2º Dia - Marvão



A meio da tarde do dia 3, resolvemos ir até Marvão, porque além da procura do descanso nesta belíssima região, a terceira edição de "Al Mossassa", Festival Islâmico de Marvão, que ocorreria neste fim de semana de 3 a 5 de Outubro, foi também motivo que reforçou a nossa escolha.

Com a autocaravana estacionada debaixo de uma macieira bravo de esmolfe, tirámos a mota e lá fomos nós para Marvão, para vermos como paravam as festas islâmicas da vila. A tarde era soprada por um vento frio que nos obrigou a vestir casacos quentes, pois Marvão lá no alto devia estar mais soprado ainda.

No caminho, a estrada contorce-se nas vertentes. A cada curva Marvão cresce. A linha de muralhas ganha nobreza e uma dimensão inexpugnável. Em torno a paisagem abre-se e, nas serranias, toma vulto o pico da Serra de São Mamede, para lá dos 1000 metros de altura.

A muralha rasga-se e Marvão abre-se pela Porta de Rodão. O arco desenha uma sombra convidativa e um recobro de frescura separa os dois territórios inundados pelo sol. A vila revela a sua intimidade. A pedra escura das muralhas mostra o seu espírito acolhedor e a luz meridional atinge a cal do casario ofuscando o nosso olhar. E aqui está a vila de Marvão, uma das mais lindas vilas do Alentejo.

Fachadas, janelas, telhados, varandas, portas tomam, gradualmente, forma, emergindo de um mundo de claridade. Estamos na Rua de Cima, estreita, calcetada com pedregulhos toscos. Propomo-nos a um deambular em sossego, adiando o momento que nos abrirá os grandes horizontes junto à muralha.

Por enquanto o passeio é intimista e convida-nos aos pormenores. Reparamos nas janelas cuidadas, nas varandas em ferro forjado, nos quintais acanhados repletos de frescura, nos canteiros mimosos, abrigados na sombra, correndo todo o comprimento das fachadas, uma bênção para as minúsculas flores silvestres que se aninham nos recantos viçosos.

O ar enche-se com chilreios. Um assomo de vida que, de certa forma, preenche o vazio humano que sentimos na povoação. Marvão não foge à desertificação, denominador comum, ao interior de Portugal. Vivem na vila das muralhas perto de 200 habitantes. O passado faz-se com histórias de muitas partidas, quer para as grandes cidades, quer para a emigração.

Há, também, mais recentemente histórias de redescoberta da vila. Reabilitam-se casas, embora os novos habitantes sejam, na grande maioria, sazonais. Viver hoje nestas alturas já não é degredo, nem tão pouco maldição. Um dito antigo afirmava o lugar como “Malvão”, porque os habitantes estavam condenados àquela altitude.

Um frio invernal, mergulhado em céus tumultuosos, faz da vila um ermo onde a agricultura era, e é, impraticável, um lugar para onde se ia não por vontade própria mas forçado. Não obstante a localidade cresceu e, por volta do século XVI, chegou a contar perto de 1500 habitantes.

Marvão é história antiga, com o berço provável nos ímpetos belicistas de Ibn Maruán, o mouro que fundou um reino independente e que, pelo século IX da nossa era, terá construído no local uma fortaleza. O primeiro extracto da, como foi apelidada, “fábrica eterna” de fortalezas, um plano de construção de sucessivas muralhas que atravessou toda a nossa história.

Marvão impôs a resistência dos seus flancos a sucessivas vagas de conquista. Espanha espreitava nas proximidades. Do penhasco à fronteira contam-se apenas 12 quilómetros de distância. Em seguida a geografia urbana abre-se no Largo do Pelourinho frente ao antigo edifício dos Paços do Concelho (séc. XVI) que albergou o Tribunal e a Cadeia. Actualmente o imóvel funciona como Casa da Cultura. Prosseguimos, numa subida que acompanha os relevos escarpados do dorso rochoso.

Tomamos a Travessa do Padre Júlio e encontramos um antigo forno que serve de padaria tradicional. Assalta-nos uma memória de pão caseiro, uma couraça áspera abrigando um miolo macio e fumegante. Chegamos tarde. O pão é labor das alvoradas. O pão já se encontrava frio.

Na Rua Dr. Matos Magalhães encontramos o edifício antigo da escola primária. Olhamos agora para o dramatismo das muralhas que se entrecruzam sobre as escarpas. No Museu Municipal, instalado na antiga igreja de Santa Maria, que encerra um acervo muito interessante, oferecendo uma viagem pela história local, com arte sacra, arqueologia e etnografia.

Deambulamos por uma linha de tempo que liga o Paleolítico até ao século XXI, desde os mistérios que erigiram os colossais menhires da região. Mas há muito mais: os bordados com casca de castanha (não fosse este o reino da dita), as flores de papel, o vestido de noiva negro com a mantilha longa, próprio de moça de boa família, com posses... Se fosse pobre não teria véu...

Passear nas ruas desta vila torna-se um prazer, pela beleza da escala das ruas e das suas casas, todas muito bem recuperadas. No entanto a calma que paira nesta vila, é por si só um bom motivo para aqui passar o fim-de-semana.

1º Dia - Portagem


No dia 2 de Outubro depois do almoço rumamos ao Alto Alentejo, com o intuito de descansarmos das agruras do trabalho, em locais onde a tranquilidade se entranha para nos deixar ao fim de alguns dias com o repouso no olhar.

A noite do dia 2, quinta-feira foi passada à margem da piscina fluvial da Portagem, localidade situada no sopé do monte que suporta a bela vila de Marvão. Situada em plena Serra de São Mamede e a escassos quilómetros de Espanha, a tranquila Portagem foi abrigo seguro e repousante a dois autocaravanistas esgotados que ali quiseram pernoitar. A sensação de segurança foi confirmada pela presença de uma brigada de polícia que por vezes ali passava.

O acordar fez-se já pela hora de almoço do dia 3, e ali bem perto, no pequeno bar junto ao rio Sever petiscámos um prato de apetitoso "Leitão Frito em d'vinha de alhos", acompanhado de pão e vinho da região.

Na Portagem o rio Sever de águas límpidas e frias é utilizado como praia fluvial, e o complexo de piscinas e parque de lazer está muito bem conseguido, tendo resultado num belíssimo ponto de repouso e lazer não só para as gentes da terra, mas também para quem a visita. A corrente vai mansa nesta época do ano e o açude retém as águas, acomodando-as numa grande e bela piscina fluvial. Próximo, a ponte e a Torre, tornada homenagem aos milhares de judeus que por aqui passaram fugidos de Espanha.

Na Portagem, assim chamada, porque nela os judeus expulsos de Espanha pelos Reis Católicos, pagavam a "portagem" para entrar em Portugal pela ponte romana, ainda existente no local, junto ao complexo de lazer, bem como a torre militar que, então, fazia a fronteira. Acima, ao fundo, na escarpa granítica a pique as muralhas, o castelo e o casario de Marvão.

As escarpas tornam-se espanto redobrado quando percebemos que as alturas revelam um esforço humano colossal com onze séculos. Ali, onde supomos habitar somente o vento, percebemos que a rocha suporta muralhas. Atrás, destas, assomando timidamente, o ocre dos telhados e uma ou outra torre alva mais atrevida. Vive ali gente, entre as nuvens, o voo das aves e os ventos das alturas. Em breve, durante a tarde do dia 3, a estrada sinuosa, encaracolando monte acima, leva-nos até ao coração da vila de Marvão.

O monte que suporta Marvão, no coração do Parque Natural da Serra de São Mamede, obriga-nos a, invariavelmente, torná-lo protagonista de quase todas as histórias do lugar. A Serra do Sapoio, é dramatismo geológico, esforço acrescido da natureza para congeminar relevos.

Depois do almoço, fomos ao encontro do local programado por nós para as pernoitas seguintes, o Parque de Campismo Rural da Asseiceira, (de um cidadão inglês, que mal falava o português, pois estava cá há sómente 6 meses), situado perto de Santo António das Areias, na encosta norte de Marvão, onde se ouviam além do frequente cantar dos pássaros, as "vozes" tão interessantes das vacas, cabras e ovelhas que pastavam por aquelas bandas. Uma delicia...

Fim de Semana no Alto Alentejo

Para o fim de semana de 3, 4 e 5 de Outubro de 2008, escolhemos a região do Alto Alentejo, que é hoje uma das zonas mais apreciadas pela população citadina, para escapar do bulício diário e aproveitar toda a calma profunda desta excepcional região, para refazer energias.

Por entre um variado mosaico de searas, montados, carvalhais, castanhais, olivais, pinhais, eucaliptais, vinhas, hortas e pomares, matos e matagais, bosques, cursos de água e albufeiras, ergue-se a majestosa Serra de São Mamede, com as suas imponentes e vigorosas cristas quartzíticas, que é o elemento fulcral e determinante de todo o ambiente natural e cultural do Norte Alentejano. A Serra de São Mamede, corpo central do Parque Natural com o mesmo nome, é um misto diversificado de paisagens, resultado de uma cooperação quase sempre harmoniosa entre o Homem e a Natureza. Por entre a paisagem natural tipicamente serrana, caracterizada por meios rochosos, agrestes e nus, prolifera uma enorme variedade de biótopos e habitats: reside aqui o limite sul de distribuição de muitas espécies e comunidades vegetais tipicamente atlânticas.
O vento que vem das serras traz consigo histórias antigas de menhires, deixando em aberto outro tanto por desvendar... É uma delícia percorrer todas as suas planícies salpicadas aqui e além de pontos imaculadamente brancos, que são os "montes" onde podemos encontrar pessoas de uma hospitalidade sem fim. Inalar profundamente o cheiro da terra, um cheiro tão característico que não pode ser confundido com nenhum outro, aproveitando a sombra dada por qualquer das árvores típicas da região, é absolutamente inesquecível.

Saborear os apetitosos pratos da tão rica gastronomia alentejana, acompanhados por um dos seus famosos vinhos, é coisa que não se deve perder. A escolha é grande e variada, no entanto recomendam-se as entradas regionais de enchidos da zona e a “Sopa de Tomate com ovos escalfados”. O “Bacalhau salteado com cebola, azeite e alho” e o “Cachafrito com batata frita em azeite”, e quanto aos pratos fortes, brilham a “Alhada de Cação” e as “Migas de batata com carne de porco frita”, e para finalizar com chave de ouro, nada melhor do que uma “Salada de frutas com nozes, azeite e mel” ou um “Arroz doce”. Bem especial!

Salamanca


Depois de termos ficado uma noite em Zaragoza, e depois de um almoço em que se degustou uma tenra chuleta de ternera com acompanhamento de saborosos espargos frescos grelhados, partimos direito a casa. Depois de muitos e cansativos quilómetros, fez-se uma paragem obrigatória em Salamanca, para se descansar e jantar, para depois de uma última etapa chegarmos ao nosso local de abrigo permanente.

Salamanca, cidade espanhola e mística... Cheia de monumentos ímpares... Cidade espantosa... Salamanca é considerada por muitos, uma das cidades mais excepcionais de Espanha pelo seu valor histórico, artístico e cultural.
Situa-se na comunidade de Castela e Leão e tem cerca de 200 mil habitantes. Desde dos tempos pré-históricos até à actualidade, que a região salamanquina é habitada. Foi testemunha de muitas civilizações importantes e todas elas ergueram monumentos religiosos e civis, excelentes exemplos da arte arquitectónica europeia.

Tornou-se na Idade Média, um importantíssimo centro cultural por causa das universidades. A mais antiga da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa. Por isto e muito mais a cidade foi declarada pela UNESCO (em 1988), Cidade Património da Humanidade e em 2002, Cidade Europeia da Cultura.

A Plaza Mayor é sem dúvida o monumento mais belo de Salamanca. É de estilo barroco e as obras começaram em 1728. Um magnífico Balzac, esculpido por Rodin, ergue-se no centro da Plaza Mayor. Ponto de encontro, e de passagem obrigatória, nela palpita o coração de Salamanca.

Aqui situa-se o Ayuntamiento de Salamanca, equivalente à Câmara Municipal. Possui também diversas catedrais: a Catedral Vieja (Sec. XII) e a Catedral Nueva (Sec. XVI). Possui também diversos conventos como o de San Esteban e de Santa María de las Dueñas.
O centro histórico agrega-se em torno dos seculares edifícios da Universidade (onde já não são dadas aulas, remetidas, entretanto, para um campus), mas o rendilhado de pedra, que ganha um delicioso tom rosa quando iluminado pelo sol, está presente um pouco por todo o lado.

Miguel Unamuno, que não nasceu aqui, embora se tenha identificado até ao fim com Salamanca, falou de "corales de oro que reverberan al sol desnudo del invierno". Estava certo...
A Universidade é o monumento que mais importância trouxe a Salamanca, mas existem mais universidades e colégios importantes. Tem também, inúmeras casas e palácios. A Casa de Las Conchas possui uma fachada curiosa, toda ela é ornamentada por conchas. O Palacio de Monterrey é majestoso e existem muitos mais palácios e casas em Salamanca.

Por fim vem os museus... Como por exemplo o Museo de Salamanca ou o Museo de Historia de Salamanca. Salamanca é uma cidade calma, sem multidões, sem problemas de trânsito, sem barulho. Uma cidade na qual o tédio não existe, e onde sempre existe algo de novo para se ver. Vale mesmo a pena conhecer esta cidade mística...

Até Sempre Barcelona...

Barcelona, orgulhosa, soberana no sentir do seu povo, hospitaleira e acolhedora, local de derrotas históricas e de vitórias recentes, vitórias que se comemoram colectiva ou individualmente de cada vez que um visitante resolve tomar para si a chave da cidade e transformá-la na sua cidade adoptiva.

Da história catalã rezam várias tentativas de conquista de soberania nacional, nunca verdadeiramente alcançada, mas apesar dos revezes o orgulho de ser catalão mantém-se intacto, facto que pode ser comprovado na festa nacional anual celebrada a 11 de Setembro, a "Diada", à qual nós assistimos por estarmos lá nessa altura.

Neste dia tão especial para os habitantes da Catalunha, celebra-se uma derrota! Uma derrota militar onde a soberania nacional ficou mais uma vez longe do horizonte deste povo. A dança, como já se referiu chama-se "la sardana" e a coreografia interpretada por vários círculos de pessoas de mãos dadas é intimista e simples a contrastar com as danças tradicionais de outros povos em que a alegria é o sentimento a realçar.

Virada para o Mediterrâneo, Barcelona soube crescer de uma forma ordenada e integrada. Este crescimento conheceu as suas raízes no projecto urbanístico concebido em 1856, cuja filosofia assentou na integração das aldeias próximas, derrubando as muralhas medievais e abrindo a cidade às zonas circundantes e a ventos promissores.

De malas feitas com o propósito de mais uma vez abandonar a cidade a contragosto, e junto à Praça da Catalunha, petiscar qualquer coisa, e depois viajar rumo a Portugal...
A viagem de regresso, foi feita sempre por auto-estrada, com uma paragem aqui, outra acolá e chegada após mais 2 dias a Portugal. Talvez antes... Mas isso dependeria do trânsito, da disposição, da viagem propriamente dita, sendo sempre desta forma que encaramos as viagens de regresso, desde que haja tempo.

ADEUS BARCELONA, até sempre...

A Sardana, uma Dança Peculiar

Na região da Catalunha, a dança que marca como símbolo da cultura catalã e que reside numa tradição bem antiga é a chamada "sardana". É a dança nacional da Catalunha e um poderoso símbolo de unidade, de identidade e orgulho catalão e em Barcelona existe inclusive um monumento para reverenciá-la.

A sardana é uma dança de roda, tradicional da região autónoma espanhola da Catalunha. A sardana é mais complicada do que parece e é dançada em círculo por um número indeterminado de pessoas. O êxito da sardana depende da precisão com que os dançarinos contam os passos, curtos e longos, bem como os saltos, o que explica os seus rostos muito sérios.
Os participantes dão as mãos, que ficam levemente erguidas, e realizam os passos correctos, às vezes mais suaves, e noutras, mais saltados, mas sem girar muito. O acompanhamento musical é feito por uma orquestra ao vivo, designada de "Cobla", uma banda de 11 pessoas, de instrumentos populares.
A banda tem um líder, que toca uma espécie de flauta com 3 buracos, a "flabiol", e um pequeno tambor, a "tabla" (uma espécie de pandeireta), que define o ritmo. Na "cobla", há 5 tocadores de instrumentos de sopro, feitos em madeira, e 5 tocadores de metais. Quando a música começa os bailarinos dão as mãos e formam círculos. A sardana dança-se nos fins de semana, nas festas locais e em reuniões especiais, "as aplecs".

A origem da dança é incerta, embora seja possível relacioná-la com os antigos gregos, já que a semelhança na forma de dançar é muito grande. Existem diversos testemunhos que provam a sua existência já no século XIII, mas as referências mais concretas indicam que ela já exista desde o final do século XVI.

Esta dança tradicional catalã, pode ser observada durante todos os meses de Verão, no final da tarde ou em serões. Na cidade de Barcelona, os pontos quentes incluem Plaza Jaume I ao domingo à noite, assim como a vizinha praça junto da Catedral de Barcelona, nas tardes de sábado.
Na rua, numa praça, num parque da cidade, ou em frente a Catedral de Barcelona, por exemplo, podem encontra-se dançarinos de sardana, e qualquer pessoa entra e dança. É divertido e uma óptima oportunidade para contactar com as gentes barcelonesas. Se numa próxima viagem, resolver passar por Barcelona, e a oportunidade aparecer, nem se deve pensar em ter vergonha ou sentir insegurança, o que interessa é experimentar. Não se deve perder um óptimo momento de descontracção!...

A Catedral de Barcelona

No centro do Bairro Gótico, bem no coração de Barcelona, a catedral gótica é também conhecida como La Seu. A catedral é oficialmente designada por Catedral de la Santa Creu i Santa Eulália (Santa Cruz e Santa Eulália), e está situada na Plaça de la Seu.
Também é dedicada à Vera Cruz ou Santa Cruz (cruz onde Jesus foi executado), e a Santa Eulália, que nos dias de hoje, é mais celebrada como a Virgem de las Mercedes, patrona da Arquidiocese de Barcelona, uma jovem donzela que, de acordo com a tradição católica, sofreu o martírio durante a época romana.

A primeira igreja no local foi construída por volta do século VI. A actual construção foi realizada entre 1298 e 1430, à excepção da sua fachada gótica que foi construída em 1913 durante a redescoberta do encanto da Barcelona medieval.
Já em 343 d.C. durante o Império Romano, uma basílica foi construída no local da actual catedral. Em 985 a basílica foi destruída pelos Mouros, liderados por Al-Mansur. Foi substituída por uma catedral romana, construída entre 1046 e 1058. A capela romana, a Capela de Santa Llucià, foi acrescentada entre 1257 e 1268, que foi posteriormente incorporada no claustro ao lado da catedral.

Mais tarde, mais precisamente em Maio de 1298, a construção da catedral gótica foi iniciada sob as ordens do rei Jaime II, conhecido como "o Justo". A construção da catedral gótica actual, começou pela cabeceira, sendo o edifício existente na altura, demolido à medida que se construía a presente catedral, com excepção da capela de Santa Llucia.
Devido às guerras civis e à peste negra que atingiu a cidade por diversas vezes, a construção avançou muito lentamente. Demorou a sua construção até 1460, antes do edifício principal ser concluído. A fachada gótica foi terminada muito mais tarde, em 1889, e a última parte, o pináculo central, foi concluído em 1913. O projecto da fachada foi baseada no desenho original, e foi realizada a partir de 1408, pelo arquitecto francês Charles Galters.

Assim sendo a actual catedral, foi construída durante os séculos XIII ao XV sobre uma antiga catedral românica, edificada por sua vez sobre uma igreja da época visigoda e esta precedeu uma basílica paleocristã, cujos restos podem ser encontrados no subsolo e alguns no Museu de História da Cidade.
A igreja actual tem 93 m por 40 m de largura. O relógio da torre octogonal está a uma altura de mais de 50 m, e a cripta contém o sarcófago de Santa Eulália. A Catedral também possui um coro com cadeiras lindamente esculpidas, e um elevador, no nordeste da catedral que nos leva para o alto, ao nível do telhado da catedral.
O claustro também contém um pequeno museu com artefactos litúrgicos. Adjacente à catedral há um claustro do século XIV, onde estão sempre 13 gansos no seu pátio central. Cada ganso representa um ano na vida da mártir Santa Eulália, uma jovem que foi torturada até a morte no século IV, pelos romanos.

Segundo a lenda, esta mártir depois de morta, foi exposta nua no fórum da cidade, quando milagrosamente, caiu uma nevasca que cobriu toda a sua nudez como que com uma coberta branca, o que foi desde logo considerado milagre pelos cristãos que assistiam ao acontecimento, pois era Primavera. As enfurecidas autoridades romanas meteram-na num barril com vidros quebrados, e lançaram o barril por uma inclinação de terreno abaixo, que de acordo com a tradição, se trata da rua Baixada de Santa Eulália, ou Costa de Santa Eulália, em Barcelona.

O Bairro Gótico



O Bairro Gòtic, é o encantador centro da antiga Barcelona, é um labirinto de ruas escuras, cheias de cafés e bares em edifícios medievais, com notável arquitectura. Este bairro, tido como um dos centros medievais mais extensos e harmoniosos da Europa, em que a maioria dos edifícios data dos séculos XIV ou XV, quando Barcelona passava por uma época áurea de prosperidade comercial.

É a parte mais antiga da cidade de Barcelona, onde tudo começou. Ali podem ser encontradas ruínas romanas, inúmeros edifícios medievais e modernistas. É uma delícia perdermo-nos por suas ruas e ruelas tão estreitas, que constituem um autêntico labirinto. No entanto devemos ter muito cuidado com malas, carteiras, máquinas fotográficas…pois são vulgares os roubos por esticão.
Aqui também podem ser encontradas algumas das mais emblemáticas atracções turísticas de Barcelona, como por exemplo:

A Muralha Romana de Barcelona, que foi construída no final do século IV e que converteu a então Barcino num dos mais impressionantes recintos fortificados do ocidente romano. A pequena cidade transformou-se numa autêntica fortaleza que impediu muitos ataques à cidade. A muralha tinha em média 1,3 mil metros de perímetro e 9 metros de altura por 3,5 metros de espessura. Foi ampliada e reforçada no século III e IV e defendeu a cidade durante mais de 600 anos. Encontra-se dispersa por várias ruas do centro mas pode observar-se facilmente ao lado da Catedral Gótica. Para a vermos melhor devemos dar uma passeata, passando pelas suas ruínas, junto à Plaza Nueva, Plaza Traginers, avenida da Catedral, Calle Tapinería e Calle Subteniente Navarro.
O Palau de la Música Catalana, também designado por Liceu, é um importante teatro, com uma estética realmente espectacular. É uma das jóias do movimento modernista de arquitectura, com vitrais e mosaicos maravilhosos. Foi projectado pelo arquitecto barcelonês Lluís Domènech i Montaner e sua construção, entre os anos 1905 y 1908 foi paga por industriais, pessoas ilustres e amantes da música. Mesmo por fora já se pode sentir o poder deste lugar, e se se entrar, deve o olhar elevar-se para se observar a sua linda clarabóia multicolorida.

A Catedral de Barcelona, com uma fachada em estilo neo-gótico é bastante mais moderna do que se possa imaginar, uma vez que a sua constução foi iniciada no século XIX, e só foi terminada em 1913. As suas torres gémeas, no entanto são mais antigas (século XIV). A Catedral, é a principal herança do período medieval do Barri Gòtic (em catalão), é uma das maiores construções góticas da Espanha.

A Plaza del Rey, com um edifício que serviu como alojamento aos Condes de Barcelona e que posteriormente foi usado pelos reis de Aragão. A sua bonita Capela Palatina ou de Santa Águeda foi construída no ano 1302 por Jaime II. A sua sala principal foi onde os Reis Católicos, Isabel e Fernando, que unificaram Espanha, receberam Cristóvão Colombo depois da sua primeira expedição às Américas. Neste mesmo salão, obra de Guillermo Carbonell (1359-1362), tiveram lugar os nefastos juízos da Santa Inquisição.

A Plaza Sant Jaume, é o centro do bairro, um lugar de movimentado comércio, e uma das praças onde ocorrem apresentações da Sardana (dança tradicional catalã, onde só participam maiores de 16 anos), sendo também vulgares neste lugar, as manifestações em prol da independência da Catalunha. É também o centro político de Barcelona, já que de um lado da praça temos o Palau de la Generalitat (Sede do Governo da Catalunha) e do outro lado o Ajuntament de Barcelona (a Câmara da cidade de Barcelona).

A Sede Central dos Correios de Barcelona, um belo edifício no final da Via Laietana com pinturas maravilhosas, foi o lugar escolhido para ser a Sede Central de Correios de Barcelona.

A igreja de Santa Maria del Mar, é também um dos pontos turísticos interessantes desta zona. Foi construída por e para o povo no século XIV. Isso não quer dizer que tenha poucos atractivos. Ao contrário, com um maravilhoso estilo gótico, é bastante alta e com muita luz que atravessa os seus bonitos vitrais. Na sua construção, feita com a ajuda braçal dos habitantes da cidade, em que cada um fazia o que podia. Os que trabalhavam com vidro, colocavam os vidros, os mais fortes traziam as pedras para construir a catedral, os com mais dinheiro, patrocinavam a obra. Além do mais, ela encontra-se situada no começo da Rambla do Born, um bom lugar para se tomar um café ou comer algo antes de seguir o passeio.

O Museu Picasso, está localizado num dos mais belos edifícios de uma rua de casas senhoriais e palacetes, a calle Montcada, na continuação da Igreja de Santa Maria del Mar. Aqui pode ter-se uma ideia bastante completa da evolução deste pintor malaguenho que viveu muitos anos em Barcelona. Lá se encontram desde os primeiros desenhos e quadros de quando era apenas criança até às fases mais importantes, como a fase azul. No primeiro domingo de cada mês, a entrada é gratuita. Foi junto à sua porta que por esticão, nos roubaram uma câmara digital Sony de filmar e fotografar, cheia de fotos e filmes da cidade que se perderam para sempre...

O Mercado de Santa Caterina, que foi recentemente reformado, é considerado uma obra de arte, após os três anos de reconstrução a que foi sujeito. Seu maior atractivo é o tecto de pastilhas coloridas e todo ondulado. Combina a modernidade de suas linhas, com a rusticidade de um mercado municipal original, e está situado no meio do bairro antigo.

O Tibidado é uma montanha situada no noroeste da cidade. O acesso é um pouco complicado já que tem que ser feito através de transportes públicos, mas vale a pena uma visita à igreja de Tibidabo, é linda, e ainda observar a magnífica vista da cidade. Aqui ainda se pode visitar o parque de diversões do Tibidabo, com várias atracções.

O Parque do Labirinto, também situado na parte alta de Barcelona, a “Horta”, o grande parque oferece magníficos lugares onde fazer um piquenique. Porém o mais importante do lugar é o labirinto de ciprestes onde nos podemos perder até encontrar o centro, fazer um descanso e procurar a saída.

Joan Miró (1893-1983)



Contemporâneo do fauvismo e do cubismo, Joan Miró criou sua própria linguagem artística e procurou retratar a natureza como o faria o homem primitivo ou uma criança, que tivesse, no entanto, a inteligência de um homem maduro do Século XX.

Joan Miró nasceu em Barcelona, em 20 de Abril de 1893. Filho de joalheiro, desde muito cedo se revelou a sua inclinação para a pintura. Apesar da insistência do pai em vê-lo graduado, não completou os estudos. Frequentou uma escola comercial e trabalhou num escritório por dois anos até sofrer um esgotamento nervoso.

Em 1912, seus pais finalmente consentiram que ingressasse numa escola de arte em Barcelona. Estudou com Francisco Galí, que o apresentou às escolas de arte moderna de Paris, e lhe transmitiu a sua paixão pelos frescos de influência bizantina das igrejas da Catalunha e que o levou a interessar-se pela fantástica arquitectura de Antoni Gaudí.

Joan Miró trazia intuitivamente a visão despojada de preconceitos que os artistas das escolas fauvista e cubista buscavam, mediante a destruição dos valores tradicionais. Em sua pintura e desenhos, tentou criar meios de expressão metafórica, ou seja, descobrir signos que representassem conceitos da natureza num sentido poético e transcendental. Nesse aspecto, tinha muito em comum com dadaístas e surrealistas.

Uma grave doença fê-lo deslocar-se para Montriog del Camp, Tarragona, onde se decidiria a dedicar-se inteiramente à pintura, e aonde voltaria frequentemente em busca de inspiração. De 1915 a 1919, Joan Miró trabalhou em Montroig, próximo a Barcelona, e em Maiorca, onde pintou paisagens, retratos e nus. Depois, viveu em Montroig e Paris alternadamente. De 1925 a 1928, influenciado pelo dadaísmo, pelo surrealismo e principalmente por Paul Klee, pintou cenas oníricas e paisagens imaginárias.

Após uma viagem aos Países Baixos, em 1928, onde estudou a pintura dos realistas do século XVII, os elementos figurativos ressurgiram em suas obras. Na Holanda, pintou as suas duas obras "Interiores holandeses I" e "Interiores holandeses II".

Na década de 1930, seus horizontes artísticos se ampliaram. Fez cenários para espectáculos de dança (balé), e seus quadros passaram a ser expostos regularmente em galerias francesas e americanas. As tapeçarias que realizou em 1934 despertaram seu interesse pela arte monumental e mural. Estava em Paris no fim da década, quando eclodiu a guerra civil espanhola, cujos horrores influenciaram sua produção artística desse período.

No início da Segunda Guerra Mundial voltou para Espanha e pintou a célebre "Constelações", que simboliza a evocação de todo o poder criativo dos elementos e do cosmos para enfrentar as forças anónimas da corrupção política e social causadora da miséria e da guerra.

Em 1937, trabalhou em pinturas murais e anos depois, em 1941, concebeu a sua mais conhecida e radiante obra "Números e constelações em amor com uma mulher". Mais tarde, em 1944, iniciou-se em cerâmica e escultura. Em suas obras, principalmente nas esculturas, utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.

A partir de 1948, Miró mais uma vez dividiu seu tempo entre a Espanha e Paris. Nesse ano iniciou uma série de trabalhos de intenso conteúdo poético, cujos temas são variações sobre a mulher, o pássaro e a estrela. Algumas obras revelam grande espontaneidade, enquanto em outras se percebe a técnica altamente elaborada, e esse contraste também aparece em suas esculturas. Joan Miró tornou-se mundialmente famoso e expôs seus trabalhos, inclusive ilustrações feitas para livros, em vários países.

Em 1954, ganhou o prémio de gravura da Bienal de Veneza e, quatro anos mais tarde, o mural que realizou para o edifício da UNESCO em Paris, ganhou o Prémio Internacional da Fundação Guggenheim. Em 1963, o Museu Nacional de Arte Moderna de Paris realizou uma exposição de toda a sua obra.


No fim da sua vida reduziu os elementos de sua linguagem artística a pontos, linhas, alguns símbolos e reduziu a cor, passando a usar basicamente o branco e o preto. Joan Miró morreu em Palma de Maiorca, em 25 de dezembro de 1983.