Antibes, um lugar cheio de história

Antibes é uma cidade de marinheiros e jardineiros, de apaixonados por Mozart e Ray Charles, em suma, de "amadores" de arte. Antibes tem o sotaque e as cores da Provença, mas também a paixão da Côte d'Azur, a sumptuosidade dos parques à inglesa e o dourado das suas praias...

Antibes terá sido fundada no século V ou IV a.C. pelos Fenícios de Marselha também conhecidos por massaliotas. Mais tarde foram os gregos que a ocuparam dando-lhe o nome de "Antipolis" e foi integrada mais tarde no Império Romano. Antibes foi também a sede de um episcopado desde o século IV até 1244, data em que a sede episcopal foi transferida para Grasse.
Mais tarde com a chegada dos Grimaldi, uma família genovesa aliada dos Angevinos (família mediéval constituida pelos Condes e Duques de Anjou, que detiveram o poder em Inglaterra, França e na Sicilia), que a partir daí estiveram muito presentes na Provença Oriental, ascendentes da mesma família que hoje detêm o poder no Mónaco, a cidade mudou de governantes.

Entre os membros dessa família, os irmãos Luc e Marc Grimaldi, filhos de António Grimaldi, tinham emprestado valores monetários ao Papa de Avinhão que não os pôde reembolsar por essa dívida. Por consequência, os irmãos Grimaldi tornaram-se senhores de Antibes, o mais belo porto da região, e aí estiveram até 1384. A cidade só foi integrada no território francês em 1860.

Antibes possui algumas magníficas ruínas da época romana. A cidade romana de "Antipolis" era fornecida com água, por dois aquedutos, que ainda hoje abastecem a cidade. O Aqueduto de Fontvielle que tem origem em Biot e abastece a zona ao longo da costa, e um segundo aqueduto, chamado o Aqueduto Bouillides ou Clausonnes, que tem início na zona de Valbonne e que abastece o resto da cidade.

Localizada na região dos Alpes Marítimos, a cidade de Antibes é dividida em vários bairros. Nela podemos citar apenas os mais conhecidos: A própria Antibes, o Cap d'Antibes e Juan Les Pins.

Em 1880, a localização actual em Juan-les-Pins foi "descoberta" pelo Duque de Albany, filho da rainha Victória. Naquela época, Juan Les Pins era rodeada por um pinhal e praias idílicas. Juan-les-Pins teve os seus dias gloriosos na década de 1920, quando os americanos trouxeram um certo estilo de vida à zona, que proporcionava já nessa época, o tão apreciado relaxamento, desfrutando do sol e da praia e até de tardes ou noites de... jazz.

O sucesso foi imediato. Qualquer cidadão europeu em férias e em especial a juventude endinheirada da época, em busca de diversão e até as mais famosas estrelas americanas da época, como Frank Jay Gould, Scott Fitzgerald e Douglas Fairbanks, estavam habituados a ir à Juan-les-Pins. Era o início dos "Loucos Anos Vinte", e após a Segunda Guerra Mundial, a exuberante atmosfera de Juan-les-Pins foi retomada novamente, tornando-se na época a "European New Orleans".

O Festival de Jazz de Juan-les-Pins entra na história do Jazz em 7 de Julho de 1960, data da sua inauguração, sendo o "Primeiro Festival Internacional de Jazz". Este evento foi criado por Jacques Souplet em colaboração com Jacques Hebey.

Este festival sem precedentes até então, reuniu orquestras de 13 países de toda a Europa, na esperança de ser nomeado o melhor festival europeu de Jazz. Dado o enorme sucesso do Festival, que continua a acolher em cada mês de Julho, os mais famosos músicos internacionais, contando todos os anos com os mais entusiasmados fãs!
A zona de Antibes propriamente dita, está localizada num local geograficamente notável, pois a cidade beneficia de estar situada numa península que avança pelo Mediterrâneo. Antibes desfruta de 25 km de litoral divididos entre enseadas, praias de seixos e praias de areia fina. Antibes possui cinco portos, incluindo Port Vauban, que é nada mais nada menos que a maior marina da Europa!

Esta península conhecida por Cap d'Antibes é uma zona de montanha coberta de pinheiros, onde se encontra um farol, o farol Garoupe. O sítio atrai inúmeras celebridades do mundo do cinema, principalmente os habituais no Festival de Cannes, o que aumenta a reputação do lugar.

Antibes deu o antigo nome, "Antipolis", a uma importante área de actividade da cidade, conhecida por Sophia Antipolis, localizada na zona de Valbonne, que agrupam as empresas de investigação e desenvolvimento em novas tecnologias.
O Museu Picasso, é um lugar a não perder, ocupando o Château Grimaldi em Antibes. Em 1946, Pablo Picasso teve a oportunidade de criar oficinas no palácio e em 1957, recebeu oficialmente o título de "Cidadão Honorário" da cidade de Antibes. Em 1966, o Château Grimaldi naturalmente tornou-se o Museu Picasso, onde existem cerca de 245 obras do artista.

Outro ponto de interesse famoso de Antibes é o Marineland, um parque aquático e um Dolphinarium, fundado em 1970 em Antibes, na costa mediterrânica, na estrada junto ao mar da Riviera Francesa.

Nenhuma cidade azureana nos oferece tantos encantos diversos e contrastantes como Antibes, sendo em suma, "a única de todas as cidades da Costa Azul que tão bem manteve a sua alma", como disse um dia Graham Greene.

O Fascínio de Cannes

Chegámos a Cannes já ao início da noite, e encontrámos o lugar de pernoita junto ao caís a Este da cidade, com vista para a baía, ao lado do Casino Palm Beach. Depois de uma boa noite de descanso e relaxe, no dia seguinte fomos de mota fazer o passeio pela cidade que demorou todo o dia, pelo que só voltámos à autocaravana à noite.

Verdadeiro símbolo de uma geração de estilo e glamour irrepreensíveis, esta serena e pacata vila francesa cedo se tornou no paradigma da boa vida, de momentos vividos no pleno das emoções, terra de sol e cheiro a lavanda que o vento trás, onde cada recanto transpira segundos de eternidade.

Repleta de estrelas e ofuscada por uma beleza quase perfeita, com os seus hotéis e cafés de charme que convidam a jornadas de descanso demorado, Cannes apropria-se de forma perfeita do aglomerado de pequenas casas de pescadores nas doces colinas que serpenteiam pelo Mediterrâneo, dos sorrisos fortes que evidenciam um prazer absoluto, do bronzeado perfeito que evidencia um mar de tentações em permanência.

O seu soberbo passeio maritimo, "La Promenade de La Croisette" enfeitado com palmeiras e jardins, é ladeado por praias de areia fina. Na marginal abundam lojas e hotéis de luxo, como o Carlton, construído em 1907, cujas duas cúpulas teriam sido inspiradas nos seios da Belle Otéro, uma personagem famosa do "demi-monde" de finais do séc. XIX. (Carolina Otero Iglesias, foi uma bailarina espanhola, de muitos e famosos amores, lindíssima, também conhecida como a "sereia do suicídio", que nascida pobre perto de Pontevedra, em 1868, seria considerada a mais famosa bailarina europeia, do início do séc. XX).
Desde a Idade Média até o início do século XIX, Cannes era uma pequena aldeia de agricultores e pescadores, cujo nome "Cannes" tem origem no desembarque de cana-de-açúcar, que nos primórdios era feito no seu porto. Foi totalmente revolucionada no início do século XIX, mais precisamente na década de 1830, quando os aristocratas franceses e até estrangeiros começaram a construir residências de férias nesta região, transformando-a gradualmente numa cidade turística por excelência.

A cidade antiga. no bairro Suquet, aparece nos socalcos sobre as colinas do Mont Chevalier. Parte da antiga muralha rodeia a Place de la Castre, onde fica a igreja de Notre-Dame d'Espérance, em estilo gótico provençal, construída entre os séculos XI e XIV para vigiar os piratas que se aproximavam da costa. Aqui podemos também encontrar a Rue du Suquet, uma ladeira estreita e cheia de restaurantes encantadores, que é sem dúvida uma das ruas mais frequentadas da cidade.

O responsável pelo crescimento de Cannes foi Lord Henry Peter Brougham (1778-1868). Naquela época, Lord Henry Brougham era um respeitado e talentoso político, que descobriu Cannes em 1834. Impedido de ir para Nice devido a um surto de cólera, instalou-se em Cannes, que era na altura um pequeno porto de pesca.

Seduzido pela beleza do local e pelo seu clima ameno, mandou construir uma mansão, encorajando os seus compatriotas a descobrirem também o local. Além disso e após ter comprado terras ao oeste de Suquet, serviu-se dos seus vários contactos com os políticos franceses, para ajudar a desenvolver a Riviera francesa.

Deu-se assim o primeiro passo para uma grande expansão que a tornou num concorrido destino de férias. Actualmente é uma das cidades do Sul de França mais conhecidas devido ao seu famoso festival de cinema que aqui acontece todos os anos em Maio. Nessa altura do ano os cerca de 70 mil habitantes, aprendem a lidar com o buliço que se cria em torno das estrelas que visitam a cidade.

Metrópole do cinema e das festas a um ritmo impossível, Cannes é também um perfeito exemplo de um ambiente descontraído e ligeiro, em que cada amanhecer é eterno e cada azul celeste a memória perfeita a ser retratada na máquina dos sonhos...

Saint-Raphaël

Saint-Raphaël e Saint-Tropez, são as duas localidades celebres pelas suas esplêndidas praias onde muitas "estrelas" e gente famosa passam as suas férias. O caminho de Saint-Tropez para Cannes, é feito por estradas sinuosas, cheio de enseadas de uma beleza de perder o fôlego.

Aqui o litoral mediterrâneo é feito de uma sucessão de pequenos portos de pesca e de portos marinhos, de praias e de vinhedos, até que se chega a Saint-Raphaël. Com a sua arquitectura Art Nouveau e uma alameda cheia de palmeiras, Saint-Raphaël deu-nos as boas vindas, toda iluminada para as festas de final de ano.

Saint-Raphaël é uma encantadora estância de veraneio na Côte d'Azur, encharcada de sol quase todo o ano, situada junto do enorme campo de golfe de Fréjus. Fréjus, logo ali ao lado, foi fundada por Júlio César em 49 a.C. e Saint-Raphaël foi o porto onde Napoleão Bonaparte desembarcou quando regressava do Egipto, em 1799.

Saint-Raphaël oferece todas as regalias da Riviera. Além das belas praias, tem um casino, uma bela marina e porto de pesca, uma igreja do séc. XII e um museu com destroços de um naufrágio, descobertos por Jacques Coustou.
Além destas possui muitas atracções para quem a visita. Em Fréjus, os vestígios do antigo porto romano "Forum Julli", como as suas ruínas, onde se destacam, um amplo e bem conservado anfiteatro, um teatro, vestígios de um aqueduto e ainda parte da porta de uma muralha. Este anfiteatro romano que foi outrora utilizado para entreter os soldados romanos quando estes estavam longe de Roma, mas hoje é o sitio utilizado para muitas touradas e concertos rock.

Nesta zona as distâncias entre cidades são muito curtas. Saint-Raphaël oferece as suas bonitas praias onde no Verão o "topless" é muito vulgar e onde se relaxa habitualmente durante os dias ensolarados, enquanto se usam as cidades mais populares de Cannes e Nice para o entretenimento nocturno.

Saint-Tropez

A estrada de Cassis até Saint-Tropez, fez-se já de noite e a chegada a Saint-Tropez, só se fez já após a hora de jantar. Depois de uma volta de reconhecimento pela vila, fomos procurar o lugar de pernoita, que por sorte se encontrava logo à entrada da vila, num grande parque vedado e com uma vista magnífica sobre o Golfo de Saint-Tropez.
O golfo à noite é todo salpicado de pequeninas luzes que o envolvem em toda a sua extensão, e que na manhã seguinte se pôde verificar que correspondiam às centenas de "Villas" que nas colinas à volta do golfo foram construídas a partir do "boom" turístico dos anos 60.

Saint-Tropez é uma pequena cidade no sul da França, no departamento do Var e é uma bem conhecida vila turística da Riviera Francesa. A cidade de Saint-Tropez, antigamente formada somente por uma vila de pescadores, é actualmente um dos pontos franceses mais badalados de veraneio, principalmente entre os jovens milionários e estrelas de Hollywood que aqui vêm adquirir um belo bronzeado.
Durante séculos, Saint-Tropez permaneceu escondida, uma vez que é a única cidade do litoral da região virada para o norte. Mais fria, portanto, manteve-se afastada dos turistas que buscavam férias mais aquecidas.

Mas Saint-Tropez foi realmente "descoberta" pela actriz Brigitte Bardot durante a filmagem de "E Deus Criou a Mulher" (1956). A transformação da cidade de vila de pescadores a importante ponto turístico, deu-se já nos anos 60, quando a actriz Brigitte Bardot e seu marido Roger Vadim se mudaram para Saint Tropez. A musa francesa trouxe junto com ela muitos fãs e admiradores de seu estilo de vida hedonista. Daí em diante, Saint Tropez nunca mais foi a mesma.

Fora o glamour que paira sobre Saint Tropez, o clima de vila de pescadores ainda pode ser sentido em alguns lugares. As construções históricas e barcos tradicionais, que brigam por espaço com enormes iates, dão a nova cara ao lugar.

Segundo a lenda, "Saint-Tropez" tomou o nome de um mártir, St.Torpes, um soldado romano que se converteu ao cristianismo, pelo que foi martirizado por ordem do Imperador Nero. Foi decapitado e o seu corpo foi jogado num barco, que ficou à deriva no mar. Mais tarde o barco deu à costa, num lugar a que deram o nome de St.tropez. Esse lugar estava situado num golfo, que tomou o nome de Golfo de Saint-Tropez.

Entre 1470 a 1672, da cidade foi governada pelos capitães de St.Tropez como uma pequena república independente. Cada capitão tinha direito de levantar um exército em terra, que foi realmente utilizado pela primeira vez em 1637, para conduzir à distância os galeões espanhóis que por lá passaram.
Este local estava nessa época, isento de impostos ao governo francês. No entanto, o Rei Louis XIV apoderou-se da cidade e esta foi colocada sob o controle da França. Mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas aliadas desembarcaram nas praias à volta de Saint-Tropez e a vila foi bastante bombardeada.
No centro antigo de Saint-Tropez, agraciado por ruas estreitas e construções coloridas, encontra-se a Torre Suffren, construída no século X, quando voltou a reinar a paz, após a queda do Império Romano.
Na colina a oeste, fica a Citadelle (cidadela), um forte do século XVI. Não à toa é de lá que se tem um dos mais amplos e belos panoramas da vila. Atrás da Citadelle, ainda mais a oeste, chega-se à reservadíssima praia dos Graniers. No Inverno, sem o movimento habitual do tempo quente, este é um óptimo ponto para se descansar em silêncio.

Em 1892, Paul Signac foi um dos primeiros a ser seduzido pelo charme de um local que conservava todo o seu encanto natural, tendo convidado pintores seus amigos, como Matisse, Bonnard e Van Dongen, para se lhe juntarem.

Cerca de 1920, Sidonie Gabrielle Colette, famosa escritora francesa, instalou-se em Saint-Tropez, e na mesma época a chegada de celebridades como o Principe de Gales atraiu um número crescente de curiosos.
Mais tarde, St.Tropez começou a crescer e atrair estrelas internacionais a partir de 1920, mas o seu reconhecimento internacional surgiu só após 1960, não só graças à famosa estrela Brigitte Bardot, mas também devido ao famoso filme da série "Le gendarme de Saint Tropez", que trouxeram a pequena vila de pescadores para a ribalta.
Para além de tudo isto, os aromas e sabores da França parecem ganhar força e destaque na pequena Saint Tropez. A cada esquina queijos, vinhos, pães, canapés e uma infinidade de pratos bem elaborados aguçam o paladar...

Cassis

Após termos saído de Marselha, resolvemos fazer a costa mediterrânica até Saint-Tropez. Por estradas estreitas em cima de falésias, lá fomos até Cassis. A viagem entre Marselha e Cassis é inesquecível, pois a costa forma "as calanques", pequenas enseadas rodeadas de falésias que chegam a ter 400 metros de altura. De todas elas destacam-se as calanques de Sourmiou e de d'En-Vau, que são absolutamente encantadoras.

Muitas das vilas costeiras desta região foram urbanizadas sem qualquer tipo de planeamento, tendo perdido o seu encanto original, mas Cassis permaneceu inalterada, mantendo o aspecto do seu pequeno porto, que já seduziu tanta gente famosa.
Nele pode-se aproveitar para relaxar numa esplanada á beira-mar, observando os pescadores ou os artistas de rua, nas suas lides, enquanto se saboreia marisco fresco e vinho branco seco local, devido ao qual Cassis é famosa.

O Chateau de Cassis, que fica no alto de uma falésia, junto à vila de Cassis, foi outrora um castelo medieval, originalmente construído em 1381, sendo hoje um elegante hotel. Este magnífico hotel dispõe de cinco luxuosas suites, cada uma delas com vista para o mar Mediterrâneo e para a pequena vila de Cassis, onde os acessos aos quartos são feitos por escadas ou túneis.

A fauna selvagem da região é muito rica, com aves aquáticas, raposas, martas, morcegos, serpentes e lagartos. A flora também é impressionante, com mais de 900 espécies, das quais 50 são classificadas como raras. A não perder...

Le Corbusier, o pioneiro da arquitectura moderna

Le Corbusier foi um arquitecto francês de origem suíça (6/10/1887-27/8/1965). Nasceu em Le Chaux-de-Fonds, estudou artes plásticas e antes dos 20 anos, viajou pela Europa, conhecendo os maiores arquitectos da sua época.

Ele foi um dos maiores homens das formas que o mundo já conheceu, sendo considerado o arquitecto mais importante do século XX. Escreveu vários livros, era exímio pintor e escultor e também designer de móveis modernos.

Le Corbusier era o sobrenome do avô paterno, que ele adoptou para servir de pseudónimo e assim ficou conhecido em todo o mundo. Seu nome de nascença era Charles-Edouard Jeanneret, mas ele dizia que todos nós temos o direito de nos reinventar-mos, pelo menos uma vez na vida. Saiu da Suíça aos 29 anos e foi para Paris, onde achava tudo muito chato (a Art Nouveou e a Art Deco) e dizia muitas vezes, “temos que recomeçar do zero”. Foi o pioneiro da arquitectura moderna.

O contacto com as formas geométricas do cubismo leva-o a conceber a simplificação das manifestações artísticas do século XIX. Em 1922, no Salão de Outono (Paris), expõe seu primeiro projecto sobre uma cidade contemporânea de 3 milhões de habitantes.

Em 1933 redige a Carta de Atenas, código de princípios gerais que prevê a supressão do traçado das cidades baseado em ruas e quarteirões e propõe a implantação do zonas selectivas, com uma divisão de áreas segundo quatro funções num mesmo conjunto habitacional, (habitar, trabalhar, circular e recrear).

A sua ideia é posta pela primeira vez em prática na cidade de Marselha (França) após a II Guerra Mundial. Le Corbusier chamou-lhe "La Cité Radieuse", ou Unidade de Habitação de Marselha, e pretendia ser um complexo residencial radical.
O projecto serviu como primeira oportunidade para Le Corbusier pôr em prática as teorias de proporção e escala que viriam a dar origem ao Modulor (sistema de proporções que surgiu do desejo de seu autor de não converter ao sistema métrico decimal as unidades como pés e polegadas. Em vez disso, Le Corbusier passou a referenciar as medidas modulares baseadas nas proporções de um indivíduo imaginário, inicialmente com 1,75 m e mais tarde com 1,83 m de altura).

Ao mesmo tempo, constituía uma visão inovadora de integração de um sistema de distribuição de bens e serviços autónomos que serviam de suporte à unidade habitacional, dando resposta às necessidades dos seus residentes e garantindo uma autonomia de funcionamento em relação ao exterior.
Esta natureza auto-suficiente pretendida por Corbusier era a expressão de uma preocupação que começara a reflectir desde os anos 20, na sua análise aos fenómenos urbanos de distribuição e circulação que se começavam a repercutir-se na sociedade moderna, consolidando os conceitos que vinham a desenvolver-se em torno da ideia moderna de habitar.

Em 1936 visita o Brasil e do seu contacto com os arquitectos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer influencia o surgimento de uma nova arquitectura no país. Nas décadas seguintes, dedica-se a trabalhos teóricos e projectos em diversos países.

Morre em Roquebrunne-Cap-Martin, França, aos 78 anos, afogado no Mediterrâneo. O seu velório foi no Palácio do Louvre em Setembro de 1965. O seu legado influencia até hoje o mundo da arquitectura, arte e design...

Marselha, uma cidade cativante

Deixámos Carcassonne ao final da tarde, quando já se adivinhava a noite, tomando em seguida o caminho de Marselha onde chegámos por volta das 21h00. O local de pernoita foi junto ao cais do deslumbrante Porto Velho, centro vital da cidade de Marselha.
Na manhã seguinte fomos visitar a cidade, primeiro a pé e durante a tarde percorremos toda a cidade a bordo de um autocarro turístico que nos levou a conhecer os pontos turísticos mais emblemáticos da cidade de Marselha. O dia estava muito frio e o passeio turístico no primeiro andar, na parte descapotável do autocarro fez com que eu literalmente congela-se.

Marselha (Marseille em francês e Marselha em Provençal) é a segunda maior cidade de França, localizada na antiga província da Provença, na costa do Mediterrâneo, é o maior porto comercial do país. A cidade que deu o nome ao hino nacional francês "La Marseillaise" tem este título por causa das tropas revolucionárias e heróicas de Marselha.
Marselha foi fundada (em 800 a.C) e povoada pelos gregos no século VII a.C. Foi invadida por celtas e depois conquistada pelos romanos, sendo esta passagem para o domínio romano feita em 49 a.C. Na antiguidade era um porto de comércio e tinha a designação de Massilia. Este porto tornou-se a porta para o oeste para boa parte do comércio oriental.

A grande maioria dos marselheses é de descendência originária das ondas de imigrantes que chegavam ao porto no começo do século XIX, tal como arménios, espanhóis, italianos, gregos, árabes, judeus, russos e norte-africanos. Aproximadamente 25% da população de Marselha é de origem norte-africana, na maior parte argelinos e tunisinos. A sua comunidade judaica é também a terceira maior na Europa.
A cidade está situada entre as montanhas e o Mediterrâneo, possuindo mais de 26 séculos de rica história e fácil acesso aos encantos da região da Provença. É uma combinação única de herança cultural e riqueza, com intensa vida cultural e paisagem espectacular, devido a sua baía e às famosas "Calanques" (falésias).

As pequenas enseadas que salpicam a costa de Marselha, por vezes com uma praia resguardada, merecem um passeio. É uma boa forma de escapar ao bulício da cidade e de desfrutar da sua vertente mediterrânica.

O porto de Marselha é o maior do país, e um dos mais importantes do Mar Mediterrâneo, possuindo estreitas ligações com o Oriente e a África do Norte. Embora Marselha possua a fama de corrupção e tráfico de drogas, é uma cidade alegre e cosmopolita.

O crescimento de turistas que visitam a cidade e a sua região faz com que mais e mais pessoas se encantem pelas belezas da cidade e da região. As ilhas próximas também atraem bastante visitantes, sendo a mais famosa é a ilha que possui o Château d'If, fortaleza do século XVI, que foi uma antiga prisão, famosa pelo romance "O Conde de Monte Cristo" (romance da literatura francesa escrito por Alexandre Dumas, concluído em 1844 e que embora ficção, foi várias vezes tratado em filme, tomando uma aura mística).

Neste romance, o jovem e destemido marinheiro Edmond Dantes é um rapaz honesto e sincero, cuja vida pacífica e planos de se casar com a linda Mercedes são abruptamente destruídos quando Fernand, seu melhor amigo, que deseja Mercedes para ele, o trai. Com uma sentença fraudulenta para cumprir na infame prisão da ilha do Castelo de If, Edmond vê-se aprisionado num pesadelo que dura 13 anos, no fim dos quais volta para impor a sua vingança.

As ruas estreitas de Marselha, as suas praças tranquilas e as suas belas fachadas do séc. XVIII, contrastam com a agitação do Boulevard Canebiére ou com a "Cité Radieuse", ou Unidade de Habitação de Marselha, é um complexo residencial radical de Le Corbusier.

A Unidade Habitacional de Marselha é um dos projectos icónicos de Le Corbusier e uma daquelas referências básicas de qualquer arquitecto. Começou a ser planeada imediatamente após a Segunda Guerra Mundial (1945-46), entrando em construção em 1951. O edifício projectado para 1600 habitantes consiste numa enorme construção de 140 metros de comprimento de fachada, 24 metros de largura e 56 metros de altura, e previa o funcionamento interno de mais de 26 serviços independentes. Cada piso contém 58 apartamentos, projectados no famoso sistema dominó, com acesso a um grande corredor interno idealizado para funcionar como comunicação em profundidade e passagem.

Outra grande atracção da cidade é o Mercado do Peixe, que acontece no Porto Velho. Este pitoresco mercado que todas as manhãs se instala no Quai des Belges, sendo por si só uma excelente atracção turística. Além disso, a cidade tem dezenas de museus, que contam e ilustram a rica história de Marselha. A Notre-Dame-de-la-Garde e o Cours Julien, um bairro tido como o local de encontro da cultura alternativa marselhesa (onde vive a maioria dos emigrantes, sobertudo de África e onde os "graffitis" são quem mais ordena no visual colorido do bairro), são também locais a visitar.

Para trás ficaram os difíceis anos de mafiosos e contrabandistas. Hoje, a Marselha moderna é uma cidade rejuvenescida que nos deslumbra com o seu Porto Velho e as suas características únicas.

A região do Languedoc e os Cátaros - "Os Puros"

A Idade Média foi uma etapa da história muito marcada pela pressão religiosa, imposta desde Roma e materializada através da tão temida Inquisição e das Cruzadas, tanto na Terra Santa como pela Reconquista da Península Ibérica aos mouros.

Os Cátaros, do grego katharos, que significa puro, formavam uma seita cristã da Idade Média surgida no Limousin (França), na região de Languedoc e no Norte da Península Itálica, no final do século XI. A doutrina cátara diferenciava-se da doutrina católica em alguns dos principais "pilares" da doutrina católica.

Os cátaros eram seguidores inequívocos de Jesus. Justificavam a sua predilecção pelas Sagradas Escrituras, com especial ênfase pelo apóstolo João. Muito próximos do cristianismo primitivo, observavam em grande parte os seus rituais e práticas e o modelo de organização e por último, propunham um modelo de salvação baseado na recepção de um único sacramento, a extrema-unção, a que chamavam o "consolament", o sacramento da salvação.

Para eles, o livro sagrado era a Bíblia, em particular o Novo Testamento, mas segundo a sua crença, Jesus não era filho de Deus, mas apenas um profeta importante. Eles também recusavam a hóstia sagrada (apenas repartiam o pão nas suas cerimónias) e não admitiam distinção entre sexos, permitindo inclusive que mulheres celebrassem ritos religiosos. Na época medieval, os Cátaros também chamados de albigenses, foram considerados hereges sendo perseguidos até à morte.

Os cátaros viam-se como os verdadeiros sucessores dos apóstolos e divulgavam que o seu cristianismo era o autêntico, enquanto o de Roma não passava de uma manifestação do Diabo. Com uma face reformadora, o movimento pregava o retorno ao evangelismo primitivo, enfatizando a pobreza pessoal e a ausência de hierarquias clericais, em detrimento da acumulação de bens e de poder tão valorizado pela Igreja Católica na época. Seus seguidores também praticavam a castidade e ajudavam os doentes e necessitados.

Além disso não reconheciam a autoridade Papal ou dos bispos, dividindo os seguidores da religião em três níveis: Perfeitos, Crentes e Ouvintes. Os Perfeitos ou "bons homens" praticavam o celibato e passavam os dias em oração e em jejuns. Eram excelentes oradores. Os Crentes praticavam a virtude e a humildade, mas não eram obrigados a abstinências. Os Ouvintes eram simpatizantes da religião, acompanhando as palestras dos Perfeitos.

O chamado "Pays Cathare" (País Cátaro) estendia-se pela zona chamada Occitania, actual Languedoc, numa extensão fronteiriça entre Toulosa (actual Toulouse), até ao oeste, nos Pirinéus, e até ao sul, no Mediterrâneo e deste até leste. Em definitivo, uma área política que, durante o século XIII e em plena época medieval, era limitado entre o reino de Aragão, França e condados independentes como o de Foix e Toulouse.

O mais curioso nesta cultura era o cuidado de construir os seus castelos e abadias em cima de precipícios e inacessíveis colinas, em locais o mais elevados possíveis, razão pela qual, na actualidade, os fazem turisticamente muito atractivos, não só pelas suas extensas vistas sobre o horizonte, mas também pela possibilidade de se observarem paisagens impressionantes.

Militarmente, apesar de terem o apoio de pequenos condados, muitos dos cátaros não conseguiram resistir ao genocídio das cruzadas, mas estas não conseguiram erradicar totalmente o catarismo de forma definitiva. Foi a Inquisição, a instituição que realmente conseguiu exterminar definitivamente o catarismo.