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A família no fogo cruzado da educação contemporânea


Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente as suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê o exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que o seu filho não o escuta, ele olha-o.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensine-o a viver sem portas.

Eugênia Puebla, Mensagem à família

(Eugênia Puebla é uma professora argentina, especialista em educação em valores humanos.)

 

A relação entre pais e filhos parece ter sofrido mudanças radicais nos últimos trinta anos. E para onde é que essas mudanças apontam?

As novas formas de organização familiar nos estratos urbanos médios (agora múltiplas, heterogéneas e voláteis) parecem não ter encontrado uma contrapartida factível no que se refere aos modos de se relacionar com os mais novos.

Assediada por um sem-número de palavras de ordem extravagantes, a família contemporânea encontrará, não raras vezes, uma espécie de colapso ético materializado, por um lado, num acúmulo de intenções impraticáveis e, por outro, na abdicação paulatina do gesto educativo cotidiano.

São essas as questões levantadas pelo polémico psicólogo Julio Groppa Aquino, que questiona a maneira como pais estão a lidar com os seus filhos. Este é um questionamento que produz tantas faíscas, quantas aquelas do fogo cruzado da educação.

Julio Groppa Aquino é docente livre da Faculdade de Educação da USP. Formado em psicologia, com mestrado e doutorado em psicologia escolar pela USP, é autor e colaborador de várias obras sobre algumas tensões que atravessam a educação contemporânea, entre elas o cotidiano escolar, as inflexões disciplinares, a relação família-escola etc. Foi também colunista das revistas "Nova Escola" e "Educação".
 

Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/2010/04/23/a-familia-no-fogo-cruzado-da-educacao-contemporanea/ ; http://clinicataniahouck.com.br/blog/?p=8 ; http://vimeo.com/28023318

Aqui deixo também uma belíssima entrevista realizada à atriz Sofia Sá da Bandeira que espelha o pensar de uma mulher dos nossos tempos, mas que também mostra o testemunho de uma vida de notável sensibilidade e bom senso, que transmite uma educação que teve por parte da sua família, mas que também espelha os problemas da nossa sociedade atual, em tudo o que ela tem de positivo e negativo.

Ver e ouvir mais em:
  http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/videos/2013/06/24/sofia-sa-da-bandeira-em-alta-definicao

Adolescer em tempo de crise


 
Descrevemos como susto a idade adulta não dando, aos adolescentes e aos adultos em geral, a ideia de que é ao ser adulto que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente mais senhor do próprio destino e do seu percurso de vida.

A lavagem do carro

Imaginem que levam o vosso carro à máquina de lavagem automática. Dirigem-se a uma gasolineira, conduzindo-o, e seguem as instruções da pessoa que lá está. Ele vai dizendo: "mais à direita, mais à esquerda, assim… pode parar!". A partir daí, a máquina pegará no automóvel e, por mais que o leitor faça, não conseguirá mudar o rumo das coisas, designadamente do seu automóvel. O que for, será.

A grelha da máquina «agarrará» nas rodas do carro e levá-lo-á por aí, em direção a umas ameaçadoras escovas e a jactos de água, que despejarão detergente e espuma (o leitor deixará de ver o que se passa), depois mais água e, finalmente, uma outra máquina ameaçadora, que vem em direção ao seu vidro e – confesse, leitor! – pensará sempre que aquela barra que despeja jactos de ar quente não perceberá que tem um vidro, um carro e o leitor à frente e fará uma razia em linha recta, decapitando-o.

No final deste filme, o leitor ficará satisfeito com o trabalho, o seu carro está limpo e brilha, sobretudo se tiver pedido o programa mais caro mas mais completo, e segue então viagem, novamente com poder sobre o volante e sobre o rumo do seu destino.

A adolescência é assim. Tão fácil? Ou tão difícil?

O que é um adulto?

Ou, melhor, escrevendo o que dizemos nós adultos, aos adolescentes sobre o que é ser adulto. Pegue-se num telejornal, num jornal ou numa revista: tirando algumas excepções (bastantes, mas não as suficientes), os adultos são descritos como assassinos, pedófilos, corruptos, mentirosos, gente de objectivos rasteiros, gente que aparece porque está "in" e está "in" porque aparece o inefável jet set, grandes traficantes, maus políticos, exploradores e outros que tais. Ou, então, as vítimas desses mesmos adultos. Nós próprios ao falarmos de nós queixamo-nos permanentemente do trabalho, do cansaço, do IRS, do fisco, do Governo, da malandragem, da troika e dos ladrões e… de tudo. Ser adulto é, pois, uma questão simples. Ser adulto equivale, assim, a uma de duas coisas: ser malandro ou ser vítima de malandro.

O discurso sobre a adultícia ainda é pior, quando acrescentamos a Rádio Nostalgia: a criança que há em nós, a liberdade da infância, os bons velhos tempos em que éramos jovens e não tínhamos responsabilidades.

No entanto, a cereja no topo do bolo é quando dizemos – talvez com razão, mas com alguns efeitos secundários indesejáveis – que os erros do passado e detectados no presente vão ser pagos (e de que maneira!) pelas gerações seguintes. Não discuto se é verdade ou mentira que cada português, ao nascer, já está a dever balúrdios a toda a gente, seja aos mercados, seja à senhora Merkel. Que sei eu! Mas para quem está na adolescência, a ver-se, qual automóvel em máquina automática de lavar, engatilhado nas roldanas sem poder acelerar, travar, virar à esquerda ou à direita e quando lhe dizem que as escovas que vêm aí são terríveis, a dúvida é o que vai sair do outro lado. Um carro limpo e brilhante, ou uma amálgama de ferros torcidos e a pintura riscada de modo indelével?

Teremos, assim, de mudar o discurso sobre a adultícia, mais do que repetir os chavões do costume sobre a adolescência – período descrito por muitos pais como "terrível", cheio de problemas e um susto. O que descrevemos, sem dar por isso, talvez, como susto é a idade adulta, não dando aos adolescentes e aos adultos em geral a ideia de que é, ao ser adulto, que se tem a maior liberdade, a maior capacidade de decisão e quando se é verdadeiramente senhor do próprio destino e do  percurso de vida.

Ser adolescente em tempo de crise

O nosso país está em crise, o mundo está em crise. Que grande novidade… Não sabemos o que o futuro nos reserva, os tempos estão e serão difíceis. Que grande novidade… Os jovens nem sabem o que os espera! (e alguém sabe?).

Curiosamente, o facto de as sociedades terem vivido períodos enormes de crise, da palavra crise significar "crescimento e oportunidade", de esta crise se dar (no nosso país) em níveis de desenvolvimento nunca antes atingidos e de as gerações anteriores terem, elas mesmas, passado sempre "as passas do Algarve", parece ser obliterado, branqueado, esquecido. É como se o mundo, antes de nós, fosse uma maravilha e o futuro um buraco negro para onde, sem hipóteses de fuga, avançamos.

Quem viu o filme de Woody Allen, Meia Noite em Paris, recordar-se-á da vontade de muitas das personagens em regressar à geração anterior, com a ilusão de que o mundo era muito melhor do que é no tempo em que vivem. O próprio realizador comentou, numa entrevista, com o sarcasmo que lhe é conhecido: "prefiro viver num mundo cheio de problemas mas com antibióticos!". A ideia de que "antes é que era bom" é errada. "Antes" poderia ser bom para alguns, mas era muito mau para a larga maioria. O presente – então em Portugal, isto assume proporções quase gigantescas – é muito melhor do que o passado, pelo que é previsível (é certo!) que o futuro será melhor do que o presente. Só que, em termos históricos, o futuro não se escreve num dia ou num ano, e também não apenas numa dimensão económica, mas sim em décadas e em diversas perspectivas: a económica e financeira, com certeza, mas a social, ética, cultural, etc. As gerações dos nossos pais e avós passaram tempos terríveis: II Grande Guerra, Guerra Colonial, ditadura fascista… tanta coisa de que, felizmente por um lado, infelizmente pelo outro, os adolescentes não conhecem e os adultos já esqueceram. Quem tinha 18 anos no 25 de Abril terá agora 55…

Que solução?

É bom que o nosso discurso mude, deixando vitimizações de lado e a conversa fiada da infelicidade, da perseguição pelos outros e pelo Estado, e do quão coitadinhos somos. É importante, na minha opinião, que os nossos filhos saibam várias coisas e que isso seja acentuado:

1. Que ser adulto é ter uma fase da vida de enorme liberdade, e que essa liberdade será tanto maior quanto a pessoa decidir, desde cedo, ser senhor do seu percurso de vida e entender os graus de liberdade que tem relativamente a ele, através das escolhas correctas e da reflexão e ponderação sobre essas escolhas – quem pensar que está tudo predestinado ou que o que decidir hoje não tem impacte no amanhã estará, sim, a cavar um futuro perigoso. As teorias do carpe diem, ou do "viver cada dia como se fosse o último", por muito gentis e engraçadas que sejam, esquecem-se de um pequeno pormenor: é que tudo seria correcto se morrêssemos amanhã mas se não morrermos – o que será certamente o caso – o nosso futuro será mais difícil e pior se hoje não pusermos as pedras adequadas na calçada do nosso percurso de vida.

Ter a cabeça nas nuvens mas os pés bem assentes na terra parece-me uma solução engenhosa, criativa e eficaz…

2. Que as crianças e adolescentes têm uma vida como nunca tiveram em bens, liberdade, educação, opções de produtos e bens, conhecimento científico, acesso à informação e ao conhecimento, equipamentos, sociedade legislada e organizada, enfim, uma vida que as gerações anteriores ambicionariam ter e que construíram – não foi apenas a crise que lhes legaram, mas sobretudo uma sociedade de tolerância, democracia e liberdade.

Nunca, como hoje, se viveram tempos de tanto respeito pelos direitos humanos, de abundância e tanta qualidade de vida. Esta afirmação é fundamentada em factos, não é apenas opinativa.

3. Que o "quero tudo, já!" que reflecte o regresso à fase da omnipotência narcísica dos 15-18 meses de idade, e que muitas das crianças e adolescentes veem consagrado no seu dia-a-dia com pais que lhes dão tudo sem esforço e sem conquista, que consagram os seus desejos ao mínimo "piu", não esclarecendo que as expectativas não podem ser iguais à realidade e que é através do trabalho, da sabedoria, e da vida, no seu percurso, que se irão obter mais e mais coisas, tem de acabar porque não é exequível nem justo. O "quero tudo, já!" que se viu concretizado nos cartõezinhos mágicos que bancos e lojas davam às pessoas (como se fosse possível ter crédito ilimitado sem que alguém viesse depois pedir contas e juros, ou até mesmo como se fosse lógico, ético e moral contrair dívidas para gozo efémero e imediato sem que, no futuro, isso viesse a cair sobre quem as contraiu), tem de acabar com o "não!" que dizemos aos nossos filhos de ano e meio ou dois anos, quando nos pedem mundos e fundos.

O "não" é estruturante, desde que dito com afecto e firmeza, coerência e consistência. Seria aliciante não haver código da estrada, mas o caos no trânsito que se seguiria seria um preço demasiado caro a pagar, para lá da ineficácia e de não chegarmos a lado nenhum por termos tudo entupido à nossa frente. Com o percurso de vida é igual, embora as margens do rio não devam ser nem tão estreitas que o rio entra em torrente, nem tão largas que o rio alaga tudo e não progride.

4. Que a vida é difícil, em alguns períodos mais, noutros menos, que há épocas de vacas gordas e outras de vacas magras, mas que a sábia gestão de bens, expectativas, desejos e trabalho, numa óptica estratégica e táctica, pode conseguir airbags que evitam males maiores e permitem uma boa navegação ao longo da vida.

Sem estar com um discurso do "Ó tempo volta para trás", é bom relembrar a história dos pais, da família, da comunidade, do país… porque a memória é curta, e muito mais quando houve uma revolução paradigmática em termos de informação e comunicação.

5. Que ser adolescente em tempos de crise é normal, porque a crise é inerente a todas as fases da vida, incluindo a adolescência e talvez até mais pela velocidade de crescimento, desenvolvimento, autonomia, identidade, projectos, afectos e outras coisas que tal e que cada um poderá dar a volta à crise se mantiver a lucidez, tentar a excelência de si próprio, esforçar-se por conseguir ultrapassar-se e assumir o aperfeiçoamento como objectivo de vida.

Os filhos não são nem podem ser a segunda edição do nosso livro, mesmo que com algumas correcções e emendas, e uma nova capa. Os filhos são o livro deles, com algumas dicas da nossa parte mas escrito por eles. Adolescer em tempos de crise é quase um pleonasmo. Mas, em todas as fases da vida, vivemos em crise, entrecortada por períodos de acalmia, de reflexão e também de fruição do que se foi estruturando e organizando, mas se a seguir à tempestade vem a bonança, como diria La Palice, a seguir à bonança virá necessariamente uma tempestade.

Continuemos a apoiar os nossos filhos, no seu processo de crescimento, segundo os princípios e valores que são os nossos, mas com uma grande capacidade de ouvir, escutar, dialogar, negociar e respeitar. Reciprocamente.

E mostremos – para nosso bem, igualmente –, que ser adulto é bom. Que o carro que vai sair do outro lado da máquina de lavar, depois da ameaça daquelas enormes escovas azuis que avançam à velocidade quase da luz, com barulhos e tremores, depois da nuvem branca de espuma que não nos deixa ver nada e da outra grande máquina de ar quente que avança em direcção a nós, o carro sairá do outro lado limpo e brilhante a cheirar bem e com aspecto novo, mesmo que subsistam alguns riscos e "cicatrizes" de factos passados. Mas, claro, como em tudo na vida, este sucesso dependerá da qualidade e afinação da máquina, da competência do operador e da vontade e força de vontade do próprio.

Há escolhas, dificuldades, obstáculos e crises. Mas há nós próprios, e é isso que temos de dizer aos adolescentes, caso contrário afirmar-nos-emos enquanto adultos como fracassados e falhados, o que, convenhamos, não será bom, nem para a nossa imagem, nem para o modelo que devemos ser (e que somos) para eles.

 

Mário Cordeiro, in Jornal o Público de 20/06/2013

O autor é médico e professor de Pediatria.

A Primeira Republica, a Ditadura, o Capitalismo e a CEE


“Mudar o mundo e a vida só se consegue se o homem se for mudando a si próprio. E para se mudar a si próprio tem sobretudo que escutar a vida. Pacientemente e humildemente, ver o que a vida lhe está a querer-lhe dizer e a que ponto o está empurrando.”

Agostinho da Silva


Sempre atuais estas Conversas Vadias com o Professor Agostinho da Silva, podem ser aplicadas tal como ontem, aos momentos que vivemos hoje.
Eis algumas frases de Agostinho da Silva, nesta entrevista:
 
 
"O importante era fazer as coisas, ligar e estar a declamar sobre elas"

"Naquele fim de Primeira República, com toda aquela gente extraordinariamente inteligente (...) não conseguia chegar a nenhuma espécie de organização de Portugal"

"Era Portugal ter tido dois regimes de portugueses, um era o do Rei governando os municípios republicanos e deu a volta ao Cabo da Boa Esperança e o outro foi de aguentar o desastre de Oriente e que depois teve de construir o Brasil, que não é coisa fácil para uma nação tão pequena, com tão reduzido número de pessoas e teve outro regime que foi o de se ouvir pouco as Cortes Gerais deixá-las bem espaçadas e deixando o Rei governando.
"Quando Dom João embarcou para o Brasil, esse segundo regime português foi embora e Portugal durante duzentos anos não teve nenhum regime português"


"A Primeira República não era um regime português era uma coisa qualquer importada de Inglaterra ou de França. A primeira Ditadura era uma coisa inspirada de algo que vinha de fora, que agora vejo que útil ao país foi, no sentido de que Portugal realmente estava sendo criticado em toda a parte, estava a "portugalizer", como se dizia naquela altura, quando nosso amigo veio lá de Coimbra, professor de Finanças, que percebia daquilo, pôr as Finanças em ordem, ele conseguiu manter aquela ordem financeira, que de resto o Afonso Costa já tinha tentado"


"E como havia gente que protestava e sentia que não era um regime adequado a Portugal, o nosso amigo teve que montar todo aquele aparelho policial, cadeias e pides e toda essa tralha".

BB: "De que o Sr. Professor foi vítima!"

"Eu fui vítima e fui favorecido. sabe? Porque se não fosse a Ditadura tinha ficado com o Doutoramento, com uma vida bem sossegada em Portugal e depois aborrecido da vida, porque não tinha visto o mundo ao passo que aqueles acontecimentos me obrigaram a ir embora e foram uma abertura para a Vida"
 
"Temos que dar qualquer jeito para que Portugal deixe de coxear e realmente se reinstale. Eu acho que o problema que está hoje diante de Portugal é de se reinstalar, de se restaurar (...) de voltar aquilo que os portugueses acharam que era o seu próprio Portugal"

"No final de contas não tenho feito mais do que apresentar e repetir o que foi a obra e o pensamento de muitos portugueses do séc. XIII, de Camões, do Padre António Vieira, de Fernando Pessoa. Não sou nenhuma espécie de génio ou de visionário."

"Ideias que não podiam ser aplicadas no tempo em que eles viveram, mas podem ser agora. Não só para que Portugal se reinstale, para que volte a si próprio, depois de ter sofrido a tal invasão europeia. Mas até para ajudar a Europa quando se fala de adesão de Portugal à CEE eu vejo aquilo como um desembarque na costa da Europa, para a ajudar, para ver se tem algum jeito depois de toda a confusão em que anda."

"Para que a Europa conseguisse tanta da sua tecnologia teve que sacrificar muito da sua Humanidade."

"A Economia Capitalista é a única que pode inaugurar a paz que é a de não haver carência para o Mundo. É a única que pode desenvolver o mundo até às condições - pelo que sabemos da Arqueologia - em que não faltava nada aos Homens, em que estes percorriam o Mundo à vontade e tinham sempre que comer."




Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=BE6oHRtcxN0; http://www.youtube.com/watch?v=YMSnaP7oudw

Greve aos Exames



A escola pública de qualidade é mais importante que a data de um exame

Quando alguém diz “Eu sou a favor das greves…” segue-se, em geral, uma adversativa que precede a explicação por que, desta vez, nesta data, neste sector e nestas circunstâncias, a greve é socialmente injusta, moralmente ilegítima, tacticamente errada ou políticamente contraproducente. As razões por que não se deve fazer greve desta vez variam em género, em grau e em combinatória, mas o resultado é sempre o mesmo: a greve é um direito inalienável dos trabalhadores consagrado na Constituição da República Portuguesa, mas, na opinião das pessoas que assim falam, deve ser usada apenas quando não possui absolutamente inconveniente nenhum para ninguém.

Ora a greve não pretende ser uma arma inócua. A greve é uma arma de último recurso, que se usa quando os trabalhadores consideram que está em causa a defesa de direitos importantes – seus ou da sociedade em geral – e quando já falharam as negociações. Se as negociações são o momento da racionalidade e da discussão, de pesar ganhos e perdas, de avaliar vantagens e inconvenientes de um lado e de outro, a greve é o momento da força. A greve não é um recurso retórico. A greve é uma arma que se usa numa situação de conflito e visa prejudicar o adversário, enfraquecer a sua posição e, acima de tudo, mostrar a força que o lado em greve possui, para regressar de novo à mesa das negociações e para conseguir chegar a um acordo que satisfaça as partes. A greve pretende sempre ser uma chamada à realidade do outro lado – que, frequentemente, pensa que pode dispensar os trabalhadores e impor unilateralmente as condições que lhe convêm. Há uma razão prática que limita o recurso à greve e que a torna, de facto, uma arma de uso excepcional: os trabalhadores que fazem greve perdem o salário correspondente, o que, principalmente em época de crise, não é algo que se aceite levianamente.

O argumento de que a greve dos professores vai prejudicar os alunos e, por isso, não deve ser feita, é tão pueril como dizer que as greves de transportes não devem ser feitas porque prejudicam os passageiros e as greves de recolha do lixo não devem ser feitas porque prejudicam os moradores. As greves prejudicam sempre alguém. É evidente que os grevistas têm de pesar os prejuízos que causam em relação às causas que defendem e aos benefícios que esperam. Não é aceitável que uma greve de trabalhadores da saúde se salde por uma única morte que seja. Mas considera-se que um certo grau de desconforto momentâneo da população é um preço aceitável a pagar pelo direito a defender os nossos direitos. E são “os nossos direitos” porque a greve não é algo que apenas os outros façam. A greve é uma ferramenta que todos temos na mão.

É evidente que podemos ter opiniões diferentes sobre a justeza de uma dada greve, mas são raros os que acham que os professores não têm, no caso vertente, razão suficiente de protesto, perante a tentativa de industrializar uma escola pública de baixo nível para os pobres e proletarizar os professores. O prejuízo dos alunos? Essa é a arma da greve. Nenhum professor deseja ou aceita que um aluno seja seriamente prejudicado pela greve – além do incómodo decorrente de, eventualmente, repetir o exame – mas essa é uma preocupação que, agora, o Governo deve assumir. Havendo greve, tem de ser dada possibilidade aos alunos de realizar exames noutras ocasiões, de forma a não os prejudicar. Vai ser uma grande confusão? Provavelmente. Mas essa é, mais uma vez, a arma da greve. Essa é a pressão da greve e, se não aceitarmos que uma greve possa dar origem a estas formas de pressão, isso significa que não aceitamos o direito à greve. Nem o dos outros, nem o nosso. Significa que, sejam quais forem as condições que nos imponham no nosso trabalho, achamos que não devemos ter o direito de parar de trabalhar.

É evidente que existem nas greves em geral, e também nesta, coisas irritantes. Além de alguma imaginação nos protestos, teria gostado de ver no centro das intervenções dos professores a defesa da escola pública, a defesa da qualidade do ensino e a defesa dos direitos dos jovens (incluindo daqueles que deviam ser alunos e não o são) em vez de quase exclusivamente os direitos dos professores – por muito que estes sejam de prezar. Não é apenas um erro retórico: é um erro político de consequências sérias. Seria importante aproveitar este momento para explicar de que forma todas as medidas deste Governo põem em causa a escola pública inclusiva e de qualidade que tem sido construída nas últimas décadas. Mas os sindicatos dos professores estão demasiado centrados numa defesa estreita dos direitos dos seus associados. É um erro político porque facilita à direita o uso da retórica dos “privilégios” e da “resistência à mudança”. É um erro político quando a greve e o “prejuízo dos alunos” tornam fácil a acusação de “egoísmo” àqueles que são o principal esteio da escola pública e os principais autores dos seus êxitos – que existem e seria bom lembrar nestes dias de greve.

José Vítor Malheiros, in Jornal o PÚBLICO de 11 de junho de 2013



Fonte: http://www.leituras.eu/?p=6537&utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+As-Minhas-Leituras+(As+Minhas+Leituras)

Ver também: Eixo do Mal » Eixo do Mal SIC Noticias Programa do Dia 15-06-2013 (http://www.videosbacanas.com/eixo-do-mal-sic-noticias-programa-do-dia-15-06-2013/)

Portugal, Europa, Japão, Universo e o Futuro…


“Uma das maiores posses que uma pessoa pode sofrer, é estar possuída por si própria. Possuída pela ideia que tem de si mesma, que pode ser errada. Por isso é bom experimentarmo-nos, quando nos julgamos muito hábeis ou muito inábeis, pois podemos estar enganados. Ao recebermos uma ordem e cumprindo-a, verificamos se eramos hábeis ou menos inábeis do que pensávamos."
Agostinho da Silva


Qual dos dois és tu, a intuição ou ego,
Aquele que te vê ou o que é cego,
O que está seco ou aquele que rego,
O que é distante ou que vive do apego.


Serão tudo, no caminho que vos delego,
Serás o rio, apesar de hoje seres um rego,
Quando fores tudo, o nada vos entrego,
És o vaso da semente, o seu aconchego.


Coloca a semente na terra, não esperes flor,
Vem a seu tempo, quando regada com amor,
Explode de beleza, o sorriso a nossa cor,
Sorri, confia em ti e cresce, pára de ser actor.


Até podes ser muito elogiado pelo director,
Dificilmente te libertas pois não és o narrador,
Na sociedade és notável, mas não és senhor,
Faz as tuas escolhas, sem olhar o retrovisor.

Bruno Dias
 
Esta entrevista de mais uma das "Conversas Vadias", junta dois grandes comunicadores, o Prof. Agostinho da Silva e o jornalista Joaquim Letria.


Estas são algumas das mais significativas perguntas e respostas desta entrevista:
JL: "Nós demos mundos ao mundo (...) demos matéria-prima ao mundo, demos força de trabalho à Europa e aqueles que transformam essa matéria-prima, ajudámos a construir a riqueza dessa Europa. O que é que acha que no futuro (...) vamos dar o quê ao mundo?"
AS: "Vamos dar ao mundo aquilo que de melhor temos. (...) ver o mundo tal qual ele é."
"Quando falo de Europa não me refiro só aquela que vai até aos Urais. Estou-me referindo também aos Estados Unidos que é aquela Europa que vai até ao Atlântico e também referindo à classe industrial japonesa que é uma Europa instalada no Japão, tendo aproveitado do Japão a capacidade japonesa de obedecer. Porque o ideal deles é ser o menos possível, que é a coisa perfeita para entrar numa companhia."

"No Japão havia essa esquizofrenia: metade do dia eram americanos trabalhando como americanos, a outra metade do dia era japoneses trabalhando menos do que ninguém.

JL: "Mas também são eles que mais preocupação têm com o lazer?"
AS: "Pois claro, porque eles sabem perfeitamente - porque são budistas - que a coisa vai nesse sentido. E foi por isso que não seu precisamente o ajustamento da pregação dos magníficos jesuítas portugueses que foram para lá e a gente japonesa. Os japoneses se converteriam todos ao mesmo tempo ao cristianismo se os jesuítas os deixassem ser ao mesmo tempo budista e xintu, tudo junto."

JL: "Nós estamos perante um grande parêntese da História. Temos um passado com referências seguras e certas e à frente um futuro que não sabemos o que é que vai ser. (...) Fala-se do Fim da História. O que vem aí?"
AS: "Quando digo que o Futuro será de tal maneira, estou apenas a dar a ideia de um Presente melhorado ao máximo que eu posso imaginar. Mas nada que seja assim o Futuro. Uma coisa que hoje se pode dar como filosofia do Universo é de que há não só aquilo que nós entendemos dele, mas outras muitas maneiras de o entender. É curiosíssimo que se nós juntarmos as duas palavras com que podemos designar um certo objeto das nossas atenções podemos chamar ou Universo ou Mundo. Num Universo, a palavra indica que todas as coisas estão ali juntas, é dos vários lados um movimento para o centro, para o Universo. E Mundo, que todos tomamos como substantivo é efetivamente um adjetivo. Mundo significa "limpo". Camões fala nas "mundas almas", as almas que podem ir para o Paraíso Eterno, as "almas limpas". Então o que é o Mundo diferente do Universo? O Mundo chamamos nós áquilo que entendemos do Universo. Como se considerássemos o outro exatamente o antónimo da palavra Mundo, isto é, Imundo."

"Talvez a certa altura surja no mundo alguma coisa de diferente e que se possa rir das ideias que nós tivemos do Futuro."
"Ver o Futuro, não como uma coisa que muita gente vê como impossível de realizar, mas como uma coisa possibilíssima de ultrapassar de tal maneira que nós nem a pudéssemos entender. Há maneiras variadíssimas de ver o mundo. Há coisas por exemplo na matemática que estão fora da nossa dimensão real.
 

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=KhEQp-KtAi0http://sitedepoesias.com/poesias/36379

 

Confronto, declínio ou colapso civilizacional


O tempo acaba sempre por levar os grandes projectos e organizações humanas, incluindo as civilizações, ao seu fim.

As civilizações são sistemas adaptativos complexos que funcionam em equilíbrio instável à beira do caos. Colónias de abelhas e formigas, ecossistemas, o cérebro, a Internet, o mercado de acções e os partidos políticos são também sistemas adaptativos complexos, caracterizados por uma rede dinâmica de interacções em que os comportamentos individuais e colectivos dos componentes se auto-organizam e adaptam às condições internas e externas.

As civilizações são também sistemas caóticos porque uma muito pequena perturbação pode, por vezes, conduzir a alterações profundas, praticamente impossíveis de prever. Partilham o “efeito borboleta”, definido pelo matemático e meteorologista Edward Lorenz quando formulou a pergunta: será que o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode conduzir a um tornado no Texas?

O bater de asas constitui uma parte das condições iniciais da atmosfera que, por meio de uma cadeia de eventos, pode gerar fenómenos de larga escala. Um sistema é caótico se o seu comportamento for teoricamente previsível mas praticamente imprevisível para intervalos de tempo que não sejam muito curtos, devido a uma grande sensibilidade nas condições iniciais.

A história das civilizações, das suas origens, evoluções e interacções é o reflexo da imensa complexidade e capacidade de adaptação dos sistemas humanos e naturais. Recuemos até ao final da Idade Média para tentar interpretar o presente.

No início do século XV, a China sob a dinastia Ming tinha a civilização mais evoluída do mundo, capaz de assegurar relativamente maior bem-estar a uma parte significativa da sua população. A partir dessa época as posições relativas da Europa e da China inverteram-se, devido, essencialmente, ao desenvolvimento gerado pela competição, por vezes feroz, entre os Estados-nação europeus, à descoberta do método científico, à medicina moderna, à revolução industrial, à democracia representativa, ao direito de propriedade, à legislação laboral e à sociedade de consumo.

Passados cerca de 500 anos, nos finais do século XIX, os países ocidentais exibiam uma espectacular superioridade militar, económica, social e política, liderada pela Grã-Bretanha. As grandes nações asiáticas interrogavam-se sobre este enorme sucesso civilizacional e iniciavam um processo de descoberta, análise e cópia dos elementos culturais e institucionais que o determinavam.

O primeiro país a entrar por esta via foi o Japão. Durante o reinado do Imperador Meiji, de 1868 a 1912, o Japão copiou tudo, desde o vestuário à democracia e ao hábito ocidental de conquista e expansão territorial, que começou a praticar com a Primeira Guerra Sino-Japonesa de 1894-1895.
Seguiram-se os dois gigantes da Ásia, China e Índia, com ritmos e ênfases diferentes na transposição dos elementos-chave culturais, sociais, políticos e económicos do Ocidente. Na China, privilegiou-se a ciência e a tecnologia, a sociedade de consumo e a legislação laboral e rejeitou-se a democracia. Contudo, o sucesso económico foi extraordinário, sem equivalente na História. O PIB cresceu por um factor de 10 em 26 anos, enquanto a Grã-Bretanha levou 70 anos a crescer por um factor de 4 a partir de 1830.

A América Latina e a África evoluem no mesmo sentido. Caminhamos para uma civilização globalizante com modulações culturais, políticas e religiosas e diferenças de fase a nível regional e nacional. Será possível continuar a aplicar este modelo de civilização ocidental a todos os países do mundo até se atingirem os níveis de consumo e bem-estar médios dos actuais países da OCDE? Haverá recursos naturais suficientes para atingir este objectivo num contexto de uma população global que continua a crescer vigorosamente? Creio que não.

Entretanto, o historiador Samuel Huntingdon adverte-nos que a política global do século XXI será dominada pelo confronto de civilizações e que as suas linhas de fractura serão as frentes de batalha do futuro. Não restam dúvidas de que os EUA e a China se enredam numa rivalidade crescente que poderá gerar um conflito armado mas, actualmente, ambos integram a mesma civilização global.

As elites dos EUA vivem num permanente pesadelo de a supremacia económica mundial passar para a China, provavelmente já em 2020, e analisam até à exaustão tudo o que poderá fazer descarrilar a sua ascensão explosiva.

Simultaneamente, há no Ocidente sinais claros de declínio civilizacional. A crise financeira e económica de 2008-2009 nasceu no cerne do Ocidente, nos EUA, e deve-se, essencialmente, à desregulamentação dos mercados financeiros, alimentada por uma ganância ferina e implacável e à crescente escassez e consequente aumento de preços de alguns recursos naturais provocada pela gigantesca procura nos países com economias emergentes, em especial a China.

No que respeita ao primeiro factor, a situação actual caracteriza-se por uma grande incapacidade política para recuperar da crise, especialmente na União Europeia, que começa a dar sinais de desagregação. Curiosamente são os EUA e o Japão, com fortes políticas monetárias expansivas, que estão a ter algum sucesso na recuperação do crescimento económico, enquanto no continente onde nasceu a civilização ocidental, a UE, agora comandada pela Alemanha, segue uma política de austeridade que a está a levar para um declínio ainda maior.

No que respeita ao segundo factor, ele afecta todos os países do mundo e resulta da aplicação global da civilização que nasceu no Ocidente. Na China, há também uma forma de declínio civilizacional, mas de natureza diferente, porque resulta da progressiva e dramática poluição do ar, da água e dos solos provocada por um uso insustentável dos recursos naturais. Como exemplo, note-se que se estima em 1,2 milhões o número de pessoas que morreram prematuramente na China no ano de 2010 devido à poluição do ar.

Paul Ehrlich, o conhecido biólogo norte-americano, vai mais longe num artigo recente intitulado “Poder-se-á evitar o colapso da civilização global?” De acordo com Ehrlich, as razões do colapso seriam de natureza ambiental associadas principalmente às alterações climáticas, à crescente escassez de água e de outros recursos naturais, à perda de biodiversidade e a uma poluição galopante do ar, da água e dos solos em algumas regiões do mundo.

Há vários exemplos na História de colapsos, ou seja, de situações de grande perda da complexidade social, política e económica, acompanhada por uma dramática diminuição da população, em que a degradação ambiental desempenhou um papel importante, tais como a Suméria, os maias e a população isolada da Ilha da Páscoa. Há também exemplos de grande resiliência civilizacional, sendo os mais notáveis o Egipto e a China, que foram capazes de repetidamente recuperar e reflorescer. A diferença no futuro é que o colapso seria de natureza globalizante.

Estou convicto de que mergulhámos num declínio civilizacional global com características circunstanciais diversas no Ocidente e nos outros países. Creio ser possível, mas difícil, de o inverter mediante uma transição civilizacional, mas estamos muito longe do colapso. Penso sobretudo que estão a nascer novas gerações, cerca de 353 mil pessoas por dia, com a capacidade de adaptação, a consciência, a vontade e a inteligência que têm caracterizado o Homo sapiens. Temos de fazer florescer a nossa esperança.


Filipe Duarte Santos, in Jornal o Público de 31/05/2013

Filipe Duarte Santos é professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e autor de vários trabalhos sobre alterações climáticas em Portugal e no mundo.

A Razão, o Passado, o Presente e o Futuro


Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Antero de Quental, Hino à Razão, in "Sonetos”

A ideia da série "Conversas Vadias" era confrontar o Professor Agostinho da Silva com perguntas das mais variadas personalidades da vida nacional. O jornalista e escritor português Manuel António Pina, falecido no ano passado e premiado em 2011 com o Prémio Camões, foi o interlocutor deste programa.

Começando por definir a sua ideia de poeta, "aquele que cria", Agostinho da Silva continua por aí fora, a explanar o seu pensamento.

A ideia de que todos nós devíamos morrer sem matar a criança que existe dentro de nós é outra teoria de Agostinho da Silva. Chega mesmo a fazer um trocadilho de palavras, considerando que ser adulto é ser adulterado.

Fala depois de novo dos homens do século XIII que foram, segundo o Professor, os arautos do futuro.

Com realização de António Marques Pinto, esta entrevista é mais uma interessante lição do Professor Agostinho da Silva.


Fontes: http://www.citador.pt/  
http://www.rtp.pt/programa/tv/p17695/e6;http://www.youtube.com/watch?v=ScQGh-RpD4M&list=PLB1cvCMdrns5lS7HC2nbJRWNNo1EVpKPP

A democracia, a crítica e o sofá de Freud


“Os que invalidam a razão devem pensar seriamente se estão a argumentar contra a razão com razão ou sem ela; se for com razão, estabelecem o princípio de que estão a trabalhar para a destronar; mas se argumentam sem razão (que, para serem coerentes consigo próprios, é o que devem fazer), estão fora do alcance da condenação racional e também não merecem um argumento racional.”

Ethan Allen*, in O Mundo Assombrado Pelos Demônios – A Ciência Vista Como uma Vela no Escuro de Carl Sagan (pág. 327)
 
Polemizar é debater ideias. Do debate brota a síntese, o caminho a seguir, embora haja quem marque passo.

Quem polemiza, justa ou injustamente, fica com travo amargo.

Quem escreve ou fala publicamente não escreve só por escrever, nem fala só por falar. Por diletantismo! Quer transmitir mensagens e ideias. De contrário, escreveria um diário íntimo ou usava um gravador para se ler ou se ouvir, ou mastigava silêncio que é ainda melhor.

Se a escrita ou a fala se dirigem à crítica social ou política vão gerar o tal travo amargo no criticado ou atingido, semeiam odiozinhos, coisas mesquinhas, muito pequeninas! Dissimulados de variadas formas.

Num espaço democrático, a participação cívica e política envolve, quase sempre, uma posição crítica, de discordância, onde se ponderam os dois pratos da balança: o opinador, os destinatários desta, os defensores e os adversários de um e outro.

É a participação cívica e política dos cidadãos na vida e enriquecimento democráticos.

É o “a, b, c” da dialéctica de um mundo democrático que, por isso mesmo, cada vez mais se sente em evolução e participativo.

A crítica pode operar-se com veemência, contundente, mordaz, mas deve ser lida como tal, crítica, modo diferente de ver e encarar as coisas, os problemas, os desafios que se colocam à República, à comunidade e ao indivíduo.

Bate o ponto aqui.

Uma palavra a mais, um dito a menos e infeliz, uma referência mais picante, odiozinhos antigos e dissimulados são erigidos a ofensas gravíssimas à honra e à dignidade.

Se o escriba avança a opinar discordantemente por aí fora, toda a honra fica abalada de dor, sofrimento e sangue.

A ofensa sobe quanto mais certeira foi a imputação!

Falam aí a ausência de poder de encaixe, a incapacidade de aceitação da crítica, a fragilidade das convicções, ao cabo e resto, défice de formação democrática.

O juiz penal é chamado para sarar a honra ofendida!

Se Eça de Queiroz cá voltasse (que jeito nos dava!), não haveria espaço em qualquer majestoso tribunal para arquivar os processos com que teria de alombar, cárcere onde o metessem, conta bancária que suportasse as indemnizações a pagar. Tal era contundente a sua crítica, corrosiva e certeira a ironia.

Mediocridades e pequenez! Convocar o juiz penal porque fulano ou sicrano no comentário ou opinião críticos não foi de destreza literária, causam grande fastio.

Há sábios de barriga a abarrotar de “ciência anónima, com vaga noção de tudo e conhecimento de nada”. Por aí pululam. Os “ressequidos”, Eça dizia. Não beberam uma gota “daquele leite de humana bondade..." de que falava o adorável Charles Dickens.

Atiram a pedra, ocultam a manápula!

Tomem o sofá de Freud!

 
Alberto Pinto Nogueira, Procurador-geral adjunto

in JORNAL O PÚBLICO (20/05/2013)

*Ethan Allen foi o chefe dos Green Mountain Boys, na tomada do Fort Ticonderoga.

Vida, Cultura e Trabalho




A Vida é cultura.
O homem é
Cultura das culturas,
é a cultura existencial.
As culturas são definidas como:
Hábitos,
Costumes,
Estilos de vida,
Arte,
Canção,
Poesia.

As culturas são diversas,
diversos são os povos,
e os povos têm
suas origens culturais.
Cultura exige cuidar,
e no cuidar da vida
ampliaremos o conceito
de cultura.

Se somos frutos de uma cultura,
Pensemos a originalidade que somos.
Se tudo o que fazemos demonstra cuidado,
Olhemos os desastres no universo.


 


Pensar é arte,
e arte é cultura.
A cultura do pensar
transforma o homem e
sua relação com o outro,
resultando em profunda
harmonia.


José Damião Limeira*



Este é mais um dos programas históricos que foram emitidos pela RTP em 1990, que foram gravados quatro anos antes da morte de Agostinho da Silva.

Por vezes críticas, por vezes divertidas, mas sem dúvida sempre abertas, francas e extremamente informativas, as Conversas Vadias mostram-se em muitas ocasiões admiravelmente atuais.
 
Neste episódio, Agostinho da Silva deixa claro que considera que a Educação de hoje está inteiramente comprometida. Sempre assertivo, explica que o problema não é dos alunos, mas sim das imposições de uma sociedade competitiva, que nos leva a considerar o trabalho como uma obrigação e não como uma ocupação de nosso gosto.


*José Damião Limeira, é um Filósofo, Poeta e Escritor brasileiro
Fontes: http://www.youtube.com/watch?v=g7JmgJ6wQKk http://www.pucrs.br/mj/poema-diversos-826.php