Esquizofrenia social - A “loucura que assola a humanidade”

Isto de sermos ou não “doentes” é uma questão de saber quem estabeleceu as referências para a normalidade. Considerei como “normalidade” um estado de satisfação e felicidade: a visão de um ser lúcido-lúdico, em comunhão com os seus iguais neste mundo, considerando-o como uma passagem.

Olhando de frente o que estamos vivendo, o que se percebe é uma sociedade com aspectos muito nebulosos na demonstração de sua sanidade. Uma alegria verdadeira é o que parece acontecer muito raramente. Estamos, de facto, todos, muito comprometidos.

A ética da sobrevivência é o antídoto para a situação que procurei expôr. Considerando o fenómeno da globalização, a informação mundializada, a perda dos espaços públicos, a exposição constante na mídia, a única saída é tentarmos ser escandalosamente coerentes - se não vamos, rapidamente, perder a credibilidade.

A esquizofrenia social que estamos vivendo não é um fenómeno novo, mas, historicamente, trata-se da primeira vez em que ela é exposta, devassada, sem hipocrisia, e isto é assustador. Olhamos ao redor e o que vemos é um mundo muito feio.

A esquizofrenia social nasce no berço, de pais perversamente despreparados, de uma sociedade com valores cruéis ou sem valores. Mudar isso é uma questão de urgência, se pretendemos ainda ter alguma possibilidade de viver com qualidade o futuro próximo.

Não se trata de uma busca do ideal, mas do equilíbrio. Podemos tentar dar mais e melhor atenção ao nosso entorno. Podemos criar uma nova onda, por exemplo, considerando como “brega” o desapreço pela criança e ao seu futuro.

Podemos lidar com a consciência da necessidade de políticas públicas que protejam a infância e a formação dos nossos cidadãos, sem que isso pareça pieguice, jogo de poder, hipocrisia ou mesmo algo messiânico.
Da mesma forma com que já se conseguiu implantar uma certa indignação social em relação às questões ecológicas, vamos trazer a pessoa para o centro deste movimento a favor de uma ecologia ainda maior.

Elza Pádua
(Elza Pádua é graduada em Comunicação Social pela PUC – Rio e em Administração de Empresas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas. Concluiu mestrado em comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde trabalhou com temas como feminismo e sociologia. Concluiu o doutorado em Psicologia Social na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde iniciou sua pesquisa sobre esquizofrenia social. Elza também é autora do Seminário “Nós - os canibais”, apresentado na Universidade Federal Fluminense, e do artigo “O descaminho da mulher”, publicado pelo Departamento de Estudos da Mulher de Washington, nos Estados Unidos.)

Um comentário:

Ia Tan disse...

Estou lendo o livro de Elza Pádua "Esquizofrenia Social" e concordo com tudo que ele menciona.
Tive a oportunidade de trabalhar com Elza e sei que é assim que ela vive, por isso acredito nela: questionadora,inquiera, pratica e estimula o livre pensar e agir, renegando preceitos e preconceitos.
Adoraria reencontrá-la. Estou cá no Brasil.
Tânia Barroso Dias
taniabarroso25@gmail.com