É evidente que as 
escolas devem ser dirigidas por professores, pois as escolas são centros 
educativos e os professores é que entendem de educação. Mas é igualmente certo 
que, sendo possível, as escolas devem ser geridas por gestores profissionais, 
visto que, apesar de serem centros educativos, a tarefa que está em causa é uma 
tarefa de gestão. E os professores pouco entendem de gestão.
Dirigir e gerir 
são tarefas muito diferentes. Dirigir é orientar, é ser chefe: encaminhar outras 
pessoas por um caminho que é bom para elas; encontrar os declives que conduzem 
ao bem comum e ao bem de cada um; ter maior preocupação com as pessoas do que 
com as coisas. Gerir é fazer contas e tratar da manutenção dos meios materiais. 
E é uma tarefa menor, embora necessária, numa escola. 
É um erro colocar 
educadores a fazer contas, e é outro erro confiar a gestores a orientação de 
pessoas.
Se uma eventual 
má experiência de ter professores a gerir as escolas conduzir à decisão de 
passarmos a ter gestores a dirigi-las, trocaremos um erro por outro erro. 
Certamente um erro menor por um erro maior.
Uma escola devia 
ser dirigida por professores, que deviam ser educadores. E poderia ser gerida 
por gestores, de modo a libertar os educadores para as tarefas que lhes são 
próprias.
Há muito tempo 
que a tarefa de governar se tornou quase só na tarefa de gerir dinheiros 
públicos. E, por isso, há muito também que a educação passou a ser para os 
governantes - tal como a saúde, por exemplo - fundamentalmente uma questão de 
dinheiro. Não é de estranhar, portanto, que se fale em entregar a direcção das 
escolas a gestores profissionais...
Quando falam de 
gestores profissionais para as escolas estão a falar de um assunto da área 
económica e não de uma questão educativa. E seria interessante que se falasse de 
questões educativas quando se fala de educação.
As verdadeiras 
questões da educação resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem 
ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem felizes. E em que a felicidade 
dessas pessoas, como a de todas as outras, consiste em satisfazerem a ânsia 
profunda que têm de verdade, de bem e de beleza. Não em terem coisas e 
conforto.
As escolas não 
são - e é essa a visão da economia - caixotes cinzentos cheios de equipamentos e 
estruturas, como cadeiras, mesas, computadores, bares e cantinas. São lugares 
sempre bonitos porque estão cheios de crianças, e as crianças, em grande parte, 
têm ainda os olhos limpos e a alma limpa. Têm aquela ingenuidade encantadora que 
lhes permite pensarem que nós, os adultos, somos bons...
"A melhor escola 
onde estive - disse-me uma vez uma colega - era uma espécie de barracão com 
salas onde chovia e entrava vento quase como na rua". A melhor escola não é a 
que tem boas condições materiais e é bem gerida. É, antes, aquela onde às 
crianças capazes de pensarem que os adultos são bons se juntam adultos que 
querem ser bons e sonham com tornar felizes as crianças. Nessa escola, mesmo que 
chova, há alegria e sonhos; aprende-se muito e aprendem-se coisas daquelas que 
são importantes.
Pode ser que a 
escola precise de gestores; mas precisa, muito principalmente, de educadores. 
Essa é que é a grande questão, na qual todos têm evitado tocar. Educadores são 
as pessoas raras que é preciso encontrar. Não há muitos educadores. O que há é 
aquilo a que chamamos professores e deveríamos chamar instrutores, porque se 
limitam quase todos a transmitir informação técnica das suas áreas específicas, 
sem tocarem na formação dos alunos como pessoas, em colaboração com os pais.
Se quiserem, 
coloquem nas escolas uma pessoa que faça as contas da cantina e do bar, 
substitua as lâmpadas fundidas e controle os gastos com detergente. Só não 
entendo é por que razão devemos entender que estão a ser tomadas, dessa forma, 
medidas educativas.
Paulo Geraldo, in A Aldeia (
http://professor.aaldeia.net/mesmoquechova.htm)