Honningsvag, o berço do Sol da Meia-Noite



Quando chegámos a Honningsvag, eram 9h00 e ainda dormíamos. Nunca mais me vou esquecer da sensação que tive quando cheguei à sala de refeições do Century e olhei para o exterior, pois tive a mais agradável das surpresas, ficando absolutamente encantada com a beleza natural desta cidade, com as suas pequenas casas de madeira pintadas das mais variadas cores. Um encanto...
Honningsvag é uma aldeia de pescadores que está localizada na Ilha Mageroya. Esta região, em fins do século XIX, foi utilizada como lugar para o exílio de vagabundos, condenados e presidiários. Trata-se de um lugar de alvas neves invernais, envolta em escuridão permanente durante os meses de Inverno. O sol não sobe no horizonte a partir de meados de Novembro até Janeiro. No entanto também comemoram 24 horas de "sol" de 15 de Maio a 30 de Julho. Encontra-se na costa, próximo do ponto mais a norte da Europa setentrional, com deslumbrantes vistas para o mar de Barents.

Profundamente na "Terra do Sol da Meia Noite", Honningsvag é a aldeia mais a norte do mundo, com mais de 1000 barcos de cruzeiro chegando durante a temporada de Verão, é também um dos maiores e concorridos portos do norte da Europa. A sua paisagem é belíssima, e oferece um habitat natural para renas, morsas, ursos polares, baleias e dezenas de espécies de pássaros únicas desta região.

Honningsvag é um importante porto de pesca, que ostenta o título de "a cidade mais setentrional do mundo". O porto de Honningsvag reside dentro do Círculo Polar Árctico, no meio da grandeza da região de Finnmark na costa das frontierlands, e é a última paragem antes do Cabo Norte, a apenas 34 Km de distância.

Honningsvag é o ponto de partida privilegiado para o Cabo Norte, que as populações antigas diziam ser o "fim do mundo" conhecido, e o ponto de partida da viagem em direcção ao infinito. Os 34 Km percorridos em aproximadamente 45 minutos de viagem numa estrada que é de uma beleza inegável, tratando-se efectivamente do único passeio realmente polar na Europa. A estrada termina sobre um promontório rochoso que se joga a prumo no Oceano Árctico a uma altura de 307 m, o Cabo Norte.

Os Sami, um povo indígena único na Europa

O povo sami ou lapão (Saame em finlandês, Sámi em língua Sami), é nativo da Lapónia, abrangendo as regiões setentrionais da Noruega, Suécia, Finlândia e da península de Kola, na Rússia. É um dos maiores grupos indígenas na Europa, totalizando cerca de 70.000 pessoas.

A sua língua é o sami ou lapão, classificado como um idioma feno-húngrico (do grupo linguístico raro no qual se encontram o finlandês e o húngaro) e se divide em vários dialectos principais.
As actividades tradicionais dos sami são a caça, pesca, agricultura, a criação de renas e o duodji, (artesanato sámi), no entanto, mesmo que uma minoria actualmente faça isso para viver, já não têm uma vida nómada, como outrora.

O fascínio da história do povo Sami, reside também, e a meu ver, na sua avaliação genética. A constituição genética do povo sami tem sido motivo de grande interesse e estudo, devido à grande "distância" entre eles e os demais povos europeus, incluindo seus vizinhos mais próximos.
As investigações baseiam-se principalmente nos samis do norte e do leste, uma vez que uma variação considerável é encontrada entre diferentes grupos sami, contudo todos compartilham de um mesmo ancestral comum.

As investigações têm sido feitas especialmente quanto ao mtDNA feminino, com pesquisas paralelas realizadas com cromossomas Y e marcas autossomas. A pesquisa indica que 95,6% do DNA sami é originário da Península Ibérica, tendo somente 4,4% de origem Siberio-Asiática (Tambets 2004).

Uma ligação genética foi também encontrada entre o povo sami e os berberes do norte da África, datando de 9000 anos (Achilli 2005), levantando a possibilidade de que a Europa Meso-Ocidental, a Setentrional, a do Sudoeste da Europa e o Noroeste da África (Montes Atlas) eram habitadas por povos autóctones com origens em comum, e que foram varridos do mapa aos poucos durante a expansão dos povos indo-europeus do Leste para o Oeste, e cujo principal resquício actual são os bascos, única etnia que sobreviveu a uma invasão massiva da Europa por parte dos chamados arianos (ou indo-europeus).
Os Sami ou "lapões", caracterizam-se como um povo indígena do norte da Europa. O povo Sami da Finlândia tem o direito de manter e desenvolver a sua própria língua e cultura. No início de 1996 foi constituído através de decreto parlamentar o novo parlamento Sami (Sámediggi), como corpo representante do povo Sami.
Os Sami são puros ecologistas, continuando a criar renas, mas a modernidade fê-los alterar o seu estilo de vida. Acendem uma fogueira à chuva e sentam-se na terra macia, forrada por vegetação rasteira. Esperam. Quanto tempo? Não sabem, porque para os sami, criadores de renas, o tempo passa de maneira diferente. Não há horários. O tempo deles é o tempo que a natureza lhes dá. Na linguagem deles, “Sami” significa “Ser humano”, e também se chamam a si próprios de “O Povo do Sol e do Vento”.
Desde 2004, 6 de Fevereiro é o Dia Nacional dos Sami, um dia nacional oficial na Noruega. O Dia Nacional dos Sami celebra-se na Noruega, Suécia Finlândia e Rússia, servindo de símbolo de uma nação sami unida, que ultrapassa as fronteiras das nações. Nesta data comemora-se o primeiro congresso Sami, realizado a 6 de Fevereiro de 1917, que estabeleceu as fundações para o desenvolvimento da cooperação a nível nacional e inter-fronteiriço do povo Sami.
A bandeira sami foi hasteada no Complexo Administrativo Governamental pela primeira vez no Dia Nacional dos Sami em 2003.

Alta, a Cidade das "Luzes do Norte"



A chegada a Alta, pelas 8h00 foi a nossa primeira paragem num porto da Noruega a bordo do Century. Só saímos depois do almoço, sendo nossa opção nesta viagem, fazermos as visitas às cidades, só durante a tarde.
O município de Alta, abrange 3.815 km 2, localizado desde as margens do Altafjorden, (fiorde de Alta), incluindo grandes áreas florestais e abrangendo o planalto Finnmarksvidda. O rio Altaelva tem ao longo dos tempos formado um dos maiores "canyons" da Europa, escavando o solo no seu curso a partir do planalto para o fiorde, e é um dos rios de salmão mais atractivos para a pesca.

Alta, na foz do rio Altaelva, cresceu e integrou-se nas quintas vizinhas, formando a área urbana mais habitada da região Finnmark (região mais a norte da Noruega, na mesma latitude que a Sibéria, a Gronelândia e o Alasca). Inclui Bossekop, um mercado comercial rico em tradições onde samis e kaen (imigrantes naturais da Finlândia) e ainda noruegueses comercializavam bens.

A parte mais baixa do vale de Alta está coberto de florestas e terrenos agrícolas muito férteis. A corrente quente do golfo e as noites solarengas de Verão, permitem que o solo seja fértil, mesmo a 70º N. Os portos na costa de Finnmark não congelam e a zona desfruta de Invernos suaves. Cai muita neve durante o Inverno, mas muitas zonas desta região estão rodeadas por montanhas, que provocam o abrigo dos ventos e dos frios invernais vindos do oceano.

Alta também sofreu um grande incêndio. No Outono de 1944, quase toda a Finnmark foi queimada durante a retirada alemã, no final da 2ª Guerra Mundial, e a cidade com excepção da igreja em Bossekop, foi totalmente arrasada. A cidade foi reconstruída logo após o final da guerra, e a maior parte das pessoas reconstruiu as próprias casas no mesmo sitio das anteriores, modificando no entanto a sua arquitectura.

Em 1973 foram descobertas gravuras rupestres com 2000 - 6000 anos, perto da aldeia de Hjemmeluft. As gravuras, hoje Património Mundial da Unesco, ilustram a vida selvagem e cenas de caça. As pinturas rupestres de rock Hjemmeluft são a maior extensão de pinturas rupestres do mundo, e podem ser visitadas perto de Alta.

Alta foi notícia por vários meses. Muitos habitantes da zona (especialmente Samis e ambientalistas) usaram a desobediência civil, manifestando-se contra a construção de uma barragem hidroeléctrica. No entanto, a barragem foi construída, e o rio Altaelva manteve uma rica fauna etiológica, sendo hoje motivo de orgulho para os habitantes da região.

A maior parte da população vive na cidade de Alta, desfrutando de um clima ameno, com temperaturas de Verão comparáveis com as do sul da Noruega, e nas zonas baixas, a cidade é protegida das tempestades de Inverno. O seu clima favorável, povo hospitaleiro e ambiente agradável são os pontos fortes desta região, que em cada ano atrai mais pessoas para esta comunidade, tendo esta crescido nos últimos anos. Além disso, é uma cidade muito dinâmica, cheia de actividades e eventos durante o Verão e o Inverno.

A precipitação é escassa, (precipitação anual de 400 mm) e o céu limpo e perpétuo de Alta, foi a razão pela qual a cidade foi escolhida como um excelente local para o estudo das Northern Lights, (auroras boreais). O primeiro observatório do mundo de Auroras Boreais, foi aqui construído em finais do séc. XIX, sendo denominado de "Norther Lights City Alta". Durante o Outono e o Inverno, pode fazer-se a observação das "Luzes do Norte", com as suas cores, verdes, rosas e púrpura que dançam no céu, iluminando o céu negro de Inverno.

Hoje, Alta é um centro industrial, com micro industrias, e um centro comercial e educativo em crescimento, sendo também um importante centro de transportes, com o seu próprio aeroporto. A Universidade de Finnmark (Høgskolen e Finnmark), encontra-se sedeada em Alta, que também conta com um Departamento de Investigação (Norut NIBR Finnmark).

Alta está fortemente influenciada por Lappish, a cultura Sami. Os Sami, são os indígenas da zona norte da Escandinávia, e ecologistas puros. Outrora, os Sami habitaram quatro países: Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Os dados conhecidos estimam que ainda hoje, há entre 50.000 e 100.000 Samis, vivendo nestes países, e mais de metade residem na Noruega.

Alta tem uma razoável comunidade Sami, e foi aqui que tivemos oportunidade de observar de perto alguns dos seus membros, visitando uma tenda Sami, onde fomos recebidos, e convidados a tomar chá com bolos secos e a provar carne de alce fumada. No porto tivemos ainda oportunidade de os ver vendendo artesanato, vestidos com os seus característicos trajes coloridos.

Älesund, a Veneza da Noruega


Situada no centro da Noruega, é conhecida por ser a cidade da "Art Nouveau" da Noruega, sendo conhecida pela sua arquitectura única. O seu museu de história, ao ar livre, Sunnmore Musseum, abrange um lugar fascinante, com quarenta casas antigas provenientes de várias partes do país, e de arrumações de barcos e ainda trinta barcos de pesca.
Típica cidade de pescadores que se estende sobre três ilhas, está situada na costa ocidental da Noruega. Älesund tem paisagens magníficas, museus variados e uma história muito interessante. Segundo as normas da Noruega, Älesund é uma cidade bastante grande, embora para nós, uma cidade com a sua dimensão, seja considerada pequena.

Ela remonta ao século IX, quando Rolf Gang, aqui construiu um castelo, perto da zona onde hoje se estende a cidade, que foi crescendo até 1848, quando foi elevada a cidade. A história de Älesund, no entanto, é marcada por um grande incêndio: No início do século XX, num sábado 23 de Janeiro de 1904, raios de uma violenta tempestade acabaram por causar a destruição da cidade. Num período de 12 horas, o incêndio transformou em cinzas mais de 900 construções que eram feitas de madeira.

A ajuda e os donativos europeus chegaram rápidamente e em apenas três anos a cidade foi quase toda reconstruída a partir dos escombros, por um grupo de arquitectos, em pedra em vez de madeira, num estilo muito contemporâneo. Älesund teve seu estilo arquitectónico influenciado pelo estilo "arte nova" e é hoje classificada de património mundial pela UNESCO, com seus prédios pequenos e coloridos. Debruçada no mar, tem 36 mil habitantes e fica a 45 minutos de avião de Oslo.

Porto pesqueiro, Älesund está na boca de um fjord e está dividida em duas zonas, Norvoya e Aspoy,(que são ao mesmo tempo duas ilhas), que estão ligadas por pontes. Älesund é talvez a cidade que mais reflecte o modo de vida estreitamente ligado ao mar e bem característico da Noruega. Com efeito, foi da pesca que esta cidade surgiu, se desenvolveu e consolidou como o maior centro exportador de pescado e derivados de toda a Noruega.

A cidade orgulha-se da tradição pesqueira com sofisticadas instalações portuárias, técnicas avançadas, modernos equipamentos, enorme frota pesqueira e inúmeras indústrias de processamento que fazem dela a capital mundial do bacalhau.

Älesund, onde se pode comprar belíssimo artesanato norueguês é um ponto de partida para fazer caminhadas, nas montanhas da região Sunnmore, no Vale Norang, nas geleiras Hey, na Runde Island e até à aldeia de Viking Giske. É um porto base para a pesca do bacalhau e para operações CJE da frota de navegação no Árctico. O Parque do Mar de Atlanta, oferece grandes aquários, possibilidades de mergulhar e fazer belas fotos. O famoso fiorde Gayranger situado não muito longe da cidade, é classificado pela Unesco, como um dos mais belos lugares do mundo. A partir da cabana de montanha Fjellstua, obtém-se uma impressionante panorâmica da cidade, onde se podem fazer fotos espectaculares.


O Century


Pintar o olhar de azul... Admirar a terra de um lugar privilegiado... Aplaudir a festa, a alegria, e o glamour... Mergulhar na calma, na paz de uma gota imensa onde cada qual é rei e senhor... Rios, Mares e Oceanos… Onde viajam gentes de diferentes origens, diferentes cores e personalidades... Saltar de porto em porto, ocupando sempre o mesmo hotel, experimentar o requinte diário de um restaurante de luxo, a alegria da diversão a bordo, a tranquilidade única do navegar em mar alto, e o prazer da descoberta em cada porto, é o que na essência, traduz o viajar num cruzeiro, abordo destes navios, feitos expressamente para a realização de sonhos.

Cruzeiro ao Sol da Meia-Noite e Fiordes da Noruega

Desde os tempos de escola, tinha a ambição de ir espreitar o Sol da Meia Noite, e foi a propósito da comemoração do nosso 25º Aniversário de casamento, que foi concretizado este meu/nosso velho sonho, com a viagem à Noruega.

Julho foi o mês escolhido por nós, e depois de uma busca criteriosa a várias ofertas turísticas para a Noruega, decidimo-nos por um Cruzeiro abordo do espectacular navio Century, pertencente à companhia de navegação grega, Celebrity Cruises. Assim, sob o comando do Capitão Nicholas Pagonis, foi iniciado o cruzeiro, no porto da cidade de AmesterdãoHolanda, aos Fiordes de Noruega e Sol da Meia Noite.

Nesta viagem que decorreu desde 9 a 20 de Julho de 2007, foi percorrido o seguinte rumo:

9, 10 e 11 de Julho - Amesterdão, Holanda - Alesund, Noruega.

11, 12 e 13 de Julho - Alesund - Alta, Noruega.

13 e 14 de Julho - Alta - Honningsvag, Noruega.

14 e 15 de Julho - Honningsvag - Tromso, Noruega.

15, 16 e 17 de Julho - Tromso - Molde, Noruega.

17 e 18 de Julho - Molde - Olden, Noruega.

18 e 19 de Julho - Olden - Bergen, Noruega.

19 e 20 de Julho - Bergen - Amesterdão, Holanda.

Para nós, no entanto, o início desta viagem resultou bastante atribulado, e diria até, de autêntica aventura, o que ao contrário do que se possa imaginar, me agradou particularmente.

Na madrugada do dia 9 de Julho, partimos no nosso carro para Lisboa, afim de apanharmos o avião com destino a Amesterdão, onde estava previsto embarcarmos a bordo do Century. No entanto, quando chegámos ao aeroporto, as diligências necessárias afim de deixarmos o nosso veículo em segurança, fez-nos atrasar o nosso embarque, a tal ponto que quando estávamos prontos a despachar a bagagem, já não o pudemos fazer, tendo o voo de ser adiado para o dia seguinte.
No dia seguinte já o Century, não estaria no porto de Amesterdão, pois já teria partido, e o voo fez-se para Oslo, capital da Noruega, durante a manhã do dia 10 de Julho. De Oslo, tivemos de apanhar um outro voo, ao final da tarde, para Alesund, junto ao litoral da Noruega, onde iríamos apanhar o barco no dia seguinte. O avião com destino a Alesund, das Linhas Aérias Escandinávas, era muito antigo, com grandes motores nas asas, (igual, e pertencente às mesmas linhas aérias, ao avião que cerca de um mês depois, aterrou sem trem de aterragem), e os pilotos tinham cara de velhos "lobos do mar"ou talvez "bacalhoeiros"...

Quando chegámos ao aeroporto de Alesund, não havia táxis, mas sim um autocarro que nos levou do aeroporto para a linda cidade de Alesund, deixando-nos no porto, junto ao caís de embarque, uma gentileza do motorista do autocarro, para que visse-mos onde embarcar no dia seguinte.

A procura de hotel para se pernoitar foi difícil, uma vez que, os hotéis eram poucos e os que havia estavam completos. No entanto depois de alguma indagação, um estrangeiro em férias na cidade, aconselhou-nos uma pousada de acolhimento a visitantes pouco endinheirados, baratinha e aonde até se tinha de alugar a roupa de cama. No entanto era tudo bastante limpinho e o banho reconfortante. Em Alesund tivemos pela primeira vez, a oportunidade de observar a luz "diurna", durante toda a noite.

Algeciras/Final da viagem


Chegados a Algeciras pelas 14h00, decidimos de imediato iniciar a viagem de regresso a casa, percorrendo durante o resto do dia, todo o caminho até Sevilha, onde pernoitámos, encetando no dia seguinte a última etapa desta viagem a Marrocos, absolutamente inesquecível.

Devo ainda acrescentar, que a descrição desta viagem, me saiu com bastante fluidez, e que um sem números de cheiros, sabores, rostos, conhecimentos, sons, tactos, medos, comportamentos e cenários, foram sendo recuperados, para surpresa minha, levando-me a concluir que afinal a minha "memória de elefante" está em forma.

Algeciras é uma cidade portuária do sul de Espanha, na província de Cádiz, comunidade autónoma da Andaluzia. Localiza-se perto da cidade Gibraltar, ligeiramente mais a norte do que Tarifa, que é a cidade mais a sul da província. Ambas as cidades estão situados no Estreito de Gibraltar e de frente para o Mediterrâneo.

O moderno porto de Algeciras é um dos mais movimentados do mundo, com bastante tráfego de e para África. Devido a esses transportes, existem bastantes hotéis e estalagens na cidade.

Foi "Portus Albus" em tempos de Roma, e seus fornos de cerâmica em "El Rinconcillo" testemunham a sua existência no séc. I da nossa era. Logo desapareceu para renascer com nome mouro, o mesmo que conserva, "Al-Yazirat Al-Jadra" (A ilha Verde), Algeciras, como hoje o pronunciamos.

Aquí nasceu Almanzor, em 939, o grande capitão do exército árabe, que levou a fronteira muçulmana até aos Pirinéus, vencendo cinquenta campanhas seguidas sem perder uma única batalha.

Alfonso XI conquistou a praça em 1342, depois de vinte meses de duro cerco, entrando triunfalmente en Algeciras no dia 28 de Março de 1344, que era domingo de ramos. Em recordação a esta festividade religiosa, o rei mandou consagrar a mesquita da cidade, dando-lhe o nome de igreja de Santa María de la Palma.

A conquista de Algeciras foi para os reis espanhóis tão importante como a conquista do Algarve para os reis portugueses. E a partir daí, uniram o nome de Algeciras à coroa, intitulando-se desde então, "Reis de Espanha e Algeciras".

No entanto, transcorridos vinte e cinco anos, novamente os mouros, capitaneados por Mohamed V de Granada, sabendo que a cidade estava desguarnecida e em represália pelo assassinato de D. Pedro I, seu aliado e amigo, atacam a grande praça de Algeciras em 1369, e poucos anos depois, pensando que não a poderiam conservar em seu poder, incendiaram-na não restando pedra sobre pedra. Assim a que foi "a praça mais importante da Andaluzia", nas palavras de Guichot, se viu convertida a um monte de ruínas fumegantes. Os seus habitantes foram para outras cidades, e aqui ficaram só alguns humildes pescadores...Só alguns restos de muralhas eram testemunho do seu passado grandioso.

A conquista de Gibraltar em 1462, por D. Alonso de Arcos, alcaide de Tarifa, fez com que Henrique IV, então reinante, concede-se diversos privilégios a fim de estimular o repovoamento da praça de Algeciras. Um destes privilégios foi a entrega aos habitantes do rochedo de Gibratar, as terras de Algeciras, e estes transformaram as ruínas da cidade em numerosas hortas, quintas e pomares.

Passou o tempo... Frente às ruínas de Algeciras, Gibraltar vive a sua plácida existência... De nada se suspeita, mas aquela pedra gigantesca irá ser separada violentamente da geografia espanhola, deixando amargurados seus habitantes. Assim, no dia 4 de Agosto de 1704, como consequência da guerra de sucessão, a esquadra anglo-holandesa ataca Gibraltar, com tal fúria, que a praça se rende ao arquiduque Carlos. Mas só umas horas depois é hasteada a bandeira inglesa, e Gibraltar fica a pertencer à rainha Ana de Inglaterra.

Os seus habitantes saem de Gibraltar, não querem viver sob o jugo estrangeiro, abandonando bens e partindo para os campos...O núcleo maior destes gibraltinos, refugia-se junto à ermida de São Roque, de onde depois nasceria a cidade com o mesmo nome. Outro grupo junta-se num oratório, que mais tarde daria lugar à povoação de Los Barrios, e outro pequeno grupo foi para o lugar da antiga Algeciras, situando-se em volta de uma ermida, propriedade da família Gálvez, a actual capela de Nossa Sra. da Europa, onde hoje é a Plaza Alta, dando assim lugar ao ressurgimento da histórica cidade.

A partir deste momento, Algeciras cresce rapidamente, seu futuro vislumbra-se venturoso, e a sua beleza cresce, confirmando uma vez mais o sobrenome de "A Cidade da Bela Baía".

Ceuta



Chegámos a Ceuta depois do almoço e fomos dar uma volta pela cidade, já sobejamente conhecida por nós, de outras anteriores visitas. Como era domingo, todas as lojas estavam fechadas, não sendo possível fazer as compras desejadas.
Ao jantar, num restaurante snack-bar, podémos ouvir nas noticias da televisão espanhola, a triste notícia do incêndio no Chiado, que tinha ocorrido naquele dia ("25 de Agosto de 1988, o incêndio na zona da Baixa em Lisboa. O fogo iniciou-se na Rua do Carmo e propagou-se à Rua Garrett. Muito do comércio tradicional da zona desapareceu, como os Armazéns do Chiado, Jerónimo Martins, Eduardo Martins e outras pequenas lojas e escritórios, alguns já centenários. Dezoito edifícios do século XVIII ficaram completamente destruídos.").
Após o jantar, decidimos ir para o porto, afim de apanhar o Ferry e passarmos para Espanha, para já pernoitarmos em Algeciras. Foi uma má decisão, uma vez que como já era noite, enganámo-nos na entrada e fomos para a zona de embarque destinada aos emigrantes marroquinos. Como as bagagens destes são em grande quantidade, têm que ser todas vistoriadas, afim de evitar a passagem de droga ou contrabando, e o embarque torna-se muito moroso, tendo os restantes turistas a possibilidade de entrar para o Ferry por outra zona de embarque mais rápida, (pura descriminação).
Como nos enganámos tivemos que passar na bicha de carros, duas noites e um dia e meio até embarcarmos com destino a Algeciras. Foi uma experiência desagradável e inesquecível, um verdadeiro pesadelo surrealista.

Ceuta é uma cidade autónoma de Espanha situada no extremo norte de Marrocos, frente a Gibraltar, que juntamente com Melilla, é um enclave espanhol há mais de 500 anos. Ambas as cidades são agora portos francos e partilham um passado semelhante.

Devido à sua localização estratégica, Ceuta conheceu uma história de conquistas militares e ocupação, que começou com os Cartagineses no século V a.C., os quais foram seguidos pelos Romanos, Vândalos, Visigodos espanhóis e Bizantinos.

Sob domínio árabe e berbere, Ceuta foi também utilizada como plataforma para invadir a Espanha, em 711, e em 1415, foi tomada pelos Portugueses sob pretexto de promoverem o Cristianismo e minarem a influência muçulmana na zona. A cidade foi reconhecida como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494).

No contexto da Dinastia Filipina, Ceuta manteve a administração portuguesa, tal como Tânger e Mazagão. Todavia, quando da Restauração Portuguesa em 1640 não aclamou o Duque de Bragança como rei de Portugal, ficando sob domínio espanhol. A situação foi oficializada em 1668 com o Tratado de Lisboa, assinado entre os dois países e que pôs fim à guerra da Restauração, no entanto, a cidade decidiu manter a sua bandeira que é composta por gomos brancos e pretos, à semelhança da da cidade de Lisboa, ostentando ao centro o escudo real da época.

Esta pequena região autónoma, com uma superfície total de 23 quilómetros quadrados, fica situada na ponta de um estreito istmo e é dominada por sete montes, incluindo o Monte Hacho, que, segundo a lenda, seria um dos dois Pilares de Hércules.

Uma das principais atracções de Ceuta é o conjunto monumental das Muralhas Reais, situado na parte mais estreita do istmo que liga a cidade ao continente africano e erguido entre os séculos XVI e XVIII. O enclave fortificado é dividido a meio por um fosso navegável que une o Atlântico ao Mediterrâneo.

Em termos de património edificado, a cidade conserva inúmeros vestígios da ocupação portuguesa. Além de restos das fortificações que compunham a Praça-forte (alguns troços das antigas muralhas, do fosso e um baluarte sobre a praia), destacam-se as antigas igrejas de Nossa Senhora da Assunção (hoje uma mesquita), de Santa Maria de África, do Espírito Santo, de São Sebastião, de Santo António, o edifício do antigo Convento de Nossa Senhora do Socorro, entre outros.

Outros locais de interesse histórico são as Muralhas Merínidas (construídas pelos emires da dinastia merínida entre 1307 e 1310 e que incluem as torres gémeas que marcam a monumental Porta de Fez), a Catedral (originalmente erguida pelos portugueses e reconstruída no século XVII), o Castelo do Desnarigado (uma fortaleza dos séculos X ao XVI) e as ruínas dos Banhos Árabes, do século XIII, entre muitos outros monumentos, igrejas e museus que merecem ser admirados.

Em termos de lazer, o Parque Marítimo do Mediterrâneo, no centro da cidade, com os seus lagos de água salgada, quedas de água, fontes e zonas de recreio rodeadas de palmeiras, é também muito apreciado pelos visitantes.

As compras representam outra das grandes atracções turísticas, pois a maioria dos produtos são livres de impostos e a oferta é supreendentemente diversificada, desde os bazares com artesanato típico e produtos alimentares exóticos, à electrónica, roupas de alta costura, perfumes e jóias.

A gastronomia local reflecte a mestiçagem cultural de Ceuta e oferece aos visitantes, magnífico peixe e mariscos frescos, as típicas tapas espanholas, não faltando também os pratos tradicionais árabes.

Ligação Tetouan - Ceuta



O caminho que nos leva de Tetuan até Ceuta, é feito de contrastes: povoações tipicamente marroquinas e grandes urbanizações junto ao mar do género ocidental, claramente destinadas apenas a turistas endinheirados. Nestes 38 Km percorridos junto ao litoral, pode encontrar-se tudo, pastores e seus rebanhos, vendedores ambulantes, camelos e seus donos preparados para a fotografia com os turistas e até caminhantes apressados. Esta estrada que se situa numa espécie de planalto, dá-nos uma panorâmica excelente do litoral mediterrânico, bem como a possibilidade de avistar a Europa, se estiver tempo límpido, uma vez que o Estreito de Gibraltar, tem aqui a sua zona de maior proximidade entre África e a Europa.
O Estreito de Gibraltar é uma importante rota de transporte marítimo do Mediterrâneo para o Atlântico. Este Estreito, cuja profundidade varia entre 300 e 900 metros, faz a real fronteira entre África e a Europa, que na antiguidade eram conhecidas como os Pilares ou Colunas de Hércules. A largura mínima é de 14,4 km, entre Punta de Oliveros em Espanha e Punta Cires em Marrocos.
O Estreito de Gibraltar, assim como o rochedo de Gibraltar, deve seu nome ao general árabe djebel Tarik, de Tariq ibn Ziyad e sua família, que em 711 atravessou o estreito para se estabelecer na Espanha visigótica. Foi a primeira incursão muçulmana na Península Ibérica.

Tetouan, a Pomba Branca



Chegámos a Tetouan já era noite serrada. A procura de hotel para pernoitar foi problemática, uma vez que o número de emigrantes marroquinos em viagem de regresso de férias para a Europa, era elevado. Depois de irmos a inúmeros hotéis, que estavam completos, e com a ajuda de um simpático habitante local, lá encontrámos uma pensão que tinha ainda quartos. Foi talvez o sitio menos simpático onde alguma vez dormimos. As portas não tinham chave nem trinco e ficou aberta toda a noite. Nos corredores cruzávamos com gente muito mal encarada, enfim de arrepiar. Uma aventura total!... No entanto a noite, sem que o esperássemos, passou sem qualquer inquietação, em absoluta paz, e mais uma vez constatámos que Marrocos era um país seguro.
Tetouan ("olhos" na língua berbere) é a capital da região de Tanger-Tétouan, no norte de Marrocos, ligeiramente a sul do Estreito de Gibraltar, e a 60 km de Tânger. Em 2004, a população da cidade era de 320.539 habitantes, dos quais cerca de um quinto são judeus.

Também conhecida por "A pomba branca", é um ponto de encontro de muitos povos, culturas e religiões, Tetouan é uma cidade acolhedora, uma mistura de culturas e cores, que corre ao lado do Mediterrâneo. "Pomba Branca" para os poetas árabes, "Pequena Jerusalém" para os outros, Tetouan, uma cidade que não deixa ninguém indiferente. Única na sua diversidade de origens, quer nos seus fundadores, quer nos seus actuais habitantes. Mudéjares, Mouros, judeus sefarditas da Península Ibérica e árabes.

A capital do Norte de Marrocos, Tetouan está situada no meio de arvoredo. Uma cintura de pomares, plantados com laranjeiras, amendoeiras, romãzeiras e ciprestes, misturam-se com casas brancas que se agarram à encosta. Perto, as sombrias montanhas do rift a enfatizar com agradáveis cores o sítio urbano que domina o vale fértil de Martil.

O seu Kasbah, as suas pequenas casas e palácios (com pátios, fontes e jardins), os seus minaretes, mausoléus e seus terraços. Ela tem preservado, ao longo do tempo a alma andaluza e o corpo mouro, o que a torna a mais Hispano-árabe de todas as cidades marroquinas.

Fundada em 1305, a muralha de Merinid Abou Tabit, serviu de base para operações militares contra as invasões a Ceuta e mais tarde tornou-se um refugio de piratas. Foi mais tarde invadida por espanhóis que a ocuparam por um longo período, e quando a não conseguiram conservar, destruíram-na. No entanto, a vila foi repovoada no séc. XVI, pelos muçulmanos que lá se fixaram e os judeus que tinham sido perseguidos desde a Andaluzia e que aqui de fixaram.

A cidade prosperou sob o reinado de Moulay Ismail. Tal como Rabat e Fez, Tetouan é uma cidade "hedrya", isto é, um centro de cultura e requinte. As ruas entre as paredes brancas e azuladas desembocam em pequenas praças, que se transformam em centros de intensa actividade.

Tetouan tem souks espalhados ao redor da Medina, muitos deles situados em zonas demarcadas. Os alimentos são vendidos no entanto em zonas diferentes, não ocupando o seu próprio espaço, e sim vendidos nas ruas. Todos os tipos de frutas e legumes e também peixe fresco, podem ser comprados ali, no início da manhã . De madrugada chegam mulheres para vender os seus produtos. Envoltas em impermeáveis e calçando polainas até ao joelho, ou usando roupas coloridas às riscas, feitas com tecidos berberes e chapéus de palha decorados com pompons, elas oferecem a manteiga, o mel, produtos hortícolas e plantas aromáticas, a uma animada clientela.

O Suuq al-Houts está na zona direita da Medina e o Suuq ar-Bab Rouah, próximo da Praça Hassan II, e é tão charmoso como é pequeno. Tetouan tem uma determinada especialidade de tecidos de algodão riscado, conhecida como fouta, que tem uma grande variedade de padrões. Nas ruas, é visto na indumentária comum, quer em homens, quer em mulheres, como por exemplo um tipo de saia usada pelas mulheres berberes das aldeias. Mas em casa, é utilizado para decoração.

No Guersa al-Kebira, mercado de objectos usados, onde se pode vender tudo em ferro e aço e também camas, cuja simples presença é absolutamente impressionante, uma vez que as ruas que circundam a área deste mercado, são tão estreitas e curvas que em muitos pontos a passagem de uma cama de dois metros, parece impossível.

Tetouan merece a sua reputação como um centro cultural, tem muitos monumentos: Uma fortificação bem preservada, uma série de mesquitas e fontes, e por último mas não menos importante, o antigo palácio do Khalifa, que é agora uma das residências de Sua Majestade o rei de Marrocos. O palácio foi construído no século XVII, mas foi renovado e restaurado em 1948 de modo a que mantivesse o seu carácter, sendo um exemplo ideal da arquitectura hispano-árabe.

A praça Hassan II, situada no ponto onde o antigo e o moderno da cidade convergem, é o coração da cidade. Reminiscência da Andaluzia com seus quiosques, fontes e bancas de flores, a praça continua a ser um ponto de encontro ideal para o final da tarde. Os edifícios com varandas em ferro forjado e vitrinas preenchidas com mercadorias importadas, fascinam as multidões de transeuntes. A Medina de Tetuan está classificada como Património Mundial pela UNESCO desde 1997.

Dois museus, um conservatório de água, uma Academia de Belas Artes e uma Escola de Arte marroquinas estão entre os estabelecimentos culturais que Tetouan. Ainda assim, o melhor e mais fascinante na visita a esta bela cidade, continuam a ser as suas vielas, que por vezes mergulham sob grandes arcadas, apenas para reaparecer numa pequena praça ou mesmo conduzir a um beco sem saída.

Cada rua é ocupada por um tipo de comércio. A rua dos tintureiros que, não é muito longe da dos tecelões e joalheiros. Os fabricantes de objectos de couro estão mais próximas dos curtumes e de outras oficinas de artesanato. Tetouan detém muitas vivências e maravilhas, mantendo a venerável tradição, e um modo de vida, que a torna uma cidade única.

Tetouan traça as suas origens desde o séc. III a.C., sendo de início um simples assentamento chamado Tamouda que existiu até 42 a.C., quando foi destruída pelos exércitos romanos. Quando o sultão Merinid Abu Thabit, mandou construir um Kasbah em Tetouan, em 1307, a cidade muçulmana começou a encontrar a sua forma. No entanto, era um refúgio para os piratas e Tetouan chamou a ira do castelhano, rei Henrique III, cujas forças conquistaram a cidade em 1399.

Um século depois, Tetouan entrou num período de declínio, até ficar sob a protecção da Andaluzia, por influência de refugiados vindos de Granada. A partir de 1484, a cidade teve um grande desenvolvimento de carácter cultural e arquitectónico de influência espanhola e também muçulmana, que até hoje perduram. Em 1913 passou a ser a capital do protectorado da Espanha até à independência do território em 1956.

Localizada numa área agrícola, Tetouan é hoje um mercado moderno e o centro de toda a área agrícola envolvente, onde cereais, citrinos, animais e artesanato são comercializados. Além disso, uma grande variedade de produtos são fabricados em redor da cidade, incluindo tabaco, sabão, jogos, materiais de construção e têxteis. As principais indústrias da cidade são as de conservas de peixe e o artesanato.