Ceuta



Chegámos a Ceuta depois do almoço e fomos dar uma volta pela cidade, já sobejamente conhecida por nós, de outras anteriores visitas. Como era domingo, todas as lojas estavam fechadas, não sendo possível fazer as compras desejadas.
Ao jantar, num restaurante snack-bar, podémos ouvir nas noticias da televisão espanhola, a triste notícia do incêndio no Chiado, que tinha ocorrido naquele dia ("25 de Agosto de 1988, o incêndio na zona da Baixa em Lisboa. O fogo iniciou-se na Rua do Carmo e propagou-se à Rua Garrett. Muito do comércio tradicional da zona desapareceu, como os Armazéns do Chiado, Jerónimo Martins, Eduardo Martins e outras pequenas lojas e escritórios, alguns já centenários. Dezoito edifícios do século XVIII ficaram completamente destruídos.").
Após o jantar, decidimos ir para o porto, afim de apanhar o Ferry e passarmos para Espanha, para já pernoitarmos em Algeciras. Foi uma má decisão, uma vez que como já era noite, enganámo-nos na entrada e fomos para a zona de embarque destinada aos emigrantes marroquinos. Como as bagagens destes são em grande quantidade, têm que ser todas vistoriadas, afim de evitar a passagem de droga ou contrabando, e o embarque torna-se muito moroso, tendo os restantes turistas a possibilidade de entrar para o Ferry por outra zona de embarque mais rápida, (pura descriminação).
Como nos enganámos tivemos que passar na bicha de carros, duas noites e um dia e meio até embarcarmos com destino a Algeciras. Foi uma experiência desagradável e inesquecível, um verdadeiro pesadelo surrealista.

Ceuta é uma cidade autónoma de Espanha situada no extremo norte de Marrocos, frente a Gibraltar, que juntamente com Melilla, é um enclave espanhol há mais de 500 anos. Ambas as cidades são agora portos francos e partilham um passado semelhante.

Devido à sua localização estratégica, Ceuta conheceu uma história de conquistas militares e ocupação, que começou com os Cartagineses no século V a.C., os quais foram seguidos pelos Romanos, Vândalos, Visigodos espanhóis e Bizantinos.

Sob domínio árabe e berbere, Ceuta foi também utilizada como plataforma para invadir a Espanha, em 711, e em 1415, foi tomada pelos Portugueses sob pretexto de promoverem o Cristianismo e minarem a influência muçulmana na zona. A cidade foi reconhecida como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494).

No contexto da Dinastia Filipina, Ceuta manteve a administração portuguesa, tal como Tânger e Mazagão. Todavia, quando da Restauração Portuguesa em 1640 não aclamou o Duque de Bragança como rei de Portugal, ficando sob domínio espanhol. A situação foi oficializada em 1668 com o Tratado de Lisboa, assinado entre os dois países e que pôs fim à guerra da Restauração, no entanto, a cidade decidiu manter a sua bandeira que é composta por gomos brancos e pretos, à semelhança da da cidade de Lisboa, ostentando ao centro o escudo real da época.

Esta pequena região autónoma, com uma superfície total de 23 quilómetros quadrados, fica situada na ponta de um estreito istmo e é dominada por sete montes, incluindo o Monte Hacho, que, segundo a lenda, seria um dos dois Pilares de Hércules.

Uma das principais atracções de Ceuta é o conjunto monumental das Muralhas Reais, situado na parte mais estreita do istmo que liga a cidade ao continente africano e erguido entre os séculos XVI e XVIII. O enclave fortificado é dividido a meio por um fosso navegável que une o Atlântico ao Mediterrâneo.

Em termos de património edificado, a cidade conserva inúmeros vestígios da ocupação portuguesa. Além de restos das fortificações que compunham a Praça-forte (alguns troços das antigas muralhas, do fosso e um baluarte sobre a praia), destacam-se as antigas igrejas de Nossa Senhora da Assunção (hoje uma mesquita), de Santa Maria de África, do Espírito Santo, de São Sebastião, de Santo António, o edifício do antigo Convento de Nossa Senhora do Socorro, entre outros.

Outros locais de interesse histórico são as Muralhas Merínidas (construídas pelos emires da dinastia merínida entre 1307 e 1310 e que incluem as torres gémeas que marcam a monumental Porta de Fez), a Catedral (originalmente erguida pelos portugueses e reconstruída no século XVII), o Castelo do Desnarigado (uma fortaleza dos séculos X ao XVI) e as ruínas dos Banhos Árabes, do século XIII, entre muitos outros monumentos, igrejas e museus que merecem ser admirados.

Em termos de lazer, o Parque Marítimo do Mediterrâneo, no centro da cidade, com os seus lagos de água salgada, quedas de água, fontes e zonas de recreio rodeadas de palmeiras, é também muito apreciado pelos visitantes.

As compras representam outra das grandes atracções turísticas, pois a maioria dos produtos são livres de impostos e a oferta é supreendentemente diversificada, desde os bazares com artesanato típico e produtos alimentares exóticos, à electrónica, roupas de alta costura, perfumes e jóias.

A gastronomia local reflecte a mestiçagem cultural de Ceuta e oferece aos visitantes, magnífico peixe e mariscos frescos, as típicas tapas espanholas, não faltando também os pratos tradicionais árabes.

Nenhum comentário: