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Ponte da Barca - Centro Histórico - 4º Dia - Parte II



Seguimos depois a pé para continuarmos a visita ao centro histórico de Ponte da Barca que é lindíssimo. A embelezá-lo, encontramos diversos monumentos dos mais emblemáticos da vila.

Pequena vila minhota de feição arejada, Ponte da Barca tem um tecido urbano antigo, com ruas estreitas, conservando ainda um dédalo de ruas bordejadas de casas tradicionais dos séculos XVII e XIX.

Por entre as suas antigas casas, dominadas pelo granito, descobre-se um valioso património, com destaque para o Pelourinho manuelino, implantado no centro da velha Praça do Mercado. Frente ao central Pelourinho, a olhar o Lima, encontra-se o Antigo Mercado do séc. XVIII, uma das obras mais emblemáticas da vila. Este peculiar mercado foi erguido em 1752 e constitui uma espécie de grande alpendre retangular com arcadas, que outrora era utilizado para alugar em parcelas aos feirantes em dia de mercado, abrigando-os do sol ou chuva, ou ainda como arrumação de barcos.

Dali até à Igreja Matriz, do século XVIII, é um pulinho. Sobe-se a larga e alta escadaria e em lugar elevado em relação à estrada, com uma bela vista pela frente, encontra-se a Igreja dedicada a São João Batista, com risco de Vilalobos e que possui no seu interior um belo e valioso recheio, onde chama à atenção uma variada talha dourada. À sua volta um belo e arejado largo, convida ao descanso e meditação.

Desce-se a larga escadaria e já na estrada, segue-se a caminho da Igreja da Misericórdia do séc. XVI, um pouco mais acimo do lado esquerdo, com a sua fachada rococó da segunda metade do séc. XVIII. A Igreja da Misericórdia encontra-se num largo, rebaixado em relação à estrada e servido por uma escadaria circular.

Caminha-se depois em sentido contrario, a caminho do Largo do Côrro e do lado direito ergue-se a bela Ponte Medieval, construída durante a regência de D. Pedro, na primeira metade do séc. XV, possuindo 10 arcos de bom diâmetro.

De facto, esta bela Ponte Medieval é o símbolo de Ponte da Barca a que a própria vila deve o atual topónimo. Outrora apelidada de “Nóbrega”, topónimo de provável origem celta, séculos mais tarde foi apelidada de “Barca”, devido ao atravessamento do rio Lima ser então efetuado por meio de uma barca. Posteriormente, aquando a construção de finais do séc. XIV do símbolo da cidade, esta bonita Ponte, passou a ser conhecida por “Ponte da Barca”.

Na realidade esta Ponte é para a vila de grande importância no domínio comercial, constituindo um forte ponto de passagem, centro e eixo regional na direção do litoral.

Mas a esta bela ponte está também ligado um costume antigo das gentes do concelho de Ponte da Barca. É costume antigo, na ponte que atravessa o rio Lima entre Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, fazerem-se batizados à meia-noite. O ritual era procurado por mulheres cujos partos costumavam ser difíceis, os filhos nasciam mortos, ou morriam em poucas horas.

Comecemos pela descrição da cerimónia que, como todos os atos religiosos, tem o seu ritual necessário.

Numa das noites do último mês de gravidez, a mulher prostrava-se na meia laranja brasonada no centro da ponte, antes da meia-noite. Aí, esperava-se a passagem da primeira pessoa, que faria o batizado utilizando água tirada do rio com um púcaro de barro suspenso numa corda. Essa pessoa, que seria chamada de padrinho, deveria passar por acaso e não propositadamente depois da meia-noite e antes dele não podia ter passado fôlego vivo, cão ou gato, ou fosse o que fosse.

Então esse primeiro fôlego humano (não poderia ser cão nem gato, pois não tendo “alma” é óbvio que não a poderia fazer o batizado) faria o batizado. A cerimónia do batizado faz-se de forma simples: embebido na água, um ramo de oliveira, asperge-se por três vezes, o ventre da mulher, repetindo a fórmula: - Eu te batizo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não se pode dizer «Ámen». Não se sabe bem por que razão, mas isso fica reservado ao padre, no outro batismo, depois do nascimento da criança. Também não se lhe põe nome, na impossibilidade de saber se será macho ou fêmea. Cumprido o ritual, o padrinho anima a mulher desejando-lhe uma boa hora no parto.

Finda a visita a Ponte da Barca, deixamos por um bocado o rio Lima para trás e seguimos viagem a caminho de Ponte de Lima, para ai lhe deixarmos um último adeus, a fim de encetarmos os quilómetros que faltavam para o final desta viagem, já em direção a casa.

No caminho ainda se parou para um lanche ajantarado numa área de serviço de autoestrada, na companhia de muitos peregrinos de Penafiel, que em excursão, vinham de Santiago de Compostela, e que tal como nós regressavam de um fim de semana alargado, voltando a casa.


Fontes: http://wikimapia.org/4240043/pt/Jardim-dos-Poetas; http://www.guiadacidade.pt/pt/poi-ponte-da-barca-15596; http://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas51/08_Barbara.pdf ;http://www.noivarte.pt/site_marlene/Geral%20site/Batizado%20da%20Meia%20%20Noite.html;http://comunidade.sol.pt/blogs/paz/archive/2008/02/29/BAPTIZADOS-DA-MEIA-NOITE.aspx ;http://www.guiadacidade.pt/pt/poi-ponte-de-ponte-da-barca-14023

Ler mais sobre os tradicionais batismos da meia-noite no rio Lima em: http://www.lendarium.org/narrative/lenda-dos-baptizados-da-meia-noite/

Ponte da Barca - 4º Dia - Parte I


 
No último dia deste fim de semana, acordámos tarde e depois de uma ligeira refeição partimos do Parque de Campismo de Entre Ambos-os-Rios a caminho de casa.
Durante o curto caminho que separa Entre Ambos-os-Rios de Ponte da Barca, pode observar-se bem a beleza desta região. A região de Ponte da Barca é um daqueles lugares onde se pode admirar e sentir um Portugal diferente, mais eloquente e original na sua personalidade geográfica.
Está parcialmente inserida no maravilhoso Parque Nacional da Peneda-Gerês, com uma paisagem idílica, de verdes montes banhados por diversos cursos de água, afluentes do Lima, que aqui e ali proporcionam recantos únicos, onde abundam praias fluviais e onde todas as razões se unem, para uma maior aproximação à natureza.
Naquele dia como ainda era cedo, queríamos parar na vila de Ponte da Barca, para a visitarmos. Quando lá chegámos, a vila parecia adormecida. Era hora de almoço e feriado.
Quando lá chegámos parámos primeiro no centro moderno da vila, onde se vê o Largo do Hospital e o Largo da Câmara Municipal, bem como o Jardim central com uma bela esplanada. Depois seguimos para a zona da Ribeira Lima, onde pode ser encontrado um ótimo parque de estacionamento no Largo do Côrro.
É ali que se encontram dois belos jardins. O jardim situado em frente do Largo do Côrro onde se encontra um belo Cruzeiro, na margem direita do rio Lima, é o Choupal do Côrro, e depois da Ponte,  encontramos o Jardim dos Poetas, a partir das arcadas do Velho Mercado, acompanhando a beira rio, para norte. E foi por ali que deambulámos naquele início de tarde.
Ponte da Barca, magnificamente situada na margem direita do rio Lima tem no Jardim dos Poetas um sítio onde alguns monumentos principais da vila se harmonizam perfeitamente com o rio, tornando-o num bom lugar para descanso.
Este jardim é sem dúvida nenhuma um convite sorrateiro a um piquenique, à leitura e porque não, ao deixar que a “pena” se aventure pela arte da poesia, tal como o fizeram dois dos filhos da terra. já que parece que mais ninguém como eles o fez até hoje.
Debruçando-se sobre as tranquilas águas do rio Lima, entre o Pelourinho e algumas das mais belas moradias do centro histórico de Ponte da Barca, o Jardim dos Poetas, foi assim chamado em homenagem aos seus acarinhados irmãos poetas, dois vultos da poesia lírica portuguesa de quinhentos, Diogo Bernardes e Frei Agostinho da Cruz (poetas da paisagem, das fontes e da saudade), que tão bem conseguiram deixar–nos como memória, a sua forma de olhar o Lima, com tanta delicadeza, simplicidade e melancolia.

Vendo Narciso em huma fonte clara,
A sombra só da própria fermosura,
De si vencido (Amor quis por ventura
Vingar as Nimfas qu’elle desprezara.)

Todo enlevado na beleza rara,
Que seu peito abrasou em chama pura,

Chorando disse, à sua vã figura,
Por quem perdeo em fim a vida chara:

Ó Ninfa destas agoas moradora´
Surda em ouvirme, muda em responderme,

Não ves a quem não ouves, nem respondes?
Não ves que sou Narciso? Ay que por verme,

Mil Nimfas d’ outras fontes saem fora,
E tu por não me ver, nesta t’ escondes.

 
Diogo Bernardes, Soneto CXXVII
 
O Jardim dos Poetas é sobretudo um lugar de paz e encanto bucólico, onde coabitam a candura da água e o verde característico da região, com os seus muitos bancos de pedra e as convidativas sombras das árvores.
 
O mundo é sonho vão, que enleia a vida,
Quem nele está melhor, tem pior alma
E quem o desprezou, tem alma e vida.
Frei Agostinho da Cruz

Fontes: http://wikimapia.org/4240043/pt/Jardim-dos-Poetas; http://www.guiadacidade.pt/pt/poi-ponte-da-barca-15596; http://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas51/08_Barbara.pdf

Lindoso - 3º Dia - Parte V


Olhando as calmas águas da Albufeira do Alto Lindoso e as serranias em seu redor, percebemos rapidamente que não se deve abandonar de ânimo leve aquelas paragens de ampla e singular beleza, já que as serras portuguesas do Soajo e do Lindoso e a serra espanhola de Santa Eufémia constituem um magnífico e imponente cenário de enquadramento ao espelho de águas azuis da barragem.
Foi precisamente por isso que seguimos até a zonas mais altas para melhor vermos esse belo enquadramento. Da Barragem do Alto Lindoso à aldeia do Lindoso é um pulinho.
Sobranceira à barragem e a olhar de terras altas a albufeira que se estende a montante, a aldeia do Lindoso é um lugar pitoresco onde sobressaem os tons graníticos que tão bem se misturam com os tons da serra.
Situada a cerca de 25 quilómetros da vila de Ponte da Barca, esta aldeia promete sempre ao visitante um agradável passeio entre o verde da natureza e o azul do rio Lima.
Lindoso é um topónimo de origem italiana, possivelmente de uma família que se mudou para Portugal em 1245, em plena Idade Média. Lindoso deriva do latim 'Limitosum', aparecendo pela primeira vez nas inquirições de 1258.
Contudo há uma lenda que nos fala de uma visita ao Lindoso, do rei de Portugal, D. Dinis, que quando ali chegou o achou "tão alegre e primoroso, que logo lindoso o chamou", facto que o levou a fazer várias visitas ao Castelo de Lindoso, tendo-o mandado reconstruir em 1278.
No aglomerado da aldeia que tão bem se mistura na serrania, sobressai o Castelo de Lindoso, altaneiro em relação ao povoado que desce em anfiteatro a meia encosta, do qual se vislumbra uma sublime paisagem sobre a albufeira do Lindoso, e umas boas dezenas de espigueiros.
Os espigueiros são o seu ex-líbrisreveladores da importância do trabalho coletivo, muito próprio das comunidades de montanha daquela região.
O Pelourinho, o Cruzeiro do Largo do Destro e a Igreja Matriz são aquilo que mais chama a nossa atenção na pequena aldeia. Mas a aldeia ainda possui outra importante função, pois é uma Porta do Parque Nacional do Parque da Peneda-Gerês na zona do Lindoso.
O Castelo de Lindoso é um monumento com funções defensivas e que assumiu particular importância no período de conflitos militares com Castela, na defesa da fronteira portuguesa.
Desde sempre relacionado com a defesa da portela da Serra Amarela e Vale de Cabril, foi o Castelo do Lindoso fundado nos inícios do séc. XIII, pois já aparece referido nas Inquirições de 1258.
Nas Guerras da Restauração, séc. XVII, assumiu uma grande importância pela sua localização fronteiriça. Mais tarde, em 1662, foi ocupado pelos Espanhóis na sequência dessas guerras, sendo ampliado com uma muralha do tipo Vauban, em forma de estrela pentagonal. Dois anos depois o Castelo voltou a ser recuperado pelos portugueses, ficando a partir daí ocupado por guarnições militares ao longo do séc. XVIII, até que, em 1895, foi desativado. No seu interior, as muralhas, as casas do alcaide e da guarnição, a capela e o forno, entre outros, foram recentemente restaurados.
Numa posição dominante sobre a aldeia, proporciona paisagens panorâmicas soberbas para a Albufeira do Lindoso.
Desce-se a serra e toma-se o caminho de Ponte da Barca, seguindo pela estrada que segue o rio Lima, que corre à direita. No caminho, na proximidade de Entre Ambos-os-Rios, fizemos um pequeno desvio para uma visita à Barragem do Touvedo. Esta, fica a cerca de 20 quilómetros a jusante de Lindoso e a sua principal função é a produção de energia elétrica e também o controlo do caudal do rio que é aumentado pelo trabalho das turbinas da Barragem do Alto-Lindoso.
Chegados a Ponte da Barca aproveitamos para comprar vinho verde num supermercado da vila, e como já se fazia tarde encaminhamo-nos para o jantar, num restaurante onde se servisse boa comida regional.
A procura foi fácil, uma vez que praticamente em frente do supermercado, o Restaurante Alto da Prova chamou a nossa atenção em boa hora. Simples, rústico e espaçoso, fica situado num alto, a ver a vila e serve muito bem, onde se destaca o Bacalhau à Prova, uma delícia, a Posta Mirandesa e o Leitão Assado no Forno de Lenha.
 
 
Fontes:http://pt.wikipedia.org/wiki/Barragem_de_Touvedo;http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10001 http://escape.expresso.sapo.pt/boa-vida/roteiros/natureza-no-alto-minho-passeio-aldeia-lindoso-16556381;

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lindoso;
 

Serra do Soajo - Barragem do Alto Lindoso - 3º Dia - Parte IV



Deixámos o Soajo e seguimos pela estrada da serra do mesmo nome a caminho da Barragem do Alto Lindoso.
A belíssima Serra do Soajo é ali que mostra toda a sua beleza. As montanhas e os vales profundos rodeiam-nos até onde a vista alcança.
Não é por acaso que esta região atrai tantos de nós, e não é só pela sua rara e impressionante beleza paisagística, mas também pelo seu valor ecológico e etnográfico e pela variedade de fauna (corços, garranos, lobos, aves de rapina) e flora (pinheiros, teixos, castanheiros, carvalhos e várias plantas medicinais), que envolvem de intenso verde toda aquela região.
Aquele troço de estrada levar-nos-ia naquele dia por um périplo por muitas e simples aldeolas serranas de singular beleza, até à até a fronteira espanhola.
Parece ser ponto assente que a primeira fixação de populações nestes espaços fica cronologicamente situada na Idade Média, talvez acompanhando alguns povoamentos das zonas baixas de vale, periodicamente ocupando área contíguas aos primeiros castelos, de cotas superiores, sobretudo no Verão.
Como já referi nas descrições feitas sobre outras estadias por terras do Gerês, uma das características desta área geográfica, é o sistema de habitat de "brandas" e "inverneiras", que constitui o marco referencial de maior singularidade e interesse etnológico e patrimonial da região.
A “branda” é um espaço de uso mais sazonal, com uma ocupação secundária, conectada sobretudo com os usos agrícolas e pastoris de Verão, por oposição à “inverneira”, tradicionalmente de cariz mais permanente. Ocupam geralmente cotas de terreno acima dos 600 metros, substancialmente mais altas que as inverneiras a que estão associadas.
No concelho o número de brandas é significativo, mas nas áreas espaciais de Soajo e Sistelo as brandas recebem somente o gado e pastores, integrando por tal estruturas de abrigo bastantes desenvolvidas.
No caminho desde o Soajo à barragem e aldeia do Lindoso, as povoações mais significativas são Cunhas e Campo Grande, que se espraiam em pequenos oiteiros rodeados de terras de cultivo em socalcos, sobranceiras ao rio Lima, com vistas magnificas sobre as serranias e várzeas em redor.
Antes de se chegar à Barragem do Alto Lindoso, destaca-se à esquerda e ao longe a bela aldeia de Paradela, em terrenos mais altos, em relação ao vale profundo e escarpado onde corre o rio Lima.
Depois de uma curva na estrada avista-se a barragem e mais a cima, na margem esquerda do rio Lima, enquadrada pela Serra Amarela e pela Serra do Cabril, a altaneira aldeia de Lindoso.
A estrada leva-nos rapidamente até à barragem. Parou-se o jipe e fomos a pé observar a grande Barragem do Alto Lindoso.
O aproveitamento do Alto Lindoso, é atualmente o mais potente centro produtor hidroelétrico instalado em Portugal, e como já foi referido localiza-se no alto Lima, a escassas centenas de metros da fronteira com Espanha.
É uma enorme barragem de betão, do tipo abóboda de dupla curvatura, com 110 m de altura máxima e desenvolvimento no coroamento de 297 m, equipada com duas descargas de fundo.
A característica mais saliente do aproveitamento do Alto Lindoso é a potência dos seus dois grupos de geradores - 317 MW no veio da turbina de cada grupo - facto que os torna as mais potentes unidades de produção de energia elétrica instaladas em Portugal. Em média a produção é de 970 milhões de KWh, equivalentes ao consumo anual de 440 000 portugueses.
Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Peneda-Ger%C3%AAs http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10002 ; http://alfarrabio.di.uminho.pt/lindoso/barragem.htm;

Serra do Soajo - 3º Dia - Parte II



Depois de se passar a ponte sobre o rio Lima, deixamos para trás a velha e solitária central elétrica da desativada Barragem do Lindoso e seguimos a caminho da Serra do Soajo.

Do lado esquerdo depois de uma curva da estrada, surge o cruzamento que nos leva ao Mosteiro de Santa Maria de Ermelo.

Este antigo mosteiro está implantado na margem direita do rio Lima, na base da encosta da íngreme montanha granítica do Outeiro Maior, coberta por denso arvoredo e que desce abruptamente até à Ribeira Lima.

O Mosteiro de Santa Maria de Ermelo é um antigo mosteiro beneditino, que foi fundado pela rainha D. Teresa, mãe do nosso primeiro rei, no início do séc. XII, e que adotou mais tarde (séc. XIII) a reforma cisterciense, passando a depender do Mosteiro de Santa Maria de Fiães.

Apesar da sua integração na Ordem de Cister, a vida deste Mosteiro foi atribulada e curta. Na visita que realizou em 1553, o abade de Claraval encontrou-o em total estado de abandono e pobreza, pelo que foi secularizado em 1560, convertendo-se em igreja paroquial.

O que hoje vemos em Ermelo é uma bela igreja românica adaptada à vida de uma pequena paróquia, primeiro no séc. XVI e novamente no séc. XVIII. Da nave que se erguia a sul resta o belo arco triunfal que se encontra a céu aberto, no exterior. As dependências do Mosteiro desenvolviam-se para sul. Aqui, podemos encontrar ainda uma arcada de arcos plenos, vestígio do claustro arruinado.


Na igreja deste antigo Convento de Ermelo é realizada todos os anos a Romaria de São Bento de Ermelo ou de São Bentinho (São Bento de Núrsia, o mesmo orago do Santuário de São Bento da Porta Aberta, também ele no Gerês). Esta romaria atrai peregrinos de todo o concelho e região circundante e realiza-se na localidade, na noite de 10 para 11 de julho, dia da festa litúrgica de São Bento, santo de grande devoção um pouco por todo o Minho e padroeiro do concelho de Arcos de Valdevez.


Deixamos para trás o rio Lima e entramos na Serra do Soajo. Entre montes e vales seguimos por uma estrada estreita que vai subindo lentamente as serranias, ladeada de afloramentos graníticos e muito verde.

Aqui e ali as terras de cultivo, geralmente situadas junto de algum casario disperso, onde não faltam as pérgulas características do vinho verde.

Olhando para o que ali nos envolve, não podemos esquecer-nos que estamos no Gerês. O Gerês é um outro mundo. Imenso e poderoso. Bonito de morrer. Próximo, suave e acessível, muitas vezes. Distante, abrupto e misterioso, outras tantas. Luminoso e colorido algumas vezes e noutras, penumbroso e cinzento.

Conhecer as serras do Parque Nacional da Peneda-Gerês é uma experiência única, impossível de concluir num dia ou numa semana. Tem que se ir conhecendo, podendo ser o entrecortado destino de uma vida.

Junto das pequenas povoações, são característicos os muros em pedra granítica que ladeiam a estrada, protegendo as pequenas áreas de terreno agrícola que circundam as casas de vida e lavoura das gentes serranas.

Nas zonas altas da estrada, vamos espraiando as vistas vale abaixo, rumo aos fundilhos do Soajo.

Chegamos então ao Soajo!... A antiga vila do Soajo, é em especial conhecida devido às suas formas particulares de vivência comunitária de organização social e económica, sendo provavelmente um dos destinos concelhios mais divulgados e conhecidos, integrando uma área geográfica que foi concelho até à reforma liberal do séc. XIX.

Mas a vila do Soajo é também famosa pelo vasto conjunto de espigueiros erigidos sobre uma enorme laje granítica, usada pelo povo como eira comunitária, em que o espigueiro mais antigo data de 1782. E é para lá que nos dirigimos…

Perto dos famosos espigueiros do Soajo, espera-nos um bom parque de estacionamento e dele é um saltinho até à Eira do Penedo.


O conjunto dos Espigueiros de Soajo é surpreendente. Os espigueiros agrupam-se num alto, sendo a eira comunitária constituída por 24 espigueiros, todos em pedra granítica, assentes num grande e alto afloramento granítico, que mais parece uma varanda a ver o povoado, a que os habitantes designam por Eira do Penedo.
 
Estes monumentos de granito foram construídos na altura em que se incrementou o cultivo do milho e serviam para proteger as espigas das intempéries e dos animais roedores. As suas paredes são fendidas para que o ar circule através das espigas empilhadas. No topo são geralmente rematados por uma cruz, que significa a invocação divina para a proteção dos cereais. Parte destes espigueiros são ainda hoje utilizados pelas gentes da terra.
 
À volta da Eira do Penedo, em terrenos mais baixos e ondulantes, desenvolve-se o casario da vila milenar do Soajo, de atmosfera calma, ar puro e perfumado que se completa na beleza de encanto e mistério, de coloridas paisagens, abundantes arvoredos onde correm veios de águas frescas e cristalinas.

Fontes:http://www.mariorebola.com/soajo/soajo.html http://www.vinhoverde.pt/rotas_tematicas/ponto.php?rota=6&ponto=28&lingua=1;http://pt.wikipedia.org/wiki/Espigueiros_de_Soajo;http://www.aldeiasdeportugal.pt/PT/aldeias.php?aldeiaid=10002;http://www.mariorebola.com/soajo/soajo.HTML

Ler mais sobre a Romaria de São Bentinho, em: http://ccav.maisforum.com/t40-romaria-de-sao-bento-ermelo

Entre Ambos os Rios e Serra do Soajo - 3º Dia - Parte I



O acordar no Parque de Campismo de Entre Ambos-os-Rios (GPS: N 41º 49' 26'' W 8º 19' 03'') foi tranquilo, e após um leve pequeno-almoço, seguiu-se uma caminhada por toda a península de terra firme, delineada pelas correntes dos rios Lima, Froufe e Tamente, que faz parte do parque.
Quando se caminha pelo parque, a sensação é de que estamos numa ilha, rodeados de água por todos os lados. No entanto é uma ilusão, pois por entre os pinheiros e devido a algum relevo do terreno, quando se olha à volta o que se vê, é a água que nos rodeia.
O parque goza de um ótimo clima fresco, próprio do Minho, em qualquer época do ano, possuindo uma paisagem verde, onde impera a variedade Pinus pinaster, que em grande quantidade contrasta com o forte azul da grande massa de água dos rios que o circundam. Nos troncos dos pinheiros, os musgos e líquenes fazem adivinhar o clima da região.
A grande massa de água que envolve a península onde está situado o parque, faz parte da Albufeira do Touvedo, pois está a montante da barragem do mesmo nome, que represa as águas do Lima ali bem próximo.
O Parque de Campismo de Entre Ambos-os-Rios está localizado em zona alta e como já aqui referi, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês, sendo uma excelente base para a sua exploração.
Nas proximidades encontram-se o Castelo e a Barragem do Lindoso, o Mosteiro de Santa Maria de Ermelo e os famosos laranjais, quer pelo sabor dos seus frutos, quer pela beleza que dão aos lugares que as possuem, além da famosa vila do Soajo, com os seus antigos e bonitos espigueiros e as muitas e bonitas serranias, com ribeiros, cascatas de água e lagoas naturais.
Eram alguns desses lugares que queríamos visitar naquele domingo, mas como ao sair de casa demos por uma anomalia no elevador do atrelado da mota, não a podemos trazer, o que obrigou ao agradável aluguer de um jipe na receção do parque, para se fazer a ansiada incursão pela Serra do Soajo.
Ao início da tarde, já a bordo do jipe, seguiu-se então pela N203, a caminho do cruzamento à esquerda, que nos iria levar por estrada estreita e declivosa pelas serranias do Soajo.
A Serra do Soajo está situada junto à fronteira com Espanha, na margem direita do rio Lima e localizada entre as Serras da Peneda e do Gerês, pertencendo ao Maciço Antigo do Minho. Tem uma orientação geral Norte-Sul e integra o Parque Nacional Peneda-Gerês.
Naquele dia, foi um pouco ao sabor e procura do rio Lima, que se fez o deambular pela região. Logo no início da estrada que nos leva pela Serra do Soajo, a natureza mostra-se exuberante. O verde brota por todos os lados. Nas hortas em socalcos, os habitantes tiram muito do seu sustentável provento.
Descendo devagar pela estrada pela margem esquerda do Lima, olha-se o rio que corre no seu leito entre verdes e graníticas margens altas.
Logo se chega ao vale, e ao passar a ponte sobre o rio Lima, ao fundo, vê-se à direita, triste e abandonada, a velha Central hidroelétrica do Lindoso, que foi desativada quando foi construída a Barragem do Alto Lindoso.
A história desta antiga barragem e inicialmente encoramento do Lindoso remonta ainda aos tempos da monarquia, quando foi apresentado em 1905, um anteprojeto para a exploração hidráulica do Salto de Lindoso. Em 1907, D. Carlos I outorgou a concessão do aproveitamento hidroelétrico no rio Lima, e foi feito o primeiro encoramento do Lindoso. Entre 1923 e 1924 foram realizadas obras e a represa foi sobrelevada, da altura de 5 metros para uma altura de 22.5 metros, deixando de ser uma represa e passando a barragem com albufeira. Até que foi desativada pela construção da Barragem do Alto Lindoso.

Fonte: http://www.infopedia.pt/$serra-do-soajo; http://www.igogo.pt/mosteiro-de-ermelo/; http://ecotretas.blogspot.pt/2011/11/antiga-barragem-do-lindoso.html; https://maps.google.pt/; http://www.lifecooler.com/

A Caminho de Entre Ambos-os-Rios - 2º Dia - Parte VI



Deixámos Ponte de Lima já ao final da tarde e seguimos para Ponte da Barca, a cerca de 18 Km de distância. A estrada que leva a Ponte da Barca e a Arcos de Valdevez fica na margem esquerda do Lima e acompanha de perto o curso do rio.
A cerca de 3,5 Km, em São João da Ribeira, olha-se o singular Monumento ao Cristo Rei, encimado por uma imagem branca de Cristo Redentor.
A partir da Ribeira as povoações sucedem-se umas às outras e a uni-las as veigas de vinho verde acompanham-nos na estrada, pertencentes a algumas senhoriais casas solarengas, que se veem aqui e ali ao longo da estrada ou perto das povoações, como a Casa de Crasto, na povoação da Ribeira ou a Casa do Barreiro, na Gemieira.
Chegamos à bonita vila de Ponte da Barca ainda com algumas horas de dia pela frente. Ponte da Barca fica situada numa região abençoada pela natureza, pautada pelo verde da rica vegetação e pela calma do rio Lima. 
Outrora apelidada de “Nóbrega”, um topónimo de provável origem celta, com o crescimento da localidade e séculos mais tarde, foi apelidada de “Barca”, devido ao atravessamento do rio Lima ser efetuado por meio de uma barca, e, posteriormente, aquando da construção de sua bonita Ponte, símbolo da vila, em finais do século XIV, passou a ser conhecida por “Ponte da Barca”.
Integrada na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, Ponte da Barca denota a influência económica desta indústria vinícola através das suas graníticas casas brasonadas, solares e pequenos palacetes que a enfeitam um pouco por todo o lado enriquecendo-a.
Ponte da Barca foi também local de passagem de peregrinos e fieis, por ser local de cruzamento de dois caminhos de ligação a Santiago de Compostela.
Deixamos Ponte da Barca a caminho do Parque de Campismo de Entre Ambos os Rios, a cerca de 11 Km, já em pleno Parque da Peneda Gerês, próximo da Albufeira do Touvedo no rio Lima, onde iriamos ficar, para depois fazermos as restantes incursões, pensadas para o resto daquele fim de semana.
Pelo caminho podemos notar a riqueza cultural e o impacto na paisagem provocados pela ação humana, que se traduz também no enriquecimento da paisagem com variadas formas construtivas como muros, levadas, calçadas, pontões, espigueiros, moinhos, abrigos de pastor ou alminhas…
Mas por ali hoje também se somam à paisagem milenar, os grandes planos de água conseguidos pelas albufeiras ou elementos lineares como as novas estradas.
A Freguesia de Entre Ambos-os-Rios é porta de entrada para quem quer visitar a zona central do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Pela sua beleza natural, esta freguesia é ponto de visita obrigatório para os amantes da natureza. As suas montanhas e rios, os habitats, a fauna e a flora de rara beleza e diversidade, deslumbram quem por ali passa.
O Parque de Campismo de Entre Ambos-os-Rios é uma excelente base para a exploração do Parque da Peneda Gerês e oferece a possibilidade de reservar atividades de canoagem, BTT, canyoning e rafting nas proximidades, existindo também na envolvente, uma rede de trilhos pedestres sinalizados.
O mais agradável deste Parque de Campismo de Entre Ambos-os-Rios, é que fica situado numa pequena península de terra alta, rodeada pelas águas dos rios Lima e seus afluentes Froufe e Tamente.
Quando chegamos ao parque e depois de nos instalarmos em zona alta a ver o rio Lima, ainda tivemos tempo de grelhar carne para o jantar, numa das churrasqueiras do parque de campismo.

Fontes: http://ribeiraptl.blogspot.pt/;http://www.guiadacidade.pt/pt/poi-ponte-da-barca-15596; https://pt.wikipedia.org/wiki/Gemieira; http://www.roteiro-campista.pt/ADERE/entre-ambos-rios-moldura.htm; http://www.jf-entreambos-os-rios.pt/index2.html