Tetouan, a Pomba Branca



Chegámos a Tetouan já era noite serrada. A procura de hotel para pernoitar foi problemática, uma vez que o número de emigrantes marroquinos em viagem de regresso de férias para a Europa, era elevado. Depois de irmos a inúmeros hotéis, que estavam completos, e com a ajuda de um simpático habitante local, lá encontrámos uma pensão que tinha ainda quartos. Foi talvez o sitio menos simpático onde alguma vez dormimos. As portas não tinham chave nem trinco e ficou aberta toda a noite. Nos corredores cruzávamos com gente muito mal encarada, enfim de arrepiar. Uma aventura total!... No entanto a noite, sem que o esperássemos, passou sem qualquer inquietação, em absoluta paz, e mais uma vez constatámos que Marrocos era um país seguro.
Tetouan ("olhos" na língua berbere) é a capital da região de Tanger-Tétouan, no norte de Marrocos, ligeiramente a sul do Estreito de Gibraltar, e a 60 km de Tânger. Em 2004, a população da cidade era de 320.539 habitantes, dos quais cerca de um quinto são judeus.

Também conhecida por "A pomba branca", é um ponto de encontro de muitos povos, culturas e religiões, Tetouan é uma cidade acolhedora, uma mistura de culturas e cores, que corre ao lado do Mediterrâneo. "Pomba Branca" para os poetas árabes, "Pequena Jerusalém" para os outros, Tetouan, uma cidade que não deixa ninguém indiferente. Única na sua diversidade de origens, quer nos seus fundadores, quer nos seus actuais habitantes. Mudéjares, Mouros, judeus sefarditas da Península Ibérica e árabes.

A capital do Norte de Marrocos, Tetouan está situada no meio de arvoredo. Uma cintura de pomares, plantados com laranjeiras, amendoeiras, romãzeiras e ciprestes, misturam-se com casas brancas que se agarram à encosta. Perto, as sombrias montanhas do rift a enfatizar com agradáveis cores o sítio urbano que domina o vale fértil de Martil.

O seu Kasbah, as suas pequenas casas e palácios (com pátios, fontes e jardins), os seus minaretes, mausoléus e seus terraços. Ela tem preservado, ao longo do tempo a alma andaluza e o corpo mouro, o que a torna a mais Hispano-árabe de todas as cidades marroquinas.

Fundada em 1305, a muralha de Merinid Abou Tabit, serviu de base para operações militares contra as invasões a Ceuta e mais tarde tornou-se um refugio de piratas. Foi mais tarde invadida por espanhóis que a ocuparam por um longo período, e quando a não conseguiram conservar, destruíram-na. No entanto, a vila foi repovoada no séc. XVI, pelos muçulmanos que lá se fixaram e os judeus que tinham sido perseguidos desde a Andaluzia e que aqui de fixaram.

A cidade prosperou sob o reinado de Moulay Ismail. Tal como Rabat e Fez, Tetouan é uma cidade "hedrya", isto é, um centro de cultura e requinte. As ruas entre as paredes brancas e azuladas desembocam em pequenas praças, que se transformam em centros de intensa actividade.

Tetouan tem souks espalhados ao redor da Medina, muitos deles situados em zonas demarcadas. Os alimentos são vendidos no entanto em zonas diferentes, não ocupando o seu próprio espaço, e sim vendidos nas ruas. Todos os tipos de frutas e legumes e também peixe fresco, podem ser comprados ali, no início da manhã . De madrugada chegam mulheres para vender os seus produtos. Envoltas em impermeáveis e calçando polainas até ao joelho, ou usando roupas coloridas às riscas, feitas com tecidos berberes e chapéus de palha decorados com pompons, elas oferecem a manteiga, o mel, produtos hortícolas e plantas aromáticas, a uma animada clientela.

O Suuq al-Houts está na zona direita da Medina e o Suuq ar-Bab Rouah, próximo da Praça Hassan II, e é tão charmoso como é pequeno. Tetouan tem uma determinada especialidade de tecidos de algodão riscado, conhecida como fouta, que tem uma grande variedade de padrões. Nas ruas, é visto na indumentária comum, quer em homens, quer em mulheres, como por exemplo um tipo de saia usada pelas mulheres berberes das aldeias. Mas em casa, é utilizado para decoração.

No Guersa al-Kebira, mercado de objectos usados, onde se pode vender tudo em ferro e aço e também camas, cuja simples presença é absolutamente impressionante, uma vez que as ruas que circundam a área deste mercado, são tão estreitas e curvas que em muitos pontos a passagem de uma cama de dois metros, parece impossível.

Tetouan merece a sua reputação como um centro cultural, tem muitos monumentos: Uma fortificação bem preservada, uma série de mesquitas e fontes, e por último mas não menos importante, o antigo palácio do Khalifa, que é agora uma das residências de Sua Majestade o rei de Marrocos. O palácio foi construído no século XVII, mas foi renovado e restaurado em 1948 de modo a que mantivesse o seu carácter, sendo um exemplo ideal da arquitectura hispano-árabe.

A praça Hassan II, situada no ponto onde o antigo e o moderno da cidade convergem, é o coração da cidade. Reminiscência da Andaluzia com seus quiosques, fontes e bancas de flores, a praça continua a ser um ponto de encontro ideal para o final da tarde. Os edifícios com varandas em ferro forjado e vitrinas preenchidas com mercadorias importadas, fascinam as multidões de transeuntes. A Medina de Tetuan está classificada como Património Mundial pela UNESCO desde 1997.

Dois museus, um conservatório de água, uma Academia de Belas Artes e uma Escola de Arte marroquinas estão entre os estabelecimentos culturais que Tetouan. Ainda assim, o melhor e mais fascinante na visita a esta bela cidade, continuam a ser as suas vielas, que por vezes mergulham sob grandes arcadas, apenas para reaparecer numa pequena praça ou mesmo conduzir a um beco sem saída.

Cada rua é ocupada por um tipo de comércio. A rua dos tintureiros que, não é muito longe da dos tecelões e joalheiros. Os fabricantes de objectos de couro estão mais próximas dos curtumes e de outras oficinas de artesanato. Tetouan detém muitas vivências e maravilhas, mantendo a venerável tradição, e um modo de vida, que a torna uma cidade única.

Tetouan traça as suas origens desde o séc. III a.C., sendo de início um simples assentamento chamado Tamouda que existiu até 42 a.C., quando foi destruída pelos exércitos romanos. Quando o sultão Merinid Abu Thabit, mandou construir um Kasbah em Tetouan, em 1307, a cidade muçulmana começou a encontrar a sua forma. No entanto, era um refúgio para os piratas e Tetouan chamou a ira do castelhano, rei Henrique III, cujas forças conquistaram a cidade em 1399.

Um século depois, Tetouan entrou num período de declínio, até ficar sob a protecção da Andaluzia, por influência de refugiados vindos de Granada. A partir de 1484, a cidade teve um grande desenvolvimento de carácter cultural e arquitectónico de influência espanhola e também muçulmana, que até hoje perduram. Em 1913 passou a ser a capital do protectorado da Espanha até à independência do território em 1956.

Localizada numa área agrícola, Tetouan é hoje um mercado moderno e o centro de toda a área agrícola envolvente, onde cereais, citrinos, animais e artesanato são comercializados. Além disso, uma grande variedade de produtos são fabricados em redor da cidade, incluindo tabaco, sabão, jogos, materiais de construção e têxteis. As principais indústrias da cidade são as de conservas de peixe e o artesanato.

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