A partida de casa a caminho de Sintra foi iniciada num feriado de quarta-feira, que fazia daquele
início de dezembro, um final de semana prolongado e por isso ótimo para uma
pequena viagem ao relembrar de saberes e sabores, que nos vão concretizando o conhecimento.
Caía a noite quando fizemos a primeira paragem para o jantar, no lugar do costume quando por aquelas bandas se passa, o Restaurante Trás d’Orelha, em Catefica, junto da saída sul da autoestrada A8, para Torres Vedras, para se degustar desta feita, um belíssimo cabritinho assado no forno com batata à padeiro e arroz de miúdos.
Já de
noite se partiu para o lugar de pernoita, o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa continental (Latitude, 38º 47´ Norte; Longitude, 9º 30´ Oeste) ou, como
escreveu Luís Vaz de Camões, o local
“Donde a Terra se acaba e o mar começa”
(in Os Lusíadas, Canto VIII).
Lá chegados a noite era de breu e com muita ventania,
que fazia do “Focinho da Roca”, como
lhe chamam as gentes ligadas às coisas do mar, um lugar aparentemente pouco
convidativo à pernoita. No entanto lá pela meia-noite o vento acalmou e apenas
se fazia sentir uma leve brisa, que de vez em quando nos trazia um inconfundível
cheirinho a maresia. Naqueles momentos antes de adormecer de janela aberta, me
pareceu mais adequado senti-lo intensamente como “Promontório da Lua”, o poético segundo nome porque é também
conhecido.
Devo ainda referir que é um privilégio adormecer sobre este Promontório da Lua, sentindo que naquele ponto, um maciço e enorme mar de pedra, se impõe às profundas águas do Atlântico, fazendo-se ouvir o incessante ribombar das vagas que nele se quebravam, como que celebrando esse encontro.
Na manhã seguinte o acordar foi bem cedo, com camionetas com turistas a chegarem a todo o momento. O fresco da manhã a entrar pela janela e a própria paisagem envolta em neblina entrava-nos pela alma, quase despertando em nós uma nostalgia idêntica à do anoitecer. Seria da vegetação rasteira devastada pelos ventos marítimos impregnados de maresia, de onde sobressem tufos de «armeria pseudoarmeria», tentando sobreviver entre os penhascos de rocha crua?
De um lado o farol altaneiro, do outro a presença de alguma civilização, com um restaurante e loja de recordações. Em frente ao longe o elegante padrão em pedra, com a lápide que assinala a sua particularidade geográfica, a todos quanto visitam este local. Lá adiante junto da enorme e funda parede escarpada do promontório, o confronto de peito aberto com o mar.
No seu topo a ventania é forte e respira-se a custo, sentindo-se nas costas todo o peso do continente, enquanto os olhos se abrem para o convite do oceano. É no Cabo da Roca que a expressão "jangada de pedra" de José Saramago, ganha todo o seu significado, com a vantagem de cada um poder sentir-se timoneiro, comandante ou náufrago da embarcação. Ali o nostálgico do mar, pode ser um símbolo de partida e da esperança de um eterno recomeço, em especial para aqueles que partiam de Portugal por mar.
Como podemos ler no site da CMS, que se refere ao Cabo da Roca, “Certo, certo é que ninguém de lá sai como chegou, e para franquear o portal mágico do Cabo da Roca não é preciso password. Basta ir, fazer uma pausa nos fins-de-semana consagrados aos templos do consumismo e recuperar um pouco, nem que seja só um bocadinho, daquela ligação ancestral à terra, à natureza e a tudo o que sensibiliza e enobrece.”
Fonte: http://www.guiadacidade.pt/ http://www.cm-sintra.pt/Wikipédia.org