Caros
colegas,
Ontem faleceu um elementos da nossa comunidade educativa, em pleno exercício
das suas funções, conforme documento em anexo, que gostaria que lessem na
integra para evitar qualquer informação incorreta.
Sentimos
pouco apoio das entidades que nos superentendem. A DREN informou a Comissão
Executiva que hoje teríamos que voltar a trabalhar como se nada tivesse acontecido.
A nossa dor e revolta é enorme.
A maioria
dos professores não conseguiram dar as suas aulas, e por isso ficaram em
silêncio na sala dos Professores. Com certeza que iremos ser sujeitos a algo
que não desejaríamos.
Neste
momento necessitamos de fazer o luto, e conversarmos no sentido de encontrarmos
soluções para evitar futuros problemas iguais, até porque nesta escola e
noutras escolas estão identificados alunos como sendo igualmente problemáticos
e potenciais geradores de questões como esta.
Apelamos à V/ solidariedade, no sentido de divulgar a carta anexa,
Obrigada
Escola
Professor Óscar Lopes
CARTA ABERTA
Morreu um de nós: um daqueles que
zelava pela segurança de todos (alunos, funcionários e professores); O nosso
elo mais forte, em pleno exercício das suas funções. Para evitar que um aluno
maltratasse um colega fazendo perigar a sua vida, durante a aula, mesmo perante
a pronta ação do professor e de um funcionário, foi pedida a intervenção dos
vigilantes da escola, para que fosse conduzido à Direção Executiva para que
esta acionasse os técnicos da Escola Segura. Desde o início do comportamento,
de extrema violência, materiais foram destruídos, funcionários e docentes
ameaçados de morte verbalmente e agredidos fisicamente. O esforço dos
vigilantes em controlar tais atitudes foi imenso mas não conseguiram evitar a
destruição descontrolada de mesas, quadros, armários, cadeiras e os atos de
ataque físico. Já na Direção Executiva, e perante o continuado comportamento
violento, o vigilante Correia manietando o aluno, manteve-se como pilar
determinante na segurança física de outros elementos da comunidade educativa,
que tentavam também intervir. Mais de dez pessoas tentaram, sem sucesso, conter
o aluno! Assim, perante uma violência física e emocional tão demorada e brutal
o vigilante Correia colapsou. De imediato foi assistido por professores e
funcionários que lhe fizeram as manobras de reanimação (respiração boca a boca
e massagem cardíaca) até à chegada do INEM, que prestou toda a assistência
possível que, no entanto, se mostrou ineficaz para salvar o Sr. Correia. Estamos
profundamente abalados e consternados com o falecimento do colega em pleno
exercício das suas funções, num local, por excelência, educativo, onde uma
morte nesta situação é inaceitável. Estamos de luto, estamos perante algo que
não conseguimos aceitar e, por isso, não sentimos capacidade de gerir
emocionalmente uma situação tão dramática; estamos na escola sem darmos aulas,
incapazes de pedagogicamente abordar o assunto junto dos restantes alunos. Todos
os que se encontravam na escola ficaram em choque. Como pode isto ter
acontecido numa escola? Que ambiente se vive? Que aprendizagens se fazem quando
há quem possa frequentá-la enchendo-a de ameaças e de violência? O contexto
escolar do Agrupamento está pormenorizadamente descrito no Projeto Educativo.
Todos os profissionais que nele trabalham estão conscientes do universo em que
se movem e procuram por todos os meios ajudar a orientar crianças e jovens de
um meio problemático, com fragilidades várias, com comportamentos difíceis de
gerir. Temos uma equipa técnica preparada e muito ativa, no âmbito dos recursos
TEIP. Lidamos com os problemas que vão surgindo e conseguimos muitos resultados
positivos. No entanto, há sempre um pequeno número de alunos, bem identificados
na escola, que ultrapassam todos os limites do aceitável numa comunidade
escolar, pois põem em risco os seus membros, a nível físico e psicológico, de
forma sistemática: não aceitam a autoridade de ninguém, pelo que não cumprem as
regras da escola, nem as mais básicas de convivência; ameaçam; aterrorizam; agridem.
Em relação a estes alunos já tudo foi feito, desde as estratégias aplicadas
pelos professores e pelos diretores de turma para motivar o aluno para a
aprendizagem e para a socialização, passando pelas medidas previstas no
Estatuto do Aluno, completamente ineficazes para estes casos. Tiveram a
intervenção do SPO, GAAF, ADEIMA, CPCJ, Tribunal de Menores. Aos diretores de
turma são pedidos relatórios, pareceres, esclarecimentos de todos estes
organismos. Enquanto isto acontece e durante anos, a situação destes alunos na
escola mantém-se inalterada, até os jovens saírem da escolaridade obrigatória
ou terminarem o ciclo de estudos. Isto é, embora várias instituições estejam
envolvidas, a escola tem de manter os alunos ou transferi-los para outras
escolas, deslocando o problema, não resolvido, para os outros. Estes continuam
assim a ameaçar e a agredir colegas, funcionários e professores, continuam a
impedir os colegas das turmas em que estão inseridos de poder ter um ensino de
qualidade, minando as aulas. Têm e criam um sentimento de poder ter impunidade
e de ausência de limites, que é o oposto do que lhes deveria ser ensinado. A
escola regular não pode dar a estes alunos a resposta de que eles precisam. A
tutela não está a cumprir o seu papel, que inclui o de resolver a situação
destes alunos e o de proteger o direito à educação e à integridade física e
psicológica de todos os outros e de quem trabalha nas escolas. Por estes
motivos, dirigimo-nos à Tutela, exigindo que, com a maior urgência, se debruce
sobre este problema e o resolva eficazmente, criando acompanhamento adequado às
crianças e jovens com comportamentos disruptivos, que põem em riscos elementos
da comunidade escolar em que se inserem. Este acompanhamento terá de implicar o
afastamento destes jovens das escolas regulares e a sua integração em ambientes
controlados, específicos e preparados para este tipo de perfil psicológico. Morreu
o Sr. Correia, dizemos. Já tinha problemas de saúde, dirão. Nos olhos uns dos
outros lemos, «Mataram o Sr. Correia».
Matosinhos e EB 2, 3 Professor Óscar Lopes, 31 de
janeiro de 2013
Assinatura de docentes e não docentes