As buscas à residência e escritório
de Medina Carreira, por o seu nome ter sido usado por suspeitos para
ocultar a verdadeira identidade de outros envolvidos no branqueamento de
capitais e fuga aos impostos, no caso Monte Branco, pode ter resultado de um
engano. Um engano grave pelo qual os investigadores devem responder. Mas a capa
do "Sol" não foi engano nenhum. A rapidez com que qualquer busca
ou escuta que envolva figuras públicas acaba nos jornais já não é defeito da
Polícia Judiciária e do Ministério Público. É feitio.
Depois do caso de Medina Carreira, foi o
de Teixeira dos Santos, Almerindo Marques e o ex-secretário de Estado Costa
Pina. As buscas às suas residências e escritórios também acabaram, ao fim
de poucas horas, nos jornais e televisões. Em causa está uma investigação às
Parecerias Público-Privado. E se no caso de Medina Carreira foi fácil provar
imediatamente a sua inocência, o mesmo não acontece com estes três. A
divulgação destas buscas transformou-os, aos olhos da opinião pública, em
condenados políticos sem direito a defesa.
Nunca escondi as minhas profundas
discordâncias com Medina Carreira, que considero ter sido, como comentador, um
dos principais advogados de defesa da austeridade, antes dela chegar - parece
que entretanto mudou de opinião - e um populista de todos os costados. E considero
que Teixeira dos Santos foi, dentro do governo anterior, o principal defensor
de uma intervenção externa e o seu maior facilitador. Mas as minhas
discordâncias com os dois anteriores ministros das finanças são políticas. E é
no campo da política, e não em julgamentos mediáticos, que o confronto com os
dois se deve fazer.
O que a justiça portuguesa fez a estas
duas pessoas, que não tenho qualquer razão para suspeitar de falta de
honestidade, é uma nojeira. Não são os primeiros.
Não serão os últimos. De Sócrates a Passos Coelho, o poder político vive sob
ameaça do Ministério Público e da PJ. Vivem eles e vivemos todos nós. Todos
podemos ver a nossa vida devassada, as nossas conversas telefónicas publicadas
em jornais, sem que sejamos culpados de coisa alguma.
Toda a gente que seja suspeita de ter
cometido um crime deve ser investigada. Dentro da lei e com todas as garantias.
Seja um cidadão comum, seja um detentor de um cargo público, seja um
comentador. Mas também todos temos direito o ver o nosso nome protegido da
calúnia.
O problema é sabermos que, como sempre, estas
investigações não darão em nada. E não darão em nada porque não são para
dar. Se fossem, não víamos escarrapachada nos jornais cada diligência
judicial, cada escuta, cada busca. Se fossem, teríamos menos suspeitos e
mais condenados. Se fossem, não ficávamos com a estranha sensação de que as
buscas são feitas para serem noticiadas, que as escutas são efetuadas para
serem publicadas. E que, por de trás de cada fuga de informação, estão sinistros
jogos de poder em que as corporações da justiça se envolvem.
A cada episódio destes - e já foram tantos
- cresce o temor de que a justiça, em vez de nos proteger, nos põe em perigo.
Em vez de investigar a corrupção e os crimes de colarinho branco, atira lama
sobre as pessoas sem nunca chegar a qualquer conclusão. Em vez de usar o seu
poder para fazer justiça o usa para ajustes de contas. E uma justiça assim
assusta. Não assusta os criminosos. Assusta, acima de tudo, os inocentes que
tenham o azar de se cruzar no seu caminho.
Esta justiça, tão expedita na forma de
investigar e sempre tão parca nos resultados finais, não serve ninguém. Só
acaba por servir, na forma como descredibiliza, os que, com tanto ruído, se vão
safando de pagarem pelos seus crimes.
Daniel
Oliveira (www.expresso.pt)
Sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Ler, ver e ouvir mais em: http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/ppp-inquerito-buraco-no-asfalto-teixeira-dos-santos-buscas-pj/1401346-1730.html#
Confúcio
"Se quereis prever o futuro, estudai o passado. Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha."