Colares - 2º Dia - Parte II

Mesmo acordando cedo é fácil passar-se toda a manhã no Cabo da Roca, namorando as visões magníficas proporcionadas pelo imenso Atlântico que ali se encontra com as altas arribas verticais do seu promontório, que se elevam a mais de uma centena de metros acima do nível do mar. No entanto neste belo Cabo não é só do mar que provêm as paisagens mais belas, bastando olhar o Farol da Roca, ou as arribas que formam a Praia da Adraga, bem como os outros vales fluviais cavados nos calcários existentes nas suas imediações, que formam também belas falésias atlânticas.
Após o almoço segue-se em direção a Sintra. Neste percurso que nos leva por planaltos de largas vistas, descendo e subindo num percurso onde contrastam as velhas aldeias do litoral com as novas mansões, símbolos de novos poderes bem distantes da conquista dos mares. A ruralidade e a urbanidade, o mar e a terra num percurso desafiante, tanto a nível físico, como ao nível das emoções, onde se descobrem imagens de pleno fascínio natural.


De Sintra seguimos em direção a Colares, por uma estrada muito pitoresca e cheia de curvinhas, ladeada por um frondoso arvoredo, bonito de se ver num início de tarde, quando a luz dá um tom quente à folhagem, que nos filtra a o sol para nos dar amáveis sombras e recantos admiráveis.
Acompanhando esta estrada existe uma antiga linha de caminho-de-ferro (dos antigos elétricos), que está a ser reabilitada para fins turísticos, e que outrora levava os veraneantes e os habitantes de Sintra à Praia das Maçãs.


Chegados a Colares, percorre-se a estrada em direção às praias e logo nos aparece a antiga, mas bem conservada fachada da Adega Cooperativa de Colares, que foi fundada em 1931, sendo por isso a cooperativa mais antiga do país, e uma das mais antigas regiões demarcadas de Portugal.
Limitada a oeste pelo Oceano Atlântico e a sul pela Serra de Sintra, a Região Demarcada de Colares compreende as freguesias de Colares, São João das Lampas e São Martinho, do concelho de Sintra. Colares é Denominação de Origem Controlada desde 1908, a Região Demarcada mais ocidental da Europa Continental e a mais pequena região produtora de vinhos tranquilos do país.


Na Adega a prova de vinhos é fundamental e destacamos da ampla gama de vinhos as nossas escolhas nos clássicos, o Ramisco e Malvasia (DOP Colares), nos modernos, o Chão Rijo (Regional Lisboa), importando ainda provar os versáteis Saloio e Serra da Lua (de Mesa).

Perto da costa atlântica e fazendo barreira aos ventos marítimos, a Serra de Sintra encerra um microclima que confere propriedades naturais únicas, para a produção dos famosos vinhos tintos de Colares. Cultivados numa das encostas mais bonitas desta verde Serra - classificada pela UNESCO como Paisagem Cultural da Humanidade – estes vinhos já foram considerados os melhores do país e são hoje protegidos a todo o custo.


As características únicas dos vinhos de Colares devem-se às castas, solo e clima temperado e húmido no verão e, ainda, ao facto de 80% da vinha estar instalada em chão de areia, estendendo-se praticamente até às praias.
Foi a especificidade das vinhas típicas de Colares, instaladas sobre “chão de areia” de duna do litoral, que fizeram com que a região fosse a única a escapar à praga de filoxera que assolou a vinicultura europeia, em finais do séc. XIX. Aquilo que para a generalidade dos produtores representou uma catástrofe foi para Colares a oportunidade de crescimento. A cultura da vinha em “chão de areia” é trabalhosa e dispendiosa, sendo a produtividade menor devido sobretudo à pobreza dos solos e aos gastos tidos com abrigos para combater os efeitos de uma localização à beira-mar.

O tinto de Colares apresenta uma cor rubi e, com o envelhecimento, ganha um aveludado e bouquet excecionais. O vinho de Colares só atinge a sua máxima qualidade passados vários anos, embora o estágio mínimo seja de 18 meses. Dado este longo estágio a que o vinho é obrigado, a comercialização é muito limitada, sendo a região de Colares uma espécie de “santuário” para os conhecedores.
Fonte: http://www.fidalguia.pt/ http://www.sal.pt/ http://www.infovini.com/ http://www.chefesdecozinha.com/

Família e Educação

Observa o teu culto à família e cumpre teus deveres para com teu pai, tua mãe e todos os teus parentes. Educa as crianças e não precisarás castigar os homens.
Pitágoras

A escola pode aperfeiçoar o artista, criá-lo, nunca; porque não se melhora senão o que já existe.
Paolo Mantegazza

Navegar é Preciso, Viver não é Preciso…

Parta à descoberta de uma experiência sem igual... Porque viver é acima de tudo im[preciso]

LIMITES - BARREIRA OU ESTÍMULO?


Fonte: http://www.youtube.com/ http://www.uc.pt/

Ler mais em: Aula sobre limites dada ao grupo de estudos por Sophie Farhi ...

Cabo da Roca -1º e 2º Dia - Parte I

A partida de casa a caminho de Sintra foi iniciada num feriado de quarta-feira, que fazia daquele início de dezembro, um final de semana prolongado e por isso ótimo para uma pequena viagem ao relembrar de saberes e sabores, que nos vão concretizando o conhecimento.

Caía a noite quando fizemos a primeira paragem para o jantar, no lugar do costume quando por aquelas bandas se passa, o Restaurante Trás d’Orelha, em Catefica, junto da saída sul da autoestrada A8, para Torres Vedras, para se degustar desta feita, um belíssimo cabritinho assado no forno com batata à padeiro e arroz de miúdos.

Já de noite se partiu para o lugar de pernoita, o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa continental (Latitude, 38º 47´ Norte; Longitude, 9º 30´ Oeste) ou, como escreveu Luís Vaz de Camões, o local “Donde a Terra se acaba e o mar começa” (in Os Lusíadas, Canto VIII).

Lá chegados a noite era de breu e com muita ventania, que fazia do “Focinho da Roca”, como lhe chamam as gentes ligadas às coisas do mar, um lugar aparentemente pouco convidativo à pernoita. No entanto lá pela meia-noite o vento acalmou e apenas se fazia sentir uma leve brisa, que de vez em quando nos trazia um inconfundível cheirinho a maresia. Naqueles momentos antes de adormecer de janela aberta, me pareceu mais adequado senti-lo intensamente como “Promontório da Lua”, o poético segundo nome porque é também conhecido.

Devo ainda referir que é um privilégio adormecer sobre este Promontório da Lua, sentindo que naquele ponto, um maciço e enorme mar de pedra, se impõe às profundas águas do Atlântico, fazendo-se ouvir o incessante ribombar das vagas que nele se quebravam, como que celebrando esse encontro.


Na manhã seguinte o acordar foi bem cedo, com camionetas com turistas a chegarem a todo o momento. O fresco da manhã a entrar pela janela e a própria paisagem envolta em neblina entrava-nos pela alma, quase despertando em nós uma nostalgia idêntica à do anoitecer. Seria da vegetação rasteira devastada pelos ventos marítimos impregnados de maresia, de onde sobressem tufos de «armeria pseudoarmeria», tentando sobreviver entre os penhascos de rocha crua?

De um lado o farol altaneiro, do outro a presença de alguma civilização, com um restaurante e loja de recordações. Em frente ao longe o elegante padrão em pedra, com a lápide que assinala a sua particularidade geográfica, a todos quanto visitam este local. Lá adiante junto da enorme e funda parede escarpada do promontório, o confronto de peito aberto com o mar.

No seu topo a ventania é forte e respira-se a custo, sentindo-se nas costas todo o peso do continente, enquanto os olhos se abrem para o convite do oceano. É no Cabo da Roca que a expressão "jangada de pedra" de José Saramago, ganha todo o seu significado, com a vantagem de cada um poder sentir-se timoneiro, comandante ou náufrago da embarcação. Ali o nostálgico do mar, pode ser um símbolo de partida e da esperança de um eterno recomeço, em especial para aqueles que partiam de Portugal por mar.


Como podemos ler no site da CMS, que se refere ao Cabo da Roca, “Certo, certo é que ninguém de lá sai como chegou, e para franquear o portal mágico do Cabo da Roca não é preciso password. Basta ir, fazer uma pausa nos fins-de-semana consagrados aos templos do consumismo e recuperar um pouco, nem que seja só um bocadinho, daquela ligação ancestral à terra, à natureza e a tudo o que sensibiliza e enobrece.”

Fonte: http://www.guiadacidade.pt/ http://www.cm-sintra.pt/Wikipédia.org

Outono 2011 - Cabo da Roca, Sintra, Lisboa (Belém)


O final de semana de 1 (feriado), 2, 3 e 4 de dezembro de 2011 foi destinado a Sintra e Lisboa. Em Sintra queríamos pelo menos passar mais um dia, a fim de ser efetuada a visita ao encantado e belíssimo Palácio da Pena, que não tínhamos podido visitar em setembro e que constitui o mais completo e notável exemplar da arquitetura portuguesa do romantismo.

Os restantes dias iriam ser passados em Lisboa, na zona ribeirinha de Belém, o bairro mais paradigmático em termos de património relacionado com os descobrimentos. É uma das zonas mais emblemáticas de Lisboa, sendo na sua praia, que partiram as naus do navegador Vasco da Gama à descoberta do caminho marítimo para a Índia, e onde por todo o lado se respira ainda, a grandeza do antigo Império.

Na viagem com rumo a Sintra e Lisboa, e porque existem várias maneiras de lá chegar, preferimos dar uma volta maior e passar pelo ponto mais ocidental do continente europeu, o Cabo da Roca, que reúne uma admirável beleza paisagística, com um excecional valor ambiental.

Do Cabo da Roca a Sintra a estrada acompanha um dos mais bonitos percursos que se podem fazer, contornando a Serra de Sintra pelo norte, em direção a Colares, para uma visita às caves e compra dos seus famosos vinhos.


O percurso feito para ir e voltar foi:

1º Dia – Casa; Cabo da Roca;

2º Dia – Cabo da Roca; Colares; Sintra (Palácio da Pena);

3º Dia – Lisboa (Belém);

4º Dia – Lisboa; Casa.

Sintra - Noite do 3º Dia - Caminho da Luz, Lumina IV




Ponto 12 - Escadinhas Félix Nunes - Título da obra: “não fosse, desde já, um admirável e surpreendente esforço chegar aqui… prossigo!”

Embora fora dos percursos habituais no centro da vila, mas sempre aliciantes de se fazerem, são as ruelas e escadinhas da vila antiga. Foi ali no meio do labiríntico seio da vila velha, que encontrámos no cimo das Escadinhas de Félix Nunes, um gigante luminoso, que mais parecia estar “chorando” e uma de suas lágrimas, escorresse com luz própria por aquelas escadinhas abaixo. Esta ‘lágrima de luz’ fazia parte de uma escultura de André Banha em madeira, iluminada no seu interior, criando uma aura muito especial na ruela inclinada.

Ponto 13 – Igreja de São Martinho“Lumières d’aveugles”
Logo a seguir e no meio do emaranhado de ruelas, aparece a Igreja procurada. Entrando na Igreja de São Martinho, observavam-se logo vários monitores que nos mostravam relatos extraordinários de cegos que testemunhavam a exploração das suas perceções. Este era um trabalho da artista francesa Pierrine Lacroix, que pretendia ser uma viagem a um outro tipo de perceção sensorial, que demonstrava uma espécie de mundo paralelo ao de quem vê, construído com reflexos de luz percecionados por cegos.

Ponto 14 – Finalmente caminha-se ao encontro da última projeção marcada no Caminho da Luz, que nos esperava no Edifício do Turismo. Com o nome de “Moon Mountain” e já explicada na descrição da primeira noite da Lumina – Festival de Luz, esta projeção multimédia, tinha como tema principal a evocação Monte da Lua, como ali é chamada a Serra de Sintra. Era uma projeção também feita sobre a fachada principal deste edifício, tendo como base a inspiração da envolvência mística e da sua vegetação verde, demonstrando como a luz da Lua nos pode guiar através do nosso inconsciente e mostrar-nos novas ideias, que nos podem enriquecer neste mundo, em que somos meros convidados durante os anos da nossa sobrevivência.

Ponto 15 – No interior do Edifício do Turismo, também podíamos brincar com a nossa própria sombra, que era repetida indefinidamente. Funcionando como uma “mise en abysme” que repetia uma obra dentro de outra infinitamente, esta projeção (“Shadow in Depth - Sombra em profundidade”) utilizava em tempo real, apenas branco e o negro, que lhe conferia um sentimento de intemporalidade no qual nos podemos perder. A interatividade desta obra não passava por nenhum interface, não havendo barreiras entre ela e o utilizador.

Findo o Caminho da Luz, voltámos à autocaravana, e como esta já estava sem baterias, resolvemos regressar a casa, para no dia seguinte ainda termos um dia de descanso, antes de se iniciar uma nova semana de trabalho.

Fonte: http://www.sintraromantica.net/ http://www.streetartportugal.com/

Sintra - Noite do 3º Dia - Caminho da Luz, Lumina


Ponto 9 – Projeção interativa – “Parque dos Castanheiros”
Já bem perto da Vila Velha, uma projeção interativa chama a nossa atenção, é o Parque, uma instalação com uma forte mensagem ecológica em que o crescimento de uma floresta virtual é determinado pela atenção que recebe por parte do público. Ao fazer movimentos positivos com o corpo, o público pode gerar novas árvores ou fazer crescer as já existentes. Se uma árvore for deixada sem atenção durante muito tempo vai minguar e eventualmente desaparecer. Este trabalho pretendia demonstrar a relação direta entre a ação humana e a preservação da natureza.

Ponto 10 – Edifício do Museu do Brinquedo – Nome: “Pin-Ball Os Plasticos”
À entrada do centro histórico esperava-nos uma projeção interativa, que transformava a fachada o Museu do Brinquedo num brinquedo gigante. Era uma máquina de flippers (pinball) gigante, em que a própria traça do prédio era uma parte do jogo. Janelas, colunas, etc. são obstáculos para a bola.

Tal e qual como nas máquinas de flippers, aqui também existe uma história, inspirada numas personagens criadas por Nuno Maya e Carole Purnelle com lixo que o mar devolve para as praias. Com a bola de flippers, pretendia-se que se destruíssem esses bonecos, que apareciam projetados durante o jogo, sensibilizando daquela forma os espectadores para uma causa ecológica. O próprio público controlava o jogo, através de uma plataforma idêntica a uma verdadeira máquina de flippers, situada na rua em frente do edifício do Museu do Brinquedo.
Ponto 11 – Mais à frente em pleno Centro da Vila, novamente podemos ouvir Ruy de Carvalho, projetado no Palácio Nacional de Sintra, recitando os velhos versos, mas sempre atuais do Poema “Camões” (1825), de Almeida Garret.
“Oh! nobres paços da risonha Sintra
Não sobre a roca erguidos, mas poisados
Na planície tranquila, — que memórias
Não estais recordando saudosas
Dos bons tempos de Lísia!”…

Fonte: http://www.sintraromantica.net/ http://www.streetartportugal.com/

A APOSTA DE SER HOMEM


Há no nosso linguajar diário, coisas realmente curiosas. E uma delas é essa expressão tão comum com que comentamos qualquer falha de alguém: “Isso é muito humano”.

Há trapaças num exame ou num concurso e dizemos: “É muito humano”. Alguém defrauda o fisco e rematamos: “É humano”. Um homem ciumento faz a vida impossível à sua mulher e sussurramos: “É muito humano”. Após um fracasso, vem o desânimo e a amargura e justificamos tal atitude com um “é humano”.

Curiosamente, chamamos humanos apenas aos nossos vícios e defeitos. Inclusive, esse “humano” converte-se, às vezes, em sinónimo de “animal”. Dá impressão de que o rasteiro, o caduco, o que nos afasta das alturas é que é próprio do homem. Mas … justamente é o humano que nos diferencia do animal! Sim, humana é a nossa razão, a vontade, a consciência, o esforço, a sanidade. Isso é que é verdadeiramente humano.
  • Humana é a inteligência, que faz do homem um permanente investigador da verdade, um ser ansioso de clareza, uma alma faminta de profundidade.
  • Humana é a vontade, a coragem, o afã de lutar, o saber enfrentar o infortúnio, a capacidade de esperar contra toda a esperança.
  • Humana é a consciência, que nos impede de enganar-nos a nós mesmos, a voz interior que nos desperta para continuar escalando, a exigência que não nos deixa adormecer.
  • Humana é a preocupação de sermos melhores, saber que ainda estamos a meio caminho, propormo-nos como meta a perfeição, embora saibamos que nunca chegaremos à meta total.
Tudo isso é humano. E dificilmente chegaremos a ser verdadeiros homens se começamos a auto desculpar os nossos erros sob o pretexto de que “são humanos”.

Ser homem é, por certo, uma aventura muito ambivalente.

Pascal definia o homem como: “Juiz de todas as coisas; estúpida minhoca da terra; depositário da verdade; montão de dúvidas; glória e desperdício do universo”. Sim é tudo isso e muito mais. E por isso a verdadeira aventura e glória dos homens é, precisamente, escolher entre essas coisas, sabendo que podemos ficar-nos naquilo que Baroja dizia do homem – “um ser um milímetro acima do macaco, quando não um centímetro abaixo do porco” – ou ser precisamente essa “glória do universo”.


E quais são as chaves da aposta? Literalmente: apostar naquilo que o homem tem de animal ou naquilo que ele tem de racional. Apostar no egoísmo ou na generosidade. Optar por uma vida vivida ou por uma vida arrastada. Escolher entre um viver vigilante ou simplesmente vegetativo. Empenhar-se em viver os nossos melhores sonhos ou ruminar os nossos piores desejos. Passar os anos envelhecendo sem amadurecer, ou esforçarmo-nos por amadurecer sem envelhecer. Saber que – como dizia A. Dumas “o homem nasce sem dentes, sem cabelo e sem sonhos, e a maioria morre sem dentes, sem cabelo e sem sonhos”, ou levantar galhardamente a bandeira das ilusões e saber que podemos perder tudo menos o entusiasmo.

O grave é que todos têm de fazer estas opções, e cada um tem de fazer a sua, sem buscar as desculpas de que o mundo ou as circunstâncias não o permitiram. Viver é, efetivamente, apostar e manter a aposta. Não apostar ou deixar a aposta na primeira esquina da rua é, simplesmente, morrer antes do tempo.

S. Agostinho, para dar aos homens o melhor elogio dizia que o homem é “capax Dei”, – capaz de Deus. Na verdade, o que define a grandeza da alma é ser “capaz de … ” Capaz nada menos que de Deus, mas também capaz de um vazio que, precisamente por causa dessa grandeza, seria quase infinito. Haverá no universo tragédia maior que a duma alma que morra sem chegar a existir? Que gemidos não dará a natureza sempre que é obrigada a prostituir-se na estupidez e no vazio?! É tanto o que podemos alcançar! É tanto o que podemos perder! Assusta-me ser homem. Entusiasma-me e assusta-me. Mas não estou disposto a enganar-me, a pensar que isto é uma brincadeira sem importância, que os anos são umas fichas de cartolina que nos deram para nos irmos entretendo enquanto a noite não vem!

José Luis Martin Descalzo (Sacerdote, periodista e escritor espanhol)

Sintra - Noite do 3º Dia - Caminho de Luz - Parte II

Ponto 5.1 (Instalação 2): Continuamos a percorrer a Volta do Duche e a meio da volta, encontrámos a segunda Instalação (Título da Obra: “Antípoda”) do Caminho da Luz. Esta Instalação de Miguel Palma traduzia-se numa tenda montada num passeio com vista, como se fosse um miradouro. No seu interior encontrava-se um telescópio que percorre a paisagem da vila de Sintra, que ao mesmo tempo também pode perscrutar os céus, focando a Lua no seu todo. As imagens recolhidas durante o dia por este telescópio campista, são gravadas para durante a noite a tenda ser tela de projeção e ser revelada a vista diurna do campista.
Ponto 5.2 – Um pouco mais à frente, ainda na Volta do Duche uma nova Instalação depara-se-nos no Caminho da Luz. É uma Escultura/Instalação de Bernard Murigneux, com o nome “Simbiontes”.

 É uma Instalação que pretende levar-nos a um mundo místico, como é a própria Serra de Sintra. Como se sabe um Simbionte é uma criatura alienígena fictícia que faz parte do universo do Homem-Aranha.

A explicação do autor é que “Os Simbiontes vivem sozinhos ou em pequenos grupos e o propósito da sua visita é… bem, não é muito claro. O seu aspeto e os sítios onde aparecem causam espanto. Serão seres vivos ou cavernas vazias? É difícil apontar a sua origem. Eles estão entre a matéria orgânica e a construção, o natural e o artificial. Os tamanhos deles vão desde a escala humana ao colossal, aparecem em paragens de autocarro ou suspensos no ar e conversam, comunicam com quem passa. Será a missão dos Simbiontes colocar questões no transeunte a propósito do significado da nossa residência e existência material? Rumores dizem que já foram avistados na Estónia e em florestas na França, será que os veremos em Sintra?”
Nesta Instalação este artista francês expõe-nos problemas relativos ao espaço e à ocupação do mesmo. As suas colagens de arquitetura ficcional feitas a partir de edifícios existentes revelam que o espaço é o ponto central da sua pesquisa.
Ponto 6 (intervenção participativa) – Já no final da Volta do Duche, depara-se o Parque da Liberdade aberto. Para lá confluem muitos dos transeuntes que naqueles dias visitaram Sintra. Entra-se e a luz acompanha-nos.

O Parque de Liberdade contém cerca de 60 espécies diferentes de plantas e foi o palco de uma intervenção do Dekka Studio. Esta intervenção propunha a transformação do Parque, durante o Festival de Luz - Lumina, para criar um ambiente alternativo de exploração noturna. Este trabalho pretendia fazer a sugestão de um simples prazer: Um passeio noturno pela natureza com uma iluminação suave e com pequenos apontamentos e surpresas de luz. Os visitantes desta instalação eram convidados a trazer as suas lanternas de casa, usando-as a seu belo prazer dentro e fora do parque!
Ponto 7 – Mais à frente depois da saída do Parque da Liberdade, a Fonte Mourisca é também objeto de participação no Caminho da Luz. A intervenção para aqueles dias no Festival de Luz, para a Fonte Mourisca, um dos ícones de Sintra tinha o titulo “Harém-Cliché”.

Ali se representavam sketches que pretendiam mostrar o que podia acontecer quando se misturam "Luz e Sombra", "Água e Azulejo", "Poesia Erótica de Luso-Árabes da Idade Média e estereótipos ocidentais de falsos orientalismos", numa fonte neo-mourisca em plena rota da Luz. Talvez uma inesperada visão burlesca de peep-show/teatro de bolso trasvestindo a fonte em gruta secreta de Harém. Este “Harém-Cliché” foi naqueles dias uma irreverência performativa da Utopia Teatro.

Fonte:http://www.streetartportugal.com/ Panfleto Sinrartes 2011 da CMS

Sintra - Noite do 3º Dia - Caminho da Luz - Parte I

Anoiteceu no caminho de volta desde o Palácio de Seteais ao centro histórico de Sintra. A escolha do restaurante para o jantar, recaiu num que tinha uma esplanada em frente do Palácio Nacional de Sintra, de onde com facilidade podíamos assistir, mais uma vez, aos espetáculos da “Lumina, Festival de Luz”.
Degustando um saboroso prato de “bacalhau à lisbonense”, íamos admirando as projeções multimédia que transformavam o Palácio de Sintra. Num cenário virtual com várias animações, efeitos de luz e ilustrações, íamos ouvindo e vendo projetado na fachada frontal do palácio, o ator Ruy de Carvalho, narrando-nos a Sintra de Almeida Garrett.

Depois do jantar e da compra das famosas queijadas e travesseiros de Sintra, percorremos a pé, no meio de enorme multidão, a Volta do Duche, a caminho da Estação Ferroviária, onde se iniciava o percurso do Festival de Luz – Lumina.
Ponto 1: Logo à saída da Estação, podemos ver uma grande escultura participativa, com o logotipo da ACAPO. Nela o público era convidado a assumir o papel de criador desta obra coletiva, que tinha como objetivo social, comprar e colocar velas acesas na estrutura escultórica, para “Dar Mais Luz a Quem Não Vê”. O valor angariado reverteu a favor da ACAPO, para esta desenvolver melhor as suas atividades em prol dos deficientes visuais.

Ponto 2 (Instalação 1): Já novamente a caminho da Vila Velha observa-se uma Instalação, situada na Casa REFER, denominada “Grande Volante VIII”. Esta instalação de Fabrizio Corneli é uma obra realizada com luz artificial e constituída pela projeção de imagens de seres humanos desenhados a partir das sombras de pequenas peças de chapa recortada. A luz vinda do fundo permitia que a figura fosse projetada como se estivesse suspensa em levitação.
Ponto 3: Antes do início da Volta do Duche, para-se novamente, em frente do Edifício Café Saudade, que naquelas 3 noites, tinha como base uma projeção da azulejaria de Lisboa, exibindo uma projeção multimédia composta por vários padrões. Através de uma plataforma interativa, era captado o movimento das pessoas que por ali passavam e paravam. O artista, através da manipulação dessas imagens, projetava os padrões na fachada do edifício, permitindo a quem por ali passasse, integrar a obra de arte, que misturava os dois elementos padronizados: os peões e os azulejos.

Ponto 4: Já no início da Volta do duche, para-se do lado direito, em frente do edifício da Câmara Municipal de Sintra. As crianças de Sintra pintaram com Luz, claro! A fachada principal da Câmara. Através também de uma projeção multimédia, as crianças do Concelho de Sintra poderam ver naquelas 3 noites, as suas pinturas projetadas no edifício da Câmara em grande formato.
Carole Purnelle e Nuno Maya (atelier OCUBO.com) criaram este dispositivo para que os mais novos tivessem oportunidade de ser artistas, explorando a Luz neste festival. Este projeto educativo foi realizado com crianças dos 6 aos 10 anos e pretendeu estimular o lado criativo das mesmas, despertando nelas alguma sensibilidade artística através da exibição pública dos seus trabalhos.

Fonte http://www.lumina2011.com/ Panfleto Sintrartes da CMS.