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Ninguém Tem Pena das Pessoas Felizes



…“Em Portugal, a felicidade é reprimida. Não se pode entrar feliz num lugar, resplandecente na cara soalheira que Deus Nosso Senhor nos deu, sem que algum marreco nos venha meter o queixo no sovaco e pergunte: «Então? O que é que aconteceu? Saiu-lhe a sorte grande ou quê?» Se uma mulher, de repente, pega na bainha da saia e se põe a atravessar a rua aos saltinhos, só porque é precisamente assim que lhe apetece atravessá-la, há uma corrida às cabines telefónicas a ver quem é o primeiro a ligar para o Júlio de Matos.

A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os portugueses quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém. Acham que as pessoas felizes são esponjas-com-pernas, daquelas de banho, cor-de-laranja, muito alegres, que andam pelas ruas a chupar a felicidade toda às outras pessoas.

Se houvesse um livro de Bernardim Ribeiro que começasse «Menina e moça voltei para casa dos meus pais e desde esse dia nunca mais chorei uma só lágrima», nunca teria arranjado editor. Portugal pode não ser um país triste, mas é decididamente um país infeliz. Em mais nenhuma língua «ser feliz», que deveria ser uma coisa natural, significa também «ter sorte», ser bem sucedido.

Ninguém tem pena das pessoas felizes. Os Portugueses adoram ter angústias, inseguranças, dúvidas existenciais dilacerantes, porque é isso que funciona na nossa sociedade. As pessoas com problemas são sempre mais interessantes. Nós, os tontos, não temos interesse nenhum porque somos felizes. Somos felizes, somos tontaços, não podemos ter graça nem salvação. Muitos felizardos (a própria palavra tem um soar repelente, rimador de «javardo» vêem-se obrigados a fingir a dor que deveras não sentem, só para poderem «brincar» com os outros meninos.

É assim. Chega um infeliz ao pé de nós e diz que não sabe se há-de ir beber uma cerveja ou matar-se. E pergunta, depois de ter feito o inventário das tristezas das últimas 24 horas: «E tu? Sempre bem disposto, não?». O que é que se pode responder? Apetece mentir e dizer que nos morreu uma avó, que nos atraiçoou uma namorada, que nos atropelaram a cadelinha ali na estrada de Sines.

E, no entanto, as pessoas felizes também sofrem muito. Sofrem, sobretudo, de «culpa». Se elas estão felizes, rodeadas de pessoas tristes, é lógico que pensem que há ali qualquer coisa que não bate certo. As infelizes acusam sempre os felizes de terem a culpa. É como a polícia que vai à procura de quem roubou as jóias e chega à taberna e prende o meliante com ar mais bem disposto.

Em Portugal, se alguém se mostra feliz é logo suspeito de tudo e mais alguma coisa. «Julgas que é por acaso que aquele marmanjo anda tão bem disposto?», diz o espertalhão para outro macambúzio. É normal andar muito em baixo, mas há gato se alguém andar nem que seja só um bocadinho «em cima». Pensam logo que é «em cima» de alguém.

Ser feliz no meio de muita gente infeliz é como ser muito rico no meio de um bairro-de-lata. Só sabe bem a quem for perverso.

Infelizmente, a felicidade não é contagiosa. A alegria, sim, e a boa disposição, talvez, mas a felicidade, jamais. Porque a felicidade não pode ser partilhada, não pode ser explicada, não tem propriamente razão. Não se pode rir em Portugal sem que pensem que se está a rir de alguém ou de qualquer coisa. Um sorriso que se sorria a uma pessoa desconhecida, só para desabafar, é imediatamente mal interpretado. Em Portugal, as pessoas felizes sofrem de ser confundidas com as pessoas contentes.

As pessoas contentes, satisfeitas, da palmadinha na barriga, que não querem nada da vida para além do que já têm, é que podem ser suspeitas. As pessoas felizes, coitadas, não. O mais das vezes são criaturas insatisfeitas. Só que não se importam muito com isso. A pessoa contente é aquela que sabe o que se passa e tem tudo o que quer. A pessoa feliz é aquela que, independente do que se tem, não só não sabe o que se passa como também não quer saber. As pessoas felizes não pensam nisso. Pensam tanto como as abelhas. Em vez de viver, zumbem.

As pessoas felizes precisam de se afirmar, de deixar de fingir que também estão permanentemente na fossa. Devia haver emblemas grandes a dizer «EU SOU FELIZ E ESTOU-ME NAS TINTAS» ou «EU SOU FELIZ E NÃO TENHO CULPA». É preciso acabar com subtil racismo dos Portugueses contra a raça dos felizes. As pessoas felizes são tão portuguesas como as outras. Também choram, também sofrem, também se angustiam. Só que menos. (Hi! hi! hi!...)

Está bem, pronto. A revolta começa aqui. As pessoas felizes não sofrem quase nada! Todos agora: Hi! hi! hi!...
Miguel Esteves Cardoso, A Felicidade, in 'Os Meus Problemas' (ASSÍRIO & ALVIM, 11ªedição, páginas 125-127)

O mal primordial: o orgulho nosso de cada dia


 “Não era a vaidade que a atraia para o espelho, mas o espanto de descobrir-se.”

Milan Kundera

A vaidade é um sentimento de todos nós. É um sentimento, mais escondido nuns e mais evidente noutros, mas é comum a todos, e é ela que na maioria das vezes, nos impulsiona para a conquista da nossa vida ou mesmo a do mundo. Não quero a última, mas quero sem dúvida a primeira!...


 

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita
  Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!
 E quando mais no céu eu vou sonhando,
  E quando mais no alto ando voando,
  Acordo do meu sonho... E não sou nada!
                             
Florbela Espanca, Vaidade, in Sonetos

 
Um dia, o mais belo arcanjo, Lúcifer, disse Eu, em vez de Nós. Surgia o ser individual que se destacava da criação e buscava um lugar de consciência de si, onde antes só havia o coletivo da criação. Iniciava-se a história.
 
Na mitologia religiosa, o mensageiro do Mal preside ao pecado original da soberba e da vaidade.
 
O mundo contemporâneo rebatizou a soberba como autoestima e a necessidade de se amar acima de tudo, como repete o mantra de quase toda a literatura que vende felicidade em drageas nas bancas dos aeroportos.
 
A humildade, o recato e a modéstia, passaram de virtudes a deficiências de lítio.
 
Este encontro de mais um Café Filosófico, trata do mais original e primordial de todos os pecados, o orgulho, capaz de seduzir a todos, especialmente aqueles que se consideram humílimos.
 
De atributo maléfico, o orgulho virou parte do mundo burguês contemporâneo. A virtude/defeito erigiu estátuas, criou biografias e deleites pessoais. Perdida a inocência/humildade original, resta o anseio pelo Nós, rejeitado pelo pai da mentira, ou seja, pelo pai de todos nós.
 
Filhos legítimos do individualismo orgulhoso, lutamos pela adoção de um mundo humilde e voltado ao outro, ou seja, o mundo oposto a todos nós.
 
Apátridas, vagamos fixados na miragem do humilde modelo criado por nós, que insiste em estar além do espelho borgiano. Parte deste Aleph pode ser encontrado ao destrinçar-se o fascinante mundo do orgulho.
 
Esta é mais uma excelente palestra de Leandro Karnal, historiador, doutor em História Social pela USP, professor da UNICAMP e autor de diversos livros.
 

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=cpxVd5whW9U http://www.citador.pt/
http://www.cpflcultura.com.br/evento/cafe-filosofico-cpfl-o-mal-primordial-o-orgulho-nosso-de-cada-dia-com-leandro-karnal/

Viagens no Espaço e no Tempo



Neste oitavo episódio da série Cosmos, Carl Sagan diz-nos que fomos sempre viajantes dentro da Via Láctea e que as raízes do presente estão enterradas no passado.
O Cosmos é imenso sem limites, e nele há mais estrelas que grãos de areia em todas as praias da Terra. As estrelas que vimos são apenas a menor fração das estrelas que realmente existem.
Se conseguíssemos observar os céus durante milhões de anos, as constelações mudariam de forma conforme as estrelas que as compõem e que ao longo dos tempos se vão movendo e evoluindo. Assim, os nossos antepassados distantes viram constelações diferentes das atuais, e os nossos descendentes no futuro, irão ver formatos também diferentes nos agrupamentos estelares.
Com Carl Sagan, circundamos a Ursa Maior para a vermos sob uma nova perspetiva. Se fossemos habitantes de um planeta noutro sistema estelar, veríamos as estrelas agrupadas também de modos diferentes.
Mostra-nos então, a Constelação de Andrómeda, próxima da constelação de Perseu. Na mitologia grega Andrómeda era uma donzela filha de Cefeu, que estando aprisionada por um monstro marinho enviado por Posídon (rei dos mares), foi libertada por Perseu, que com ela casou. Fala-nos da sua estrela Beta Andrómeda, a segunda estrela mais brilhante da constelação, a 75 anos-luz da Terra, dizendo-nos que se esta estrela explodisse amanhã, nós só o saberíamos daqui a 75 anos.
Como viajando numa máquina do tempo, deduz o que sucederia se pudéssemos alterar o passado e em seguida viajamos até aos planetas de outros sistemas estelares e quando voltamos encontramos uma Terra muito mais velha do que aquela de onde havíamos partido.
Mas será que não conseguiremos viajar a uma velocidade maior do que a velocidade da luz? Carl Sagan para iniciar a explicação da Teoria da Relatividade, começa por nos contar como Albert Einstein chegou às conclusões que o levaram a essa teoria.
Leva-nos então à Toscana, no norte de Itália, que é um lugar intemporal e foi nela que em 1895, um jovem alemão excluído de uma escola alemã se fixou, encontrando ali um reino livre para a sua mente explorar.
Foi este jovem que começou a pensar sobre a luz, e sobre como ela viaja rápido. Mas como todos os corpos estão em movimento constante, pois a própria Terra gira a mais de 1600 Km por hora, era difícil para o jovem poder imaginar um padrão absoluto, contra o qual podia medir todos os outros padrões relativos.
Ele tinha ficado fascinado pelo Livro Popular das Ciências Naturais, escrito por Bernstein em 1869. Logo na primeira página do livro ele encontrou uma descrição sobre a assombrosa velocidade da eletricidade pelos fios e da luz pelo espaço.
Refaz assim o sonho de adolescente de Albert Einstein de viajar num feixe de luz, e explica-nos primorosamente a sua Teoria da Relatividade, e as deduções que preveem que a velocidade da luz produziria estranhos efeitos, mas daria aos exploradores espaciais a possibilidade de, numa só vida, irem até ao centro da galáxia. Mas voltariam, contudo, a uma Terra muito mais velha do que aquela de onde haviam partido.
Carl Sagan ainda em Itália, na cidade de Vinci, fala-nos também de Leonardo da Vinci e da sua paixão por poder um dia voar, que desenhou tantas paisagens aéreas e que fez tantos projetos e protótipos para que o homem pudesse voar, mas que nunca resultaram, porque a tecnologia não estava preparada.
Na mesma sala onde estão algumas das réplicas de protótipos de Leonado da Vinci, Carl Sagan mostra-nos projetos de naves espaciais preliminares (Oríon e Dédalo), que nos poderão levar um dia às estrelas. Diz-nos no entanto que este é um objetivo para mais de mil anos e os motores dessas naves teriam de ser do tamanho de pequenos mundos.
Explica-nos em seguida, os efeitos decorrentes da velocidade da luz e as suas implicações em teóricas viagens no tempo ou em viagens interestelares.
Para isso compara a história, com uma multidão complexa de fios profundamente entrelaçados, representando forças biológicas, económicas e sociais, que não se desembaraçam com facilidade.
Diz-nos que os gregos antigos imaginavam que o curso dos eventos humanos eram constituídos por uma espécie de tapeçaria criada por 3 deusas, as Parcas (Nona, Décima e Morta). Factos menores aleatórios geralmente não têm grandes consequências, mas alguns que ocorrem em conjunturas críticas podem alterar a tecedura da história, podendo até haver casos em que mudanças profundas podem ser feitas por ajustes relativamente triviais.
Diz-nos também que quanto mais um facto está no passado, mais poderosa é a sua influência. Por isso para afetar profundamente o futuro, um viajante no tempo teria que escolher, entre a probabilidade de intervir em vários factos que estão selecionados muito cuidadosamente, para poder mudar a tecedura da história.
Parte então a bordo de uma imaginária Máquina do Tempo de Herbert George Wells, para explorar a fantasia dos mundos imaginários que nunca existiram.
Diz-nos que, se, Paulo, o Apostolo ou Pedro, o Grande, ou mesmo Pitágoras não tivessem existido, o mundo seria muito diferente daquilo que é hoje. Pergunta ainda se algumas das luzes do florescimento da ciência, como a dos antigos jónios, não se tivesse apagado, como estaríamos? E outras perguntas são feitas, para concluir que talvez tivéssemos poupado dez ou vinte séculos e já estivesse-mos indo às estrelas.
No final faz uma viagem imaginária para as estrelas e para os mundos à volta delas que permanentemente nos chamam…
Fala-nos então na evolução do universo e a da vida na terra, falando-nos também de nós humanos, dizendo que enfrentamos um ponto de ramificação critico na história.
O que fazemos neste momento na Terra vai-se propagar pelos séculos e afetar a vida dos nossos descendentes. Os erros que cometermos agora irão comprometer a nossa civilização no futuro.
Se nos deixarmos cair na superstição, na ganância ou na estupidez, poderemos mergulhar o nosso mundo numa escuridão mais profunda do que o intervalo de tempo entre o colapso da civilização clássica e o Renascimento italiano.
Mas também somos capazes de usar a nossa compaixão e a nossa inteligência, a nossa tecnologia e riqueza para fazermos uma vida plena e significativa para todos os habitantes deste planeta que é a nossa casa. Para aumentar enormemente o nosso entendimento do Universo e levar-nos às estrelas…


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=cqfOU_iRl2U http://pt.wikipedia.org/

A Perda da Amizade no Mundo Contemporâneo


Num momento em que as relações de amizade se fazem de acordo com interesses comuns por vezes bastante dúbios ou mesmo clubísticos, é importante fazer a real diferenciação entre o sentimento de amizade e a mera junção de partes.
Nesta palestra, de mais um Café Filosófico, Olgária Matos fala-nos da perda do sentimento da amizade real no mundo contemporâneo e quais as consequências desse processo.
Começa no entanto, por fazer uma abordagem, a partir dos gregos, dizendo-nos como os laços afetivos eram construídos e quais as consequências da sua rutura, onde a ideia de amizade estava associada diretamente ao espaço público e regia as relações entre iguais, enquanto cidadãos da Pólis.
A essa visão política da amizade, os renascentistas acrescentaram a ideia do divino. Para eles, a amizade é uma experiência sacra e pela amizade o homem se diviniza.
Olgária Matos é filósofa e professora titular de Teoria das Ciências Humanas do Departamento de Filosofia da USP e Autora dos livros, “Os Arcanos do inteiramente outro: a Escola de Frankfurt, a melancolia, a revolução (editora Brasiliense); O Iluminismo Visionário: Walter Benjamin, leitor de Descartes e Kant (editora Brasiliense), entre outros.

A não perder!...



A Coluna Vertebral da Noite

“As estrelas são sois, mas muito distantes. O sol é uma estrela, mas muito próxima.”



O 7º Episódio da série Cosmos, é sobre o nascimento do pensamento científico na nossa civilização e em nós mesmos.

Carl Sagan inicia-o dizendo-nos que se não nos autodestruirmos iremos um dia viajar até às estrelas distantes. As estrelas que no passado eram um mistério, passaram a ser entendidas, tal como nós passamos da ignorância ao conhecimento.

De modo nostálgico, leva-nos até Brooklyn onde viveu na sua infância e relembra as suas primeiras indagações sobre as estrelas e a sua primeira ida à biblioteca, na rua 86, onde pediu um livro sobre estrelas, que pela primeira vez lhe abriu horizontes sobre o assunto.

Leva-nos também à sala de aula onde estudou, numa escola de Brooklyn, incentivando os atuais alunos em relação às então novas descobertas da Astronomia.

O que são as Estrelas? Tempos houve em que os humanos curiosos imaginaram que as estrelas eram fogueiras no céu, mantidas acesas por magia. Mostra como a Via Láctea foi interpretada de diferentes modos ao longo da história, inclusive como a "Coluna Vertebral da Noite", expressão cunhada pelos ǃKung (povo do deserto do Kalahari), do Botsuana, que dá título ao episódio. Acreditavam que a Via Láctea segurava os céus, que se não fosse ela os corpos celestes cairiam em cima de nós.

Eram tempos difíceis, em que os homens não entendendo os fenómenos naturais, acreditavam que eram os deuses que se zangavam por pouco. A Natureza era um mistério, era muito difícil perceber o mundo. Indefesos perante a Natureza, eles inventaram rituais e mitos, alguns desesperados e cruéis, outros imaginativos e benignos.

Da África, Carl Sagan segue para a Grécia, tida como berço do pensamento racional no ocidente, onde nos apresenta Tales de Mileto e Polícrates. Após comentar sobre vários pré-socráticos, critica os pensadores do período clássico, na medida da visão dualista, principalmente de Platão, que teria legitimado aquilo que Marx chamou modo de produção escravista.

Diz-nos então que há 25 séculos, na ilha grega de Samos, e nas outras colónias gregas que tinham crescido no apinhado Mar Egeu, houve um glorioso despertar científico. Estes homens foram os arquitetos que fizeram a ligação do seu mundo, com o nosso. Havia gente que acreditava que eramos feitos por átomos, que as doenças não eram causadas por deus enfurecidos, e que a Terra era apenas um planeta que girava em torno do Sol.

Esta revolução tirou o Cosmos do caos. Descobriram que a Natureza não era totalmente imprevisível e que havia regras que até ela tinha que obedecer. Foi o primeiro conflito entre ciência e misticismo, entre a Natureza e os Deuses.

Mas porque é que isto aconteceu nestas ilhas remotas do Mediterrâneo oriental? Ali, havia colónias recém-formadas e o isolamento promovia a diversidade. Embora tivessem contacto direto com mercadores e marinheiros da África, Ásia e Europa, havia uma interação vigorosa e impetuosa de tradições, preconceitos e crenças, havendo um contacto com culturas diversas, trocavam mercadorias, histórias, saberes, línguas e ideias.

A pesquiza livre tornou-se possível e como estavam além das fronteiras dos impérios, eram povos que estavam prontos para experimentar. Quando estamos abertos para questionar rituais e práticas tradicionais, descobrimos que uma pergunta leva a outra. Se havia vários deuses para a mesma coisa, porque não adotar os dois? Foi aí que surgiu a grande ideia, a compreensão de que havia uma forma de compreender o mundo, sem a hipótese do deus.

Esta foi a grande revolução que aconteceu entre 600 e 400 a.C., e foi nestas ilhas que nasceu a ciência. Foi conseguida pelo mesmo povo prático e produtivo que fez a sociedade funcionar. Os pioneiros da ciência foram os mercadores e os artesãos, sendo o primeiro deles, Tales de Mileto, um homem viajado que conhecia a Babilónia e o Egipto.

É aqui que se inicia a segunda parte deste vídeo e Carl Sagan fala-nos dos pré-socráticos, como Heráclito, Tales de Mileto, Anaximandro, Demócrito Biólogos, geógrafos, matemáticos, astrónomos, políticos e filósofos. Diz-nos que o legado duradouro dos jónios são as ferramentas e técnicas que eles desenvolveram e que continuam a ser a base da tecnologia moderna. Os práticos e os teóricos eram um só. Deste misto de pensamento abstrato e da experiência do dia-a-dia, nasceu a Ciência. Quando estes homens práticos viraram a atenção para o mundo natural, começaram a descobrir maravilhas ocultas e possibilidades espantosas. 
 
Fala-nos então da abordagem de Tales de Mileto, que era baseada em que o mundo não era feito pelos deuses, mas sim o resultado de forças materiais interagindo na Natureza. Tales trousse dos lugares por onde andara as sementes de novas ciências, a Astronomia e a Geometria, que iriam germinar no solo fértil da Jónia.

Carl Sagan fala-nos então da geração de Teodoro, um engenheiro mestre da época a quem é creditada a invenção da chave, da régua, do quando de carpinteiro, do nível, do torno e da fundição do bronze.

De Anaximandro, discípulo de Tales de Mileto, que estudou a perfusão de criaturas e viu as suas inter-relações, concluindo que a vida teve origem na água e na lama, colonizando em seguida a terra seca. Anaximandro dizia que o ser humano devia ter evoluído a partir de formas mais simples, e esta magnífica perceção teve que esperar vinte e quatro séculos para que esta verdade pudesse ser demonstrada por Charles Darwin.   

De Aristarcos, que sugeriu que era o Sol e não a Terra que estava no centro do sistema solar.

De Demócrito de Abdera, que acreditava que nada acontecia aleatoriamente, e que tudo tinha uma causa material. É dele uma sábia frase: “Eu prefiro entender uma causa, do que ser o rei da Pérsia”. Acreditava que a pobreza numa democracia era melhor que a riqueza numa tirania. Acreditava que as religiões da sua época eram más e que não existiam almas nem tão pouco deuses imortais. Felizmente não constam perseguições feitas a Demócrito, talvez por ele ser da pequena ilha de Abdera, numa altura que se iniciava uma aceitação de ideias diversas das convencionais.

Nada foi esquecido por estes ávidos cientistas e até o ar foi objeto de pesquisas detalhadas, mostrando-nos vários exemplos de objetos e falando-nos de várias conclusões sábias que resultavam de mentes com os mais altos poderes lógicos e intuitivos.

Na caverna de Pitágoras, em Samos, Carl Sagan descobre também um lado diverso do pensamento grego, o mundo místico guardado por uma irmandade erudita que trabalhava para ocultar do povo o conhecimento que possuía.

Fala-nos em seguida de Platão e de Pitágoras (que pela primeira vez usou a palavra “Cosmo” e que inventou a palavra filosofia – amizade ao saber), dizendo-nos que eram matemáticos e místicos totais, que testavam ideias contra observação.

Diz-nos que embora estes homens tenham avançado muito na Ciência, eram ao mesmo tempo muito seletivos, guardando apenas os saberes para uma pequena elite, o que atrasou de modo significativo o libertar do esforço humano.

Mas o que é que a Ciência perdeu? Que apelo é que os saberes de Pitágoras e Platão tinham para os seus contemporâneos? - Eles proviam justificativas intelectualmente respeitáveis para uma ordem social corrupta. A democracia Grega era aplicada apenas a alguns privilegiados, como é próprio de uma sociedade escravocrata. Assim os livros que guardavam os saberes dos cientistas jónios, foram totalmente perdidos e suas visões foram suprimidas, ridicularizadas e esquecidas, quer pelos platónicos, quer pelos cristãos, que adotaram muito da mesma filosofia.

Mas depois de um longo sono místico em que as ferramentas da pesquisa foram estragadas, a abordagem científica jónica foi redescoberta. A experimentação e a pesquisa aberta tornaram-se novamente possíveis e o mundo ocidental despertou novamente, dando à ciência jónica o valor merecido.

Leonardo D’Vinci, Copérnico e Colombo, foram também inspirados pela tradição jónica. Foi o culminar duma tradição, agora amplamente esquecida, segundo a qual leis naturais e não deuses caprichosos regiam o universo.

É importante procurarmos o nosso lugar no Cosmos. Onde estamos? Quem somos? – Nós descobrimos que vivemos num planeta insignificante, perdido no Cosmos, que orbita em torno de uma estrela trivial, num canto de uma galáxia perdida num Universo onde existem muito mais galáxias do que seres vivos. Nós tornámos o nosso mundo significativo pela coragem das nossas perguntas e pela profundidade das nossas respostas. Nós iniciamos a nossa jornada para as estrelas, com uma pergunta que foi feita pela primeira vez, na infância da nossa espécie e feita de novo em cada geração, com assombro renovado: O que são as Estrelas?

No final Carl Sagan leva-nos novamente até Brooklyn, onde ele próprio se começou a envolver no estudo do Universo, onde podemos assistir a uma aula por ele dada a alunos atuais da sua antiga escola, sobre Astronomia.


A exploração está na nossa natureza. Chegou o momento em que estamos prontos para nos aventurarmos no caminho para as Estrelas!...


A Ciência como uma Luz na Escuridão



O Dia Mundial da Astronomia é celebrado hoje, dia 8 de abril.
Em todo o mundo, os nossos antepassados de todas as culturas tiveram conhecimentos próprios de astronomia e as suas vidas disso muito dependiam. Por isso mesmo a astronomia faz parte da história da humanidade e é uma das ciências mais antigas, tendo sido usada para variados fins, como medir o tempo, marcar as estações do ano ou navegar nos oceanos.
Mas a caminhada humana desde os mais remotos astrónomos, aos modernos exploradores do Cosmos, fizeram-nos ver que o peso da astronomia no futuro da humanidade deverá ser ainda mais marcante do que no passado.
Hoje sabemos que a necessidade de sobrevivência do Homem, tal como no período mais primitivo da sua história, irá passar no futuro, mesmo que longínquo, indubitavelmente pela astronomia.
Dedico este dia à vida e obra de Carl Sagan, magnífico pensador, cientista, astrónomo e astrofísico, um homem marcante no mundo contemporâneo.
Ninguém se esforçou mais do que Carl Sagan para mostrar a todos, cientistas e leigos, a importância de tornar acessível a todos a posse da lanterna do conhecimento. Ninguém, mais do que Sagan, teve a coragem e a iniciativa de por à prova o pensamento científico, sem preconceitos, sem soberba, sem arrogância.
Empunhando magistralmente as palavras e com um domínio invejável de vastas áreas do saber científico, Sagan duelava impiedosamente com magos, ufólogos, curandeiros, falsos-profetas de nosso tempo, e nunca perdia.
Podemo-nos lembrar dele como um astrónomo de renome internacional; por sua participação em alguns projetos da NASA; por sua constante aparição nos meios de comunicação de massa; por seus inúmeros e deliciosos livros e claro pela sua espetacular série “Cosmos”.
Mas certamente, para os que conhecem, ainda que superficialmente, a sua obra e as suas ideias, Carl Sagan será sempre lembrado como um ser humano muito especial, com uma visão de mundo extremamente científica e, ao mesmo tempo, sentimentalmente poética: a Ciência era a sua musa; falar da Ciência era a sua poesia.
Por isto tudo e como homenagem aqui deixo a última entrevista dada por Carl Sagan antes da sua morte, em 20 de dezembro de 1996. Foi uma entrevista realizada no âmbito do lançamento do seu último livro O Mundo Assombrado pelos Demónios”, que estou a ler neste momento e que foi Prémio Literário do Los Angeles Times para Ciência e Tecnologia.
Sobre este livro escreveu Richard Dawkins, in The Times, «Ao fechar este livro extraordinário, recordo o capítulo final de uma das primeiras obras de Sagan: Cosmos. «Quem responde pela Terra?» é uma pergunta retórica, mas pretendo responder-lhe. O meu candidato a embaixador planetário não pode ser outro senão o próprio Carl Sagan. Sagan é inteligente, compassivo, espirituoso, culto e incapaz de escrever uma frase aborrecida. Quem me dera ter sido eu a escrever Um Mundo Infestado de Demónios! Não o tendo feito, o mínimo que posso fazer agora é aconselhá-lo vivamente aos meus amigos. Por favor, leiam este livro!»

Neste dia, ofereço a possibilidade de poderem assistir à leitura completa em mp3 deste belo livro O Mundo Assombrado pelos Demónios”, em:


4shared - O Mundo Assombrado Pelos Demôn... - shared folder ...





Fonte: http://www.youtube.com/ http://www.asterdomus.com.br/ http://www.fnac.pt/ http://www.4shared.com/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Sagan http://www.calendarr.com/portugal/dia-mundial-da-astronomia/ http://www.dignow.org/


Nossos Medos e Fantasias da Perfeição




“A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

 Eduardo Galeano

 
O que é ser humano? Um animal frágil que esconde os seus medos? Um corpo finito preso a uma alma que observa o infinito? Uma consciência que percebe a tragédia de viver?

Entre a vida e a morte, entre o céu e o inferno, entre ser e não ser, o ser humano procura por sentido. A saída pode estar na religião, na ciência, nas utopias… Ou o sentido da vida pode estar na total ausência de sentido?

Neste excelente episódio do Café Filosófico, transmitido pela CPFL Cultura, Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé, Oswaldo Giacóia Jr, Marcelo Coelho, Caterina Koltai e Ricardo Goldenberg, reúnem-se para tratar o tema Nossos Medos e Fantasias da Perfeição”.

Nesta multipalestra, filósofos, historiadores, sociólogos, psicanalistas, reúnem-se para falar sobre a condição humana, num debate sobre as perguntas que nunca se calam: Quem somos? Para onde vamos? Como viver no meio de tanta incerteza?

É aí que reside a importância de “pensar”. O mecanismo de “pensar” é acionado de cada vez que precisamos encontrar respostas a perguntas determinadas, e esse é um atributo exclusivo da espécie humana. Por isso esse deverá ser sempre o nosso principal desafio!...

Dos nossos medos
nascem as nossas coragens,
e em nossas dúvidas
vivem as nossas certezas.
Os sonhos anunciam
outra realidade possível,
e os delírios outra razão.
Nos descaminhos
Esperam-nos surpresas,
Porque é preciso perder-se
Para voltar a encontrar-se.

 Eduardo Galeano




Fonte: http://pensador.uol.com.brhttp://olharaesquerda.blogspot.pt ; http://www.youtube.com/watch?v=cfaiBKBBzPU&list=PLjbRZ4RvBP9FQXcJJkrUgQT1DEffeyF7Q

"Escutar o Mundo"



O nome dele é Jonathan, um pequeno e adorável bebé que nasceu surdo, e que só aos oito meses os pais conseguiram um implante capaz de o fazer ouvir. No vídeo podemos ver a reação do bebé assim que o seu implante coclear é ativado e finalmente pôde ouvir pela primeira vez a voz da mãe.
 
Não sei se a melhor parte é quando o bebé fica de boca aberta com o susto e deixa a chupeta cair, ou quase no final, quando fecha os olhos e parece apreciar os sons. :-)
 
O que é o implante coclear? O implante coclear é um dispositivo eletrónico que estimula eletricamente as fibras nervosas, permitindo que um sinal elétrico seja transmitido ao nervo auditivo, para ser descodificado pelo córtex cerebral.
 
Esta verdadeira maravilha da tecnologia permite que os surdos possam ouvir. O momento em que o dispositivo se liga, e o bebé ouve, é tão comovente, que pode levar os mais sensíveis até às lágrimas.
 
Escutar o mundo pela primeira vez para este bebé, foi quase como para mim, quando experimentei pela primeira vez, navegar pelo mundo pela internet, há poucos anos. Fiquei radiante, fiquei estupefacta, fiquei feliz…
 
Também foi através da internet que tive a oportunidade de aprender mais e de ficar melhor como pessoa. A internet tal como o coclear é também um verdadeiro milagre da técnica e é por isso que devemos lutar por todos os meios para afastar de todo o que é negativo nela.
 
Para todos os que pensam como eu, o meu bem hajam. Boa Páscoa para todos.