Círculo vicioso

 

Há nas nossas escolas um problema crónico: o da falta de disciplina.

É frequente que os alunos não se sintam bem dentro das salas de aula. Que não tenham o comportamento adequado a esses locais. Que, inquietos ou turbulentos, não permitam o ambiente de sossego necessário à aprendizagem dos colegas.

Existe uma causa que pode justificar o mau ambiente dentro das salas de aula. É que elas não são, nem podem ser, um oásis no meio do ambiente mais vasto que as rodeia: o pátio da escola, as famílias, a localidade, o país, o mundo. O mundo está cheio de guerras e crimes, as famílias estão desunidas ou quebradas, as televisões transmitem constantemente violência e pornografia.
 
Existe ainda outra causa, essa mais natural e compreensível: os jovens não foram feitos para estarem sentados em sossego durante largos minutos, escutando discursos muitas vezes aborrecidos. Sentem-se melhor correndo, brincando, convivendo. E lá vão tentando que as aulas se transformem em lugar de convivência, de brincadeira ou... de corrida.

Um professor pouco pode fazer para modificar isto.

Mas deve lembrar-se de que se o ambiente exterior influencia o ambiente da aula, também é certo que o ambiente da aula pode influenciar - e de facto influencia - o ambiente exterior.

As aulas não correm bem porque as coisas no mundo correm mal, mas as coisas no mundo correm mal também porque as aulas não correm bem.

O professor tem nas mãos, de algum modo, as chaves que podem contribuir para quebrar este círculo vicioso. São os homens os agentes de quase tudo o que no mundo corre mal, mas a educação desses homens passa, em parte, pela escola. Reside nos professores uma das grandes esperanças da humanidade.

Pede-se ao professor que seja educador, que não se limite a transmitir - melhor ou pior - os conteúdos da sua disciplina. Que actue positivamente nos seus alunos, nas famílias, no mundo.

Pede-se ao professor que, primeiro, seja exigente consigo mesmo. Que se esforce por ser uma pessoa melhor, que dê melhor as suas aulas. São do Diário de Sebastião da Gama as palavras seguintes: «Lembro agora a primeira vez que, em Setúbal, a meio do ano, me julguei forçado a pôr fora da aula um aluno: fiquei tão doente que parti o giz que tinha nas mãos e já não fui capaz de continuar a aula. Esse desgosto era sobretudo um desgosto de coração. O de hoje é diferente: o Fosco saiu, porque fez barulho - e fez barulho, porque a aula lhe não interessou - e não lhe interessou "talvez", porque ela não tinha interesse nenhum - e quem devia ir para a rua era eu».

Desta exigência do professor consigo mesmo, da sua intenção educativa, do nível de seriedade profissional que dá às suas aulas nasce inevitavelmente qualquer coisa que é semelhante a... um oásis. Um aqui, outro além... até que inundem o mundo.


Paulo Jorge Geraldo , in http://professor.aaldeia.net/

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