Água é Vida


A Unesco estabeleceu o presente ano de 2013, como o Ano Internacional de Cooperação pela Água. Alterações atmosféricas como tempestades, períodos de seca, chuva e frio afetam a quantidade de água disponível e afetam os ecossistemas que asseguram a qualidade da água.
 
Sem a água não haveria vida na Terra!
 
Pensando e refletindo a partir desta simples frase, já comemoramos bem o Dia Mundial da Água. No entanto se ela não chegar poderemos lembrar-nos da importância da água doce para os seres humanos:
- Funcionamento e manutenção do corpo humano.

- Irrigação na agricultura (produção de alimentos para os seres humanos) e seu uso também na pecuária.

- Funcionamento dos ecossistemas (fauna e flora), tanto aquáticos quanto terrestres.

- Uso da água na produção industrial (bens materiais, medicamentos, alimentos industrializados, etc.).

- Geração de energia nas centrais hidrelétricas.

- A evaporação da água doce nas principais fontes hídricas (rios, lagos, açudes e represas) é importante na formação de chuvas e na humidade do ar, bem como na preservação contínua do ciclo da água.
 
Fonte: http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/dia_mundial_da_agua.htm

Céu e Inferno

O quarto episódio da série Cosmos, parte do chamado evento Tunguska, um pequeno cometa que teria atingido a Terra no ano de 1908, provocando uma enorme explosão na Sibéria. Este fato serve a Carl Sagan explanar acerca das crateras de impacto, lembrando-se dos relatos dos monges da Catedral de Canterbury, feitos em 1178, quando possivelmente os monges avistaram um choque que teria formado a cratera lunar Giordano Bruno.

Carl Sagan conta-nos que este facto ocorreu num domingo antes da Festa de São João Batista, no verão de 1178, quando os monges da Catedral de Canterbury tinham acabado de completar as suas orações vespertinas e já estavam para se retirar para a noite. O erudito irmão Gervase voltou para a sua cela para ler, enquanto alguns dos outros foram lá para o exterior, para desfrutar do suave ar de junho. No meio da recreação, eles tiveram a possibilidade de testemunhar uma visão surpreendente... Uma violenta explosão na lua!

Vivia-se uma época em que pensava-se que os céus eram imutáveis. A lua, as estrelas, e os planetas eram julgados puros, porque seguiam uma rotina celestial invariável. Esperava-se então que eles se comportassem sem distúrbios inconvenientes, como monges em um mosteiro. Seria sábio discutir tal visão?

Em toda época e cultura há pressões para que os homens se submetam aos conceitos prevalecentes. Mas também há, em cada lugar e época, os que valorizam a verdade e que por isso registam fielmente as evidências. As gerações futuras estão em débito para com estes.

Um incêndio na Lua!... Poderia ser um presságio de má sorte? O cronista do mosteiro deveria ser comunicado? Esse evento seria uma aparição do maligno? Gervase de Canterbury era um historiador, considerado hoje um repórter confiável dos fatos políticos e culturais da sua época.

No seu relato ele escreveu: “Agora há uma nova lua brilhante, e como é usual nesta fase, suas pontas estão inclinadas em direção ao leste; e de repente a ponta superior partiu-se em duas. Do ponto médio desta divisão de tocha flamejante elevou-se, vomitando, a uma distância considerável, fogo, carvões quentes e centelhas. Depois dessas transformações...”,continou Gervase, “... A Lua, de ponta a ponta, ou seja, ao longo de toda a sua extensão, assumiu uma aparência enegrecida”. Gervase tomou depoimentos de 5 monges, todos testemunhos oculares do sucedido.

Mais tarde escreveu-se ainda: “o presente escrito refere-se ao relato de homens que viram isso com seus próprios olhos, e estão prontos para arriscar sua honra em juramento, de que eles não acrescentaram nem inventaram nada”. Gervase pôs o relato por escrito, permitindo que os astrónomos 8 séculos depois tentassem reconstruir o que realmente aconteceu. Pode ser que 200 anos antes os monges tenham visto um facto mais maravilhoso, do aquele que foi relatado nos “Contos de Canterbury” do poeta e escritor Geoffrey Chaucer.

Carl Sagan prossegue depois com a história dos relatos de cometas demonstrando exemplos na tapeçaria de Bayeux, no famoso quadro de Giotto e no grande temor criado após a deteção de cianogénio no rastro do Cometa Halley, quando ele passava próximo à Terra no ano de 1910.

Segue-se então numa viagem até Vénus, com as suas altas temperaturas e o seu superlativo efeito de estufa, desde as especulações de Immanuel Velikovsky até aos recentes dados das sondas Venera.

Em 1908, na Sibéria, uma explosão misteriosa abalou a paisagem, projetando árvores a milhares de quilómetros de distância e produzindo um som que se ouviu em todo o mundo. Teria uma nave espacial extraterrestre, sofrido um acidente nuclear?

Carl Sagan examina os testemunhos da ocorrência e conclui que a Terra foi atingida por um pequeno cometa. Um modelo do sistema solar demonstra a possibilidade de outros planetas terem sofrido impactos semelhantes. Tal como Immanuel Velikovsky proclamava, teria o planeta Vénus sido já um cometa gigante? O Dr. Sagan conclui que não, que as provas não confirmam a afirmação.

Embarcamos no final, numa viagem descendente através da atmosfera infernal de Vénus, a fim de explorar a sua superfície abrasiva e o seu destruidor efeito de estufa. O destino de Vénus pode ser uma história de alerta para o nosso planeta, devido ao efeito de estufa, pelo que Carl Sagan lança um aviso sensato para que sejam tomadas medidas de proteção ao frágil planeta azul, a Terra.

Nesse alerta, fala-nos da indiscriminada destruição da vegetação com queimadas que deixam a superfície da Terra mais brilhante, refletindo a luz do Sol de volta para o espaço, arrefecendo progressivamente o planeta. As florestas e os campos de cultivo estão assim a ser destruídos inutilmente por muitos humanos negligentes, que desleixadamente vão destruindo a beleza da nossa flora, absolutamente ignorantes sobre as possíveis catástrofes e modificações climáticas que as queimadas de hoje poderão causar no futuro próximo, estragando irreversivelmente o nosso planeta.



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=Jto-uEVDSxw

Dia Mundial da Árvore



O Dia Mundial da Árvore tem como principal objetivo sensibilizar-nos a todos para a importância da preservação das árvores, quer em termos ambientais, quer da nossa própria qualidade de vida.

Neste dia decorrem várias ações de arborização, em diversos locais do mundo, junte-se a elas, plante uma árvore.

Mas no dia 21 de março também se comemora o Dia Mundial da Poesia e por isso aqui deixo este belo poema, para ser lido e sublimado.

 

Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac, in "Poesias"

Vannes - 13º Dia - Parte II


 
A chegada à vila medieval de Vannes foi feita pelo lado sul do porto. Vindos da Península Conleau e passando junto do caminho-de-ferro e passado um grande estacionamento, entrámos do lado esquerdo do porto. Ali já junto do porto e contornando a doca do lado oeste, tem-se de imediato a noção da grande amplitude do mesmo.

Como Vannes fica situada na zona mais recuada do Golfo de Morbihan, o porto entra pela terra a dentro, mais parecendo uma marina protegida do que propriamente uma porta para o mar.

Junto do porto, fora das muralhas da cidade medieval de Vannes, existem vários cafés com as portas e esplanadas viradas para o belo e tranquilo porto e foi para lá que nos dirigimos, uma vez que estávamos muito cansados da viagem desde a Península Conleau.

Na esplanada muito animada e cheia de turistas, foi pedido o lanche e como não podia deixar de ser, foi pedida a empada real, uma especialidade da cidade, cujo nome tradicional é La Galette du roi, acompanhada de café com leite, embora a cidra seja o acompanhamento mais tradicional na cidade.

Na esplanada é o porto que sobressai e é para ele que se dirigem invariavelmente as atenções. O porto é magnífico, formando uma doca interior em U, comprida e retangular, confinada entre dois cais em pedra a todo o comprimento da doca. Estes cais que outrora deviam ter servido para neles encostarem as embarcações, não são hoje usados, existindo na água, dois passadiços paralelos, como nas marinas, em madeira e pedra, onde estão as amarras dos barcos de recreio, que ali são em maior número.

Depois do descanso merecido e do bom lanche degustado, seguimos para o comboio turístico para uma visita guiada pela cidade antiga, para melhor a ficarmos a conhecer.

Vannes é um daqueles lugares que se visita com muito agrado. É uma cidade que respira história por todos os poros, e o seu centro histórico encerra uma agradável surpresa a cada esquina, seja pelas margens dos seus rios, seja pelos bonitos e emblemáticos monumentos, seja ainda pelas ruas medievas, empedradas e estreitas, que nos levam a olhar impressionados para as suas casas de típica e magnífica arquitetura. Nas ruas veem-se muitas lojas com produtos da região, como queijos, garrafas de cidra, galettes du roi e bolos, bem como pequenos cafés, boutiques e crêperies.

Além de tudo isto há a destacar a visita às Remparts de Vannes, as muralhas da cidade antiga, que podem ser acedidas apenas pelo portão principal situado em frente do porto. Este é também o portão principal de Vannes, a Porte St-Vincent Ferrier, em homenagem ao monge espanhol que morreu na cidade em 1419 e que se tornou seu padroeiro, encontrando-se sepultado na Catedral de Saint-Pierre.

Fora das muralhas da cidade, a leste do Château de l'Hermine, que já foi a casa do duque da Bretanha, mas que agora é um museu, vemos os seus belos jardins públicos. Estes jardins ladeados por um fosso medieval de cada lado são muito bonitos e de magnífico desenho paisagístico, que por si só valem a visita ao lugar.

Na Place Maurice Marchais, encontra-se o edifício do Hotel de Ville, a Câmara Municipal de Vannes, construído entre 1880 e 1886.


Fonte: http://www.matthewsfrance.co.uk/ http://es.wikipedia.org/ http://famvin.org/ http://fr.topic-topos.com/

Início da Primavera / Dia da Agricultura


Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.

Bem-aventurados os que as sustentam em paz,
Que por Ti, Altíssimo, serão coroados.

S. Francisco de Assis


A 20 de março comemora-se o Dia da Agricultura. A maioria das pessoas desconhece tal facto, mas no dia dedicado à exploração da terra celebra-se também o início da Primavera.
A agricultura é uma atividade com mais de 10 mil anos e quase todos os povos da antiguidade tinham uma divindade que lhe era associada. O deus celta da agricultura chamava-se Sucellus. Já para os gregos a agricultura estava ligada à deusa Deméter, enquanto para os romanos era Ceres, a deusa da fertilidade da terra, que estava associada à agricultura.
De facto, a agricultura foi, em especial no nosso país e durante muitos anos, um setor esquecido e menosprezado, embora a sua importância na economia seja incontestável.
Como a agricultura no nosso país vai de mal a pior, aqui deixo uma agricultura que no mesmo, parece que “vai de vento em poupa”!...

Fonte/Ler mais em: http://eco-gest.blogspot.pt/2012/03/dia-da-agricultura.html http://biblosredondo.blogspot.pt/

Vannes - 13º Dia - Parte I


 
Deixamos Carnac já ao final da tarde e rumámos a Vannes onde queríamos ir pernoitar e onde já tínhamos passado de raspão para irmos até Carnac.
Já chegámos a Vannes tarde, e como o GPS não detetava qualquer AS perto da cidade, resolvemos ir para o parque de campismo municipal, o Camping du Conleau, que se encontra bastante afastado da cidade.
Lá chegados encontrámos a receção e as cancelas fechadas, mas por sorte, um francês acampado no parque, que no seu dizer tinha muitos amigos portugueses, abriu-nos a cancela para entrarmos. Há entrada o parque possuía uma AS para autocaravanas, mas estava lotado, pelo que fomos para o interior do parque.
O Camping du Conleau fica situado na periferia da Península Conleau, de onde tirou o seu nome. Esta península foi uma ilha no passado, e está agora permanentemente ligada ao continente por uma ponte lhe confere um charme especial. Hoje é um lugar tranquilo, com algumas casas cafés e esplanadas e uma enorme mata de pinheiros, que alberga um circuito de manutenção e pista de ciclistas, sendo um prazer pedalar por ela.
O parque é um lugar também muito tranquilo, ótimo para descansar e relaxar, com a água do golfo ali bem perto, possuindo uma enorme piscina de água do mar a céu aberto.
No dia seguinte fazia bom tempo e resolvemos ir de bicicleta até Vannes. Foi pedalar até mais não, uma vez que a estrada era sempre a subir e contornava toda a baía.
No coração do Golgo Morbihan, no sul da Bretanha, Vannes é uma cidade muito antiga, com mais de 2000 anos, que está localizada na foz de dois rios, o Marle e Vincin. É uma cidade ligada ao mar por uma baía bastante bem protegida.
O seu nome provém da palavra “Veneti”, um povo marítimo celta, que vivia na parte sul-ocidental da Armórica (are mori - "à beira-mar"), na antiga Gália, antes das invasões romanas. Os veneti foram derrotados pela frota de Júlio César em 56 a.C. em frente da pequena aldeia piscatória de Locmariaquer, que ainda hoje existe; todos os veneti foram mortos ou levados e vendidos como escravos. Os romanos vencedores estabeleceram-se em “Darioritum” (o nome romanizado da cidade gaulesa de Vannes) num local anteriormente pertencente aos Veneti.
Durante a primeira metade do séc. VI, Benetis (antigo nome de Vannes) pertenceu ao condado de Waroch um conde galo-franco e primeiro senhor da região, que era segundo reza a história, um homem bom e justo.
De acordo com uma lenda, um monge eremita chamado Gweltas (Saint Gildas), que tinha fugido da Grã-Bretanha e que vivia por aquelas terras, veio visitar Waroch para lhe pedir um pedaço de terra perto da costa para se deter em oração. Waroch, que era um homem justo e temente a Deus e que reverenciava os seus ministros, quando estes eram fiéis às suas promessas, ou seja, quando se mostravam piedosos, humildes e defensores dos pobres, ofereceu-lhe uma casa e campos na Península de Rhuys, onde Saint Gildas fundou uma abadia.
Saint Gildas (c. 500-570) veio a ser no séc. VI, uma das figuras melhor documentadas da igreja cristã nas ilhas britânicas durante este período. Gildas viveu grandes experiências na sua vida que lhe proporcionou viajar, casar e, até, viver como eremita. Essas experiências tornaram-no um homem com uma capacidade de observação e reflexão profundas. Os seus conhecimentos e ensinamentos, bem como o seu estilo literário, valeram-lhe a designação de Gildas Sapiens (Gildas, o Sábio).
É conhecido em especial pela sua obra De Excidio et Conquestu Britanniae”, que contém narrativas da história pós-romana da Bretanha, que é a única fonte substancial para a história deste período. Neste seu livro, Gildas faz uma reconstituição histórica da sociedade de sua época. Mostrando-se extremamente duro com os homens de sua época, aponta erros e injustiças gritantes. Obviamente, os seus textos desagradaram a muitos, e muitas também foram as críticas que receberam. Com sabedoria, Gildas enfrentou a todos, pois, seu mais profundo desejo era o da conversão do homem.
As suas obras tentam também criar a monástica ideal. Fragmentos de cartas que ele escreveu, revelam que compôs uma Regra para a vida monástica que foi um pouco menos austera do que a Regra escrita por seu contemporâneo, Saint David, que define adequadas penitências por sua violação.
Fonte : http://www.vannes-camping.com/ http://en.wikipedia.org/ http://www.tourisme-vannes.com/ http://amaivos.uol.com.br/

Filhos... Melhor não tê-los?


Ter filhos é algo que assusta ou fascina os novos pais? A psicóloga Rosely Sayão e consultora em educação, faz uma análise dos valores contemporâneos para falar sobre o modelo e o papel da família hoje. E amplia o tema, tirando-o de dentro das quatro paredes de casa para discuti-lo entre os muros da escola.
 
 
Em tempos de consumismo, para muitas famílias ter filhos transformou-se em ato de consumo. A educação das crianças tem sido terceirizada a amas, escolas, avós, profissionais das mais variadas áreas, professores particulares e de cursos específicos, entre outros.

Vamos refletir a respeito das relações familiares no mundo contemporâneo e em especial das relações da família com a escola, responsável pela educação formal dos mais novos.
 



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=dhx_lvKhjyg


Governos nacionais, cidadãos globais

Nada é mais perigoso para a globalização do que o enorme défice de governação – a disparidade perigosa entre o âmbito nacional da responsabilidade política e a natureza global dos mercados de bens, capitais e muitos serviços – que se acentuou nas últimas décadas. Quando os mercados transcendem a regulamentação nacional, tal como acontece actualmente com a globalização financeira, o resultado traduz-se em deficiências de mercado, em instabilidade e em situações de crise. Mas impor a actividade de regulamentação a sistemas de administração supranacionais, como a Organização Mundial do Comércio ou a Comissão Europeia, poderá resultar em défice democrático e em perda de legitimidade.


Como se poderá colmatar este défice de governação? Uma das opções assenta no restabelecimento do controlo democrático nacional sobre os mercados globais. Trata-se de uma medida difícil com sabor a proteccionismo, mas não é impossível, nem caminha necessariamente no sentido oposto a uma globalização construtiva. Tal como defendo no meu livro intitulado The Globalization Paradox (O Paradoxo da Globalização, ndt.), o funcionamento da economia global iria melhorar caso se alargasse o campo de acção aos governos nacionais, no sentido de manterem a diversidade regulamentar e de reconstruírem os desgastados acordos sociais.


Em vez disso, as elites políticas (e a maioria dos economistas) são a favor de um fortalecimento cuja denominação eufemística é "governação global". De acordo com este ponto de vista, a aplicação de reformas no sentido de melhorar a eficácia do G-20, aumentar a representatividade do Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional, e restringir as normas relativas aos capitais estabelecidas pelo Comité de Basileia sobre Supervisão seria suficiente para proporcionar um suporte institucional seguro para a economia global.


Mas o problema não reside apenas no facto de estas instituições globais se manterem frágeis. Assenta também no facto de serem órgãos intergovernamentais – um conjunto de Estados-membros, em vez de agentes de cidadãos globais. Uma vez que a sua responsabilidade perante os eleitores nacionais é indirecta e incerta, não geram a filiação política – nem, por conseguinte, a legitimidade – exigida pelas instituições verdadeiramente representativas. Na verdade, as dificuldades da União Europeia são reveladoras dos limites da construção da comunidade política transnacional, mesmo entre um conjunto relativamente limitado e semelhante de países.


Em última instância, a responsabilidade circunscreve-se aos parlamentos e executivos nacionais. Durante a crise financeira, foram os governos nacionais que socorreram os bancos e as empresas, recapitalizaram o sistema financeiro, garantiram as dívidas, aliviaram a pressão sobre a liquidez, estimularam a economia e pagaram os subsídios de desemprego e pensões sociais – e assumiram a culpa por tudo o que correu mal. Nas memoráveis palavras do antigo governador do Banco de Inglaterra, Mervyn King, os bancos globais são "internacionais em vida, mas nacionais na morte".


Contudo, talvez haja uma outra via que aceite a autoridade dos governos nacionais, mas que tenha por objectivo a reorientação dos interesses nacionais num sentido mais global. O progresso através desta via exige que os cidadãos "nacionais" comecem a considerar-se cada vez mais como cidadãos "globais", com interesses que se estendem além das fronteiras dos seus Estados. Os governos nacionais têm o dever de responder ?perante os seus cidadãos, pelo menos em princípio. Assim, quanto mais global for o sentido dos interesses destes cidadãos, maior será a responsabilidade global da política nacional.


Isto pode parecer uma utopia, mas já há algum tempo que assistimos a acções desenvolvidas neste sentido. A campanha global para a redução do endividamento dos países pobres foi liderada por organizações não-governamentais, que conseguiram mobilizar jovens dos países ricos para exercer pressão sobre os seus governos.


As empresas multinacionais estão bem cientes da eficácia deste tipo de campanhas de cidadãos, tendo sido obrigadas a aumentar a transparência e a alterar o seu modo de agir relativamente às práticas de trabalho em todo o mundo. Alguns governos perseguiram líderes políticos estrangeiros que cometeram crimes contra os direitos humanos, recebendo um apoio significativo por parte dos seus cidadãos. Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global, cita o exemplo de um cidadão ganês que testemunhou perante o Congresso dos EUA, na esperança de convencer as autoridades norte-americanas a pressionar o Banco Mundial no sentido de alterar a sua posição relativamente às taxas de utilização em África.


Estes esforços, de perspectiva ascendente, para "globalizar" os governos nacionais têm melhores condições para afectar as políticas ambientais, especialmente as que visam atenuar as alterações climáticas – que são o problema global de solução mais difícil. Curiosamente, algumas das mais importantes iniciativas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e promover o crescimento verde são fruto de pressões locais.


Andrew Steer, presidente do World Resources Institute, salienta que mais de 50 países em desenvolvimento estão actualmente a implementar políticas onerosas para reduzir as alterações climáticas. Do ponto de vista do interesse nacional, esta acção não faz qualquer sentido, dada a natureza global do problema.


Algumas destas políticas são motivadas pelo desejo de conseguir uma vantagem competitiva, como é o caso do apoio às indústrias verdes por parte da China. Mas, se os eleitores possuírem uma consciência global e ambiental, uma boa política climática poderá também ser uma boa política.


Consideremos, por exemplo, a Califórnia que, no início deste ano, lançou um sistema de limitação e comércio, que, até 2020, visa reduzir as emissões de carbono para os níveis registados em 1990. Embora não se tenha verificado uma acção global em matéria de fixação de valores-limite para as emissões, alguns grupos ambientalistas e cidadãos preocupados exerceram pressão para que a medida fosse aceite, sobrepondo-se à oposição de grupos empresariais e, em 2006, o então governador republicano do estado, Arnold Schwarzenegger, aprovou a lei. Caso esta medida se revele bem-sucedida e se mantenha popular, poderá tornar-se um modelo para todo o país.


Os dados das sondagens globais de opinião, como a World Values ??Survey, indicam que há ainda um longo caminho a percorrer: a auto-percepção de cidadania global tem tendência a permanecer 5 a 20 pontos percentuais abaixo da cidadania nacional. Mas a diferença é menor no que diz respeito aos jovens, às pessoas mais instruídas e às classes profissionais. Aqueles que consideram estar no topo da estrutura de classe têm uma consciência global significativamente maior do que aqueles que se consideram parte integrante das classes mais baixas.


É claro que a "cidadania global" será sempre uma metáfora, porque nunca existirá uma comunidade política mundial gerida por um governo mundial. Mas quanto mais pensarmos em nós mesmos como cidadãos globais e, nessa qualidade, expressarmos as nossas preferências aos respectivos governos, menos teremos de perseguir a quimera da governação global.
 
Dani Rodrik, in Público de 13/03/2013 (Foi mantida a ortografia original)

Por Dani Rodrik, professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O Paradoxo da Globalização: A Democracia e o Futuro da Economia Mundial)

Tradução: Teresa Bettencourt/Project Syndicate
 

Outra tradução em: https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/3/14/governos-nacionais-cidadaos-globais





Belo texto!... Mas quais as consequências de nos vermos como cidadãos globais? O tecnicismo e o cientificismo em que estamos mergulhados, não tenderá cada vez mais a um processo de desumanização das relações humanas? Vermo-nos como cidadãos globais não levará ao perigo da construção de uma sociedade com perda de identidade cultural? E se a todas estas perguntas, juntarmos o problema de conseguirmos arranjar reais mecanismos de justiça para a punição exemplar de crimes e abusos de todo o tipo?


O que será do futuro? Só o futuro o dirá!...


Acerca do texto aqui publicado, devo também acrescentar, que “Um dos grandes mandamentos da ciência é “desconfiar das afirmações das sumidades” (os cientistas, na sua qualidade de primatas, por conseguinte propensos a hierarquias de domínio, nem sempre lhe obedecem), pois muitas dessas afirmações revelam-se tristemente erradas. As sumidades têm de provar as suas asserções como outra pessoa qualquer. Esta independência da ciência, a sua incapacidade ocasional de aceitar a sabedoria convencional, torna-a perigosa para doutrinas menos autocríticas ou com pretensões de certeza.”

 
Carl Sagan, in “Um Mundo Infestado de Demónios”, paginas 50 e 51.