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Gerês - Final da Viagem ao Gerês - 3º Dia - Parte IV




Chegados à Barragem da Caniçada, passamos a ponte e seguimos pela N304, a caminho de Braga.

A estrada que vai sempre subindo segue quase paralela ao braço este da Albufeira da Caniçada e mais à frente, torna-se sinuosa à medida que vai vencendo a encosta. Cheia de arvoredo vai convidando a olhar a paisagem que se vislumbra do lado direito, a partir de meia encosta.

O sol brilha como oferta de despedida e acompanha-nos sempre neste início de viagem de regresso a casa.

Um pouco mais a cima, e antes de se encontrar o cruzamento com a estrada alta que nos levará a Braga, encontramos do lado esquerdo o caminho de entrada para os domínios da Pousada de São Bento, uma das Pousadas de Portugal que oferece uma das melhores panorâmicas sobre a Albufeira da Caniçada.

Não resistimos ao chamamento e subimos pelo caminho acima até estacionarmos a autocaravana no parque da Pousada. Com uma localização única no coração do Parque Nacional Peneda-Gerês, esta Pousada tem vista para o rio Cávado e para a Barragem da Caniçada, bem como para o tranquilo e extenso lago formado pela sua albufeira.

Caminha-se em direção à entrada da Pousada e desta para o terraço do bar/restaurante, de onde se desfruta de uma das mais belas vistas sobre o Gerês.

A Pousada de São Bento situa-se num autêntico miradouro debruçado sobre a Albufeira da Caniçada, em plena bacia hidrográfica do rio Cávado. Ao fundo avista-se o fim do território Português e o começo do território Espanhol.

A paisagem é de tal maneira bela que não apetece mais sair dali. Tomando uma meia de leite quente com torradas, ali ficamos largo tempo no tranquilo conforto da Pousada, a olhar a paisagem, num dos mais belos enquadramentos paisagísticos e de referência de Portugal. 

Aquela pousada e outras que hoje por ali existem, não são mais do que a confirmação dos desejos de Tude de Sousa*, homem de ideias largas e muito à frente no seu tempo, que no ano de 1927 escreveu, “É preciso que o turismo alpestre se crie e se desenvolva, é preciso escalar a montanha e fixar por lá temporadas de dias de pleno ar, de plena luz, de plena natureza. E nenhuma serra convida tanto como o Gerez, onde os homens e as árvores, as pedras e as águas, a sua fauna e a sua constituição própria, nascidas, criadas e irmanadas num admirável conjunto, oferecem ao forasteiro, atrativos sem rival.”

No entanto naquele dia, só ali se encontravam hospedados alguns casais alemães, sendo estas casas nos dias que correm e muito devido aos preços praticados, cada vez de menor usufruto português.

Parte-se depois a caminho de casa. Faz-se só uma paragem, para a compra de uma caixa de cereja, que abundam à venda na beira da estrada, por aquelas bandas na Primavera.

Depois a passagem por Braga e pelo Porto já ao anoitecer, antecedem a estirada final, pois como escreveu um dia José Saramago, “O fim duma viagem é apenas o início de outra”…


Fonte: http://www.booking.com/ http://www.pousadas.pt/ http://www.cm-terrasdebouro.pt/

·        Tude Martins de Sousa foi um famoso Regente Agrícola, jornalista e escritor português, que desde 1904 a 1914 foi "Regente Florestal" da Serra do Gerês e autor de muitas obras sobre o Gerês.

Gerês - Da Cascata do rio Arado até Rio Caldo - 4º Dia - Parte III



 
Retemperadas as forças faz-se o caminho de volta à autocaravana pelo vale onde nasce e começa a correr o rio Arado. Com muita pena se deixa a meio caminho a Cascata do Arado e desce-se em direção à ponte para se fazer a partida para a penúltima etapa do percurso planejado para aquele último dia, desta feita já a caminho de casa.
Segue-se então pelo caminho inverso em terra batida até ao entroncamento, que nos levou até Ermida.
Ermida é uma aldeia serrana de vocação pastoril e muito típica, situada num vale alto e fértil, a leste de Caldas do Gerês e rodeada de terras de cultivo. Oferece lindas vistas sobre o vale do Cávado e merece bem uma visita.
Parámos para observar a comunidade. Vimos casas de pedra com uma traça bem típica rodeadas de paisagem despoluída, que fez brotar em nós um sentimento de bem-estar... Como deve ser bom habitar num lugar como aquele!…
Depois começa-se a descer a serra até ao vale do rio Cávado, e pelo vale se segue até à aldeia de Fafião. Fafião é a aldeia vizinha de Ermida e por isso também situada na zona leste do Parque Nacional da Peneda-Gerês, na margem direita do rio Cávado e é das comunidades do PNPG que melhor tem conseguido preservar a genuinidade do seu património e das tradições culturais.
Uma vez em Fafião, seguimos o caminho por entre ruas estreitas, com casas baixas em granito e cheias de ar puro e tranquilidade e saímos da povoação como entrámos: sem dar nas vistas, com muita paz.
Segue-se depois por um antigo caminho irregular de pastores, mas de grande beleza (pouco recomendável a automóveis convencionais) até onde está situada uma armadilha ancestral, o “fojo do lobo”, uma obra-prima do engenho popular, usada por certo em tempos em que os lobos abundavam, fazendo perigar a vida de rebanhos e animais de capoeira.
Percorremos um serpenteado de estrada por entre muros e campos de uma verdura forte e intensa, observando os lodos e as vides, com os seus ramos cheios de jovens rebentos verdes claros, que rebentaram no início da Primavera.
É em plena serra que se encontra a armadilha ancestral do Fojo do Lobo. A antiga armadilha é feita em pedra e consiste num poço profundo ao qual conduzem duas altas paredes de granito que, começando muito afastadas, vão estreitando progressivamente até quase se juntarem no final. Os pobres lobos eram acossados por meio de uma batida até à entrada da armadilha, a partir da qual não tinham outro remédio senão seguirem em frente, até ao buraco onde acabavam por cair. Este foi talvez o início da extinção dos lobos na Serra do Gerês.
Lobos e Fojo representam marcas do nosso Património. Natural para os primeiros; Cultural e/ou Etnográfico para o segundo. Mas ambos têm um denominador comum, o homem, enquanto predador dos outros ou presa de si próprio...
Desce-se depois a serra por estrada sinuosa a caminho de Rio Caldo. Lá em baixo um dos braços da Albufeira da Caniçada que pertencente à bacia hidrográfica do rio Cávado, espera por nós em terras mais baixas.
Pelo caminho ainda se para, para se fazer um lanche na autocaravana, na berma da estrada e junto de uma fonte com o seu nome escrito numa tabuleta com a marca do Parque da Peneda-Gerês. É a Fonte da Soalheira e como ela existem dezenas de outras fontes de águas límpidas e frescas ao ar livre, onde se podem provar as águas ricas da Serra do Gerês.

Depois do lanche continua-se viagem. Acaba de se descer sempre acompanhados por belas paisagens, onde as águas azuis da albufeira sobressaem, envoltas por encostas escarpadas da serra.
 
A estrada vai descendo sempre até se encontrar o vale e depressa se chega às pontes brancas da Albufeira da Caniçada, que nos dão acesso ao Rio Caldo.

Fonte: http://www.lifecooler.com/ ; http://www.aaeum.pt/ ; http://www.serradogeres.com/ ; http://www.serra-do-geres.com/ ; http://www.igogo.pt/

Gerês - Da Pedra Bela à Cascata do rio Arado - 4º Dia - Parte II




Antes de se deixar o Miradouro da Pedra Bela, olha-se durante largo tempo as belas vistas, a partir daquela que é uma perfeita janela aberta sobre o Parque Nacional da Peneda Gerês, observando atentamente a magnífica beleza daquele espaço imenso, formado pela Albufeira da Caniçada, os rios que molham a serra, e claro a própria serra ondulante e com densa vegetação, que formam no seu todo uma das paisagens mais belas do Portugal.

Parte-se depois a caminho de Ermida, para mais uma etapa de encantar. Falar do Gerês é falar de natureza, é ver por entre o granito cinzento das montanhas o verde da densa vegetação. As águas cristalinas que correm ora por fontes, ora por cascatas, ora por rios, ora por ribeiros, envolvidas por toda essa imensa biodiversidade e ar puro, e que nos proporcionam uma calma e um prazer enorme a todos aqueles que o visitam.

No caminho e mais uma vez, somos acompanhados pelo verde intenso da folhagem de uma enorme variedade de espécies arbóreas, arbustivas e rasteiras. Estamos na presença da Mata de Albergaria que é um dos mais importantes bosques do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), constituída predominantemente por um carvalhal secular, mas que inclui também muitas espécies características da flora geresiana, além das mais variadas coníferas próprias de zonas altas e frias.
 
A Mata de Alberegaria fica situada entre as Caldas do Gerês e a Portela do Homem a oeste, estendendo-se para norte em direção a Ermida e Fafião, e para sul, onde termina em Campo do Gerês. É uma reserva botânica que alberga um importante carvalhal em estado natural, que além do seu valor ecológico, possui importante valor histórico, pois é visível em toda a sua extensão, o resto da Geira Romana, com os seus marcos miliários.

Possui um ecossistema quase intacto, uma vez que a baixa presença humana nesta mata não rompeu o seu frágil equilíbrio, cuja riqueza e variedade contribuíram para a sua classificação pelo Conselho da Europa, como uma das Reservas Biogenéticas do Continente Europeu.

Quando se chegou ao cruzamento situado à entrada de "Ermida", com as indicações "Pedra Bela" à direita e "Cascata do Arado" à esquerda, virou-se nesta última direção e é ali que e acaba o luxo do alcatrão.

Seguimos então por uma estrada estreita em terra batida e em muito mau estado. Quando o caminho começa a descer deixámos a autocaravana e a pé continuámos o caminho, até à ponte que faz a ligação entre as duas margens do rio Arado.

O segundo objetivo do percurso que se tinha idealizado para aquele dia, a observação da linda “Cascata do Arado”, estava próximo de ser realizado!... O entusiasmo aumentava à medida que se caminhava, atingindo-se um sentimento de verdadeira espectativa…

Junto da ponte observa-se o rio Arado que corre entre calhaus rolados, no sentido sul–norte. Ali o rio é ainda muito jovem, acabado de nascer lá em cima, no início da cascata, nos contrafortes da elevação abrupta, situada na margem direita do vale, para onde corre o rio Arado.

A Serra do Gerês é entalhada por uma rede de drenagem organizada em torno de cinco cursos de água principais, todos afluentes do Rio Cávado. O rio Arado é um desses troços.

Passa-se a ponte e toma-se o caminho do lado esquerdo, que sobe encostado à encosta do morro escarpado, que limita a margem esquerda do rio. O caminho com lanços de escadas, está em mau estado, mas nota-se que não foi sempre assim, fazendo adivinhar que já teve melhores dias.

No caminho e a meia encosta, pára-se para se beber água fresquinha da serra, numa fonte à direita do caminho e logo à  esquerda encontramos o miradouro de onde se observa bem a Cascata do Arado, que cai de uma altitude de cerca de 750 metros.

A Cascata do Arado faz parte de um belo conjunto de cascatas formadas por numerosos ribeiros que pontificam no Parque Natural da Peneda-Gerês. A Cascata do Arado diferencia-se de muitas outras pela precipitação das águas em consecutivos degraus, onde se formam conchas que armazenam água muito límpida.

Seguindo o caminho com espírito aventureiro, sobe-se o monte até ao alto e chega-se a um pequeno planalto onde existe uma grande rocha de granito. Descansa-se... E ao fundo um pequeno riacho que tem a sua foz no Arado. Lá em baixo, bem pequenina, a ponte sobre o rio espera por nós à descida.


Fonte: http://www.oquevisitarem.com/ ; http://www.cm-terrasdebouro.pt/ ; http://www.lifecooler.com/ ; http://www.igogo.pt/ ; http://www.serra-do-geres.com/

 

Gerês - De Caldas do Gerês à Pedra Bela - 4º Dia - Parte I




No último dia do final de semana no Gerês e antes de partirmos a caminho de casa, tínhamos planeado um último percurso pela Serra do Gerês. Este último percurso é no seu todo um misto constante de beleza e aventura.

Partimos então do Parque de Campismo do Vidoeiro, deixando para trás o ativo e fresco rio Gerês, a caminho das Caldas do Gerês, e logo à frente à esquerda, encontrámos o cruzamento que nos levaria por estrada estreita, ingreme e sinuosa, até ao alto da serra.

Pelo caminho que se faz devagar, mas com andamento suficiente para vencer a inclinação, subimos a encosta sul da montanha sobranceira ao desfiladeiro das termas. Pelo caminho a floresta abraça a estreita estrada alcatroada, e aqui e ali os riachos brotam impetuosos em cascatas que descem a caminho do vale.

A meio caminho pára-se para provar a água límpida que sai por uma bica, na Fonte do Curral do Gaio. Novamente a caminho do alto da serra, segue-se por estrada que por vezes afunila, fazendo temer a passagem por outros veículos que circulem em sentido contrário, uma vez que por vezes não possui qualquer resguardo, nem escaparates.

Chegados ao cume da montanha, são 830 metros que se atingem e a vegetação luxuriante que nos acompanhou durante todo o caminho não se aligeira, pois a arborização contínua densa, mas a estrada alarga, fazendo com que se respire de alívio e com um prazer redobrado porque ali se nota um ar mais puro, embora mais rarefeito. Ali dominam as coníferas das mais variedas espécies.

Seguimos então para a direita, quando uma tabuleta nos indica a direção do Miradouro da Pedra Bela. Paramos a autocaravana e seguimos a pé por um caminho em terra batida, em direção ao antigo miradouro. Encontra-se em primeiro lugar uma bonita construção em granito, com uma torre de vigia e que corresponde à antiga casa do guarda-florestal, hoje em estado de abandono, e à sua volta vê-se um grande aglomerado de penedos graníticos. Subimos por eles acima e ali empoleirados observamos as magníficas vistas em direção oeste, que impressionam. Como uma verdadeira vista aérea, observa-se primeiro a densa floresta de pinheiros e coníferas com exemplares de grande porte, misturados com outras espécies arbóreas como o carvalho, o azereiro e o medronheiro, entre outras… Lá em baixo o casario, que se estende pelas vertentes mais baixas do vale estreito, percorrido pelo rio Gerês.
 
Depois caminha-se em sentido contrário, mais alguns metros por estrada alcatroada, que nos separam do miradouro novo da Pedra Bela. Os visitantes são em maior número, pois dali se desfruta de um panorama de beleza arrebatadora. É um dos mais belos miradouros de Portugal, que fica situado a uma altitude de 834 m, onde a vista tudo abarca…

É ali que encontramos uma lápide em bronze, com o poema "Pátria" de Miguel Torga, que segundo alguns conhecedores da sua vida e obra, afirmam que foi escrito ali, na Pedra Bela.
 
A Pedra Bela desde sempre encantou quem por ali passa, dizendo os antigos que foi a mão divina que aqui a colocou, como que uma peça num presépio, perfeita e imponente. Este é um dos locais mais famosos do Gerês, e uma vez avistando a paisagem, percebe-se instintivamente o porquê. Montanhas, a Albufeira da Caniçada, os rios que serpenteiam a serra, a confluência do rio Cávado com o rio Caldo, a vegetação própria daquela serra, ou a estonteante Portela do Homem!…
 
Sobe-se um pouco mais, por uma escadaria em pedra que nos leva até ao miradouro com corrimões de ferro galvanizado. Como águias que pairam nas alturas, observamos lá em baixo as Caldas do Gerês com o seu casario confinado pelo desfiladeiro das termas. Para Este estende-se a Albufeira da Caniçada formando o grande lago que se espraia até à Barragem do Rio Caldo.  Ao longe, mas bem distintas as elegantes e brancas pontes do rio Caldo mostram que a partir dali é a serra que se impõe. À volta das águas da albufeira, os altos picos da Serra do Gerês emolduram a paisagem, fazendo realçar a beleza magnificente do conjunto.

É especialmente ali que  se impõe recordar mais uma vez Miguel Torga, um filho daquelas terras. "Gosto de rever certas paisagens, ainda mais do que reler certos livros. São belas como eles e nunca envelhecem. O tempo não degrada a linguagem que as exprime. Pelo contrário. Enriquece-a, até, num esforço de perfeição constante que, embora involuntário, parece intencional. (...) E eu olho, olho, e não me canso de admirar uma placidez assim permanentemente movimentada (...)." (Gerês, 3 de agosto de 1959, Diário VIII).
 
Fonte: http://fragasepragas.blogspot.com/ http://www.serra-do-geres.com/ http://www.guiadacidade.pt/ http://www.igogo.pt/ http://www.serra-do-geres.com/
 

Gerês - De Viarinho das Furnas a Vilar da Veiga e Termas do Gerês - 3º Dia - Parte IX



 
Deixa-se para trás a barragem de Vilarinho das Furnas e volta-se à estrada, para fazermos o caminho de regresso às Termas do Gerês.
Pelo caminho mesmo repetindo a paisagem, acompanha-nos a tão afamada Natureza do Gerês. E temos sorte, porque é uma natureza “diferente” que nos acompanha. É a Serra Amarela, com vegetação sobretudo rasteira, bem distinta da exuberante, encontrada em terras mais baixas, mas igualmente fantástica. Respira-se o ar puro inconfundível e mesmo com o som do veículo motorizado que nos transporta, a presença do silêncio é evidente por aquelas paragens.
Novamente em Campo do Gerês, que se faz notar pelos seus muitos espigueiros e pelas terras de amanho que se estendem entre o casario, num amplo assentamento. Por vezes a estrada é ladeada por pérgulas feitas de videiras que fazem uma espécie de galerias porticadas.
Começa-se depois a descer para S. Bento da Porta Aberta. Pelo caminho mais uma vez a serra agreste nos acompanha e mais abaixo, a flora multicolor sobressai entre o arvoredo alto e viçoso da Serra do Gerês, com algum casario escondido entre a folhagem. Mas vale a pena descer com calma, não vá o diabo tecê-las…
Chega-se depois a S. Bento da Porta Aberta e ali se passa sem paragens, mas não se perdem as vistas de toda a área envolvente da Albufeira da Caniçada, que dali se alcança mostrando toda a sua magnificência de uma paisagem que quase sempre se associa ao Gerês: árvores altas e frondosas a perder de vista e vistas deslumbrantes.
Passamos a barragem e a marina do rio Caldo e segue-se a caminho das Termas do Gerês. Mas logo mais à frente se para, em Vilar da Veiga, pois a noite aproxima-se e o apetite já se faz sentir.
O restaurante escolhido, “O Chana”, talvez em homenagem a um filho empreendedor, possui ambiente informal, com mobiliário rústico. Uma ementa simples, que vai da Pisa à Lasanha em forno de lenha, do Bife da Vazia ao Bacalhau, onde tudo é servido com conta, peso e medida... e no fim, a fatura é uma agradável surpresa. Cá fora a oferta de desportos náuticos, com a possibilidade de aluguer de barcos, canoas e motas de água, mas também uma parede de escalada e um campo de tiro. 

Já a noite cai quando nos pomos a caminho das Termas do Gerês. Chega-se assim ao fim de um grande dia, cheio de descobertas e surpresas, num soberbo encontro constante com a Natureza do Gerês.

Gerês - Campo do Gerês e Barragem de Vilarinho das Furnas - 3º Dia - Parte VIII




No caminho e um pouco por todo o lugar vamos encontrando restos de construções romanas, como padrões, na chamada Leira dos Padrões, que ainda hoje guarda o nome.

Em Campo do Gerês, encontramos ainda a Ponte de Eixões, uma ponte de origem romana bastante robusta e com dois talha-mares no sentido norte-poente, sobre a qual passava a antiga Geira Romana. Como referiu o abade Custódio José Leite em 1728, a Ponte dos Eixões, ao tempo denominada de Ponte de Rodas, era obra nova resultante de uma reconstrução, “tendo sido antes obra romana, que um grande madeiro arruinara.” (Sousa, 1927).

A Ponte dos Eixões, situa-se a Sul da Veiga de S. João de Campo, sobre a bucólica ribeira de Rodas que a partir do local se faz rio de Campo, fazendo passagem pelas vizinhas freguesias de Covide e Carvalheira.

No Cabo da Veiga, o sítio chamado Casa da Guarda, possui vestígios das fortificações que serviram para recolher as sentinelas dos povos de Bouro, que aqui guardavam incessantemente as fronteiras e faziam guarda aos viajantes que passavam na Geira, um troço da via XVIII do Itinerário de Antonino, ligando Bracara Augusta (Braga) à Asturica Augusta (atual Astoga). Atravessa a Serra do Gerês e penetra em Espanha pela Portela do Homem, onde se faz a fronteira ainda nos nossos dias.

Campo do Gerês é o atual agregado rural pertencente à parte da Serra do Gerês integrada no Parque Nacional de maior carisma comunitário, depois do desaparecimento da aldeia de Vilarinho das Furnas.

À freguesia de Campo do Gerês pertencia a povoação de Vilarinho das Furnas, que segundo uma tradição oral teria começado a sua existência por ocasião da abertura da celebre estrada da Geira. Certo porém é a sua existência já no tempo de D. Sancho I, que lhe concedeu foral em 1218.
 
Vilarinho está hoje submersa pela Albufeira da Barragem do mesmo nome, onde subsistiram até à sua submersão pelas águas, usanças antigas de regime comunitário, delas apenas restando a existência do forno comum e das vezeiras ou pastoreio comum. Nos dias em que a barragem está vazia (o que só acontece quando é preciso limpá-la), ainda é possível ver as ruínas das velhas casas de pedra de Vilarinho das Furnas, uma paisagem desoladora e de uma solidão absoluta.

O espectro da barragem começou a pairar sobre a população como um abutre esfaimado. A companhia construtora da barragem chegou, montou os sues arraiais e meteu mãos á obra. Esta surge progressiva e implacável. O êxodo do povo de Vilarinho pode localizar-se entre setembro de 1969 e outubro 1970, quando na aldeia foram afixados os editais a marcar o tapamento da barragem. De um ano dispuseram pois, os habitantes de Vilarinho para fazer os seus planos, procurar novas terras e proceder á transferência dos seus móveis.

As 57 famílias que habitavam esta povoação estão agora dispersas pelas mais variadas terras dos concelhos de Braga. Da vida e recantos da aldeia comunitária não resta mais que um sonho. Sonho que é continuado no Museu Etnográfico de Vilarinho da Furnas, construído com as próprias pedras da aldeia. A barragem de Vilarinho da Furnas foi inaugurada em 21 de maio 1972.

Campo do Gerês foi outrora abadia do padroado e pertenceu aos Templários. Noutros tempos, na véspera e no dia de festa a S. Bartolomeu organizava-se uma procissão na qual participava todo o concelho com todas as suas autoridades. Compareciam todas as cruzes das freguesias do concelho, seguindo para a ermida de Vilarinho das Furnas, regressando, depois ao Campo do Gerês.
 
Fonte: http://www.cm-terrasdebouro.pt/ http://www.igogo.pt/ponte-de-eixoes/ http://viagenstravel.com/ http://aldeialusitana.blogspot.pt/

Gerês - Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas - Campo do Gerês - 3º Dia - Parte VII



Já perto de Campo do Gerês, num cruzamento de estradas, encontramos então o marco miliário epigrafado da Geira, sob um rústico alpendre em granito. Está encimado por um Cristo de pedra em cruz ocre. Este conjunto é albergado por uma estrutura metálica por fora e forrada em madeira por dentro e assente em três pilares de pedra.

Dos muitos marcos miliários da Geira Romana, alguns têm sido reaproveitados, como é o caso dos Cruzeiros de Sá, quer em Covide, quer em S. João do Campo (Campo do Gerês).

Nesse mesmo entroncamento observa-se do lado esquerdo o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, enquadrado num espaço verde e amplo que leva à reflexão. Esse museu foi mandado construir pela Câmara de Terras do Bouro nos anos 80, com pedras retiradas da aldeia submersa de Vilarinho das Furnas. Lá dentro podem ver-se instrumentos antigos de lavoura e artesanato e também pode obter-se alguma informação relativa à aldeia submersa de Vilarinho das Furnas.

Junto ao museu, observam-se também alguns espigueiros, tão característicos da região norte de Portugal. O espigueiro, também chamado canastro, caniço ou hôrreo, é uma estrutura normalmente de pedra e madeira, existindo no entanto alguns inteiramente de pedra, com a função de secar o milho grosso através das fissuras laterais, e ao mesmo tempo impedir a destruição do mesmo por roedores através da elevação deste. Como o milho requer que seja colhido no outono, este precisa de estar o mais arejado possível para secar numa estação tão adversa como o inverno.

A estrada leva-nos rapidamente até às terras altas mas planálticas de Campo do Gerês. Esta simples terra é formalmente chamada de Campo do Gerês, mas também é conhecida por Assento (por se situar num planalto) ou S. João de Campo, como é mais comummente conhecida. É uma freguesia bem montanhosa, situada nos contrafortes a oeste da Serra do Gerês e a sul da Serra Amarela.

É nesta terra situada entre as duas serras é fortemente marcada pelo isolamento, pelo trabalho agrícola e pelo pastoreio, mas repleta de inúmeros atrativos de enorme beleza natural, que passa o “ainda jovem” rio Homem.

Com Campo do Gerês no meio, as serras do Gerês e Amarela são espaços naturais de grande importância, inseridos no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e que têm sido alvo de notáveis e interessantes observações orais e escritas, desenvolvidas por inúmeros especialistas de áreas distintas.

Entre um vasto grupo de notáveis autores destaca-se mais uma vez Miguel Torga, que refere “A serra Amarela é um dos ermos mais perfeitos de Portugal. Situada entre o Gerês e o Lindoso, as suas dobras são largas, fundas e solenes. (...) Não há estradas, senão as da raposa matreira, nem pousadas, senão as cabanas dos pastores”. (in Diário III, 25 Julho, 1943/46)

Fonte: http://www.cm-terrasdebouro.pt/ http://www.igogo.pt/ponte-de-eixoes/ http://viagenstravel.com/ http://pt.wikipedia.org/

Serra do Gerês - Por terras de Calcedónia - 3º Dia - Parte VI




Desde tempos remotos que estas terras altas da Serra do Gerês foram habitadas, não só por constituírem um excelente ponto de observação sobre as cercanias da serra, de forma a observarem os possíveis inimigos que se aproximavam, mas também por proporcionarem um bom espaço para a prática da pastorícia, tanto do agrado dos primeiros povos castrejos.

Depois também por aqui andaram os romanos, que ocuparam estes espaços, desbravando terras nos vales e proporcionando paz, fazendo com que não fizesse sentido a vida no cimo dos grandes montes e montanhas. Possivelmente estes povos foram ocupando os vales e dedicando-se à prática da agricultura (de subsistência), não deixando no entanto, a pastorícia.

Foi nestas terras que se fundou a Calcedónia, uma antiga comunidade romana. Calcedónia não era um mero sítio, não era só um local. Calcedónia era todo um espaço geográfico que vai desde Rio Caldo, passando por Covide, Campo do Gerês, Junceda e ainda as antigas Termas do Gerês, Ponte de Saltos e Bemposta.

Mas a mítica cidade de Calcedónia existiu mesmo por ali, perto daquelas altas serranias e deixou até aos nossos dias muitos sinais da sua presença. Por certo, aquando da ocupação romana, muitas das populações castrejas pré-existentes, por ali terão continuado, misturando-se assim as populações e as duas culturas. É desta vivência familiar e em especial da sociedade dos povos castrejos que terão ficado enraizados os hábitos comunitários destas gentes e que até aos nossos dias perduram.

Ao percorrermos estas terras estamos então a percorrer as terras da antiga Calcedónia, dos seus segredos por desvendar e outros já desvendados, que resultam do estudo das suas antigas ruinas e as muitas marcas, que a sua marcante presença ali nos deixou.

De todos os percursos que fizemos no Gerês, este é de todos a de maior significado histórico, e por isso mesmo a mais tocante. Pelo caminho a serra com toda a sua dimensão granítica impõe-se e mostra-nos a nossa pequenez.

Chegámos então ao marco maior da "Geira Romana", a antiga estrada possivelmente construída no último terço do séc. I d.C., que ligava Bracara Augusta à Galiza e que apresenta um percurso de cerca de 215 milhas (cerca de 318 quilómetros). Está situado num entroncamento de estradas, em cima de uma rotunda granítica, destacando-se sob um pórtico formado por três colunas, que suportam um telhado piramidal de cor ocre.

À Geira que por ali passa referiu-se assim Miguel Torga, in Diário IV, "Estou a vingar-me mais uma vez, a olhar esta Geira Romana e os seus marcos delidos. Estou a vingar-me de quantos Césares o mundo tem dado, convencidos de que basta mandar fazer calçadas e pontes, gravar numa coluna a era e o nome, para que a eternidade fique por conta deles.”
 
Fonte: http://www.igogo.pt/marcos-miliarios-da-geira-romana/ http://www.serra-do-geres.com/ http://arquivo.bestanca.com/

Serra do Gerês - De S. Bento a Covide - 3º Dia - Parte V






Deixa-se S. Bento da Porta Aberta e mais uma vez nos fazemos à estrada ao encontro da “genialidade da Natureza” (como escreveu Miguel Torga no seu Diário VII), que nos há de levar a Campo do Gerês.

A estrada segue por caminhos cheios de silêncio e múltiplos verdes, serra acima e sempre em presença de picos rochosos que ladeiam a estrada numa companhia persistente e que por vezes se abrem deixando observar lá em baixo, ora para Norte, ora para Este, longínquas paisagens iluminadas pelo sol.
Há medida que se vai subindo a serra, as árvores dão lugar a pequenos arbustos e ao zimbro que cobrem os cumes. Nesta serra na Primavera abundam as urzes, as giestas, os jacintos, narcisos e os lírios.
Ocasionalmente aparecem planaltos com vegetação herbácea onde, de maio a setembro, pastam os rebanhos. É ali que nos deparamos a meio caminho com a povoação de Covide.
Covide possui assim uma ótima localização ambiental e paisagística, podendo observar-se toda a envolvente da Ribeira do Homem com os seus verdes campos agrícolas, predominantemente orientados em socalcos, fruto da adaptação do homem ao meio na prática de uma agricultura tradicional, que ainda mantém atualmente uma dinâmica predominantemente orientada para a policultura e para o autoconsumo, com uma produção daquilo que há de melhor no País, como a carne barrosã, o cabrito, o mel, os enchidos e fumados, as plantas medicinais e aromáticas, produtos hoje muito valorizados por um nicho de consumidores urbanos, preocupados com a qualidade e a segurança alimentar.
A Veiga da Santa, em Covide, clareia entre o casario de muitas gerações e a sombra de bosquetes de carvalhal sobrevivente. Recordam-nos estes sítios as memórias piedosas do dealbar do cristianismo, cristalizadas aqui no martírio e no milagre da Santa Eufémia.
Reza a história que se encontram ali as pegadas de Santa Eufémia, no Penedo da Veiga da Santa, ao lado da sua capela. Segundo a tradição, era o local procurado por Santa Eufémia para fazer as suas orações, quando andava a fugir à perseguição do seu pai, Caio Atílio, Governador Romano de Bracara Augusta (antiga Braga).
De acordo com a tradição, desde tempos muito remotos que tem existido naquele local um culto religioso e, que é atualmente celebrado na capelinha ao lado, naquela que é a principal festa de Covide, num culto fervoroso a Santa Eufémia.
Segue-se depois para a última etapa para Campo do Gerês. Por todo o caminho se encontram restos e vestígios de construções romanas. É ali que nos encontramos com parte das belas paragens da Geira, a antiquíssima estrada romana, que outrora, vinda da antiga Bracara Augusta segue para Norte, a caminho de terras de Espanha e que ainda ali nos mostra alguns dos seus marcos milenários, fazendo um conjunto impar, porque emoldurada pelos íngremes rochedos da Serra do Gerês.

Mais sobre a vida e culto à Virgem Mártire Santa Eufémia em: http://www.santaeufemiapenedono.com/?page_id=19

Fonte: http://terrasbouro.blogspot.pt/ http://www.geresviva.com/ http://calcedonia.com.sapo.pt/covide.htm http://www.infopedia.pt/$serra-do-geres