Cassis

Após termos saído de Marselha, resolvemos fazer a costa mediterrânica até Saint-Tropez. Por estradas estreitas em cima de falésias, lá fomos até Cassis. A viagem entre Marselha e Cassis é inesquecível, pois a costa forma "as calanques", pequenas enseadas rodeadas de falésias que chegam a ter 400 metros de altura. De todas elas destacam-se as calanques de Sourmiou e de d'En-Vau, que são absolutamente encantadoras.

Muitas das vilas costeiras desta região foram urbanizadas sem qualquer tipo de planeamento, tendo perdido o seu encanto original, mas Cassis permaneceu inalterada, mantendo o aspecto do seu pequeno porto, que já seduziu tanta gente famosa.
Nele pode-se aproveitar para relaxar numa esplanada á beira-mar, observando os pescadores ou os artistas de rua, nas suas lides, enquanto se saboreia marisco fresco e vinho branco seco local, devido ao qual Cassis é famosa.

O Chateau de Cassis, que fica no alto de uma falésia, junto à vila de Cassis, foi outrora um castelo medieval, originalmente construído em 1381, sendo hoje um elegante hotel. Este magnífico hotel dispõe de cinco luxuosas suites, cada uma delas com vista para o mar Mediterrâneo e para a pequena vila de Cassis, onde os acessos aos quartos são feitos por escadas ou túneis.

A fauna selvagem da região é muito rica, com aves aquáticas, raposas, martas, morcegos, serpentes e lagartos. A flora também é impressionante, com mais de 900 espécies, das quais 50 são classificadas como raras. A não perder...

Le Corbusier, o pioneiro da arquitectura moderna

Le Corbusier foi um arquitecto francês de origem suíça (6/10/1887-27/8/1965). Nasceu em Le Chaux-de-Fonds, estudou artes plásticas e antes dos 20 anos, viajou pela Europa, conhecendo os maiores arquitectos da sua época.

Ele foi um dos maiores homens das formas que o mundo já conheceu, sendo considerado o arquitecto mais importante do século XX. Escreveu vários livros, era exímio pintor e escultor e também designer de móveis modernos.

Le Corbusier era o sobrenome do avô paterno, que ele adoptou para servir de pseudónimo e assim ficou conhecido em todo o mundo. Seu nome de nascença era Charles-Edouard Jeanneret, mas ele dizia que todos nós temos o direito de nos reinventar-mos, pelo menos uma vez na vida. Saiu da Suíça aos 29 anos e foi para Paris, onde achava tudo muito chato (a Art Nouveou e a Art Deco) e dizia muitas vezes, “temos que recomeçar do zero”. Foi o pioneiro da arquitectura moderna.

O contacto com as formas geométricas do cubismo leva-o a conceber a simplificação das manifestações artísticas do século XIX. Em 1922, no Salão de Outono (Paris), expõe seu primeiro projecto sobre uma cidade contemporânea de 3 milhões de habitantes.

Em 1933 redige a Carta de Atenas, código de princípios gerais que prevê a supressão do traçado das cidades baseado em ruas e quarteirões e propõe a implantação do zonas selectivas, com uma divisão de áreas segundo quatro funções num mesmo conjunto habitacional, (habitar, trabalhar, circular e recrear).

A sua ideia é posta pela primeira vez em prática na cidade de Marselha (França) após a II Guerra Mundial. Le Corbusier chamou-lhe "La Cité Radieuse", ou Unidade de Habitação de Marselha, e pretendia ser um complexo residencial radical.
O projecto serviu como primeira oportunidade para Le Corbusier pôr em prática as teorias de proporção e escala que viriam a dar origem ao Modulor (sistema de proporções que surgiu do desejo de seu autor de não converter ao sistema métrico decimal as unidades como pés e polegadas. Em vez disso, Le Corbusier passou a referenciar as medidas modulares baseadas nas proporções de um indivíduo imaginário, inicialmente com 1,75 m e mais tarde com 1,83 m de altura).

Ao mesmo tempo, constituía uma visão inovadora de integração de um sistema de distribuição de bens e serviços autónomos que serviam de suporte à unidade habitacional, dando resposta às necessidades dos seus residentes e garantindo uma autonomia de funcionamento em relação ao exterior.
Esta natureza auto-suficiente pretendida por Corbusier era a expressão de uma preocupação que começara a reflectir desde os anos 20, na sua análise aos fenómenos urbanos de distribuição e circulação que se começavam a repercutir-se na sociedade moderna, consolidando os conceitos que vinham a desenvolver-se em torno da ideia moderna de habitar.

Em 1936 visita o Brasil e do seu contacto com os arquitectos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer influencia o surgimento de uma nova arquitectura no país. Nas décadas seguintes, dedica-se a trabalhos teóricos e projectos em diversos países.

Morre em Roquebrunne-Cap-Martin, França, aos 78 anos, afogado no Mediterrâneo. O seu velório foi no Palácio do Louvre em Setembro de 1965. O seu legado influencia até hoje o mundo da arquitectura, arte e design...

Marselha, uma cidade cativante

Deixámos Carcassonne ao final da tarde, quando já se adivinhava a noite, tomando em seguida o caminho de Marselha onde chegámos por volta das 21h00. O local de pernoita foi junto ao cais do deslumbrante Porto Velho, centro vital da cidade de Marselha.
Na manhã seguinte fomos visitar a cidade, primeiro a pé e durante a tarde percorremos toda a cidade a bordo de um autocarro turístico que nos levou a conhecer os pontos turísticos mais emblemáticos da cidade de Marselha. O dia estava muito frio e o passeio turístico no primeiro andar, na parte descapotável do autocarro fez com que eu literalmente congela-se.

Marselha (Marseille em francês e Marselha em Provençal) é a segunda maior cidade de França, localizada na antiga província da Provença, na costa do Mediterrâneo, é o maior porto comercial do país. A cidade que deu o nome ao hino nacional francês "La Marseillaise" tem este título por causa das tropas revolucionárias e heróicas de Marselha.
Marselha foi fundada (em 800 a.C) e povoada pelos gregos no século VII a.C. Foi invadida por celtas e depois conquistada pelos romanos, sendo esta passagem para o domínio romano feita em 49 a.C. Na antiguidade era um porto de comércio e tinha a designação de Massilia. Este porto tornou-se a porta para o oeste para boa parte do comércio oriental.

A grande maioria dos marselheses é de descendência originária das ondas de imigrantes que chegavam ao porto no começo do século XIX, tal como arménios, espanhóis, italianos, gregos, árabes, judeus, russos e norte-africanos. Aproximadamente 25% da população de Marselha é de origem norte-africana, na maior parte argelinos e tunisinos. A sua comunidade judaica é também a terceira maior na Europa.
A cidade está situada entre as montanhas e o Mediterrâneo, possuindo mais de 26 séculos de rica história e fácil acesso aos encantos da região da Provença. É uma combinação única de herança cultural e riqueza, com intensa vida cultural e paisagem espectacular, devido a sua baía e às famosas "Calanques" (falésias).

As pequenas enseadas que salpicam a costa de Marselha, por vezes com uma praia resguardada, merecem um passeio. É uma boa forma de escapar ao bulício da cidade e de desfrutar da sua vertente mediterrânica.

O porto de Marselha é o maior do país, e um dos mais importantes do Mar Mediterrâneo, possuindo estreitas ligações com o Oriente e a África do Norte. Embora Marselha possua a fama de corrupção e tráfico de drogas, é uma cidade alegre e cosmopolita.

O crescimento de turistas que visitam a cidade e a sua região faz com que mais e mais pessoas se encantem pelas belezas da cidade e da região. As ilhas próximas também atraem bastante visitantes, sendo a mais famosa é a ilha que possui o Château d'If, fortaleza do século XVI, que foi uma antiga prisão, famosa pelo romance "O Conde de Monte Cristo" (romance da literatura francesa escrito por Alexandre Dumas, concluído em 1844 e que embora ficção, foi várias vezes tratado em filme, tomando uma aura mística).

Neste romance, o jovem e destemido marinheiro Edmond Dantes é um rapaz honesto e sincero, cuja vida pacífica e planos de se casar com a linda Mercedes são abruptamente destruídos quando Fernand, seu melhor amigo, que deseja Mercedes para ele, o trai. Com uma sentença fraudulenta para cumprir na infame prisão da ilha do Castelo de If, Edmond vê-se aprisionado num pesadelo que dura 13 anos, no fim dos quais volta para impor a sua vingança.

As ruas estreitas de Marselha, as suas praças tranquilas e as suas belas fachadas do séc. XVIII, contrastam com a agitação do Boulevard Canebiére ou com a "Cité Radieuse", ou Unidade de Habitação de Marselha, é um complexo residencial radical de Le Corbusier.

A Unidade Habitacional de Marselha é um dos projectos icónicos de Le Corbusier e uma daquelas referências básicas de qualquer arquitecto. Começou a ser planeada imediatamente após a Segunda Guerra Mundial (1945-46), entrando em construção em 1951. O edifício projectado para 1600 habitantes consiste numa enorme construção de 140 metros de comprimento de fachada, 24 metros de largura e 56 metros de altura, e previa o funcionamento interno de mais de 26 serviços independentes. Cada piso contém 58 apartamentos, projectados no famoso sistema dominó, com acesso a um grande corredor interno idealizado para funcionar como comunicação em profundidade e passagem.

Outra grande atracção da cidade é o Mercado do Peixe, que acontece no Porto Velho. Este pitoresco mercado que todas as manhãs se instala no Quai des Belges, sendo por si só uma excelente atracção turística. Além disso, a cidade tem dezenas de museus, que contam e ilustram a rica história de Marselha. A Notre-Dame-de-la-Garde e o Cours Julien, um bairro tido como o local de encontro da cultura alternativa marselhesa (onde vive a maioria dos emigrantes, sobertudo de África e onde os "graffitis" são quem mais ordena no visual colorido do bairro), são também locais a visitar.

Para trás ficaram os difíceis anos de mafiosos e contrabandistas. Hoje, a Marselha moderna é uma cidade rejuvenescida que nos deslumbra com o seu Porto Velho e as suas características únicas.

A região do Languedoc e os Cátaros - "Os Puros"

A Idade Média foi uma etapa da história muito marcada pela pressão religiosa, imposta desde Roma e materializada através da tão temida Inquisição e das Cruzadas, tanto na Terra Santa como pela Reconquista da Península Ibérica aos mouros.

Os Cátaros, do grego katharos, que significa puro, formavam uma seita cristã da Idade Média surgida no Limousin (França), na região de Languedoc e no Norte da Península Itálica, no final do século XI. A doutrina cátara diferenciava-se da doutrina católica em alguns dos principais "pilares" da doutrina católica.

Os cátaros eram seguidores inequívocos de Jesus. Justificavam a sua predilecção pelas Sagradas Escrituras, com especial ênfase pelo apóstolo João. Muito próximos do cristianismo primitivo, observavam em grande parte os seus rituais e práticas e o modelo de organização e por último, propunham um modelo de salvação baseado na recepção de um único sacramento, a extrema-unção, a que chamavam o "consolament", o sacramento da salvação.

Para eles, o livro sagrado era a Bíblia, em particular o Novo Testamento, mas segundo a sua crença, Jesus não era filho de Deus, mas apenas um profeta importante. Eles também recusavam a hóstia sagrada (apenas repartiam o pão nas suas cerimónias) e não admitiam distinção entre sexos, permitindo inclusive que mulheres celebrassem ritos religiosos. Na época medieval, os Cátaros também chamados de albigenses, foram considerados hereges sendo perseguidos até à morte.

Os cátaros viam-se como os verdadeiros sucessores dos apóstolos e divulgavam que o seu cristianismo era o autêntico, enquanto o de Roma não passava de uma manifestação do Diabo. Com uma face reformadora, o movimento pregava o retorno ao evangelismo primitivo, enfatizando a pobreza pessoal e a ausência de hierarquias clericais, em detrimento da acumulação de bens e de poder tão valorizado pela Igreja Católica na época. Seus seguidores também praticavam a castidade e ajudavam os doentes e necessitados.

Além disso não reconheciam a autoridade Papal ou dos bispos, dividindo os seguidores da religião em três níveis: Perfeitos, Crentes e Ouvintes. Os Perfeitos ou "bons homens" praticavam o celibato e passavam os dias em oração e em jejuns. Eram excelentes oradores. Os Crentes praticavam a virtude e a humildade, mas não eram obrigados a abstinências. Os Ouvintes eram simpatizantes da religião, acompanhando as palestras dos Perfeitos.

O chamado "Pays Cathare" (País Cátaro) estendia-se pela zona chamada Occitania, actual Languedoc, numa extensão fronteiriça entre Toulosa (actual Toulouse), até ao oeste, nos Pirinéus, e até ao sul, no Mediterrâneo e deste até leste. Em definitivo, uma área política que, durante o século XIII e em plena época medieval, era limitado entre o reino de Aragão, França e condados independentes como o de Foix e Toulouse.

O mais curioso nesta cultura era o cuidado de construir os seus castelos e abadias em cima de precipícios e inacessíveis colinas, em locais o mais elevados possíveis, razão pela qual, na actualidade, os fazem turisticamente muito atractivos, não só pelas suas extensas vistas sobre o horizonte, mas também pela possibilidade de se observarem paisagens impressionantes.

Militarmente, apesar de terem o apoio de pequenos condados, muitos dos cátaros não conseguiram resistir ao genocídio das cruzadas, mas estas não conseguiram erradicar totalmente o catarismo de forma definitiva. Foi a Inquisição, a instituição que realmente conseguiu exterminar definitivamente o catarismo.

A Cidadela de Carcassonne



Situada no Sul da França, na região do Languedoc, entre Narbonne e Toulouse, encontra-se a a cidade feudal de Carcassonne, a maior fortaleza medieval e a mais bem preservada de toda a Europa num conjunto arquitectónico que testemunha mais de 2500 anos de história. Carcassonne atravessou as brumas do tempo e preservou o seu passado.

A chegada a Carcassonne fez-se já noite serrada. Ver as muralhas e torres de Carcassonne surgirem de repente contra o céu, toda iluminada, após uma curva da estrada, é de fazer o coração bater mais rápido...
O parque destinado às autocaravanas situado junto à cidadela, foi o lugar vantajoso e privilegiado de pernoita. Na manhã seguinte o acordar fez-se com temperaturas negativas, neblina e céu encoberto. Depois de um gostoso banho quente e de um bom pequeno-almoço, fomos visitar a cidadela que nos esperava em ambiente festivo normal para a quadra do Natal e Ano Novo.

Em posição dominante na margem direita do rio Aude, a Sudeste da moderna cidade, encontra-se constituído o conjunto arquitectónico medieval de Carcassonne, que foi restaurado pelo arquitecto Viollet-le-Duc, encontrando-se inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO desde 1997.

Carcassonne é uma combinação doce e irresistível entre a vanguarda discreta de uma cidade tranquila que as muralhas protegem de um sol que por vezes espreita apaziguador, e a ternura dos ocres de uma cidade nova, discreta, que pacientemente espera pelo vento suão que irá fazer o rodopiar dos girassóis e o ondular das searas, que crescem à volta da cidade no Verão...

A origem da cidade vem desde os tempos dos conquistadores Romanos, e segue até o século XIV. O lugar ocupado pela Cidadela de Carcassonne remonta aos povos Celtas, Galo-romanos, Visigodos e Sarracenos. As fundações das suas casas e muralhas retratam com clareza essas sucessivas ondas civilizadoras.

A posição estratégica de Carcassonne, colocou a cidade no centro de conflitos religiosos. No século X os cruzados sitiam a cidade para combater os Cátaros (seita de monges católicos que dominava a região do Languedoc), que acabaram por ser dizimados, em 1209, por ordem de Roma.

Diversos senhores feudais, e reis da França, entre outros, contribuíram para o crescimento e fortalecimento da Cidadela de Carcassonne. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidadela foi usada como campo de prisioneiros. No final do século XIX, o conjunto estava praticamente abandonado, quando foi redescoberto por turistas ingleses. A Cidadela de Carcassonne, é hoje um resquício da Idade Média, em lugar altaneiro sobre a cidade nova.

A história de Carcassonne é muito interessante. Outrora a cidade fortificada ficava na fronteira com a Espanha e por isto era fortemente armada. Em algum momento a prosperidade de Carcassonne causava inveja a outras cidades como Paris e muitas outras. Assim a cidade foi invadida (por franceses, não por espanhóis!) e tomada e a sua população foi expulsa, estabelecendo-se no vale logo abaixo.

A fronteira com a Espanha foi alterada e Carcassonne perdeu sua importância militar. Os "novos ocupantes" da cidade abandonaram-na em decadência enquanto os "velhos ocupantes" prosperavam no vale adjacente. Daí a "velha Carcassonne" ter ficado tão preservada, enquanto a "nova Carcassonne" mudava, evoluía e prosperava.

Agora a cidade tornou-se uma fantástica atracção turística, de entrada grátis, embora se pague para uma visita ao Castelo, onde ao percorrer as suas muralhas se pode observar a formidável paisagem proporcionando um passeio inesquecível. Na cidadela além das muitas ruelas sinuosas, pode observar-se a bela arquitectura proveniente de muitos anos de história emocionante.

Entre os pontos mais visitados estão o Portão de Narbonne, a Torre da Justiça, e a Torre da Inquisição, no Castelo Callares. Depois podemos optar por visitar a Basílica de Saint-Nazaire, o Castelo do Conde, construído no ano 1130, que abriga hoje o famoso Museu Lapidário e o Museu de Cera, que mostra os costumes da população local na Idade Média.

Para além do castelo propriamente dito, há uma infinidade de atracções dentro da Cidadela, acrescido de um número infinito de fascinantes lojas, com estreitas ruas calcetadas, repletas de lojas e de uma sucessão de cafés e restaurantes onde se pode desfrutar de uma boa refeição "gourmet" ou tomar apenas um café...

A visita a Carcassone é uma emocionante viagem ao passado, um exemplo do que é belo nunca deve ser destruído, constituindo sem dúvida, um dos pontos altos de qualquer viagem à França.

Burgos - O acordar numa manhã nevada

A onda de frio que assolou toda a Europa durante o Inverno deste ano de 2009, mudou a paisagem até em Portugal e Espanha. Burgos, no Norte de Espanha enfrentou neste Inverno e por várias vezes fortes nevascas.

Chegádos já de noite a Burgos onde pernoitámos, nos arredores da cidade, tendo a noite passado limpa e tranquila, embora muito fria. No entanto pela manhã, o acordar fez-se debaixo de neve que pintou de branco a paisagem. Lindo! Tudo branquinho à nossa volta!...

Para mim, o avistar do primeiro nevão do ano, tem sempre algo de poético. Na cidade e arredores tudo estava mais calmo, diria até silencioso!... E depois todos os problemas que a neve traz consigo... No entanto e por aquelas bandas, já habituados a estas intempéries, não tardaram os limpa-neves que de um lado e do outro da auto-estrada, a percorriam incessantemente.

Mas depois que o encanto poético passa, só se espera que a neve pare de cair e que a cidade volte ao seu ritmo normal, e principalmente que se possa prosseguir viagem como era nossa intenção.
A cidade de Burgos já visitada por nós anteriormente, foi observada só de passagem, pois pretendíamos percorrer nesse dia o maior número de quilómetros possíveis.

Depois de um leve almoço de tapas, numa estação de serviço da auto-estrada, partimos com o rumo marcado para Carcassonne, no Sul de França. A partida e o resto da viagem fez-se sem sobressaltos e no final do dia já pernoitámos no destino.

* Mais sobre Burgos em :

A Côte d'Azur

A Côte d'Azur (Costa Azul), assim chamada pela cor das águas do Mediterrâneo, que aí são claras, mornas e tranquilas, é também conhecida como Riviera francesa. Compreende um trecho do litoral da França (inclusive o principado de Mónaco), entre Cannes e Menton, no departamento dos Alpes Marítimos, e é a mais importante região turística da França.

Juntamente com a costa da Provença, constitui um conjunto topográfico de aspectos variados: cabos, angras e baías onde se abrigam barcos de pesca e de recreio, cidades, estações balneárias e estradas que se prolongam pelo litoral.

A Côte d'Azur apresenta dois trechos distintos, a este e a oeste da embocadura do rio Var. O trecho oriental é montanhoso e nele se localizam Menton, Mónaco, Cap d'Ail, Beaulieu, Eze-la-Sarrazine, Nice e Villefranche. No trecho ocidental encontram-se Cagnes, Antibes, Juan-les-Pins e Cannes. A influência do Mediterrâneo na região, que ao norte é protegida pelos Alpes Marítimos, manifesta-se por Invernos curtos e brandos, Verões secos e quentes e violentos mas breves temporais na Primavera e no Outono.

A vegetação do litoral é tipicamente mediterrânea, com algumas plantas tropicais como cactos, palmeiras, laranjeiras e limoeiros. A temperatura é sempre elevada, mas nos pontos onde a montanha atinge o mar, o clima torna-se temperado. A poucos quilómetros do mar encontram-se, nos Alpes, cumes cobertos de neves eternas.

No século XIX, nos melhores círculos da sociedade europeia, falava-se sempre de um país mágico onde o Inverno não existia. A partir de então, a estrela da Côte d'Azur nunca mais se apagou.

O azul do sul define esta terra. Luminosa a ponto de confundir o céu com o mar. A Côte d'Azur está destinada à felicidade estival ao longo do ano inteiro, sendo uma das zonas mais turísticas e glamorosas de França, onde as suas praias mediterrâneas, o seu glamour, as suas marinas e os seus restaurantes de alta cozinha francesa atraem cada ano uma boa parte da elite do turismo europeu a cidades como Nice, Marselha, Mónaco (Monte Carlo), Cannes...
A Costa Azul é um local em que o turismo é a principal fonte de receita, assim como os diferentes eventos que se produzem anos após ano, eventos como o Festival Internacional de Cinema de Cannes (um dos mais importantes do Mundo), o Rally de Monte-Carlo, O GP de Fórmula 1 do Mónaco...

A Costa Azul é, desde o Século XX, destino de numerosos artistas, pintores e personalidades do mundo do espectáculo e da aristocracia também, assim como da realeza. Personalidades em todos esses âmbitos já passaram férias nesta regiao que começa na fronteira espanhola e termina na italiana.

Viagem ao Sul de França

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... A festa do Natal que sempre teve para mim tanta importância, começa a perder a mesma por razões nem sempre perceptíveis, e assim sendo, por minha vontade teria iniciado a viagem mais cedo.
No entanto, porque o membro mais novo da família não nos queria acompanhar, talvez pelo mesmo motivo inicialmente assinalado, resolvemos viajar só após a celebração da Festa do Menino Jesus.
São poucas as pessoas que têm a sorte de poder viajar no Inverno, época da baixa temporada. A grande maioria dos viajantes tem que se contentar com datas nos meses de Verão. A verdade é que este tipo de viagens com a presença de frio, chuva, vento e por vezes até neve, não nos incomoda tanto quando passeamos, como se estivéssemos a trabalhar.
Para quem decide aventurar-se a viajar no Inverno, quando os preços em geral são mais baixos, o que torna a viagem mais barata, pode ter além deste, outros motivos de interesse. Podemos considerar também que, a maioria das vezes, as experiências de viagens no Inverno (algumas vezes com temperaturas em torno dos 2º ou 3º negativos e sob forte chuva ou nevasca) podem ser inesquecíveis e bastante gratificantes.
Outra vantagem do Inverno é que esta é uma excelente estação para fotografar – as paisagens ficam mais amplas porque muitas das copas das árvores estão nuas, a luz do dia é melhor, e até a neve faz um efeito e tanto nas nossas lembranças. E o melhor de tudo, no Inverno não há aquela infinidade de turistas que aparecem nas nossas fotos!

Assim sendo, o percurso escolhido para ir e voltar, foi o seguinte:

1º Dia (25 de Dezembro) - Burgos;

2º Dia (26 de Dezembro) - Carcassonne;

3º Dia (27 de Dezembro) - Carcassonne, Marselha;

4º Dia (28 de Dezembro) - Marselha, Cassis, Saint-Tropez;

5º Dia (29 e 30 de Dezembro) - Saint-Tropez, Saint-Rafael, Cannes;

6º Dia (30 de Dezembro) - Cannes, Antibes, Nice, Mónaco (Monte-Carlo), Menton;

7º Dia (31 de Dezembro) - Menton, Mónaco;

8º Dia (1 de Janeiro) - Mónaco, Nice, Figueras;

9º Dia (2 de Janeiro) - Figueras, Barcelona, Zaragoza;

10º Dia (3 de Janeiro) - Catalayud, Trujillo;

11º Dia (4 de Janeiro) - Trujillo, Casa.

A caminho de casa

A caminho de casa e como já referi várias vezes, sou assaltada por vários pensamentos, que em resumo e desta vez se centraram na necessária promoção cultural do turismo e no meio de transporte mais adequado à viagem.

Como se sabe a cultura é a soma total da criação humana através da sua ampla história. Ela engloba as religiões, os valores, as artes e as ciências. Viajar permite-nos experimentar e conhecer as distintas culturas, instituições, costumes, tradições características nacionais e ambientes sociais de outros lugares.

A cultura tem enriquecido o significado do turismo e o turismo deve também promover o aperfeiçoamento da cultura. Assim sendo, o turismo serve como meio para preservar a cultura e deve proporcionar a inovação cultural, o que nem sempre acontece.

Viajar no entanto implica escolher também o meio de transporte mais confortável. No nosso caso foi eleita a autocaravana. O viajar de autocaravana é sem dúvida a opção avançada para o amante do contacto com a natureza, sem abdicar do máximo conforto possível. O conforto é sem dúvida, mais vantajoso que em qualquer outra opção, por se ter mais espaço, mais acessórios e uma maior qualidade ambiente. É uma autêntica casa em miniatura.

Para nós o viajar de autocaravana é verdadeiramente agradável e pode tornar a maioria das vezes uma viagem emocionante, porque a aventura está sempre presente, dando-nos ainda a possibilidade de desfrutar da liberdade que este tipo de viagem proporciona.

Santuário do Bom Jesus do Monte



Após um pequeno lanche num café à saída do Sameiro e depois da compra de 1 Kg de bonitas e saborosas nozes, rumámos ao Santuário do Bom Jesus do Monte a apenas dois 2 Kms de distância.

A alguns Kms de Braga, levanta-se majestoso o local turístico e religioso do Santuário do Bom Jesus do Monte ou Bom Jesus de Braga, em que a natureza e a arte "dão mutuamente as mãos" para fazerem dele um verdadeiro ex-libris da cidade dos Arcebispos.

As origens do Bom Jesus remontam ao principio do século XIV, quando alguém, talvez a seguir à Batalha do Salado (1340), decidiu colocar uma cruz no alto da encosta do monte Espinho. Bem depressa esta cruz foi abrigada por uma ermida, que se tornou meta de peregrinação por parte dos Bracarenses e de outros fiéis das redondezas.
Em 1629, um grupo de devotos da Santa Cruz do Monte resolveu construir uma confraria a que foi dado o nome de Confraria do Bom Jesus do Monte, sendo a sua finalidade fazer tudo para o engrandecimento deste centro de peregrinação.

Pouco a pouco foi ganhando corpo a ideia de transformar a ermida da Santa Cruz do Monte Espinho num grandioso monumento em honra da paixão de Cristo. De 1629 a 1722 foi-se abrindo um caminho sinuoso e íngreme nas margens do qual se construíram capelas em forma de pequenos nichos, que lembram aos peregrinos os diversos passos do Calvário.
A partir de 1722, com o Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles, foi iniciado o projecto e começou-se a realizar um grande plano, que acabou por redundar no Santuário do Bom Jesus do Monte actual. Tratava-se de reedificar, em Braga a cidade de Jerusalém, para que os cristãos que não podiam peregrinar até à Palestina pudessem fazer aqui a sua peregrinação aos lugares santos, revivendo as cenas da Paixão de Cristo. Estas estações do Gólgota espiritual conduzem gradualmente até à igreja concluída em 1811, que substituiu o santuário original de forma circular.

Os peregrinos, ou o turistas, que chegam ao Bom Jesus do Monte, se querem ficar com uma ideia exacta desta «via-sacra», em pedra, que, no dizer de Germain Bazin, é talvez o mais monumental e poético exemplar de todas as vias-sacras de pedra, devem começar a sua visita pelo pórtico, encimado pelas armas de D. Rodrigo de Moura Teles (foi reitor da Universidade de Coimbra, e em 1694, foi bispo da Guarda e de 1704 até a sua morte em 1728 foi arcebispo de Braga), e em cujos umbrais se podem ver duas cartelas, que indicam o objectivo do Santuário do Bom Jesus do Monte.

Além disso o peregrino e o turista também encontram no Bom Jesus ocasião para uma sã diversão, não só proporcionada pela bela vista que daqui se desfruta, mas também pela existência da sua bela mata com exemplares magníficos e ar puro que proporciona óptimos passeios.

O adro da Igreja projectado por Carlos Amarante em 1784, apresenta 8 estátuas, que representam personagens que intervieram na condenação, paixão e morte de Cristo, tendo a própria Igreja uma planta em cruz latina.

O Bom Jesus do Monte é por todos estes motivos um local magnifico, onde se conjuga a obra da natureza com a notável obra do homem, (vasta, diversificada e absolutamente fabulosa), numa das maiores intervenções barrocas do País desenvolvida por André Soares, e se afirma como uma referência obrigatória do Barroco europeu, que evidência a própria evolução da arte-bracarense, consubstanciada na introdução do neoclássico por Carlos Amarante.

Importa ainda referir o elevador, movido a água de finais do século XIX, peça viva da arqueologia dos transportes portugueses e hoje um imóvel de interesse público, que pode ser usado durante todo o dia. As célebres escadas do Bom Jesus do Monte (1723-1837), são a outra opção para alcançar o santuário que proporcionam um óptimo exercício.