A reorganização neoliberal da escola



A reorganização neoliberal da escola, em que os alunos são vistos como "clientes", os professores como "colaboradores", a aprendizagem como um "produto", o sucesso académico como um indicador de "qualidade total", o planeamento pedagógico como "acção de empreendedorismo", a gestão escolar como "direcção corporativa" e os pais e a comunidade como "stakeholders", e o investimento como um "custo orçamental", esta reorganização, dizíamos, tem destruído uma boa (e talvez a melhor) parte do edifício da escola pública, enquanto escola democrática, inclusiva e meritocrática.

O pretenso ideal de fazer funcionar uma escola sem professores reflexivos, activos e motivados, sem custos e sem autonomia, foi experimentada por todos os sistemas mais ou menos autocráticos, mais ou menos ditatoriais. Os resultados também estiveram sempre à vista: no Portugal do início da década de setenta do século passado, quase metade da população era analfabeta e apenas sete em cada cem estudantes que terminavam o secundário continuavam estudos na universidade.

Décadas de investigação científica provaram que todo o desinvestimento na educação sempre redundou num atraso do desenvolvimento social, cultural e económico desses países e que as posteriores tentativas de recuperação do "tempo perdido" se revelaram demasiado lentas e de custos agravados. Portugal, infelizmente, também conhece essa realidade: quase quarenta anos após a revolução de Abril de 1974, o nosso país continua a ter níveis de iliteracia elevados, de insucesso e abandono escolar preocupantes, taxas de diplomados no ensino superior das mais baixas da comunidade europeia, e a prova é que ainda temos muitos estudantes com mais habilitações académicas que os seus pais e com avós analfabetos.

Nos últimos anos, os nossos responsáveis pela educação têm preferido a diminuição forçada do défice orçamental, ao espontâneo desenvolvimento e crescimento dos indicadores que ajudam a definir o conceito constitucional de "escola para todos". Mais recentemente, a actual equipa do ME tem dado claros sinais de que prefere o elitismo à universalização do conhecimento, assim como prefere a "escola académica" à "escola do desenvolvimento integral". Tem direito às suas opções e o dever de aceitar as divergências.

A situação, por isso mesmo, revela-se-nos preocupante. Com o ataque à escola pública e ao sistema nacional de saúde, caminhamos para um grave retrocesso que nos reconduzirá a uma sociedade que privilegia a exclusão, o lucro às pessoas, a divinização do primado do privado sobre o bem público…

E tudo isto acontece em pleno desenvolvimento da sociedade do conhecimento, da globalização, que também ela é partilha da inovação e do progresso. Acontece na escola onde os actuais alunos, apesar da sua natural diversidade, provêm de uma geração "digital", e se revelam sujeitos activos e imprevisíveis quanto ao domínio das novas tecnologias e, sobretudo, quanto ao uso dos seus meios e conteúdos…

Ou seja, numa escola que alberga uma geração em que o acompanhamento das actividades dos alunos dentro e, também, fora da sala de aula, e em que a formação parental, proporcionada por essa mesma escola se revelaria fundamental, ninguém se pode dar ao disparate de afirmar que existem recursos humanos e tecnológicos dispensáveis. Recursos humanos cuja formação especializada custou tempo, dinheiro e muito investimento em estruturas e equipamentos, e que, de um momento para o outro, se vêem desperdiçados, num país que necessita ainda de muita educação e promoção cultural.

Aguardemos, impacientemente, que os estudos venham a revelar, uma vez mais, a correlação positiva que existe entre o desinvestimento na educação e o aumento do défice sociocultural da sociedade portuguesa, deixando-nos, eternamente, na cauda dos rankings dos países em que os níveis de desenvolvimento social, científico e tecnológico, são os principais indicadores da saúde e do bem-estar das suas populações.

João Ruivo, in Ensino Magazine


Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

De Carcans a Royan e Talmont sur ​​Le Gironde - 6º Dia - Parte I



Na manhã do dia seguinte à chegada à AS de Carcans, observamos que esta está rodeada por um pinhal alto que alberga um grande número de confortáveis bungalows de madeira possivelmente usados por veraneantes de gosto requintado, uma vez que a pequena povoação de Carcans se encontra solitária, rodeada apenas por dunas e mar a oeste e envolta pela Floresta de Landes du Médoc, a sul, este e norte.

Carcans deve muito da sua história e economia à vasta área de pinhal que a envolve. Landes du Médoc é um pedaço da floresta, que faz parte de Landes de Gascogne que Napoleão III mandou ali plantar para fazer face à investida das areias dunais que ameaçavam as terras de cultivo, mais para o interior.

É ali na AS de Carcans que encontramos a primeira matrícula portuguesa, num mercedes estacionado ao lado de uma caravana que aloja quatro jovens rapazes. Um estendal com roupa é marca familiar da presença de verdadeiros portugueses, mas que surpreendem pelo bom gosto na opção por aquelas paragens.
Deixamos a AS e de autocaravana vamos até Carcans. Carcans é um lugar surpresa onde apetece deixar cair a viajem, o tempo e descansar. Sossegado, é povoado de bungalows de excelente bom gosto, de barcos no charco, tudo rodeado de muito pinhal, tudo confluindo e servido por um pequeno e elementar casario que dá nome ao lugar, convenientemente explorado como pequeno centro comercial a céu aberto. Muito recomendável, para quem queira pôr a paz, o físico e algumas leituras em dia.
Mais estrada e mais Aquitânia… em direção à travessia do imenso Estuário do Gironde, em ferry e mais chuva.
No caminho a Floresta de Landes continua a acompanhar-nos e logo mais à frente somos acompanhados pelo Lago d’Hourtin, do lado esquerdo, que com 6.000 há, é o maior lago natural de água doce de França e oferece uma praia de dois quilómetros até Maubuisson. O Lago estende-se no sentido norte-sul, paralelo à costa atlântica, protegido das praias escondidas nas conchas do Ocidente. Rodeado por dunas e floresta, a sua qualidade ambiental é de enorme riqueza de espécies e proteção do património. A pé, de barco ou bicicleta deve de ser empolgante descobrir aquele paraíso de paz. Talvez um dia, quem sabe?...
Mais tarde chega-se ao Estuário do Gironde. Em Le Verdon-sur-Mer apanha-se o ferry que nos levará numa viagem até Royan, do outro lado do estuário.
O Estuário do Gironde ou simplesmente O Gironde localizado no sudoeste da França e é formado pelo encontro de dois rios, o Dordogne e Garonne.
Quando se chega a Royan, seguimos pela estrada paralela ao estuário até à pequena povoação de Talmont Sur Le Gironde localizada a 15 quilómetros a noroeste, situada numa paisagem de colinas que vão morrer ao Gironde.
Encurralada numa pequena península, a aldeia de Talmont sur ​​Le Gironde não estava no nosso caminho, mas o Guia American Express enaltecia-a como uma das aldeias mais belas de França. Ao chegarmos percebemo-nos logo que se justifica completamente o pequeno desvio.
Construída sobre um pequeno promontório rochoso na margem norte do Gironde, a pequena aldeia de Talmont exala uma sensação refrescante de serenidade, com suas ruas estreitas repletas de flores malva e com casas caiadas de branco, acentuadas por persianas de madeira pintadas de azul.
Fonte: http://fr.wikipedia.org ; http://www.tourisme-aquitaine.fr ; http://www.talmont-sur-gironde.fr/ www.espacoerrante.blogspot.com/
 

Galáxias Longínquas

Os astrónomos têm notado há já algum tempo, que em muitas pesquisas sobre os objetos do Universo longínquo, uma grande fração da radiação intrínseca total não tem sido capturada. Agora, graças a um rastreamento profundo executado com dois dos quatro telescópios gigantes do sistema Very Large Telescope do ESO (VLT), usando um filtro de alta qualidade, os astrónomos determinaram as razões porque uma enorme fração das galáxias, cuja luz demorou 10 bilhões de anos para chegar até nós, não foi descoberta. Esta nova pesquisa ajudou a encontrar algumas das galáxias menos luminosas já vistas nos confins do Universo.

Um dia a Via Láctea irá chocar com a nossa galáxia vizinha Andrómeda, que é a única galáxia detetada que se está a aproximar de nós, a 100Km por segundo. Todas as outras já detetadas se estão a afastar da nossa galáxia.

Mas o perigo não está só na aproximação de Andrómeda. No centro da nossa galáxia, bem mais “perto de nós”, encontra-se um imenso e voraz buraco negro que engole muita matéria permanentemente.

Mas tão enorme é o Universo em toda a sua glória e potência, que faz com que o ser humano não tenha suficiente compreensão sobre a sua razão de existir neste cosmos.

Pode até parecer uma ilusão, mas a verdade é que um dia teremos que abandonar este planeta para podermos sobreviver, pois o nosso Sol morrerá e levará o nosso pequeno planeta com ele.

Depois até a nossa galáxia morrerá, levando todos os seus sistemas estrelares com ela... E por fim, o nosso Universo morrerá, levando todas as galáxias com ele.

Os passos para a sobrevivência da nossa espécie, estão sobretudo na união de todos versando um objetivo comum, para conseguirmos sobreviver à morte do nosso sistema solar, à morte de nossa galáxia e à morte de nosso Universo, e para isso devemos encontrar as formas de podermos no momento certo viajar para outro sistema solar, mais tarde para uma outra galáxia e por fim para um outro Universo, se porventura existir!

Quando tivermos que enfrentar esses momentos, nada mais além disso terá importância e tudo o que estiver à nossa volta e não for relacionado com isso é uma ilusão ou distração do objetivo final de nossa espécie e das outras espécies que connosco possam coabitam no Universo, pois o que realmente vai interessar nessa altura será sobreviver!...

Mas esses tempos estão ainda muito longe de nós, mas se fosse amanhã eu seria daqueles que preferiam ficar, pois nada mais será igual.

No entanto e felizmente, nenhum destes desastres se preveem para breve. Mas também não são estes os fenómenos mais temidos pelos cientistas, que demonstram inquietação sobretudo com a mudança climática e alertam que o aquecimento do planeta é o que mais se parece com o temido Fim do Mundo.

E esta inquietação não é um simple temor ou hipótese. Secas, tempestades e outras catástrofes naturais tornam-se mais frequentes e intensas com o aumento das temperaturas mundiais, que poderam começar a registrar progressivamente temperaturas mais altas, de +2°C, +4°C e até +5,4°C até 2100. Isto equivaleria a um suicídio coletivo não só da espécie humana, mas também de toda a natureza como a conhecemos, advertem os cientistas, que intensificam os pedidos para conter o devastador aquecimento do planeta.  

De uma coisa a espécie humana não se pode esquecer, para vivermos precisamos da natureza e do clima em equilíbrio, sol, ar puro, água limpa, precisamos das florestas e de alimentos saudáveis.

Por isto tudo devemos respeitar sobretudo a natureza e os limites, para conseguirmos uma humanidade mais fraterna, mais tolerante, mais ativa na preservação da sua qualidade de vida. Tudo isto será necessário e fundamental para que realmente a vida tal como a conhecemos se mantenha. 

"Galáxias Longínquas", é 12º Episódio de uma série de documentários relativos ao tema geral “O Universo”.



Fonte: http://www.youtube.com/ http://noticias.terra.com.br/

De Arcachon a Cap Ferret e Carcans - 5º Dia - Parte II




 
Deixamos a Duna du Pilat, ao sul, e continuamos viagem até Cap Ferret, ao norte (não se deve confundir Cap Ferrat, que fica na Cote d'Azur).

Nesta etapa contorna-se a Bacia de Arcachon, o golgo interior que é formado nesta zona de França e que faz com que as suas margens com praias de areias finas e brancas sejam balneários privilegiados.

Localizada na Aquitânia, nela podemos observar uma densa floresta de pinheiros que a rodeia, pantanal e litoral oceânico, que nos dão paisagens sem igual, feitas de bancos de areia, parques de ostras e dunas.

It is a popular bathing location on the Atlantic coast 55 kilometres (34 mi) southwest of Bordeaux in the LanÉ um local de banho popular numa costa de mar interior, com cerca de 55 Km a sudoeste de Bordéus e junto da floresta de Landes, o maior pinhal marítimo da Europa.

Em primeiro lugar Arcachon is known for the "Arcachonnaise", the local name for an Arcachon villa , which is the architectural style of many of the older houses built there.Arcachon uma cidade balneário, conhecida localmente por "Arcachonnaise", com casas de arquitetura vitoriana, é um local charmoso e profundamente humano. Em 2 de maio de 1857, quando o imperador Napoleão III assinou a sua "certidão de nascimento" oficial, esta cidade era apenas uma floresta de pinheiros, carvalhos e medronheiros, sem ligações rodoviárias, com algumas cabanas de madeira e menos de 400 pessoas, na sua maioria pescadores e camponeses.

À saída de Arcachon, vê-se o Observatório de Santa Cecília, rodeado de pinheiros. Também conhecido como o rascunho da Torre Eiffel, é um miradouro e foi projetada Paul Régnauld com pitacos de Gustave Eiffel, que anos mais tarde faria a famosa torre parisiense. Dizem que Eiffel utilizou nesse projeto alguns fundamentos que foram aplicados depois na construção da Tour Eiffel.

Do lado oposto a Arcachon é Cap Ferret, um lugar muito mais sossegado e um resort chique, mais popular para celebridades, que ali têm casas de férias bem vedadas a olhares indiscretos.

Em Cap Ferret parámos para o jantar, e mais uma vez os já obrigatórios Moules Frites, mas desta feita com um bom acompanhamento musical, com baladas de um espontâneo, em estilo de réplica saudosista de Jaque Brel.

Da estrada a caminho de Carcans Plage, pouco há a descrever, pois à noite todos os gatos são pardos. É também a noite que nos leva até à AS de Carcans. Mal localizada em GPS, não foi de ser encontrada, mas fomos gentilmente conduzidos por uma patrulha de policiamento local que interpelámos, eram quase 03h00 da madrugada.

Não fora a condução policial e os diversos autocaravanistas presentes, o local escuro como breu, dentro de um pinhal afastado da vila, não nos tinha convencido, nem deixava perceber da generosidade da oferta envolvente, que só se haveria de descobrir no dia seguinte.

Durante a noite, lá pelas 05h00 da madrugada fomos acordados por um enorme barulho de garrafas de vidro a partirem-se e a rolarem pelo chão. Um pouco assustados olhámos pelas janelas para o exterior e qual foi o nosso espanto, observámos uma vara de javalis que rodeava os vários caixotes de lixo colocados nas imediações da AS, atirando-se aos depósitos para os tombarem. Algum tempo durou a confusão, mas depois de conseguirem os seus intentos os bravos animais abandonaram o local, deixando-nos de novo repousar.
Fonte: http://www.unoencadalugar.com.br/ http://en.wikipedia.org/ www.espacoerrante.blogspot.com/

Arcachon - Duna do Pilat - 5º Dia - Parte I


 
Depois de cerca de duas horas na praia, a desfrutar da calma das águas condicionadas por línguas de areia branca, seguimos viagem a caminho da já próxima Duna do Pilat.

 
Depois de poucos quilómetros percorridos, começámos a observar do lado esquerdo a famosa Duna. Situada em terras da Gasconha, à entrada da famosa Bacia de Arcachon e frente à ponta de Cabo Ferret, a Duna de Pilat (ou Pyla) é a duna mais alta da Europa.

 
Depois de estacionada a autocaravana, caminha-se em direção à escadaria com 154 degraus, que nos levará ao seu cume.

 
Custa a subir os mais de 100 metros de altura, mas o esforço compensa. Do seu cimo observa-se um panorama excecional. Do lado sul, estende-se o oceano e o mar interior, constituído pela Bacia de Arcachon. Ao longe do outro lado da Bacia de Arcachon, o Cabo Ferret. Do lado norte, a magnífica floresta de pinheiros que se estende por todo o litoral.

 
No meio da entrada da Bacia de Arcachon, observa-se muito bem o Banco de Arguin (uma grande ilha de areia que muda de forma constantemente, dependendo do humor do Atlântico, com cerca de 2 km de comprimento e outros 2 de largura, e que por vezes forma diversas ilhas ou línguas de areia branca, constituindo uma reserva natural que acolhe uma importante quantidade de aves migratórias).

 
A descida da duna, para os mais ousados, pode ter sensações fortes, especialmente para aqueles que a descem a passos largos ou que se deixem rolar ou escorregar por ela abaixo.

 
A Duna de Pilat atinge hoje dimensões excecionais: 2,7 km de norte a sul, e 500 m de este a oeste, e possui 60 milhões cúbicos de areia, depositados pelos ventos. A sua altitude varia entre 100 e 117 metros acima do nível do mar. Oferece uma inclinação mais acentuada do lado continental do que do lado do Oceano Atlântico.

 
Na sua qualidade de duna, desloca-se entre um a cinco metros por ano para este, podendo cobrir algumas construções (casas, estradas), e já engoliu várias fortificações de betão (construídas durante a Segunda Guerra Mundial, com a designação de Muro do Atlântico), e submerge progressivamente na floresta de pinheiros das terras litorais.

 
Esta formação arenosa marítima e móvel é obviamente classificada como ponto de interesse turístico, sendo visitada todos os anos por mais de um milhão de pessoas.

 
Mas a Duna de Pilat (do dialeto gascon “pilhar”, que significa monte, montículo) é uma formação relativamente recente, apesar do nome “Pilat” figurar já em alguns mapas (Claude Masse, 1708 e de César François Cassini de Thury, 1786). Segundo alguns registos, em 1855, a sua altura era de 35 metros.
 


Fonte : http://www.france.fr/ http://es.wikipedia.org/ http://viajes.michelin.es/

A Caminho de Arcachon - 4º Dia - Parte II






Já a meio da tarde deixámos Saint-Jean-de-Luz a caminho de Arcachon. A estrada como qualquer outra em viagem parece monótona, mas bonita, sendo ladeada na sua grande maioria por pinhal. Vive-se no entanto a novidade a cada curva, ainda que seja um pinheiro mil vezes repetido! É um estado de espírito só sentido por quem viaja em férias, quando a calma e a disponibilidade são totais, em que tudo merece atenção, e quando assim é, tudo parece irrepetível.

A distância a percorrer de cerca de 150 Km foi realizada ainda de dia e quando se aproximava a hora de jantar, apareceu-nos num parque automóvel de um estabelecimento comercial situado à beira da estrada, uma roulotte de venda de frangos. Parámos. Junto dos frangos a assar nos espetos elétricos, uma curiosa Madame, descalça, mas com chapéu de cerimónia a preceito, vendia os frangos assados sem mãos a medir, aos transeuntes de passagem pelo lugar. No entanto, o frango embora com bom aspeto, uma vez provado nos deu a certeza de outra irrepetível compra de iguaria idêntica, por terras de França.

Ao cair da noite, a primeira surpresa! Na procura de uma AS, o GPS conduz-nos a uma área vedada à passagem de autocaravanas. Em contrapartida abundam os parques de campismo, mas a uma centena de metros antes, identificámos um agrupamento de caravanas dentro de um convidativo pinhal, parecendo ser a preferida de muitos que tal como nós ali estavam para visitar, no dia seguinte, a famosa Duna do Pilat ou Pyla!?

A aparente proximidade com a duna e a confiança entretanto ganha nos dispositivos e autonomia da autocaravana, levou-nos a decidir pelo acampamento selvagem, mas muito limpinho e civilizado.

À chegada ao ajuntamento autocaravanista, um jovem casal basco que junto de nós pernoitou, confessou logo, amor á primeira vista pela nossa Travel Van, o que nos deixou mais uma vez babados e orgulhosos do nosso novo brinquedo…

Depois de se jantar o frango de pouco ou nenhum sabor, a noite foi passada a jogar dominó, que há tantos anos não era tocado.

A noite passou sem qualquer sobressalto e no dia seguinte a primeira coisa que fizemos foi vestir os fatos de banho e ir até à praia. Pegámos nas bicicletas e descemos em direção ao areal e a surpresa foi o encontro com uma praia irresistível. O belíssimo areal dourado a perder de vista, um mar estranhamente sossegado e uma água límpida e inacreditavelmente quente, a fazer lembrar paragens tropicais.

Ali estávamos numa borda da Bassin d'Arcachon (Bacia de Arcachon), junto de Le Teich, uma zona de águas pouco fundas, rodeadas de línguas de areia fina, que se se estendem por um delta do rio Leyre. This provides ideal marshland for migratory birds stopping on their long journeys between Scandinavia and Africa. É uma zona de sapal ideal para aves migratórias, que por ali param, para descansarem das suas longas viagens entre a Escandinávia e a África.

a.aaThis rare environment of salt-water and fresh-water has been designated a Parc Ornithologique, and is the nesting ground for several species: grey herons, black cormorants, white storks, oystercatchers, egrets, kingfishers, spoon-billed shovellers and many
Este ambiente raro de água salgada que se mistura com água doce constitui o designado Ornithologique Parc, que é a base para a nidificação de várias espécies de aves marinhas, como garças-reais, corvos marinhos pretos, cegonhas brancas, garças, maçaricos, e muitos mais.
 
Fonte: http://www.minube.pt/ http://www.alternative-aquitaine.co.uk/ http://www.espacoerrante.blogspot.pt/

Confrontos Religiosos e Fundamentalismos

A paz liberal que resultaria da globalização foi abalada por espetaculares atentados atribuídos ao fundamentalismo religioso. O mundo tecnológico do século XXI é abalado por movimentos em nome de Deus.

O velho espírito de Cruzada e Guerra Santa, nunca apagado de facto, parece ser a marca de um novo tipo de conflitos e de uma nova estrutura de Guerra Fria, que não opõe mais o socialismo ao capitalismo, mas sim os diversos credos e suas respetivas representações civilizacionais.

Seriam, as expressões religiosas, conceitos porte-manteaux para encobrir outros conflitos? Quais os aspetos mais relevantes dos choques religiosos? Os choques do passado seriam muito distintos dos atuais? Quais são as possibilidades da convivência e do diálogo entre as religiões?

A estas e outras perguntas responde mais uma vez o Professor Leandro Karnal, nesta palestra imperdível realizada no Café Filosófico da CPFL Cultura, sobre o tema geral, “Confrontos religiosos e fundamentalismos”.

Homo consumericus




Gilles Lipovetsky, professor de filosofia na Universidade de Grenoble, autor de vasta obra publicada onde reflete sobre as sociedades contemporâneas (A Era do Vazio, O Luxo Eterno ou O Crepúsculo do Dever, entre outros), teórico da «hipermodernidade», esteve há pouco tempo em Portugal para participar numa conferência subordinada ao tema A Busca da Felicidade, que decorreu na Culturgest na qual se pretendeu refletir a felicidade do ponto de vista científico e das suas implicações nas práticas sociais e culturais no mundo contemporâneo. Recentemente foi publicado entre nós o seu último ensaio, A felicidade paradoxal – Ensaio sobre a Sociedade do Hiperconsumo (Le bonheur paradoxal. Essai sur la societé d’hyperconsommation, saído em 2006 na Gallimard), uma reflexão sobre a sociedade de consumo atual.
 
Depois do aparecimento do capitalismo de massas, no fim do século XIX, e da «sociedade de abundância», no pós-guerra, o mundo vive hoje uma nova forma de consumo, iniciada nas duas últimas décadas e marcada pela oferta permanente de produtos em escala e intensidade jamais observadas. Segundo Lipovetsky entrou-se assim num terceiro estádio do capitalismo, ao qual chamou «a sociedade do hiperconsumo».
 
O autor analisa a relação paradoxal que, em seu entender, os indivíduos celebram hoje com um universo dominado pelo mercado, onde nem a esfera da intimidade consegue escapar. Num curto espaço de tempo, novos modos de vida e costumes instituíram uma nova hierarquia de objetivos e uma nova relação do indivíduo com as coisas e o tempo, consigo próprio e com os outros. A vida no presente sobrepôs-se às expectativas do futuro histórico e o hedonismo, às militâncias políticas. Em contrapartida, a febre do conforto ocupou o lugar das paixões nacionalistas e os lazeres substituíram a revolução, diz o filósofo. Em suma, o melhor-viver tornou-se uma paixão das massas, o objetivo supremo das sociedades democráticas, um ideal exaltado em cada esquina. O bem-estar tornou-se o novo deus, sendo o consumo o seu templo e o corpo a sua permanente liturgia, acrescenta.
 
Nesta nova «era do hiperconsumo», o apelo ao consumismo entranhou-se no quotidiano de todas as classes sociais e definiu uma forma insólita de relacionamento do indivíduo consigo mesmo e com o outro, para o bem e para o mal, diz Lipovetsky. Numa sociedade onde as necessidades dos cidadãos estão constantemente em observação e a ser alvo de elaboradas estratégias de mercado, o filósofo considera que as pessoas são estimuladas, de forma manipuladora, a consumir.
 
Esta sociedade e este tipo de relação geraram aquilo a que o filósofo considerou chamar um tipo de homo consumericus: voraz, móvel, flexível, liberto das antigas culturas de classe, imprevisível nos seus gostos e nas suas compras e sedento de experiências emocionais e de (mais) bem-estar, de marcas, de autenticidade, de imediatidade, de comunicação. Como se, doravante, o consumo funcionasse como um império sem tempos mortos cujos contornos são infinitos.
 
No entanto, alerta o ensaísta, estes prazeres privados originam uma felicidade paradoxal, pois o homo consumericus goza de ampla liberdade face às imposições e ritos coletivos, mas a sua autonomia pessoal traz consigo novas formas de servidão. Assim, o século XXI aproxima-se perigosamente de uma certa forma de totalitarismo, que coloniza as existências dos indivíduos. Pode, por um lado, funcionar como uma válida e vigorosa terapia que ajuda a afastar as frustrações diárias; mas por outro, tornar-se um causador de ansiedade, num mercado cujo objetivo primordial é a incessante oferta de «novidades». Mesmo quando inflacionadas, como por exemplo as novas e polémicas chuteiras de Ronaldo, com ligeira alteração a partir do modelo anterior, mas cujo preço passou imediatamente para mais do dobro.
 
O mercado de consumo é superabundante, compreendendo gente com alto poder de compra, mas também os pobres e os excluídos. Sustentando o paradoxo, Lipovetsky entende que o hiperconsumo reduziu as diferenças entre as classes sociais, alimentando-se ao mesmo tempo delas, uma vez que ao incitar a compulsão pela compra como objeto de desejo, a sociedade de hiperconsumo acabou por conduzir as pessoas e famílias com menos rendimentos mensais a serem consumidores apenas potenciais, isto é, apenas na sua imaginação.
 
A consequência dessa impossibilidade, por falta de meios materiais, pode vir a ser a delinquência, a violência ou a criminalidade. Ao mesmo tempo, para compensar os mercados da exclusão ou daqueles que vivem de forma mais precária, o mercado replica com contrafação ou cópias, procurando contribuir para o controlo da raiva em não se consumir como os outros.
 
A comunicação publicitária tem aqui um papel relevante, contribuindo para controlar a esfera das necessidades e transferindo o poder de decisão do consumidor para as empresas, cuja profusão publicitária continua a ter sucesso através da forma como faz valer os seus produtos e na organização que faz das visões do mundo, comunicando valores e ideias que sejam capazes de fidelizar como acontece com as campanhas «Just do It» da Nike, «Be Yourself» da Calvin Klein ou «Think Different» da Apple.
 
Nesse sentido Lipovetsky debate-se com as teses de No Logo de Naomi Klein obra emblemática da crítica à fetichização do consumo. Considera que ao enfatizar a tirania das marcas na sociedade, a autora ao não por em linha de conta que as pessoas dispõem de liberdade para escolher e falando da medicação do consumo, como terapia quotidiana.
 
No final, o autor questiona-se sobre «para onde caminha o hiperconsumo». Na tentativa de responder à questão procura saber se existe saída para uma sociedade de hiperconsumo sustentável. Uma vez que a felicidade é o valor central da civilização do consumo, ainda que variando nos seus conteúdos ou temas, entende que pode desviar-se esta felicidade do consumo para alguns sucessos afetivos ou do foro psicológico ou espiritual. Seria assim no hedonismo que poderíamos encontrar a via privilegiada para obter alguma felicidade, independentemente da sua efemeridade.
 
Os aspetos paradoxais da felicidade estão longe de ser definitivos e o debate para assuntos prementes como as ameaças ambientais à escala global, a solidariedade intergeracional ou o modelo social europeu, são algumas das manifestações de que há mais sociedade para além dos problemas dos indivíduos. No entanto, a responsabilidade num consumo sustentável é uma forma de sabedoria que leva à resistência num mundo em que há poucos amanhãs, conclui Lipovetsky.
Por Alexandra Silva

Gilles Lipovetsky (2007). A felicidade Paradoxal. Ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Lisboa: Edições 70. 357 pp. [ISBN: 978-972-44-1354-9]


Saint-Jean-de-Luz - 5º Dia - Parte I




O bom tempo continuou no dia seguinte. O pequeno-almoço, tão raro no resto do ano, em férias sabe divinamente.

Como o sol brilhava logo pela manhã, partimos de bicicleta a caminho da outra ponta da baía, virada a sul. Esta era uma sugestão do Guia da American-Express, que sugeria uma caminhada a pé, estimando o percurso para duas horas entre St Jean-de-Luz e a Ponta de Seco.

 
Como queríamos ainda naquele dia partir a caminho de novo rumo, decidimos não fazer a caminhada e ir de bicicleta.

O caminho de quase 12 km de ida e volta, faz-se sempre à beira-mar, pela Av. du Commandant Passicot, que acompanha a baía até à Ponta de Seco. Pedalando pela estrada que se faz sempre paralela à baía, passa-se primeiro pela ponte e logo a seguir observam-se as instalações do Yacht Club Basque.


Depois de uma breve paragem para a compra de duas toalhas de praia, seguimos na companhia de uma paisagem sempre soberba e com muito trânsito, pedalando-se sem parar até ao Fort de Socoa.

Lá chegados e porque o mar convidava, fomos para a praia situada entre a marina e o molho sul da baía. Depois dos mergulhos e umas boas braçadas nas calmas águas da baía, com temperatura muito convidativa, tivemos a certeza de estarmos de férias.

Secos pelo sol quentinho, vestimo-nos e fomos caminhar pelo molho sul da baía de onde se tem uma bonita vista sobre a cidade de Saint-Jean-de-Luz e na volta subimos até ao forte.


O Fort de Socoa foi ali construído para proteger Saint-Jean-de-Luz das investidas espanholas, no lugar de uma pequena aldeia de pescadores que tinha o nome de Socoa. O Fort Socoa começou a ser construído no reinado de D. Luís XIII.


Mas em 1636, o forte foi tomado pelos espanhóis, ainda antes de ser concluído, ficando a partir daí a cidadela a ser chamada de "Forte de Castela". Alguns anos mais tarde, a soberania francesa foi restaurada e a obra foi concluída, sendo o forte rebatizado “Fort Socoa”.


A volta pedalando até à autocaravana foi rápida e depois de um banho quente para tirar o sal do corpo, partimos para mais uma etapa da viagem, desta feita a caminho de Arcachon, onde queríamos ir ver a famosa Duna do Pilat.
Fonte: https://maps.google.pt/ ; http://www.ciboure-paysbasque.com/ ; http://www.espacoerrante.blogspot.pt/