Gerês - Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas - Campo do Gerês - 3º Dia - Parte VII



Já perto de Campo do Gerês, num cruzamento de estradas, encontramos então o marco miliário epigrafado da Geira, sob um rústico alpendre em granito. Está encimado por um Cristo de pedra em cruz ocre. Este conjunto é albergado por uma estrutura metálica por fora e forrada em madeira por dentro e assente em três pilares de pedra.

Dos muitos marcos miliários da Geira Romana, alguns têm sido reaproveitados, como é o caso dos Cruzeiros de Sá, quer em Covide, quer em S. João do Campo (Campo do Gerês).

Nesse mesmo entroncamento observa-se do lado esquerdo o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, enquadrado num espaço verde e amplo que leva à reflexão. Esse museu foi mandado construir pela Câmara de Terras do Bouro nos anos 80, com pedras retiradas da aldeia submersa de Vilarinho das Furnas. Lá dentro podem ver-se instrumentos antigos de lavoura e artesanato e também pode obter-se alguma informação relativa à aldeia submersa de Vilarinho das Furnas.

Junto ao museu, observam-se também alguns espigueiros, tão característicos da região norte de Portugal. O espigueiro, também chamado canastro, caniço ou hôrreo, é uma estrutura normalmente de pedra e madeira, existindo no entanto alguns inteiramente de pedra, com a função de secar o milho grosso através das fissuras laterais, e ao mesmo tempo impedir a destruição do mesmo por roedores através da elevação deste. Como o milho requer que seja colhido no outono, este precisa de estar o mais arejado possível para secar numa estação tão adversa como o inverno.

A estrada leva-nos rapidamente até às terras altas mas planálticas de Campo do Gerês. Esta simples terra é formalmente chamada de Campo do Gerês, mas também é conhecida por Assento (por se situar num planalto) ou S. João de Campo, como é mais comummente conhecida. É uma freguesia bem montanhosa, situada nos contrafortes a oeste da Serra do Gerês e a sul da Serra Amarela.

É nesta terra situada entre as duas serras é fortemente marcada pelo isolamento, pelo trabalho agrícola e pelo pastoreio, mas repleta de inúmeros atrativos de enorme beleza natural, que passa o “ainda jovem” rio Homem.

Com Campo do Gerês no meio, as serras do Gerês e Amarela são espaços naturais de grande importância, inseridos no Parque Nacional da Peneda-Gerês, e que têm sido alvo de notáveis e interessantes observações orais e escritas, desenvolvidas por inúmeros especialistas de áreas distintas.

Entre um vasto grupo de notáveis autores destaca-se mais uma vez Miguel Torga, que refere “A serra Amarela é um dos ermos mais perfeitos de Portugal. Situada entre o Gerês e o Lindoso, as suas dobras são largas, fundas e solenes. (...) Não há estradas, senão as da raposa matreira, nem pousadas, senão as cabanas dos pastores”. (in Diário III, 25 Julho, 1943/46)

Fonte: http://www.cm-terrasdebouro.pt/ http://www.igogo.pt/ponte-de-eixoes/ http://viagenstravel.com/ http://pt.wikipedia.org/

Mark Rothko (1903 – 1970)

 
 
Daugavpils, 25 de setembro de 1903 — 25 de fevereiro de 1970
Mark Rothko, nascido Markus Rotkovičs (Rothkowitz), foi um pintor expressionista abstrato (embora ele rejeitasse tal classificação), nascido na Rússia (Letónia) e naturalizado estadunidense. Influenciado pela obra de Henri Matisse – a quem ele homenageou numa de suas telas, Rothko ocupou um lugar singular na Escola de Nova York.

De origem judaica, Rothko era um intelectual, um homem extremamente culto que amava a música e a literatura e era muito interessado pela filosofia, em particular pelos escritos de Nietzsche e pela mitologia grega.
 
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=wjEAX0cRgg0


Em Portugal... Cá se fazem, cá se pagam?...


As buscas à residência e escritório de Medina Carreira, por o seu nome ter sido usado por suspeitos para ocultar a verdadeira identidade de outros envolvidos no branqueamento de capitais e fuga aos impostos, no caso Monte Branco, pode ter resultado de um engano. Um engano grave pelo qual os investigadores devem responder. Mas a capa do "Sol" não foi engano nenhum. A rapidez com que qualquer busca ou escuta que envolva figuras públicas acaba nos jornais já não é defeito da Polícia Judiciária e do Ministério Público. É feitio.
Depois do caso de Medina Carreira, foi o de Teixeira dos Santos, Almerindo Marques e o ex-secretário de Estado Costa Pina. As buscas às suas residências e escritórios também acabaram, ao fim de poucas horas, nos jornais e televisões. Em causa está uma investigação às Parecerias Público-Privado. E se no caso de Medina Carreira foi fácil provar imediatamente a sua inocência, o mesmo não acontece com estes três. A divulgação destas buscas transformou-os, aos olhos da opinião pública, em condenados políticos sem direito a defesa.
Nunca escondi as minhas profundas discordâncias com Medina Carreira, que considero ter sido, como comentador, um dos principais advogados de defesa da austeridade, antes dela chegar - parece que entretanto mudou de opinião - e um populista de todos os costados. E considero que Teixeira dos Santos foi, dentro do governo anterior, o principal defensor de uma intervenção externa e o seu maior facilitador. Mas as minhas discordâncias com os dois anteriores ministros das finanças são políticas. E é no campo da política, e não em julgamentos mediáticos, que o confronto com os dois se deve fazer.
O que a justiça portuguesa fez a estas duas pessoas, que não tenho qualquer razão para suspeitar de falta de honestidade, é uma nojeira. Não são os primeiros. Não serão os últimos. De Sócrates a Passos Coelho, o poder político vive sob ameaça do Ministério Público e da PJ. Vivem eles e vivemos todos nós. Todos podemos ver a nossa vida devassada, as nossas conversas telefónicas publicadas em jornais, sem que sejamos culpados de coisa alguma.
Toda a gente que seja suspeita de ter cometido um crime deve ser investigada. Dentro da lei e com todas as garantias. Seja um cidadão comum, seja um detentor de um cargo público, seja um comentador. Mas também todos temos direito o ver o nosso nome protegido da calúnia.
O problema é sabermos que, como sempre, estas investigações não darão em nada. E não darão em nada porque não são para dar. Se fossem, não víamos escarrapachada nos jornais cada diligência judicial, cada escuta, cada busca. Se fossem, teríamos menos suspeitos e mais condenados. Se fossem, não ficávamos com a estranha sensação de que as buscas são feitas para serem noticiadas, que as escutas são efetuadas para serem publicadas. E que, por de trás de cada fuga de informação, estão sinistros jogos de poder em que as corporações da justiça se envolvem.
A cada episódio destes - e já foram tantos - cresce o temor de que a justiça, em vez de nos proteger, nos põe em perigo. Em vez de investigar a corrupção e os crimes de colarinho branco, atira lama sobre as pessoas sem nunca chegar a qualquer conclusão. Em vez de usar o seu poder para fazer justiça o usa para ajustes de contas. E uma justiça assim assusta. Não assusta os criminosos. Assusta, acima de tudo, os inocentes que tenham o azar de se cruzar no seu caminho.
Esta justiça, tão expedita na forma de investigar e sempre tão parca nos resultados finais, não serve ninguém. Só acaba por servir, na forma como descredibiliza, os que, com tanto ruído, se vão safando de pagarem pelos seus crimes.
 
 
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

Sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


Ler, ver e ouvir mais em: http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/ppp-inquerito-buraco-no-asfalto-teixeira-dos-santos-buscas-pj/1401346-1730.html#





 
"Se quereis prever o futuro, estudai o passado. Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha."
 
Confúcio

Serra do Gerês - Por terras de Calcedónia - 3º Dia - Parte VI




Desde tempos remotos que estas terras altas da Serra do Gerês foram habitadas, não só por constituírem um excelente ponto de observação sobre as cercanias da serra, de forma a observarem os possíveis inimigos que se aproximavam, mas também por proporcionarem um bom espaço para a prática da pastorícia, tanto do agrado dos primeiros povos castrejos.

Depois também por aqui andaram os romanos, que ocuparam estes espaços, desbravando terras nos vales e proporcionando paz, fazendo com que não fizesse sentido a vida no cimo dos grandes montes e montanhas. Possivelmente estes povos foram ocupando os vales e dedicando-se à prática da agricultura (de subsistência), não deixando no entanto, a pastorícia.

Foi nestas terras que se fundou a Calcedónia, uma antiga comunidade romana. Calcedónia não era um mero sítio, não era só um local. Calcedónia era todo um espaço geográfico que vai desde Rio Caldo, passando por Covide, Campo do Gerês, Junceda e ainda as antigas Termas do Gerês, Ponte de Saltos e Bemposta.

Mas a mítica cidade de Calcedónia existiu mesmo por ali, perto daquelas altas serranias e deixou até aos nossos dias muitos sinais da sua presença. Por certo, aquando da ocupação romana, muitas das populações castrejas pré-existentes, por ali terão continuado, misturando-se assim as populações e as duas culturas. É desta vivência familiar e em especial da sociedade dos povos castrejos que terão ficado enraizados os hábitos comunitários destas gentes e que até aos nossos dias perduram.

Ao percorrermos estas terras estamos então a percorrer as terras da antiga Calcedónia, dos seus segredos por desvendar e outros já desvendados, que resultam do estudo das suas antigas ruinas e as muitas marcas, que a sua marcante presença ali nos deixou.

De todos os percursos que fizemos no Gerês, este é de todos a de maior significado histórico, e por isso mesmo a mais tocante. Pelo caminho a serra com toda a sua dimensão granítica impõe-se e mostra-nos a nossa pequenez.

Chegámos então ao marco maior da "Geira Romana", a antiga estrada possivelmente construída no último terço do séc. I d.C., que ligava Bracara Augusta à Galiza e que apresenta um percurso de cerca de 215 milhas (cerca de 318 quilómetros). Está situado num entroncamento de estradas, em cima de uma rotunda granítica, destacando-se sob um pórtico formado por três colunas, que suportam um telhado piramidal de cor ocre.

À Geira que por ali passa referiu-se assim Miguel Torga, in Diário IV, "Estou a vingar-me mais uma vez, a olhar esta Geira Romana e os seus marcos delidos. Estou a vingar-me de quantos Césares o mundo tem dado, convencidos de que basta mandar fazer calçadas e pontes, gravar numa coluna a era e o nome, para que a eternidade fique por conta deles.”
 
Fonte: http://www.igogo.pt/marcos-miliarios-da-geira-romana/ http://www.serra-do-geres.com/ http://arquivo.bestanca.com/

Jupiter: O Planeta Gigante


Júpiter tem sido um grande laboratório de física. No início do séc. XVII Galileo, logo após ter inventado a luneta, descobriu com ela as quatro maiores luas de Júpiter: Io, Europa, Ganimede e Calisto. A observação do movimento dessas luas em torno de Júpiter contribuiu para a afirmação de Galileo de que a Terra e os demais planetas giram em torno do Sol e não que todos os astros giram em torno da Terra. Pouco depois a física, cuja paternidade podemos atribuir a Galileo, estava em franco desenvolvimento. Em 1686 um lord inglês, Isaac Newton, escreveu as "3 leis fundamentais da física" e a "Teoria da Gravitação Universal" que foram logo aplicadas às observações de Júpiter e suas luas para verificar se eram corretas.

Atualmente várias teorias da física têm sido confrontadas com observações de Júpiter para verificar suas exatidões, ao mesmo tempo que nos permite um melhor entendimento do observado. As diversas sondas espaciais que se aproximaram de Júpiter constataram a existência de um forte e complexo campo magnético em sua volta. Teorias têm sido formuladas para explicar esse campo magnético. Hoje em dia, com base em experimentos realizados em diversos laboratórios do mundo, inclusive no departamento de física da UFMG, acredita-se que ser esse campo magnético é devido ao movimento de cargas elétricas numa extensa camada de hidrogênio metálico existente no interior de Júpiter.


Jupiter: O Planeta Gigante, é 6º Episódio de uma série de 12 documentários relativos ao tema geral “O Universo”.



Fonte: http://www.observatorio.ufmg.br/pas01.htm;http://www.youtube.com/watch?v=QsArO_FDQ9s

Serra do Gerês - De S. Bento a Covide - 3º Dia - Parte V






Deixa-se S. Bento da Porta Aberta e mais uma vez nos fazemos à estrada ao encontro da “genialidade da Natureza” (como escreveu Miguel Torga no seu Diário VII), que nos há de levar a Campo do Gerês.

A estrada segue por caminhos cheios de silêncio e múltiplos verdes, serra acima e sempre em presença de picos rochosos que ladeiam a estrada numa companhia persistente e que por vezes se abrem deixando observar lá em baixo, ora para Norte, ora para Este, longínquas paisagens iluminadas pelo sol.
Há medida que se vai subindo a serra, as árvores dão lugar a pequenos arbustos e ao zimbro que cobrem os cumes. Nesta serra na Primavera abundam as urzes, as giestas, os jacintos, narcisos e os lírios.
Ocasionalmente aparecem planaltos com vegetação herbácea onde, de maio a setembro, pastam os rebanhos. É ali que nos deparamos a meio caminho com a povoação de Covide.
Covide possui assim uma ótima localização ambiental e paisagística, podendo observar-se toda a envolvente da Ribeira do Homem com os seus verdes campos agrícolas, predominantemente orientados em socalcos, fruto da adaptação do homem ao meio na prática de uma agricultura tradicional, que ainda mantém atualmente uma dinâmica predominantemente orientada para a policultura e para o autoconsumo, com uma produção daquilo que há de melhor no País, como a carne barrosã, o cabrito, o mel, os enchidos e fumados, as plantas medicinais e aromáticas, produtos hoje muito valorizados por um nicho de consumidores urbanos, preocupados com a qualidade e a segurança alimentar.
A Veiga da Santa, em Covide, clareia entre o casario de muitas gerações e a sombra de bosquetes de carvalhal sobrevivente. Recordam-nos estes sítios as memórias piedosas do dealbar do cristianismo, cristalizadas aqui no martírio e no milagre da Santa Eufémia.
Reza a história que se encontram ali as pegadas de Santa Eufémia, no Penedo da Veiga da Santa, ao lado da sua capela. Segundo a tradição, era o local procurado por Santa Eufémia para fazer as suas orações, quando andava a fugir à perseguição do seu pai, Caio Atílio, Governador Romano de Bracara Augusta (antiga Braga).
De acordo com a tradição, desde tempos muito remotos que tem existido naquele local um culto religioso e, que é atualmente celebrado na capelinha ao lado, naquela que é a principal festa de Covide, num culto fervoroso a Santa Eufémia.
Segue-se depois para a última etapa para Campo do Gerês. Por todo o caminho se encontram restos e vestígios de construções romanas. É ali que nos encontramos com parte das belas paragens da Geira, a antiquíssima estrada romana, que outrora, vinda da antiga Bracara Augusta segue para Norte, a caminho de terras de Espanha e que ainda ali nos mostra alguns dos seus marcos milenários, fazendo um conjunto impar, porque emoldurada pelos íngremes rochedos da Serra do Gerês.

Mais sobre a vida e culto à Virgem Mártire Santa Eufémia em: http://www.santaeufemiapenedono.com/?page_id=19

Fonte: http://terrasbouro.blogspot.pt/ http://www.geresviva.com/ http://calcedonia.com.sapo.pt/covide.htm http://www.infopedia.pt/$serra-do-geres

Há uma estrela que se apagou!…


Frei Fernando Ventura é um frade franciscano capuchinho, que nasceu em 1959. É um teólogo e biblista e foi professor de Ciências Religiosas no ISCRA em Aveiro. É intérprete na Comissão Teológica Internacional da Santa Sé. Colabora, como tradutor, com diversos organismos internacionais, como a Ordem dos Capuchinhos, a OFS e a Federação Bíblica Mundial. Pertence ao quadro de redatores da revista Bíblica, onde assina artigos de aprofundamento teológico.

Autor do primeiro estudo sobre Maria no Islamismo, lançou o livro “Roteiro de Leitura da Bíblia” (Editorial Presença). Ministra cursos e retiros, percorrendo o mundo de convite em convite ou de conferência em conferência, como tradutor. É assíduo comentador na atualidade social e religiosa na SIC Notícias. A TSF escolheu-o como "Figura do Ano" em 2010.
Aqui Frei Fernando Ventura é entrevistado pela jornalista Ana Lourenço, comentando a atualidade social do País, no jornal da SIC, Edição da Noite do passado dia 23.12.2012 (23:47). Vamos ouvi-los…

"Esperando um Mundo marcado pela espiritualidade…" (clique em cima do link pf): http://sicnoticias.sapo.pt/programas/edicaodanoite/2012/12/23/frei-fernando-ventura-comenta-a-actualidade-social-do-pais
 

Natal Partilhado

 

Nasci em Angola (na cidade litoral de Benguela), e vivi lá toda a minha infância. Aos três anos fui viver para a bonita cidade do Lobito, também no litoral atlântico, e lá permaneci até vir para Portugal.

No Lobito durante vários anos, tive por vizinhas três meninas, a Manuela da idade da minha irmã, mais velha do que eu seis anos, a Quiti com menos um ano do que eu e minha companheira preferida de brincadeiras, e a pequena Inês, com menos três anos.

Por terem vários familiares a viver também no Lobito, uma avó, tios e o padrinho da Quiti, que gostava dela como de uma filha, a sua casa era muito afortunada, e as meninas recebiam muitos presentes e brinquedos pelo Natal.

Ao lado delas vivíamos nós, eu e a minha irmã com meus pais. Como não tínhamos familiares a viver nesta cidade (apenas três primos e os seus pais, meus tios em Benguela), apenas recebíamos um presente cada uma, dos meus pais, que era sempre recebido com muito agrado, grande euforia e felicidade.

Os presentes tal como é prática em algumas casas e em “terras lusas”, eram recebidos há meia-noite, na véspera do dia de Natal. Assim depois da missa do galo e após a meia-noite, era habitual abrirmos os presentes e invadirmos as casas umas das outras para comermos as guloseimas que quiséssemos. Depois era para nós obrigatório a partilha dos presentes recebidos, tendo todas a autorização dos nossos pais para brincarmos com os novos presentes, até à uma ou duas da madrugada.

Não me lembro de alguma vez sentir inveja e também nunca a notei na minha irmã, em relação ao número elevado de presentes recebidos pelas minhas vizinhas. O que realmente era importante e por isso habitual, era estes andarem de mão em mão com a maior das naturalidades entre todas nós, brincado euforicamente e misturando os brinquedos sem qualquer constrangimento de parte a parte. O que importava era a partilha e a brincadeira com os novos brinquedos durante aquelas horas felizes.

Todos os anos no Natal, os numerosos presentes das nossas vizinhas, eram simplesmente um dado adquirido, sendo estes esperados quer por nós, quer por elas com muita ansiedade, o que se repetia em todos os Natais. A compreensão desse facto era fácil, em primeiro lugar porque elas eram três e em segundo lugar porque os seus familiares eram mais do que os nossos, o que resultava como era lógico, num maior número de brinquedos.

Não me lembro também das minhas vizinhas se vangloriarem por terem mais brinquedos do que nós, ou de acharem que os nossos eram poucos. O que interessava era a partilha naquelas horas e nos dias seguintes ao Natal, o que me faz lembrar com muita saudade as minhas três vizinhas, a sua amorosa e numerosa família, e aqueles felizes Natais passados em Angola.

Passados muitos anos o hábito da partilha continua em mim, quase que a perpetuar aquelas brincadeiras de infância, havendo até um ditado popular que isso confirma, “O hábito faz o monge”. Afinal a felicidade só é realmente conseguida, quando partilhada!...

Albert Einstein dizia que “a compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e sofrimentos”. Como eu entendo esta simples, mas tão significativa frase… No entanto parece que essa Partilha é hoje incómoda para muitos e recebida com desconfiança, havendo até quem a confunda com vaidade, petulância ou intromissão.

E se nada mudar? Eu vou ter que conviver com este sentimento só dentro de mim? Até quando? A vida é curta demais, para se deixar para amanhã aquilo que deve ser feito agora!...

 

Pablo Picasso (1881 – 1973)




 Málaga, Espanha, 25 de outubro de 1881 — Mougins, França, 8 de abril de 1973
 
Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso, foi um contemporâneo pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido a poesia.

Foi reconhecidamente um dos mestres da arte do séc. XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, para o efeito todos os tipos de materiais. Ele também é conhecido como sendo o cofundador do Cubismo, juntamente com Georges Braque.

Para ver de preferência em tela cheia



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=sh70SiwjNNw

Num Mundo mais justo…


"A Natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a sua imagem.”

Blaise Pascal
 
[…] Eram seis horas da manhã. Chovia suavemente. Eram as primeiras chuvas de Setembro. As suas gotas finíssimas eram ainda tímidas, mas cristalinas, o que me encantava. Assemelhavam-se a pequenos cristais de diamantes, o que criou à minha volta uma atmosfera de melancolia que me convidou à reflexão sobre o que observava. Com efeito, estávamos no início de mais uma estação das chuvas. A transição que se operava de uma estação à outra fazia-se sem sobressaltos. Tranquilamente e com doçura. A terra molhada libertava um imenso perfume que purificava a minha alma, levando-me a um certo recolhimento. Era agradável a sensação de paz que me transmitia o quadro que tinha à minha volta. Uma profunda sensação de rejuvenescimento espiritual invadiu a minha alma.

À medida que os minutos passavam, procurei observar com mais atenção as plantas e as flores perfumadas que rejuvenesciam ao redor da minha casa de capim. Eram lindas as cores vivas das pétalas das flores que espalhavam o seu perfume pela floresta adentro, enquanto à minha volta ouvia o zumbir incansável de milhares de abelhas, que libavam atarefadas o suco das flores numa relação eterna de amor profundo. Na realidade, estas abelhas viviam seguramente num mundo mais justo, dentro do seu ecossistema. As relações de interdependência, que estabeleciam entre si, eram de facto construtivas e equilibradas concorrendo para a consolidação dos laços de cooperação que estabeleciam no seu seio durante este processo de produção das suas necessidades básicas.

Pensei profundamente no que observava e fiquei impressionado com o tipo de relações simples que as abelhas mantinham entre si, num quadro de estruturas complexas, decorrentes da sua divisão de trabalho. Era de facto uma lição que eu aprendia com os fenómenos simples da natureza. Talvez os homens pudessem aprender alguma coisa com o quadro que tinha diante de mim. Teríamos certamente relações humanas mais equilibradas. Este quadro proporcionou-me uma nova visão de vida, uma base de reflexão sobre o direito à vida e o valor dos equilíbrios sociais que devem reger as sociedades como substrato de fundamentação das relações humanas num mundo cheio de contradições, às vezes antagónicas, e em mutação permanente. O que observava era o ideal, mas utópico, dada a própria natureza humana […].
 
Alcides Sakala

Alcides Sakala é um político e diplomata angolano, que atualmente é deputado à Assembleia Nacional de Angola e presidente do Grupo Parlamentar da UNITA. Este é um excerto do seu livro “Memórias de Um Guerrilheiro”, páginas 121 e 122, ed. Publicações D. Quixote, 2006.