Cansados da viagem até Génova, chegámos ao fim da tarde, e fomos directos para o porto, afim de procurar hotel, uma vez que no dia seguinte teríamos que embarcar.
Gênova, cidade de 800 mil habitantes, a 500 km de Roma, acariciada pelo sopro do mar e rodeada por costas rochosas e escarpadas. Ali, o viajante tem a impressão de ter entrado num grande antiquário.
Com uma história única, a capital da Ligúria nasceu por volta de 500 a.C. e, de súbito, tornou-se personagem importante no tráfego marítimo do Mediterrâneo, comerciando com a Córsega, e com pontos tão distantes como Bizâncio (atual Istambul), Argélia e Síria.
Por volta do ano 1000, Gênova passou por contínuas transformações. Pela forte demanda da navegação e do comércio, readaptou o seu espaço e a sua estrutura.
Já no século XVI, que alguns historiadores chamam de "o século dos genoveses", foi um tempo em que seus habitantes sobreviveram fechados.
Nas mãos de Andrea Doria (1466-1560), o grande doge da então Cidade-Estado, alcunhada "A Soberba" e rival de Veneza, "A Sereníssima", Gênova teve seu esplendor recuperado, depois de participar das Cruzadas e de combater invasões mouras.
Com vias estreitas e palácios suntuosos, como o palácio Ducal, antiga casa dos doges, hoje centro cultural, a cidade guarda um Centro Medieval bem conservado, mas com algumas áreas abandonadas.
Seus habitantes, a quem os italianos de outras regiões atribuem uma certa pão-durice, mantêm uma obstinada atenção às tradições locais, aos hábitos deixados por seus antepassados e à culinária feita com rigor, onde reina o "pesto à la genovesa", um molho à base de manjericão, queijo pecorino, azeite e pinólis. Em alguns lugares, batata cozida é colocada nesse macerado servido frio sobre a massa.
Em meados do século passado, Génova ficou espremida entre um viaduto e a velha zona portuária, que tem monumentos como a Porta dei Vaca, do século XIV.
Precisamente em 2004, a cidade foi momeada Capital Cultural da Europa e naquele ano, renasceu como um dos melhores exemplos de regeneração urbana em zona portuária, recuperando prédios públicos seculares da parte antiga e criando, ajudada por arquitetos como Renzo Piano, espaços urbanos e ganhando, inclusive, o maior aquário do mundo.
Para conhecê-la melhor é preciso descobrir de perto, vendo o contraste do encontro e desencontro entre o mar e as montanhas que abraçam esse território peculiar.
Alguns forasteiros, eternamente desprezados pelos genoveses, artistas e escritores fincaram morada nessa cidade. Talvez tenham sido esses românticos incorrigíveis, como Byron, Balzac e Rimbaud, com as suas crônicas, cartas e contos, a tornar viva essa cidade cheia de memórias.
Gênova vive dias de uma certa dualidade. Recebe, além de turistas, imigrantes clandestinos que surgem a todo instante, à procura de trabalho ou mascateando, formando comunidades que provêm principalmente do Equador, seguido de Marrocos, China, Albânia, Senegal e Nigéria.
Estas concentram-se principalmente na área do porto, nas periferias e nas ruas estreitas do centro da cidade. Ali, especialmente de noite, há prostituição e tráfico de drogas. Mas há também ruas burguesas nessa terra de personalidade difusa.
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