachada ostenta um painel de azulejos que representa seis sacerdotisas num ritual de fertilidade.
Segue-se-lhe a Gruta da Leda, que se encontra situada por baixo de uma ampla estrutura em pedra, formando um semicírculo, construída para fazer lembrar uma muralha, onde não faltam nem as ameias.

Por baixo desta estrutura existe uma escultura simbolicamente enigmática, com a figura de uma dama (a Leda) que segura uma pomba e está acompanhada de um cisne (que aparentemente parece estar a mordê-la). Trata-se da representação de uma mortal por quem Zeus se apaixona, e na impossibilidade de existir uma relação entre ambos, este assume a forma de um belo cisne, para assim se poder aproximar da sedutora mulher. De destacar nesta escultura, a presença de uma pomba na mão de Leda (representação do espírito da pureza), que nos remete para o culto ao feminino e também à Imaculada Conceição.
Já depois de se sair deste labirinto, deparamo-nos com a Torre da Regaleira que se assemelha a um observatório astronómico, o que não deixa de ser interessante por se contrapor ao mundo subterrâneo (visto que uma das saídas do Poço Iniciático nos leva à torre). Foi, não esta torre, mas uma semelhante que deu inicialmente o nome à Quinta.

Sobe-se por uma escadaria para o patamar superior, por cima da Gruta da Leda a caminho da entrada para a Torre da Regaleira. O patamar encontrado é um miradouro de onde se desfruta de uma magnífica vista sobre a zona mais baixa dos jardins.
Entra-se na Torre da Regaleira e percebe-se que esta foi construída para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.

Dali para cima, o passeio pelos jardins e pelo bosque faz-se por caminhos de ascensão, partindo das zonas delicadas e subindo até à floresta espontânea, onde a vegetação é plantada sem ordem aparente, tão ao gosto da sensibilidade romântica vigente durante o séc. XIX.

Fonte: Panfleto com o plano-guia da Quinta da Regaleira / http://www.historiadeportugal.info/ http://atracoessintra.no.sapo.pt/

Sintra - 3º Dia - Quinta da Regaleira - Parte I

Depois de um apetituso lanche e de estarmos sentados algum tempo numa das esplanadas do Centro de Sintra, seguimos a pé para a belíssima Quinta da Regaleira, que possui um jardim e um Palácio, dos mais surpreendentes da Serra de Sintra.

Esta quinta fica situada no termo do centro histórico da vila, sendo por isso muito fácil chegar até ela a pé. Foi construída entre 1904 e 1910, no derradeiro período da monarquia e os seus domínios românticos, outrora pertencentes à Baronesa da Regaleira, foram transformados por esta num refúgio estival, conhecida por Quinta da Torre da Regaleira. Mais tarde foram adquiridos e ampliados pelo Dr. António Augusto Carvalho Monteiro (1848-1920), homem muito rico de ascendência portuguesa, mas nascido no Rio de Janeiro, na época do Brasil Imperial.
Detentor de uma fortuna prodigiosa, que lhe valeu a alcunha de Monteiro dos Milhões, associou ao seu singular projeto de arquitetura e paisagem, o génio criativo do arquiteto e cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936), aproveitando também a mestria dos escultores, canteiros e entalhadores que com Manini, haviam trabalhado no Palace Hotel do Buçaco.

A Quinta da Regaleira hoje propriedade da Câmara Municipal de Sintra, é o resultado de uma criação única, cheia de recantos mágicos e pormenores que não escondem a união entre a história nacional e o lado mítico e esotérico, inevitavelmente associado à Serra de Sintra.
No seu todo de uma enorme beleza harmoniosa, esta maravilhosa quinta foi cenicamente concebida num contexto onde sobressai a predominância dos estilos gótico, neomanuelino e renascentista.  

Passa-se o velho portão da entrada da Quinta, e desde o início da visita se sente que aquele é um lugar único, que nos vai proporcionando uma viagem entre o sonho e a realidade, que só se pode verdadeiramente explicar quando temos o privilégio de a visitar e viver esta experiência.
A nossa visita começou pelo jardim, uma vez que o palácio ainda se encontrava com muitos visitantes, pelo que optamos por fazer a sua visita no final do passeio pelo jardim.

Iniciámos assim a visita ao jardim, que foi concebido com o fim de representar um microcosmo, que nos é revelado aos poucos numa sucessão de lugares imbuídos de magia e mistério, ao longo de uma empolgante caminhada bem planeada, ajudada por um magnífico mapa impresso no panfleto distribuído à entrada.
Neste magnífico e empolgante jardim, o paraíso é materializado em coexistência com um dantesco mundo subterrâneo, com grutas e compridas galerias, poços em espiral e lagos, aos quais o neófito (principiante), seria conduzido pelo fio de Ariadne (que segundo a mitologia grega, foi a filha de Minos, rei de Creta, que desapareceu para sempre na montanha Drius),  ali representado por um fio de luz, que nos orienta pelo interior da "montanha".

Fonte: Panfleto da Quinta da Regaleira / http://www.cm-sintra.pt/ http://www.regaleira.pt/ Wikipédia.org

Sintra - 3º Dia - Visita ao Paço Real - Parte VIII

Deixa-se a Sala Árabe e em seguida entramos no Quarto de Hóspedes. Este quarto possui uma decoração que remonta a 1940. O seu nome deve-se ao facto de ter sido preparado para alojar o duque de Kent, aquando das comemorações centenárias da nacionalidade e da independência, quando o duque veio representar o seu irmão, o rei Jorge VI de Inglaterra, não tendo na realidade, sido utilizado pelo ilustre convidado.
Tendo sido a Trascâmara de D. João, com oratório e quarto de vestir, foi a última dependência e a mais íntima dos aposentos reais à qual só acedia o monarca. A porta nascente foi aberta já no século XX, para permitir a circulação dos visitantes do palácio.
Segue-se-lhe a Cozinha, que originariamente estava separada do resto do paço. A sua construção deve-se ao rei D. João I, tendo como elementos a destacar, duas monumentais chaminés cónicas com base octogonal, divididas por um arco em ogiva. Desde a sua construção estas chaminés de trinta e três metros de altura, tornaram-se célebres, tornaram no ex-libris da vila de Sintra.
O revestimento das paredes é em azulejo datado de 1895, com as armas reais de Portugal e de Saboia, de finais do séc. XIX, que testemunham o último período de habitação da família real neste palácio. Nela também se destaca o brasão de D. Maria Pia, com as armas de Portugal e de Saboia, com a legenda: “Lusos às Armas, pela Fé, pelo Rei e pela Pátria”.

Em seguida passa-se à Sala Manuelina. Situada na ala manuelina do palácio, dai o seu nome, é uma sala que sofreu modificações já este século, como é evidente pelas cópias de azulejos antigos que cobrem as paredes. Anteriormente, e já nos finais da monarquia, este espaço esteve dividido em três compartimentos que foram utilizados como aposentos do rei D. Luís.
É a Salão Nobre do Paço, mandado construir por D. Manuel I, no início do séc. XVI. Esta ala marca a ultima grande campanha construtiva do Palácio, tendo sido restaurada nos anos 30 do séc. XX.
Após a descida por uma escada em espiral, construída no séc. XVI (reinado de D. João III), depara-se com uma robusta grade de ferro forjado, junto à qual se encontra uma lanterna que recorda o costume da época de D. Afonso V, que impunha esse dispositivo na primeira divisão dos paços. É ali que foi finalizada a visita, sendo nesta sala que outrora estava a Guarda Real dos Archeiros.
Mas para deixarmos o palácio, ainda se desce uma escadaria, que nos leva ao pátio interior da entrada do Paço, onde se rasgam para o exterior quatro arcadas góticas, cadenciadas mas algo austeras, que fazem a transição com o exterior e nos separam do Largo Rainha D. Amélia.

Uma vez neste Largo, caminha-se para o Centro de Sintra, deixando-se para traz a fachada joanina do Paço a caminho de uma esplanada, onde se pudesse tomar um leve lanche e uma refrescante bebida.

Fonte: http://www.cm-sintra.pt/ http://pnsintra.imc-ip.pt/ http://palaciodesintra.paginas.sapo.pt/Visita.htm
"Toda a doutrina social que visa destruir a família é má, e para mais inaplicável. Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo mas sim a família."

Victor Hugo


O último patamar

Todos nós já reparámos, com toda a certeza, nos ataques – violentos e constantes – que são feitos contra a instituição familiar nos tempos que correm.
A família apanha pancada a torto e a direito. Apeteceria ter pena dela, se fosse uma pessoa.
Basta passar os olhos num jornal ou numa revista, ligar a televisão, reparar nas propostas de lei que, insistentemente, sobem e voltam a subir – mesmo depois de anteriormente derrotadas – aos parlamentos dos vários países.
Tudo é útil.
Tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, possa servir para corromper a família e contribuir para a eliminar da face da terra é incrementado, com meios poderosíssimos, em nome de qualquer coisa mal explicada que pretendem vestir de modernidade.
E apresentam-nos, em alternativa à família, como sendo as últimas conquistas do progresso humano, coisas que não são senão roupagens que pretendem tornar apresentáveis as mais antigas podridões humanas.
Como se a família fosse algo que pertencesse a uma época da história que estamos prestes a ultrapassar. Como se ela se pudesse abandonar, para dar lugar a algo mais actual, da mesma forma que se abandonaram as máquinas de escrever à medida que se foram generalizando os computadores.
Vamos assistindo a esses ataques…
É a intenção clara de impor na sociedade o aborto. A coabitação. O “casamento” de homossexuais e a possibilidade de adotarem crianças. A atividade sexual desregrada, arrancada ao âmbito que lhe é próprio.
São as leis que favorecem o divórcio, e a ausência de leis que defendam e promovam as famílias com filhos.
É a criação de um ambiente de comodidade material e de egoísmo – “Segurança!… Segurança!”… – no qual os filhos não têm lugar, porque nada se opõe tanto ao egoísmo e à comodidade como os filhos.
É a tentativa de fazer passar – como sendo um facto moderno e racional – a ideia de um “planeamento familiar” que, no fim de contas (não é tão fácil reparar na contradição?), consiste em aprender as técnicas de não construir uma família.
E a outra ideia, a de que as crianças – não passam, para eles, de brinquedos vivos… – existem para os pais, e não os pais para as crianças (é talvez por isso que se avança tanto na investigação em embriões, de forma a que, qualquer dia, se possa escolher o sexo, as características, os pormenores do aspeto físico dos filhos… assim como quem vai à loja escolher uma boneca).
São, ainda, muitas outras coisas. Tantas, que uma família normal, com muitos filhos, já é olhada como um bicho estranho quando passa na rua (sucede como quando alguém passa conduzindo um daqueles carros de museu que funcionam a manivela…).
No entanto, apesar de todos os ataques, e dos rios de dinheiro – não podemos ser ingénuos – que organizações poderosas gastam neles, a família não deixará de existir como aquilo que é: um nó de laços indestrutíveis, fundamentado na união – assumida em forma de compromisso livre – de um homem com uma mulher para sempre.
E todas essas campanhas são uma batalha antecipadamente perdida. E todo esse dinheiro é inutilmente gasto.
É que a família pertence à natureza humana, e não está na mão de ninguém mudar isso. Não é um estágio da evolução da humanidade, uma fase que depois se ultrapassa para se chegar a um patamar superior.
A seguir à família não há mais nenhum patamar: só o abismo.
Se não houvesse a família, não haveria homens, mas sim monstros (às vezes encontramos por aí alguns que não chegaram bem a ter uma família, nem nada parecido, e aquilo que neles vemos faz-nos pensar precisamente nisto).
Não acontecerá, evidentemente, aquilo que vou imaginar a seguir.
Mas se alguém muito poderoso e sábio, num dia muito futuro em que isto estivesse tudo perdido – num dia em que as orientações que agora se tenta impor tivessem vingado e conduzido ao desconcerto e ao isolamento gerais – se esse alguém se pusesse a magicar numa forma de organizar a sociedade de maneira a reconstrui-la; se quisesse arquitetar um sistema de formar novos homens que possuíssem firme consistência; se procurasse uma maneira de os homens estarem ligados uns aos outros por laços inquebráveis que os acompanhassem ao longo de toda a existência; se pretendesse que os homens nunca mais estivessem sozinhos; se desejasse inventar um caminho que de novo conduzisse à felicidade…
Então esse alguém, se fosse capaz, começaria por formar pequenas células, sãs e inquebráveis, que, depois de se juntarem a outras, viessem a constituir o tecido da sociedade dos homens.
Esse alguém, se fosse capaz, inventaria… a família!
Nós, que ainda a temos, devemos prezá-la como se preza um tesouro.

Sintra - 3º Dia - Visita ao Paço Real - Do Quarto/Prisão de D. Afonso VI à Capela Palatina - Parte VII

A visita ao Palácio Nacional de Sintra continuou. Caminhando para oeste a partir da Sala dos Brasões,  encontramos, uma pequena sala à esquerda, cuja tradição a identifica como o Quarto/Prisão de D. Afonso VI, que ali viveu fechado nove anos em seus aposentos (ele havia sido rei e foi levado a abdicar, e quando quis tentar voltar ao poder foi tomado como traidor, e seu irmão, futuro D. Pedro II, mandou-o prender neste Palácio, quando D. Afonso IV regressou do seu desterro na Ilha Terceira) e onde viria a falecer em 1683.


Mais do que esta ocasional hipótese, interessa-nos aqui observar o carater simples deste reduzido espaço, com a sua pequena porta ogivada e o seu pavimento de velhas tijoleiras, pontilhado, aqui e ali, por azulejos mudéjares. A propósito deste quarto o embaixador de Carlos II (rei de Inglaterra e cunhado de D. Afonso VI) em Portugal, comentou que este quarto parecia ter sido escolhido “…mais para enterro do que para habitação.” No entanto deve referir-se que este quarto mesmo que simples para um rei, seria considerado luxuoso, quer para o povo da sua época, quer para muitos de nós na época atual.
Passa-se em seguida para a Sala Chinesa. Fazendo ainda parte do antigo Paço da época de D. Dinis, esta sala foi utilizada como quarto de dormir de D. João I, antes da grande campanha de obras promovidas por este monarca, nos inícios do séc. XV. Deve o seu nome atual ao lindo pagode chinês em marfim do séc. XVIII, que ali se encontra.

Deixamos a Sala Chinesa e ultrapassado mais um pátio, entra-se na rica Capela Palatina, consagrada ao Divino Espírito Santo. Remontando à primeira campanha de construções, esta capela foi edificada no reinado de D. Dinis, no início de século XIV, sofrendo ao longo do século XV várias alterações. Um retábulo maneirista que substituiu o original é da autoria de Diogo Teixeira.
Antes do altar-mor desenvolve-se, sobre o pavimento, um longo tapete policromo de azulejos alicatados, que alguns autores dizem ser do domínio muçulmano, mas que será mais legítimo colocar nos inícios do século XV. As paredes da capela estão inteiramente pintadas e preenchidas por um sem número de cartelas quadradas inclinadas, dentro das quais nos surge representada, sobre fundo vermelho e em variadas posições a pomba branca do Espírito Santo, segurando no bico o símbolo pacifista e religioso do ramo de oliveira.

Segundo a guia que nos acompanhou, obras recentes puseram a descoberto, ao fundo do altar-mor desta capela, raros vestígios de pinturas góticas, que terão precedido ao retábulo original.
Segue-se a Câmara (Quarto de Dormir) do rei D. João I, agora chamado de Sala Árabe. A atual decoração foi feita no reinado de D. Manuel I, inclui silhares revestidos de azulejos geométricos dispostos de modo a criarem uma ilusão ótica rematados por frisos de azulejos relevados, com maçarocas inseridas em flores-de-lis.

Esta sala apresenta também uma fonte colocada no centro da divisão, e aqui reina totalmente o mudejarismo, que segundo a nossa guia refletem a forte impressão causada pelas visitas efetuadas por D. Manuel e pela sua primeira mulher, D. Isabel, filha dos Reis Católicos, às cidades de Granada, Guadalupe, Toledo, Guadalajara e Saragoça, durante a sua viagem por várias regiões de Espanha em 1498.
O pavimento da Sala Árabe é constituído por um entrançado de tijoleiras retangulares. A meio, surge uma fonte em mármore branco, de planta circular, inscrita num quadrado de azulejos. Ao centro desta singela fonte ergue-se caprichosa uma escultura, de sabor vincadamente exótico, que alguns autores classificam como um trabalho provavelmente indiano, ali mandado colocar por D. Manuel I.

Fonte: http://www.cm-sintra.pt/ http://pnsintra.imc-ip.pt/ http://palaciodesintra.paginas.sapo.pt/Visita.htm

Livro fechado


Era uma vez um livro. Um livro fechado. Tristemente fechado. Irremediavelmente fechado.

Nunca ninguém o abrira, nem sequer para ler as primeiras linhas da primeira página das muitas que o livro tinha para oferecer.

Quem o comprara trouxera-o para casa e, provavelmente insensível ao que o livro valia, ao que o livro continha, enfiara-o numa prateleira, ao lado de muitos outros.
Ali estava. Ali ficou.

Um dia, mais não podendo, queixou-se:
— Ninguém me leu. Ninguém me liga.
Ao lado, um colega disse:

— Desconfio que, nesta estante, haverá muitos outros como tu.

— É o teu caso? — perguntou ansiosamente, o livro que nunca tinha sido aberto.

— Por sinal, não — esclareceu o colega, um respeitável calhamaço. — Estou todo sublinhado. Fui lido e relido. Sou um livro de estudo.

— Quem me dera essa sorte — disse outro livro ao lado, a entrar na conversa. — Por mim só me passaram os olhos, página sim, página não… Mas, enfim, já prestei para alguma coisa.

— Eu também — falou, perto deles, um livrinho estreito. — Durante muito tempo, servi de calço a uma mesa que tinha um pé mais curto.

— Isso não é trabalho para livro — estranhou o calhamaço.
— À falta de outro… — conformou-se o livro estreitinho.

Escutando os seus companheiros de estante, o livro que nunca fora aberto sentiu uma secreta inveja. Ao menos, tinham para contar, ao passo que ele… Suspirou.

Não chegou ao fim do suspiro, porque duas mãos o foram buscar ao aperto da prateleira. As mãos pegaram nele e poisaram-no sobre os joelhos.
— Tem bonecos esse livro? — perguntou a voz de uma menina, debruçada sobre o livro, ainda por abrir.

— Se tem! Muitos bonecos, muitas histórias que eu vou ler-te — disse uma voz mais grave, a quem pertenciam as mãos que escolheram o livro da estante.

Começou a folheá-lo e, enquanto lhe alisava as primeiras páginas, foi dizendo:
— Este livro tem uma história. Comprei-o no dia em que tu nasceste. Guardei-o para ti, até hoje. É um livro muito especial.

— Lê — exigiu a voz da menina.
E o pai da menina leu. E o livro aberto deixou que o lessem, de ponta a ponta.
Às vezes, vale a pena esperar.

António Torrado, in Educação na Aldeia (http://educacao.aaldeia.net/category/contos-educativos/)

Sintra - 3º Dia - Visita ao Paço Real - Da Câmara do Ouro à Sala dos Brasões - Parte VI

À Sala das Pegas seguem-se a Câmara do Ouro e a Sala das Sereias, onde continuam a ver-se exuberantes painéis de azulejos mudéjares, que ali dominam todo o ambiente.
A chamada Câmara do Ouro é uma sala do início do séc. XV. Foi nos finais do séc. XVI, o quarto de dormir do rei D. Sebastião, cujo retrato se observa na sala. Nela pode-se admirar uma cama em ébano de dimensões pouco comuns, e ornamentada com pinturas sobre cobre. O seu revestimento azulejar único, é constituindo por motivos de parra em alto-relevo do início do séc. XVI.

Na sala seguinte, a Sala das Sereias cuja designação provém da pintura do teto. Há a destacar nesse curioso teto apainelado e pintado, uma nau portuguesa que se vê ao centro, e dos lados sereias tangendo instrumentos musicais, que data de finais do séc. XVII ou inícios do séc. XVIII. No início do século XV estava aqui instalado o guarda-roupa.
Passa-se em seguida pela Sala Júlio César, uma pequena sala íntima, cuja designação é proveniente de uma tapeçaria flamenga do século XVI, representando uma cena de vida do general romano.

Alcançamos depois a Sala da Coroa, de novo revestida por preciosos azulejos mudéjares. Daqui se sai para o Pátio de Diana, forrado com belos azulejos manuelinos de parra e cacho, situando-se aí uma interessante fonte renascentista.
Sobre este pátio alonga-se a Sala das Galés, para a qual se sobe através de uma escadaria geminada. Trata-se de um acrescento de finais do século XVI, que dá acesso a um jardim denominado “Jardim dos Príncipes”, que até nós chegou na sua feição barroca. A Sala das Galés ostenta um teto de madeira em berço semicircular, que data de meados do séc. XVII, no qual vemos pintada a Barra de Lisboa, com múltiplas embarcações e várias perspetivas de fortalezas e de casario costeiro.

Em tempos dividida por paredes de tabique e com um teto falso, esta Sala das Galés foi utilizada como aposentos do príncipe D. Afonso (irmão de D. Luís I) conhecido como "O Arreda". Mais tarde foi recuperada pelo arquiteto português Raúl Lino e utilizada como sala de exposições temporárias. Hoje é mais um espaço museológico onde são exibidas algumas pinturas, contadores e louça de boa qualidade hispano-mourisca.
Em seguida entra-se na Sala dos Brasões, uma sala soberba também conhecida como Sala de Armas, foi mandada edificar por D. Manuel I (1495-1521), e é um dos melhores exemplos da afirmação do poder real. Esta sala situa-se numa torre do palácio, no local da antiga Casa da Meca.


O belíssimo teto em talha dourada ostenta no topo as armas régias, rodeadas por setenta e dois brasões de famílias nobres. No teto, abaixo dos brasões do rei e dos infantes e infantas, podem-se ver setenta e dois outros brasões da mais notável nobreza da época, dispostos por ordem de importância. Os painéis de azulejo com cenas galantes e de caça que cobrem as paredes são do séc. XVIII, e fabricados na antiga Fábrica Real do Rato.

Fonte: http://www.cm-sintra.pt/ http://pnsintra.imc-ip.pt/ http://palaciodesintra.paginas.sapo.pt/Visita.htm