Calatayud

A caminho de Zaragoza na auto-estrada que liga Madrid a Barcelona, e depois de percorridos cerca de 144 Km de estrada com poucas povoações, avista-se a bela cidade de Calatayud, com as suas inesquecíveis torres mudéjar que se destacam na paisagem, como que trazidas pelo vento, que nos sussurra ao ouvido: "Bienvenidos a la muy noble, leal, siempre augusta y fidelísima ciudad de Calatayud".

A cidade de Calatayud, localizada em Aragão, que é uma província sem paralelo em Espanha, por sua variedade de paisagens (vales fluviais luxuriantes, zonas de montanha e áreas semi-desérticas). O seu nome deriva de um antigo governador árabe de nome Ayub, que construiu um castelo, (qalat) na confluência dos rios Jalon e Jiloca (qalat Ayub).

Há muito, muito tempo, há mais de dois mil anos, no local onde hoje se encontra a cidade, havia uma pequena mas próspera população de celtiberos. A primeira época de grande esplendor da região, foi com o Império Romano, e nesta época, a antiga cidade de Bílbilis (onde nasceu o poeta Marcial e cujas ruínas ficam a 6Km a leste de Ctalatayud), foi utilizada como importante ponto de encontro e descanso das legiões romanas no seu caminho para o norte, em direcção à Gália.

Calatayud é a mais típica cidade muçulmana de Aragão, sendo considerável a sua importância como núcleo Histórico-Artístico. O seu castelo foi mandado construir por Ayub-ben-Habib, que era um sobrinho do general Muza-ben-Nusair, conquistador de Espanha. Hoje o castelo de Ayub está em ruínas, mas foi outrora de grandes dimensões, (100 x 50 metros). Possuiu em tempos duas zonas fortificadas e ainda hoje podem observar-se algumas portas do conjunto fortificado.

A sua importância estratégica é incontestável, dada a sua localização entre dois rios e no centro da Península Ibérica, na comunicação com o platô estratégico, o que conduziu a assentamentos no território, desde tempos muito antigos. Porém, durante a dominação muçulmana a sua importância foi crescendo, em especial desde a chefia do Emir de Córdova, Muhamad I.

Seu filho al-Anqar o "Coxo", veio a alargar os seus domínios até Zaragoza e o seu neto, Abu-Yahia, rompeu os laços de fidelidade para o califa de Córdova e declara estado de revolta, marcando a sua peculiar posição, chegando a acordo com Ramiro II de Leão. O califa de Córdova, Adbderramán III não esteve com contemplações e agindo com rapidez e firmeza, atacou a cidade em 937, causando a morte de Mutarrif, general defensor da cidade, e dos soldados que defendiam Calatayud. Calatayud caiu junto com mais trinta povoações e castelos inclusive Zaragoza, no entanto, Abu Yahia foi perdoado.

Após o início da Reconquista, o rei Alfonso I, conquistou Calatayud em 1120 e depois da batalha, entre as ruínas de um dos castelos, apareceu, segundo a tradição, uma imagem da Virgem a quem chamaram de Nossa Senhora da Rocha e que é hoje a padroeira da cidade. Neste local foi erigida uma capela, mandada construir pelo Papa Lúcio III, que foi sendo construida até ao ano 1180.

Anos mais tarde, o rei concedeu o foral a Calatayud e criou a "Comunidade de Calatayud", que durou até o século XIX. É muito provável que todo o recinto fortificado seja de origem muçulmana, sendo composta por cinco castelos ligados por uma longa série de muros, que possuíam no seu interior uma série de morros e a primitiva cidade.

Com vinte e três mil habitantes, Calatayud é a quarta maior cidade de Aragão, e está localizada num ponto estratégico, uma vez que se encontra a apenas 75 Km de Saragoza e localizada junto à auto-estrada entre Madrid, Zaragoza e Barcelona.

A sua enorme fortaleza mourisca e as torres de igreja semelhantes a minaretes são visíveis de muito longe, possuindo ainda numerosos monumentos religiosos e civis que se destacam pelo seu interesse histórico e artístico. Entre eles, devemos mencionar as torres mudéjar de Santo André e de Santa Maria Maior, (com uma complicada fachada planteresca) e de toda a fortificação islâmica, que é a mais antiga fortificação dos tempos medievais em toda a península, datando do séc. VIII.

O seu património sofreu durante o século XIX, a agressão do louco desenvolvimento, mas agora é um motivo de constante preocupação e cuidado por parte dos cidadãos e dos seus representantes eleitos. Nos últimos anos, muitas construções foram restauradas e salvas da ruína e outras estão em recuperação.

Pode iniciar-se a visita à cidade, a partir da Plaza del Fuerte, ampla e central, rodeada por plátanos centenários, para as ruas que levam aos mais belos recantos da cidade velha, tal como a igreja de San Juan el Real, construída no século XVII pela Companhia de Jesus, um notável edifício de estilo barroco. O fresco pintado na sua cúpula, foi obra do génio precoce de Aragão, o pintor Francisco de Goya, bem como muitos dos seus quadros.

Como monumentos a visitar, há a destacar o Santuario de la Virgen de la Peña, que é a padroeira da cidade e encontra-se no castelo do mesmo nome; Colegiata Santa María la Mayor, situada no centro urbano e construída sob uma mesquita árabe; Colegiata del Santo Sepulcro, principal templo desta ordem em Espanha; Igreja de San Pedro de los Francos, construída para os franceses que ajudaram D. Afonso I, o Conquistador, na conquista da cidade.

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